Giuseppe Tomasi di Lampedusa, foi um dos grandes maiores escritores italianos do século XX

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Giuseppe Tomasi di Lampedusa (Palermo, 23 de dezembro de 1896 – Roma, 23 de julho de 1957), escritor italiano. Entre as suas obras conta-se o romance Il gattopardo (O Leopardosobre a decadência da aristocracia siciliana durante o Risorgimento.

Levando em conta a elegância discreta de um homem que elegeu a água como sua bebida predileta, é concebível que o próprio autor de “O Leopardo” tenha desejado uma austera trajetória para sua vida literária.

A editora italiana Feltrinelli rejeitou os originais de seu romance “O Leopardo” e só reviu essa desastrada decisão em 1957, um ano depois da morte do autor, negando-lhe a visão do próprio sucesso.

O príncipe Lampedusa deixou apenas alguns papéis inéditos, poucos contos e oito textos autobiográficos. Três destes contos, e os textos sobre sua infância na Sicília, compõem “O Senador e a Sereia”, versão visivelmente apressada do original italiano “I Racconti”.

Enquanto o vigoroso fôlego do único romance de Lampedusa alimentou um sucesso mundial – além de torna-lo um dos grandes maiores escritores italianos do século XX -, esses escritos curtos possibilitaram ao autor um minucioso e iluminado trabalho de ourivesaria.

São onze joias, em que Lampedusa aguça o foco de alguns temas esboçados no “Leopardo”, como os últimos lampejos nostálgicos de uma Sicília aristocrática. Nos contos, ele trata dessa mesma terra antevendo o fascismo que abriria caminho a um novo tipo de ruínas: as dos bombardeios americanos (“Os Lugares de Minha Primeira Infância”). Descreve também a pobreza, envergonhada de si própria (“A Felicidade e a Lei”) ou desaguando nos mal-entendidos do novo-riquismo (“O Novo-Rico e os Velhos Senhores”).

 

ILUMINAÇÕES – Neste longo conto “O Senador e a Sereia”, o narrador é “Paolo Corbera”, jornalista siciliano trabalhando em Turim. Por acaso, fica conhecendo uma das sumidades da cultura italiana, o senador “Rosario La Ciura”, internacionalmente venerado como autoridade em língua e cultura gregas.

Agressivo, irônico e sarcástico, o próprio senador dá pouca importância a toda essa formação racional. Prefere deixar-se seduzir pelas lembranças do mar e do sol da Sicília, onde viveu uma aventura de juventude que o marcou para sempre: o encontro com uma sereia, sobrevivente dos paradisíacos tempos irracionais que antecederam a formação da Grécia racional e clássica que se costuma considerar a única.

Em todos seus escritos, Lampedusa é um escritor fascinado pela luz, pelas cores, pelas transparências e refrações do visual. Em “O Senador e a Sereia”, mergulha em luz ainda mais sutil, quando contrapões a vivência prática da realidade mágica ao desgaste do tempo, às mesquinharias do moralismo e à grosseria da erudição. 

O musical e luminoso “O Senador e a Sereia”, retoma o velho preceito aristotélico de que a poesia é mais verdadeira que a História.

Em “O Senador e a Sereia”, a particular iluminação do sol siciliano transforma-se numa iluminação interior em que a morte e o próprio tempo são vencidos pela união mística entre um mortal e um mito, meio deusa, meio animal.

“Liguea”, a sereia, é o prêmio máximo reservado pela Grécia aos que a cultuam. Mas, para recebê-lo inteiro, imortal, é preciso atravessar a fronteira que separa os homens dos deuses, a morte. Embora avance por territórios tão densos e desesperados, Lampedusa mantém, em relação ao leitor, um respeito que só se encontra nas boas maneiras dos velhos aristocratas ou nas obras dos grandes escritores.

(Fonte: Veja, 11 de junho de 1980 – Edição 614 – LIVROS/ Por Marco Antônio de Menezes – Pág: 69)

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