Ingrid Bergman (1915-1982), atriz sueca, talentosa e dona de uma das belezas mais perturbadoras

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Ingrid Bergman (1915-1982), atriz sueca, imensamente talentosa e dona de uma das belezas mais perturbadoras, uma das maiores estrelas femininas dos últimos quarenta anos do cinema. Nasceu em Estocolmo, Suécia no dia 29 de agosto de 1915. Filha de mãe alemã e pai sueco. A sua mãe morreu quando tinha dois anos e o pai, Justus Bergman, era um fotógrafo boêmio que lhe transmitiu o amor pelo teatro.

RESERVADA – No tempo em que sempre havia um milionário por trás de uma grande estrela, Ingrid recusou uma oferta do homem mais rico do mundo: Howard Hughes, que chegou a comprar os estúdios da RKO apenas para lhe fazer um presente. Contra um arraigado costume de Hollywood, que transformava atores e atrizes em ricos funcionários que repetem, com maior ou menor sutileza, o mesmo papel ao longo de seus filmes, ela defendia seu talento para criar personagens e emoções tão diferentes quanto inesquecíveis. Foi assim com Ivy, a sedutora garçonete de O Médico e o Monstro, ao lado de Spencer Tracy, ou com a Maria, guerrilheira de Por Quem Os Sinos Dobram, junto com Gary Cooper, ou ainda em Joanna D’Arc. Reservada sem ser moralista, tornou-se uma das atrizes mais sensuais da história do cinema – embora não fosse uma especialista em vestidos colantes e jamais tenha filmado de maiô.

Inimiga das conveniências, certa vez ameaçou nunca mais voltar a Washington – enquanto não fosse abolida uma lei racista que proibia os negros de entrar num teatro onde ela se apresentava. Mas o escândalo maior aconteceu em 1949, quando Ingrid deixou Hollywood, o primeiro marido, Petter Lindstron, e a filha, Pia, para filmar Stromboli, com Roberto Rosselini, o grande mestre do neo-realismo italiano. Apaixonada por Roma, Cidade Aberta, apaixonou-se também pelo diretor – e com ele teria seus outros três filhos, Roberto e as gêmeas Isabella e Isotta Ingrid.

Os produtores americanos chegaram a anunciar o fim de sua carreira, no Senado dos Estados Unidos ela foi violentamente condenada por seu gesto. Mais uma vez, respondeu com a melhor arma – o talento. Em 1956, encarnando uma irresistível Anastácia, que sofre de amnésia e pode ser a única herdeira legítima da fortuna do czar da Rússia, ganhou o segundo dos três Oscar de sua carreira. Já havia ganho um por À Meia Luz, e receberia o último por Assassinato no Expresso do Oriente. Depois de um novo casamento e um novo casamento e um novo divórcio, agora com o produtor sueco Lars Schmidt, vivia sozinha. Dizia que gostaria de ser lembrada como atriz. Conseguiu mais do que isso. Com Ingrid Bergman, morreu um pouco da dignidade e da sinceridade que havia em cada espectador de cinema.

Durante dez anos, Ingrid Bergman enfrentou o câncer que lhe tomaria os seios, roubaria quase toda sua beleza e faria dela uma mulher magra e cansada, quase irreconhecível. “Sempre haverá uma produção que precise de uma velha bruxa, especialmente perto do Natal”, disse certa vez. “Assim, até o fim da minha vida estarei a postos.” Em 1981, em seu último papel, ela não foi feiticeira mas ministra, encarnando a falecida Golda Meir, de Israel, em Uma Mulher Chamada Golda, filme de dois capítulos para a televisão. O fim chegou no domingo, dia 29 de agosto de 1982, em Londres, onde ela vivia, tomando banhos de sol e indo ao teatro. Ingrid Bergman morreu pouco depois da meia-noite do dia de seu aniversário, quando completara 67 anos.

Com sua morte, não foi apenas o cinema que perdeu uma de suas maiores estrelas femininas – fosse como a inesquecível Ilse, de Casablanca, ao lado de Humphrey Bogart, em 1942, ou como Charlotte de Sonata de Outono, com Liv Ulmann, de 1978. Desapareceu também a atriz que, embora tenha conseguido sucesso como nenhuma outra, não media pelo termômetro da lista dos campeões de bilheteria. Ingrid Bergman era capaz de recusar contratos de 250 000 dólares, mais uma participação de 25% da bilheteria de um filme, simplesmente porque não gostava do papel. Incorrigível “animal de palco”, como ela mesma se definia, a carreira desta sueca imensamente talentosa e dona de uma das belezas mais perturbadoras que já passaram pelas (48 filmes para o cinema e quatro para a televisão, 48 peças de teatro) foi uma elegante vitória contra o caminho de Hollywood e da Broadway, e também dos palcos de Paris e de Londres.

(Fonte: Veja, 8 de setembro, 1982 – Edição n.º 731 – Datas – Pág; 115)

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