Hipólito da Costa, fundou a imprensa brasileira e criador da imprensa política em língua portuguesa.

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Hipólito: coerência e constância

Considerado o primeiro esforço nacional para transplantar tecnologias concebidas por outros

Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça (Colônia de Sacramento, 25 de março de 1774 – Londres, 11 de setembro de 1823), bacharel em leis e filosofia pela Universidade de Coimbra, poderia ter feito, como tantos outros intelectuais de competência reconhecida, proveitosa carreira no serviço da corte portuguesa. Chegou a viajar em missão especial à nascente República dos dos Estados Unidos da América em busca de conhecimentos, plantas e sementes que pudessem frutificar na colônia brasileira, naquele que poderia ser considerado o primeiro esforço nacional para transplantar tecnologias concebidas por outros. Por sinal, esforço – como tantos outros que lhe foram posteriores – fracassado.

Nos Estados Unidos, o ainda jovem Hipólito (nascido em 25 de março de 1774, na Colônia de Sacramento, no Rio Grande do Sul, não chegaria ainda aos 30 anos) respirou um estimulante ar de liberdade pública, desconhecido em Portugal, e desde então converteu-se em seu fiel e abnegado sacerdote. Envolvido com a maçonaria, conheceu a boçalidade, a intransigência e os cárceres da Inquisição portuguesa, dos quais escapou por artes verdadeiramente rocambolescas. Foi abrigar-se à sombra poderosa da bandeira inglesa, em Londres, protegido pela condição de acionista do Banco da Escócia, que lhe garantia quase todos os direitos de um cidadão inglês e o colocava a salvo das pressões diplomáticas de Lisboa. Lá, iniciou, em junho de 1808, a publicação do Correio Braziliense, ou “Armazém Literário”, periódico que marcou o nascimento do jornalismo brasileiro, circulando, mês a mês, às vezes até com mais de 200 páginas e todas preparadas pelo solitário editor-proprietário até dezembro de 1822, quando, proclamada enfim a independência, julgava Hipólito definitivamente implantada a liberdade no Brasil.

Sob proteção – Fundador da imprensa brasileira, é também Hipólito o criador da imprensa política em língua portuguesa. Nascer a imprensa brasileira em terra estranha, para fugir às perseguições e à falta de liberdade imperante nos domínios portugueses, é apenas uma das singularidades que a acompanhariam pelos tempos. Outras aconteceram. Já o proprietário do jornal, Hipólito da Costa, contava com protetores poderosos, sobretudo o influente Augustes Frederik, duque de Sussex, que cultivou sua amizade até o fim, e pessoalmente mandou colocar uma lápide de carinhosa inscrição sobre sua sepultura, na Igreja de Saint Mary, the Virgin, em Hurley. Foi assediado pelo governo português, ora com ameaças, ora com promessas de dinheiro e vantagens pessoais. A leitura dessa antologia revela que jamais o Correio Braziliense adotou posições incoerentes, mas nã há dúvida de que Hipólito, ainda que resistindo aos favores oficiais, tenha recorrido a “fontes invisíveis” para prover os fundos necessários ao jornal.

Ainda assim, a leitura de suas páginas não revela que tais fontes tenham influenciado a linha editorial do Correio Braziliense. Com notável precisão e cultura, cuidou de temas variados, como escravidão, agricultura, excessos policiais, a criação do Banco do Brasil. Mas lutou sobretudo, contra a volta do Brasil ao estatuto colonial, a favor da permanência da corte no Rio de Janeiro e, finalmente, pela independência definitiva de Portugal. Mesmo em paralelo com os periódicos que surgem no Brasil, é o melhor informado de todos eles, o que melhor conhece e discute os problemas brasileiros. Antes dele, com mais paixão, ainda hoje seria possível, dentre a massa enorme do Correio Braziliense, escolher vinte ou trinta desses artigos decisivos, publicá-los em livro e ter assim à mão o escorço do poema do grande homem.

Páginas exemplares – A Hipólito, quando muito, se pode cobrar a ingenuidade de supor que, com a independência, a liberdade, em geral, e a de imprensa, em particular, estivesse consolidada no Brasil. Morto na manhã de 11 de setembro de 1823, não chegou a saber da dissolução da Assembleia Constituinte, em novembro, por ordem do imperador Pedro I, nem das violências que a partir daí se praticaram contra as liberdades dos cidadãos e dos jornais. Atentados que se tornaram tão comuns ao longo da evolução da sociedade brasileira que um historiador menos otimista bem poderia recorrer a uma das primeiras páginas do Correio Braziliense para lançar a epígrafe oportuna praticamente para todos os capítulos de sua história. (…) Porque espero que esta lição”, dizia Hipólito em 1808, “que os tempos nos oferecem, lhes abra olhos (aos governantes portugueses), dando-lhes a conhecer que só a prosperidade do povo é quem faz a prosperidade do governo, que quando se põem obstáculos e entraves ao progresso e propagação das ciências devem ficar tão raros os homens sábios, que quando o governo precisa deles, de repente, não os acha.” Um parágrafo que, mesmo nas derradeiras décadas do século XX, não perdeu sua atualidade.

(Fonte: Veja, 15 de março de 1978 – Edição 497 – LITERATURA – Por Almyr Gajardoni – ANTOLOGIA DO Correio Braziliense/ Por Barbosa Lima Sobrinho – Pág; 120)

 

 

Direitos humanos: um precursor

Mais de um século antes de a Organização das Nações Unidas (ONU) consagrar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, o jornalista gaúcho Hipólito José da Costa já aparecia, pelo menos na imprensa sul-americana, como um precursor nesta área.

O registro se encontra na última edição do Correio Braziliense, em 1822, onde ele falava em “princípios de liberdade nacional” e na “ignorância dos direitos inalienáveis dos homens”.

O patrono da imprensa brasileira referia-se ao regime de escravatura vigente na época e que considerava como o maior obstáculo que podia ter o continente para promover sua indústria.

“Como estas revoluções da América são agora fundadas nos princípios de liberdade, claro está que fica sendo incompatível com a existência desses governos a conservação da escravatura”, ressaltou o jornalista nascido em Colônia do Sacramento, que já foi território brasileiro e hoje pertence ao Uruguai.

(Fonte: Zero Hora – Ano 54 – Nº 18.851 – 9 de agosto de 2017 – ALMANAQUE GAÚCHO/ Por Antônio Goulart – Pág: 40)

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