Gibran Kahlil Gibran, ensaísta, pintor e poeta libanês.

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Gibran Kahlil Gibran (Bsherri, Líbano, 6 de janeiro de 1883 – Nova York, 10 de abril de 1931), ensaísta, pintor e poeta libanês.
Vários editoras lançaram títulos de autoria de Gibran – entre eles simples coletâneas de obras anteriores, ou como “As Últimas Horas de Gibran”, (coleção de pensamentos); “Os Espíritos Insurgentes”, (uma antologia de pequenas parábolas e, “Lágrimas e Sorrisos”, reúne trechos em prosa e verso.

Tônico e bálsamo – Gibran nasceu no Líbano, em 6 de janeiro de 1883, mas foi criado nos Estados Unidos, em Boston. Enquanto seus três irmãos viviam normalmente, como imigrantes em busca de realização material, ele nem saía de casa para não abandonar os livros. “As crianças, irlandesas, chinesas ou sírias, têm língua suja, mesmo as meninas. Prefiro meus livros, que são limpos!”

Depois de perder a mãe e dois irmãos, Gibran passou a ser sustentado pela irmã restante, que ganhava a vida costurando. E, aos dezenove anos, começou sua vida artística, com uma exposição de pintura. Um crítico considerou suas obras “bem acabadas, embora não passassem de imitações”. A mostra, porém, acabou deixando um saldo favorável – lá, Gibran encontrou Mary Haskell, dona de uma escola feminina em Boston. Ela está na raiz de seu sucesso e pode ser considerada a fundadora do gibranismo. Deu-lhe tônico para os cabelos, bálsamo para a pele, comprimidos para a tiroide, apresentou-o a celebridades. E, principalmente, providenciou-lhe uma mesada suficiente para que Gibran viajasse pela Europa, numa peregrinação por museus e estúdios.

Um harém – Na década de 20 o gibranismo não era mais exclusivo de Mary. Os intelectuais da colônia árabe de Nova York já chamavam – seriamente – o apartamento de Gibran de “O Eremitério”. Certa noite, entre os que recolhiam as pérolas de sabedoria do mestre, estava Alfred A. Knopf, na época apenas um jovem editor em busca de novidades para sua pequena companhia. O resultado do encontro foi a edição de “O Profeta”. A primeira tiragem teve exatamente 1 159 exemplares. Hoje, Gibran vende essa quantidade em dois dias.

O livro fala de Almustafa, “o escolhido e o querido”, incitado por uma vidente a relatar “tudo o que lhe foi mostrado do que está entre o nascimento e a morte”. A mensagem, porém, deve ser muito hermética, pois, para qualquer não-iniciado, os versos do poeta não passam de conselhos estranhos ou ditos do bom senso popular. Nada disso, em todo caso, impediu o êxito do livro. Gibran chegou a ver Jesus em sonhos. E cada vez mais se confundiu com algo semi-divino, em meio a uma aura de pretensão e palavras vazias. Ser eremitério ameaçou tornar-se um harém, com a multidão de adoradoras fanáticas que o rodeava – embora Mary continuasse a ser a mais devotada de todas.

Opiniões passivas – Quando ele morreu em Nova York, em 10 de abril de 1931, aos 48 anos, vítima de uma doença do fígado, o culto ao Profeta atingiu o auge. E seu testamento foi o clímax adequado para sua vida. Os direitos de seus sete livros foram doados aos habitantes de Bsherri, no Líbano, sua aldeia natal. Os 10 000 habitantes do lugarejo receberam inicialmente um legado de 50 000 dólares e mais 1 milhão de dólares por ano, quantia infinitivamente superior a todo o dinheiro que possuíam. A destinação da fortuna, como se poderia esperar, gerou mortes e lutas políticas, até que o governo do Líbano interveio e regulamentou a distribuição de bolsas de estudo e empréstimos sem juros.

Para Bsherri devem estar indo os direitos das traduções dos livros de Gibran editados no Brasil. Os três últimos não acrescentam nada ao que já é conhecido do autor de “O Profeta”. Neles continuam a se revelar suas opiniões passivas e bem comportadas a respeito do homem e de Deus. Neles estão palavras que aliviam espíritos menos exigentes, e as bases de um culto conformista que preenche o vácuo deixado por um certo recuo das religiões tradicionais. Além do alívio e do tranquilizante intelectual, Gibran ainda rendeu nos Estados Unidos um seriado de televisão para suas fãs. Os editores e colecionadores de livros do poeta libanês que, no mundo inteiro, aproveitaram o entusiasmo fanático dos seguidores do “gibranismo”, uma espécie de culto marginal à moda do misticismo oriental.

(Fonte: Veja, 6 de junho de 1973 – Edição n° 248 – LITERATURA/ Culto conformista – Pág; 94)

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