Hunter S. Thompson, criou o gonzo, autor do texto se transforma no personagem principal da notícia.

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Hunter S. Thompson (Louisville, Kentucky, 18 de julho de 1937 – Aspen, Colorado, 20 de fevereiro de 2005), jornalista americano, ele foi um grande escritor e, especialmente, um grande escritor político, estabeleceu um impacto político como jornalista e autor.

Uma vida cheia de excessos e inventividades que culminou com seu suicídio em 2005, teve um fim de vida conturbado. A história do jornalista e ícone da contracultura, criador do jornalismo gonzo.
Hunter Thompson ficou famoso por desenvolver um estilo de jornalismo que ficou conhecido como “gonzo”, relatado na primeira pessoa e empregando técnicas de ficção, e também por seu consumo frequente de álcool, comprimidos e alucinógenos. Ele se matou com um tiro em sua casa no Colorado, aos 67 anos. Os escritos de Thompson e seu impacto sobre o jornalismo moderno que seus experimentos com drogas.

O seu primeiro artigo para a revista “The Nation” sobre o clube de motociclistas Hells Angels e seus livros “Medo e Delírio em Las Vegas” e “Fear and Loathing on the Campaign Trail.”
Thompson encontrava maneiras invasivas e imprevisíveis de chegar à verdade. Nos anos 1970, ao publicar “Medo e Delírio em Las Vegas” o livro retratava com precisão as experiências que ele próprio vivera com a contracultura.
(Fonte: www.cinema.uol.com.br – CHRISTINE KEARNEY / De Nova York – 04/07/2008)

Hunter S. Thompson
Pai do jornalismo gonzo
Hunter S. Thmpson criou o gonzo, estilo de reportagem no qual o autor do texto se transforma no personagem principal da notícia. Contudo, a loucura e a imprevisibilidade do americano foi tanta que até na hora de sua última história ele pegou todo mundo de surpresa: enquanto conversava ao telefone com a esposa, ele, que sobrevivera a overdoses no passado, disparou um tiro contra sua cabeça. Cristiano Viteck conta a história do escritor que marcou a contracultura americana.

Fabrício Muller analisa os livros de Thompson que recentemente ganharam edição brasileira.
Hunter S Thompson contou a história com um olhar bastante particular.
Uma bala disparada contra a própria cabeça. Deve ter feito barulho à beça. Foi esta a forma que o norte-americano Hunter S. Thompson, o pai do jornalismo gonzo [“estilo de reportagem baseada na idéia de William Kaulkner de que a melhor ficção é muito mais verdadeira que qualquer tipo de jornalismo”], escolheu para dar fim à sua vida maluca no último dia 20 de fevereiro, aos 67 anos. O jornalista, que ficou famoso com suas reportagens ácidas e caóticas regadas a álcool e doses cavalares de drogas, estava em sua casa em Woody Creek, no estado norte-americano do Colorado. Falava com a esposa ao telefone quando disparou o tiro. Nos últimos anos, Thompson – que era aficionado por armas e fez campanha contra a reeleição de W. Bush – trabalhava como comentarista esportivo para a ESPN.

Nascido em 1937, Thompson estudou jornalismo na Universidade Columbia, em Nova York. Era fã do escritor Ernest Hemingway, que em 1961 também se matou com um tiro de fuzil. Garoto-problema, ele teve de se alistar na Força Aérea norte-americana para escapar de uma temporada na cadeia. Avesso às normas rígidas do Exército, onde já atuava como jornalista, no início da década de 60 ele tornou-se repórter free-lancer e passou uma temporada na América do Sul, período em que escreveu reportagens principalmente sobre a Colômbia, Peru e Brasil – onde fixou residência no Rio de Janeiro de 1963, ficando até poucos meses antes do golpe de 1964. Durante o tempo em que viveu na Cidade Maravilhosa, Hunter S. Thompson sentiu no ar o clima de opressão que o Exército já exercia sobre os brasileiros antes mesmo de tomarem o poder, conforme apontou em reportagem sobre um atentado que as Forças Armadas promoveram contra uma boate, matando e ferindo vários civis.

Pé na estrada

Até então, o jornalista cobria algumas pautas incomuns, porém nada extraordinárias. A fama começou a surgir de verdade em 1966, após a publicação de uma grande reportagem sobre os Hell’s Angels, gangue de motoqueiros que na época aterrorizava os Estados Unidos e era sinônimo de orgias, drogas e violência. Doido como ele só, Thompson fez amizade com os motoqueiros, com quem conviveu na estrada por cerca de um ano. A reportagem tornou-se o seu primeiro livro: Hell’s Angels – Medo e Delírio Sobre Duas Rodas, que ganhou edição nacional no ano passado pela Editora Conrad [leia a resenha abaixo], quase 40 anos após a sua publicação original.

Apesar de ter características do new journalism – como a inclusão do repórter enquanto personagem dos fatos sobre os quais escreve, com um texto bastante influenciado pela literatura –, o livro Hell’s Angels… praticamente segue os padrões de uma reportagem convencional, se comparado com o que Hunter escreveria a partir da segunda metade da década de 60. Foi nessa época que ele entrou de cabeça no universo encantado imaginado por Timothy Leary [o guru da ideologia lisérgica], abusando não apenas dos doces psicodélicos mas de qualquer elemento químico que desse um nó no cérebro e transformasse a realidade objetiva em viagens coloridas, degradantes e perigosas. Essas experiêncas depois eram deliciosamente repassadas ao papel, para o medo dos conservadores e para o delírio dos malucos da época.

Coquetel alucinógeno
O reconhecimento e a fama de porra-louca incorrigível chegou mesmo em 1972, com a publicação do livro Fear and Lothing in Las Vegas, lançado por aqui em 1984 pela Editora Brasiliense sob o título de Las Vegas na Cabeça e hoje fora de catálogo. Acompanhado do advogado Oscar Acosta, Thompson transformou o que seria uma matéria comum sobre uma tradicional corrida de motos de Las Vegas [a Mint 400]em um registro fantástico e jamais inigualável no qual descortinou a fragilidade do american way of life.

O que deveria ser uma simples matéria de 250 palavras transformou-se em um marco da contracultura, publicado inicialmente pela Rolling Stone – “a única revista dos Estados Unidos na qual eu poderia ter publicado o livro”, declarou Thompson. Medo e Delírio em Las Vegas, inclusive, acabou sendo adaptado para o cinema em 1998, com Johnny Deep no papel principal e Benício del Toro como Acosta. É óbvio que Medo e Delírio… é resultado do uso compulsivo de todos os tipos de drogas imagináveis durante vários dias seguidos. “Só uma porra de um lunático escreveria um negócio como esse e alegaria ser tudo verdade”, declarou o autor a respeito de sua obra-prima.

Já o auge da produção estritamente jornalística de Thompson – ou seja, aqueles textos publicados originalmente em revistas e jornais – está registrado no livro A Grande Caçada aos Tubarões, publicado nos Estados Unidos em 1979 e que no final de 2004 ganhou uma inédita edição brasileira [leia a resenha abaixo]. A obra é uma coletânea de reportagens selecionadas pelo próprio autor. O início da decadência do presidente Richard Nixon, a inesperada chegada de Thompson a um vilarejo dominado por traficantes na Colômbia, relatos sobre sua iniciação ao LSD, uma entrevista quase fracassada com o boxeador Muhammad Ali, as viagens chapadas percorrendo os Estados Unidos em um conversível a 180 km/h, o pânico de cruzar fronteiras com o cérebro e a bagagem entupida de drogas são alguns dos assuntos presentes na obra.

À espera de um revival
Como acontece com os homens que viveram à frente do seu tempo, a morte de Hunter S. Thompson deve precipitar um grande interesse pelas obras e vida do autor. Uma espécie de revival de um momento maior que na verdade nem chegou a acontecer.

O pai do jornalismo gonzo não deixou descendentes na profissão. Muitos tentaram, mas ninguém chegou nem perto. Faltaram-lhes a mesma coragem, a disposição para o consumo de doses industriais de substâncias ilícitas, a capacidade de extrair do caos algo de consistência que não ficasse apenas em pura viagem ou conversa-mole de um junkie qualquer. Acima de tudo, faltou o estilo para fazer de si mesmo o que há de principal na notícia.

Foi isso que Thompson fez em toda a sua vida. Transformou a si mesmo, o jornalista, no foco principal de suas matérias. Nos últimos anos, muitos afirmavam que ele havia se tornado escravo do seu passado. Para esses, deu a resposta.

A morte de Mr. Gonzo não poderia jamais ser comum. É claro que tinha que fazer barulho. É óbvio que tinha de ser chocante, definitivo e a seu modo. Personagem principal das pautas que cobria, Hunter S. Thompson também foi protagonista da sua última história. Deu um nó no Cara lá de cima e decidiu qual a hora de colocar um ponto final em tudo. Gonzo até na hora de morrer… [CV]

Olhar aguçado

Recentemente a Editora Conrad colocou no mercado nacional dois livros de Hunter Thompson: Hell’s Angels – Medo e Delírio Sobre Duas Rodas (279 páginas), sua estréia literária, publicada originalmente em 1966; e A Grande Caçada ao Tubarões (327 páginas), coletânea de artigos e reportagens lançada em 1979.

Para escrever Hell’s Angels… Thompson passou um ano vivendo com o famoso grupo de motoqueiros baderneiros e fora-da-lei. A descrição que o jornalista faz deles é fria e objetiva. Por mais que não haja dúvida de que ele se sente fascinado pelos Hell’s Angels [creio que boa parte das pessoas “normais” sente o mesmo fascínio pelos motoqueiros, misturado com uma boa dose de repulsa], eles são mostrados como realmente eram naquele período: encrenqueiros, irresponsáveis, brigões e, principalmente – o que não deixa de ser decepcionante para quem quer que tenha alguma ilusão romântica a respeito dos “Anjos do Inferno” – perdedores. Losers. Gente ignorante, sem qualificação e sem condições de subir no mercado de trabalho, que normalmente fazia bicos para sobreviver entre uma fase de vagabundagem e outra nos tempos da Contracultura.

Hunter S. Thompson é detalhista na descrição dos motoqueiros fora-da-lei. Os parcos hábitos de higiene, a vida sexual [e as diversas histórias de estupro], suas origens [que remontam à Segunda Guerra Mundial], as motos, o modo de se vestir, nada escapa ao olhar aguçado do jornalista. E, mesmo nos longos trechos em que o relato é feito em primeira pessoa, o objetivo evidente é sempre dar novas e importantes informações a respeito da vida e os hábitos dos Hell’s Angels e não falar de si próprio. Até quando comenta a surra que levou de um pequeno grupo de motoqueiros – o que acabou resultando no fim das relações entre o jornalista e os fora-da-lei –, Thompson parece apenas querer ilustrar dramaticamente a periculosidade deles e não posar de vítima.

Já A Grande Caçada aos Tubarões mostra, em muitos dos seus ensaios e reportagens – que comentam diversos aspectos das agitadas décadas de 60 e 70 [mesmo a América do Sul e o Brasil particularmente, onde ele viveu, são contemplados]– o lado beberrão e alucinado de Thompson que acabou ficando famoso. Por exemplo, a reportagem “O Kentucky Derby é Decadente e Degenerado” mostra o jornalista e um companheiro, o ilustrador inglês Ralph Steadman, bebendo desbragadamente em um fim-de-semana no qual seria disputada uma famosa corrida de cavalos no Kentucky. Outro exemplo é “Medo e Delírio em Watergate: o Senhor Nixon Descontou seu Cheque”. Nesta o jornalista escreve sobre sobre o escândalo que derrubou o presidente americano de maneira agitada e caótica. Mas o Hunter S. Thompson frio e objetivo do livro Hell’s Angels… também aparece em reportagens excelentes como “O Hashbury é a Capital dos Hippies, que analisa o início da explosão hippie em São Francisco, e “Marlon Brando e a Pescaria de Protesto Indígena”.

Os dois livros são altamente recomendados, tanto pelo valor jornalístico quanto literário. Além de escrever sempre de maneira brilhante [mesmo quando Thompson repete a palavra “eu” diversas vezes na mesma página]tem-se a certeza que o objetivo ali não é falar dele mesmo, mas dar ao leitor uma idéia mais aprofundada da situação analisada. Lição que muito jornalista ou blogueiro brasileiro que se diz influenciado por Thompson não entendeu ou não quis entender. [FM]

(Fonte: www.mondobacana.com/edicao-39 – Escrito por Abonico – 25 de Abril de 2008)

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