Itelmar Gobbi, designer gaúcho que projetou o Miura, teve participação ativa na criação de um dos carros esportivos brasileiros, que ganhou destaque nas décadas de 70 e 80

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Itelmar Gobbi, um dos criadores do Miura

 

Entre 1977 e 1992, designer gaúcho projetou e comandou a produção de 11 carros esportivos

 

O Miura MTS foi o primeiro esportivo da fabricante gaúcha. (Crédito: Marco de Bari/Quatro Rodas)

 

 

 

Itelmar Gobbi, designer gaúcho que projetou o Miura, foi um dos criadores do Miura, uma das mais importantes fabricantes de fora de série nacionais e de ter produzido modelos sofisticados e que marcaram uma geração – e deixou fãs dos cupês no país inteiro. Gobbi fundou a empresa  ao lado do amigo Aldo Besson, que faleceu em 2011.

 

Ele ganhou notoriedade nacional ao ter participação ativa na criação de um dos carros esportivos brasileiros, que ganhou destaque nas décadas de 70 e 80.

 

A parceria nasceu em 1966 com a gaúcha Aldo Auto Capas, fabricante de acessórios automotivos. Eles logo vislumbraram a possibilidade de criar seu próprio carro, um cupê esportivo.

 

O Miura foi uma marca de automóveis brasileira, criada pela Besson, Gobbi S/A. Foi fundada em 1976 e paralisou suas atividades em 1992, quando da abertura do mercado nacional aos veículos importados.

 

A marca focou sua produção em modelos esportivos, geralmente dotados de mecânica Volkswagen, montados sob chassi tubular e carrocerias em fibra de vidro com desenhos próprios. Foi pioneira na apresentação do sistema de Freios ABS em 1990.

 

O sonho de produzir um avançado carro esportivo nacional foi muito além do desejo e transformou o Miura num dos automóveis mais importantes da sua época. O design, a tecnologia e o processo de produção marcaram a história do Miura, da indústria automobilística brasileira e dos seus idealizadores. Resultado da ousadia, criatividade e determinação dos gaúchos Aldo Besson e Itelmar Gobbi, o esportivo conquistou o país e avançou no mercado internacional – chegou a diversos países nas asas da Varig.

 

Empresários Itelmar Gobbi e Aldo Besson. (Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal)

 

O sucesso do Miura foi um marco na indústria brasileira e gaúcha. Foram produzidos 11 modelos entre 1977 a 1992.  Presença marcante nos salões do automóvel de São Paulo, o esportivo gaúcho atraiu a atenção e foi disputado por artistas, empresários, personalidades, jogadores de futebol. Na fábrica da Avenida Sertório, com os saudosos Aldo e Itelmar, conheci o mítico lutador e ativista Cassius Clay, o Muhammad Ali, que veio para Porto Alegre conhecer os empresários gaúchos, o Miura e sua fábrica.

A história do esportivo fora de série líder de sua época começou nos anos 70 a partir da Aldo Auto Capas, especializada na personalização de bancos e acessórios automotivos.
Da parceria dos empresários Aldo Besson e Itelmar Gobbi nasceu a Besson Gobbi que por 15 anos foi a principal fabricante do seu segmento.
Os Miura trouxeram recursos como direção elétrica, sintetizador de voz e sensor de crepúsculo.
Com o mercado fechado para carros importados, nasceu a ideia de fazer um automóvel esportivo premium.
Aldo assumiu a administração e finanças, e Gobbi, o desenvolvimento do projeto, design e produção.
A parceria foi perfeita, a BG avançou rapidamente e  conquistou o público de alta renda que procurava um automóvel avançado, tecnológico e exclusivo.

 Gobbi criou os 11 modelos do Miura que venderam quase 10 mil unidades.

 O designer Gobbi foi um empresário incansável. Esteve a frente do projeto de todos os 11 modelos Miura, cuja fábrica esteve operacional em Porto Alegre, de 1977 a 1992. Ao todo foram vendidas 9.500 unidades do Miura.

A criação dos ainda jovens empresários foi  inspirado em modelos como o Lamborghini Countach e Mazda RX5. O carro foi fabricado em  fibra de vidro e montado sobre o chassi Volkswagen, com motor 1600 cilindradas, refrigerado a ar.

Os faróis escamoteáveis e o acabamento refinado garantiram destaque  ao Miura, que também se tornou um sucesso graças a tecnologias pioneiras como o volante com regulagem elétrica de altura. O modelo realmente era a vanguarda da indústria automotiva nacional.

Nos anos 80 o Miura, por meio das versões Spider, Saga, 787, X8, Top Sport e X-11 atingiu seu máximo em requinte: computador de bordo com sintetizador de voz que avisava para soltar o freio de estacionamento, necessidade de abastecer, engatar o cinto de segurança ou retirar a chave da ignição.

Gobbi comandava o setor de design e produção da fábrica do Miura e realmente dedicou a sua vida para realizar o sonho de produzir um esportivo 100% brasileiro, e o manteve no mercado enquanto teve condições, por exatos 15 anos.

Eu, como jornalista, tive o prazer de entrevistar Gobbi  pessoalmente no ano passado. E uma passagem da entrevista me marcou de forma significativa. Ele contou, já com a voz embargada de emoção, que trabalhava 22 horas por dia para conseguir produzir aquele modelo artesanal e que quem criou seus filhos foi sua esposa. Quando percebeu as crianças já haviam se tornado jovens que já iam o ajudar na fábrica. Sem dúvidas uma vida dedicada ao mercado automotivo nacional.

 

Apesar de ter fechado em 1992, a empresa recebeu encomendas até 1995, quando parou de vender a picape BG Truck.

 

Em 2007 a marca Miura foi adquirida da massa falida de Besson, Gobbi S/A, pela empresa Rangel & Lima Indústria de Veículos Ltda, que a partir de então começou a trabalhar em dois novos modelos, o Miura M1 e o Miura M2.

 

O projeto do Miura M1 foi apresentado em 07 de dezembro de 2007, em um evento organizado pela Rangel & Lima Indústria de Veículos Ltda, para comemorar os 30 anos da marca. Seu protótipo vem sendo desenvolvido, com previsão de lançamento para 2019, fato que não se realizou até o momento, ainda em 2020 está em fase de prototipagem. As imagens divulgadas do carro lembram muito um Pontiac Firefird Trans AM ano 2002.

Já o Miura M2, teve seu projeto apresentado em 20 de junho de 2014, e seu protótipo também vem sendo desenvolvido. É equipado com motor V8 e a previsão de lançamento é 2021.

 

Ousadia gaúcha

A produção do primeiro protótipo começou no final de 1976 e foi concluída no começo do ano seguinte. O nome remetia ao famoso modelo da Lamborghini. O Miura surpreendeu por sua ousadia. Trazia tecnologias indisponíveis em veículos de produção de série no país.

A frente em forma de ponta e os faróis escamoteáveis facilitavam a aerodinâmica e o comportamento esportivo. Mas foi o interior revestido em couro de dois tons que trazia as principais novidades. A regulagem de altura da coluna da direção tinha acionamento elétrico. Para completar, bancos reclináveis, ar-condicionado e rádio AM/FM. A carroceria de fibra de vidro era montada sobre a plataforma Volkswagen.

O protótipo foi montado no segundo semestre de 1977 com o nome de Miura Sport. A Besson Gobbi acumulava mais de 100 pedidos quando a produção começou e as filas de espera não paravam de crescer. Chegaram a mais de seis meses.

O Miura Sport trazia o conjunto propulsor do VW Brasília. O motor 1600 a ar e dupla carburação combinado com o câmbio manual de quatro marchas levava o esportivo gaúcho à velocidade de 160 km/h.

O Sport II foi produzido de 1980 a 1983 e trazia apenas aperfeiçoamentos em detalhes externos e internos.

Atração nos salões

A BG voltaria ousar no Salão do Automóvel de 1980 quando mostrou um novo e avançado protótipo. O Miura MTS trocava o conjunto propulsor do Brasília pelo do Passat TS. Gobbi foi mais longe em 1982 com o Targa, novo protótipo do MTS. A família Miura trazia o motor 1.600 refrigerado a água e tração dianteira.

Na esteira das inovações introduzidas pelo Targa chegaram versões com o Targa Teto Solar e o Spyder, a opção conversível. Mais simples, o pequeno também conversível Cabrio,  manteve a mecânica do Brasilia.

Alli roda com Itelmar Gobbi no Targa. (Crédito: Agencia RBS / Agencia RBS)

 

 

Apesar do sucesso e das filas de espera, a BG não estava satisfeita e ousaria novamente no Salão do Automóvel de 1984. Trocou o conjunto propulsor do Passat TS pelo do Gol GT de 96 cv e lançou o Saga. Ainda mais sofisticado, trazia revestimento em couro, computador de bordo, televisão, frigobar e acionamento elétrico da abertura do porta-malas, entre outras novidades.

A versão 787 do Saga foi ainda mais longe em 1986 ao valorizar a esportividade com detalhes como o generoso aerofólio na tampa do porta-malas e luzes de neon acompanhando a base da carroceria. Também adotou o motor AP 1800 a álcool com 106 cv.

Em 1987 foi a vez do X 8 com inédito sintetizador de voz no computador de bordo, que falava detalhes e emitia e alertas ao motorista. No ano seguinte,  no Saga II, o AP 2000 de 116 cv substituiu o AP 1800, entre outros aperfeiçoamentos.

O Top Sport foi lançado em 1989. Além de uma atualização visual, com a frente mais arredondada, trouxe o motor  VW AP 2000 com injeção eletrônica de 125 cv, freios ABS e amortecedores eletrônicos. Como opcional, o câmbio automático de três marchas do Santana.

A chegada dos importados

Em 1990, o governo liberou a importação de veículos estrangeiros, o que bateu forte principalmente nos esportivos fora de série como o Miura. Com as vendas em queda, o último Miura foi o X11, o Top Sport, sem modificações. Depois de uma ousada trajetória, em 1992, o sonho futurista de Besson e Gobbi chegava ao fim.

O golpe provocado pela invasão dos importados não abalou os empresários gaúchos. Partiram para a transformação de picapes em luxuosos veículos. A partir da Chevrolet D20 surgiu a BG Truck. Fabricada sob encomenda até 1997, trazia o luxo, a sofisticação e boa parte dos recursos eletrônicos do Miura.

Como jornalista tive a felicidade de acompanhar a ousadia, o sucesso e a simplicidade do Aldo e do Gobbi, como eram conhecidos. Foram tantas visitas à fabrica da Avenida Sertório para ver e mostrar as novidades na Zero Hora. Foram 15 anos de convivência em que aprendi admirar a determinação, a garra e  a obsessão de Aldo e Gobbi para provar que no Sul do país poderia ser produzido um dos esportivos mais avançados entre os veículos da sua época. Ficou, acima de tudo, a amizade.
Gobbi faleceu em 23 de outubro de 2020, em Porto Alegre.

“O Gobbi revolucionou a indústria automobilística nacional, trouxe muitas inovações para o mercado de automóveis, tecnologia de ponta para a época, design ousado, com muito luxo, cores exclusivas, um homem que fez história. Perdemos um herói”, relata Alexandre Arruda, o curador da maior coleção de Miura do país, amigo da família Gobbi e sócio de um dos principais clubes dedicados a história do modelo, o Miura Clube RJ.

(Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/carros/sobre-rodas/noticia/2020/10 – COMPORTAMENTO / CARROS / SOBRE RODAS / NOTÍCIA / por GILBERTO LEAL – 27/10/2020)

(Fonte: https://quatrorodas.abril.com.br/noticias – NOTÍCIAS / Por Isadora Carvalho – 24 out 2020)

(Fonte: https://www.acusticafm.com.br/noticias – NOTÍCIAS / Por: Gil Martins/Acústica FM – 27/10/2020)

(Fonte: Zero Hora – ANO 57 – N° 19.853 – 28 OUTUBRO 2020 – MEMÓRIA / TRIBUTO – Pág: 33)

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