Jacques Henri Lartigue, mestre da fotografia, um dos mais importantes fotógrafos do século 20

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Um dos grandes fotógrafos do século XX

“A vida é essa coisa maravilhosa que dança, pula, voa, ri e passa.” Jacques-Henri Lartigue (1894-1986), conhecido como o fotógrafo da felicidade, foi muito além de um mero espectador passivo.

 

Retrato de Jacques Henri Lartigue por (Foto: Yousuf Karsh/ Reprodução)

 

Jacques Henri Lartigue (Courbevoie, França, 13 de junho de 1894 – Nice, França, 12 de setembro de 1986), filho da alta burguesia francesa, ganhou uma máquina fotográfica aos 7 anos, mestre da fotografia, tinha 8 anos quando levantou uma câmera e fez sua primeira foto. O inusitado presente acabou se tornando um companheiro para a vida toda. Durante mais de sete décadas, Lartigue fez um registro vibrante – principalmente em preto e branco – de vida familiar, crônica de costumes, esportes, retratos e moda, sempre fiel à ideia de que “fotografar é como tentar apanhar uma borboleta em pleno voo”,

As exuberantes imagens de Lartigue revelam a visão única de um homem interessado nas novidades de seu tempo e dedicado ao hedonismo sem culpa de sua classe.

Jacques Henri Lartigue tinha 69 anos quando recebeu convidados no MoMA para a abertura de sua primeira exposição de fotos. O francês — um abastado bon-vivant nascido em junho de 1894, que, desde menino, apontou a câmera para a elite francesa — morreria aos 92 anos (em setembro de 1986), somando quase 15 mil páginas de álbuns, que ele mesmo confeccionava para organizar seus registros, uma forma de “prender” sua própria memória.

Se foi descoberta pelo MoMA, em 1963, sua obra chegou à América do Sul. O Instituto Moreira Salles do Rio inaugurou em 14 de junho de 2013, a primeira retrospectiva do fotógrafo francês no continente. “Jacques Henri Lartigue — A vida em movimento” trouxe ao país 255 obras do pequeno prodígio francês, tardiamente reconhecido como um dos mais importantes fotógrafos do século XX, por sua produção original, precoce e um tanto destemida.

Isso porque, quando registrar imagens em movimento era ainda um desafio aos profissionais, um Lartigue garoto já apontava a câmera (então rudimentar) para cenas de corrida, saltos e planadores.

“Capturar uma borboleta em pleno voo”

Não deixou de registrar, é claro, os figurinos da burguesia francesa, meio no qual sua família circulava. Aos 16 anos, escreveu no diário: “Nos dias de Prix de Drags [corrida de cavalos], em Auteuil, ninguém se incomoda quando eu faço minhas fotos de moda, e as senhoras gostam de ser fotografadas; às vezes, elas até param para posar, como quem não quer nada.

Hoje, havia muitas sombrinhas chiques e, como sempre, chapéus divertidos, imensos ou ridículos”. A maior parte de seus textos (e fotos), no entanto, tem o movimento como foco. Um ano antes de morrer, em 1985, ele escreveu: “A fotografia: uma espécie de esporte, como capturar uma borboleta em pleno voo. É preciso ser rápido. Fui campeão de tênis, tenho o olho alerta”.

Nas cinco salas e no longo corredor que formam a exposição no IMS, Lartigue desfila seu “olho alerta” — e também inusitado. Fotografou, sim, as mulheres e seus esdrúxulos chapéus nas corridas de cavalo, mas a burguesia quase sempre aparece fora de seu habitat original — não em jantares ou bailes, mas dando cambalhotas no jardim ou tentando fazer um planador “caseiro” levantar voo. O olhar original pode ter uma explicação: a criação de Lartigue foi pouco ortodoxa. Teve um pai muito afetuoso e desprendido das convenções sociais.

Nem Lartigue nem Zissou, seu irmão mais velho, foram à escola — seu pai, também fotógrafo amador, acreditava que se podia aprender mais com experiências rotineiras. Alheio à guerra (por ser rico, não lutou, tampouco viveu as agruras da época), o rapaz nunca precisou trabalhar, embora tenha vendido algumas pinturas ao longo da vida e respondesse “pintor” quando lhe perguntavam sua profissão. Talvez o contexto tenha contribuído para a peculiaridade de sua obra.

Já o reconhecimento tardio, na opinião da curadora da exposição, Martine d’Astier, se explica em parte pelo fato de ele nunca ter se anunciado como fotógrafo profissional.

— Lartigue fazia as fotografias para colar nos álbuns, não tinha o objetivo de uma carreira profissional, sequer tinha esse pensamento de “carreira profissional”. Para ele, fotografar era uma forma de guardar a própria memória — diz Martine, que também dirige a Donation Lartigue, fundação que tem como objetivo preservar e divulgar sua obra pelo mundo.

Ela conta que duas paixões marcariam toda a prolífica trajetória de Lartigue — a velocidade e o movimento. Não à toa, os registros que fez na década de 1910 eram de seus pais em carros conversíveis ou da célebre Tour de France.

Água, terra e ar

Na mostra que chega ao Brasil, Martine aponta três elementos, que funcionam como espécies de cenários para a fotografia de movimento que Lartigue tanto amava. São eles água (com fotografias no mar e na piscina que seu pai construiu para a família na casa de campo), terra (elemento representado pelas corridas de carro, cavalo ou bicicleta) e ar (entram aí as imagens de aviões, bolas que Lartigue lançava para, em seguida, fotografar, ou parentes e amigos a quem pedia para saltar diante da câmera).

— É importante notar que naquela época não era possível sair “metralhando”, como os fotógrafos fazem hoje diante de cenas de esporte, por exemplo. Não havia esse recurso. Lartigue tinha, então, que imaginar o momento em que iria disparar, como se pudesse prever a cena que queria gravar — explica a curadora.

Segundo ela, pode-se dizer que a “descoberta” de Lartigue como fotógrafo ocorreu quase por obra do acaso. Ele viajava de barco com a mulher e, por um problema, teve de parar em Nova York. Lá, encontrou um amigo que, vendo seus álbuns, levou-o até o MoMA. Na mesma época, a revista “Life” publicou um ensaio de dez páginas com suas fotografias. Aquela edição, de novembro de 1963, coincidentemente, noticiava a morte de John Kennedy na capa. Foi uma das mais vendidas da história da publicação, chegando a “milhões de americanos”, como diz o livro homônimo da exposição, que o IMS lança junto com a mostra.

— A revista rodou o mundo e, com ela, a obra de Lartigue — completa a curadora.
Em 1977, já consagrado, Lartigue resumiu o que buscava quando, sem pretensões, usava sua câmera: “A vida é essa coisa maravilhosa que dança, pula, voa, ri… e passa! E essa matéria animada, mutável, eu gostaria de imobilizá-la, capturar em pleno voo a imagem (feliz) de um instante, de um curto fragmento de tempo que daí em diante será algo eterno”.

(Fonte: http://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA/ Por AUDREY FURLANETO – RIO DE JANEIRO – 13/06/13)

(Fonte: Veja, 12 de fevereiro de 2014 – ANO 47 – Nº 7 – Edição 2 360 – Veja Recomenda – Pág: 104/105)

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