George Whitefield, foi o principal e o primeiro dentre os reformadores ingleses do século 18.

0
Powered by Rock Convert

A Vida de George Whitefield

George Whitefield (Gloucester, 16 de dezembro de 1714 – Newbury Porth, 29 de setembro de 1770), foi tão decididamente o principal e o primeiro dentre os reformadores ingleses do século 18.

Conhecido como o “príncipe dos pregadores ao ar livre”, foi o evangelista mais conhecido do século 18. Pregou durante 35 anos na Inglaterra e nos Estados Unidos, quebrou as tradições estabelecidas a respeito da pregação e abriu o caminho para a evangelização de massa.

George nasceu em Gloucester, no ano de 1714. Esta venerável cidade, que foi o lugar de seu nascimento, está ligada com mais de um nome que deveria ser querido a todo amante da verdade protestante. Tyndal, um dos primeiros e mais capazes tradutores da Bíblia inglesa, também nasceu em Gloucester. Hooper, um dos maiores e melhores dos nossos reformadores ingleses, foi bispo de Gloucester, e foi queimado na fogueira por causa da verdade de Cristo, diante da sua própria igreja, no reinado da Rainha Maria.

No século seguinte, Miles Smith, Bispo de Gloucester, foi um dos primeiros a protestar contra os procedimentos romanizadores de Laud, o qual era então Deão de Gloucester. Na verdade, ele ia tão longe nos seus sentimentos protestantes que quando Laud moveu a mesa de comunhão da catedral para o lado direito, e a colocou pela primeira vez do lado oposto do altar, em 1616, o Bispo Smith ficou tão ofendido que se recusou a entrar na catedral a partir daquele dia até a sua morte.

Lugares como Gloucester, não podemos duvidar, têm vinculados a si uma rica herança de muitas orações. A cidade aonde Hooper pregou e orou, e onde o zeloso Miles Smith protestou, foi o lugar onde nasceu o maior pregador do Evangelho que a Inglaterra jamais viu.

Como muitos outros homens famosos, Whitefield era de origem humilde, e não gozava de conhecimento de pessoas ricas ou nobres para ajudá-lo a ir avante no mundo. Sua mãe possuía a hospedaria Bell em Gloucester, e parece que não prosperou no negócio. De qualquer modo, parece que ela nunca teve condições de fazer nada para que Whitefield avançasse na vida. A hospedaria ainda existe, e é tida como o lugar de nascimento não apenas do nosso maior pregador inglês, mas também de um bem conhecido prelado inglês: Henry Philpot, Bispo de Exeter.

O início da vida de Whitefield, de acordo com seu próprio relato, foi tudo, menos religioso, embora, como muitas crianças, ele tivesse ocasionais fisgadas de consciência e afetos espasmódicos de sentimentos de devoção. Mas, os hábitos e os gostos em geral são o único teste verdadeiro dos caracteres dos jovens. Ele confessa que era “dado à mentira, conversa obscena, galhofa tola”, e que era um “profanador do domingo, freqüentador de teatro, jogador de cartas e leitor de romances”. Tudo isso, diz ele, continuou até a idade de quinze anos.

Pobre como era, sua residência em Gloucester lhe proporcionou a vantagem de uma boa educação na escola pública secundária da cidade. Aí ele foi um estudante externo até a idade de 15 anos. Nada é conhecido a respeito do seu progresso aí. Entretanto, ele dificilmente deve ter sido ocioso, pois neste caso não estaria pronto para ingressar na universidade logo depois, com a idade de 18 anos. Além disso, suas cartas mostram uma familiaridade com o latim, através de freqüentes citações, o que dificilmente seria conseguido se não houvesse aprendido na escola. O único fato conhecido a respeito dos seus dias na escola é o fato curioso de que ele era notável por sua elocução e memória, e foi selecionado para recitar discursos diante da Corporação de Gloucester quando da sua visita anual à Escola Secundária.

Com a idade de 15 anos Whitefield deixou a escola, e parece ter abandonado o latim e o grego por um tempo. Com toda a probabilidade, as difíceis circunstâncias financeiras de sua mãe tornaram absolutamente necessário que ele fizesse alguma coisa para ajudá-la no seu negócio e que ganhasse o seu próprio sustento. Assim, ele começou a ajudá-la no serviço diário de sua hospedagem. “Finalmente,” diz ele, “eu coloquei o meu avental azul, lavei copos, limpei salas e, em uma palavra, tornei-me um zelador declarado durante um ano e meio.”

Este estado de coisas, entretanto, não durou muito; o negócio da sua mãe na hospedaria não floresceu e ela finalmente aposentou-se totalmente. Um antigo colega de escola reavivou em sua mente a idéia de ir para Oxford, e ele voltou para os bancos da Escola Secundária reiniciando seus estudos. Alguns amigos que estavam interessados por ele se levantaram no Pembroke College, em Oxford, onde a Escola Secundária de Gloucester fez duas exibições. Finalmente, após diversas circunstâncias providenciais terem suavizado o caminho, ele ingressou em Oxford como um servente no Pembroke College com a idade de 18 anos.

O período em que Whitefield residiu em Oxford foi o momento crucial na sua vida. O seu jornal nos diz que durante os dois ou três anos que antecederam a sua ida para a Universidade, ele não esteve isento de convicções religiosas. Mas, a partir do momento em que ingressou no Pembroke College, estas convicções rapidamente amadureceram em direção a um cristianismo convicto. Ele fazia uso diligente de todos os meios de graça ao seu alcance. Ele gastava seus tempos vagos visitando a prisão da cidade, lendo para os prisioneiros, e tentando fazer o bem. Ele conheceu os famosos John Wesley, seu irmão Charles Wesley, e um pequeno grupo de jovens do mesmo pensamento, incluindo o conhecido autor de “Theron and Aspasion,” James Hervey. Este era o devotado grupo aos quais o termo “metodistas” foi aplicado pela primeira vez, por causa do seu “método” estrito de viver. Num certo período da sua vida, Whitefield parece ter devorado com prazer livros como: “Thomas à Kempis”, e, “O Combate Espiritual de Castanuza”, e ter estado em perigo de tornar-se um semi-papista, um ascético ou um místico, e de fazer da auto-negação o centro da religião. Ele diz em seu jornal: “Eu sempre escolhia o pior tipo de alimento.

Eu jejuava duas vezes por semana; minha aparência era desprezível. Eu pensava que passar brilhantina no cabelo era impiedade. Eu usava luvas de lã, roupa remendada, e sapatos sujos; e pensei que estava convencido de que o reino não consiste em comida e bebida, mas ainda persistia resolutamente nestes atos voluntários de auto-negação, porque encontrava neles grande estímulo para a vida espiritual.” Ele foi gradualmente libertado de toda esta escuridão, em parte pelo conselho de um ou dois cristãos experientes, e em parte pela leitura de livros tais como: “A Vida de Deus no Coração do Homem” de Scougal, “Apelo Sério” de Law, “Apelo aos não Convertidos” de Baxter, “Alerta a Pecadores não Convertidos” de Alleine, o comentário de Matthew Henry. “Acima de tudo” diz ele, “tendo a minha mente agora mais aberta e alargada, eu comecei a ler as Sagradas Escrituras de joelhos, colocando de lado todos os outros livros e orando, se possível, sobre cada linha e palavra. Isto proveu alimento e bebida de fato para minha alma. Eu diariamente recebia vida fresca, luz e poder do alto. Eu obtive mais conhecimento verdadeiro da leitura do Livro de Deus em um mês do que jamais poderia adquirir de todos os escritos dos homens.” Uma vez ensinado a entender a gloriosa liberdade da graça de Cristo, Whitefield nunca mais voltou-se para o ascetismo, legalismo, misticismo, ou estranhas idéias da perfeição cristã. A experiência adquirida por meio de amargo conflito lhe foi muito valiosa. As doutrinas da livre graça uma vez plenamente aprendidas, lançaram profundas raízes no seu coração, e tornaram-se como se fosse osso do seu osso e carne da sua carne. De todo o pequeno grupo de metodistas de Oxford, nenhum parece ter se apossado tão cedo de uma clara visão do Evangelho de Cristo como ele o fez, e nenhum a guardou tão resolutamente até o fim.

Com a idade de 22 anos, Whitefield foi admitido às Santas Ordens pelo Bispo Benson de Gloucester, no Domingo da Santíssima Trindade, em 1736. Sua ordenação não resultou da sua própria busca. O bispo ouviu de Lady Selwyn e de outros a respeito do seu caráter, mandou buscá-lo e deu-lhe cinco guinéus para comprar livros, oferecendo-se para ordená-lo quando ele desejasse, embora tivesse apenas 22 anos de idade. Esta oferta inesperada o alcançou quando ele estava cheio de escrúpulos a respeito da sua própria condição para o ministério. Aquilo desfez as amarras e o levou a tomar uma decisão. “Eu comecei a pensar”, diz ele, “que se continuasse a resistir, eu lutaria contra Deus”.

O primeiro sermão de Whitefield foi pregado na própria cidade onde ele nasceu, na Igreja de Sta. Mary-le-Crypt, em Gloucester. A sua própria descrição é o melhor relato que pode ser dado: “Domingo passado, de tarde, eu preguei meu primeiro sermão, na Igreja de Sta. Mary-le-Crypt, onde fui batizado e também pela primeira recebi o sacramento da Ceia do Senhor. Curiosamente, como você pode facilmente conjecturar, isto atraiu uma grande congregação na ocasião. A visão, à princípio, atemorizou-me um pouco. Mas fui confortado com um sentimento sensível ao meu coração da presença divina, e logo descobri a indizível vantagem de ter sido acostumado a falar em público quando garoto na escola, e de exortar prisioneiros e pessoas pobres nas suas casas quando na Universidade. Por meio disso fui guardado de ser demasiadamente desencorajado. Quando eu prosseguia percebi um fogo se acender, até que por fim, embora tão jovem e cercado por uma multidão daqueles que me conheciam desde os dias da minha meninice, eu acredito que fui habilitado a pregar o Evangelho com algum grau de autoridade. Alguns poucos escarneceram, mas a maioria parecia subitamente impressionada; e eu ouvi que uma queixa foi feita ao bispo, de que eu havia levado quinze pessoas à loucura com o meu primeiro sermão! O digno prelado desejou que a loucura não viesse a ser esquecida antes do próximo domingo.”

Quase que imediatamente após sua ordenação, Whitefield foi para Oxford e obteve seu grau de Bacharel em Artes. Ele então começou sua vida ministerial regular assumindo deveres temporários na Tower Chapel em Londres. Enquanto servia ali, pregou continuamente em muitas igrejas de Londres, e entre outras, nas igrejas paroquiais de Islington, Bishopsgate, Sto. Dunstan, Sta. Margaret, Westminster, Ibow, Cheapside. Desde o início ele obteve um grau de popularidade tal, que nenhum pregador antes ou desde então provavelmente jamais alcançou.

Quer em dias de semana ou domingos, onde quer que ele pregasse as igrejas lotavam e uma grande sensação era produzida. A grande verdade é que um pregador extemporâneo e realmente eloqüente, pregando o puro Evangelho com os dons de voz e de maneiras não usuais, era naquele tempo uma completa novidade em Londres. As congregações eram tomadas de surpresa e arrebatadas. De Londres ele foi transferido por dois meses para Dummer, numa pequena paróquia rural em Hampshire, perto de Basingstoke. Esta era uma esfera de ação totalmente nova, e ele parecia como que um homem enterrado vivo entre aquele povo pobre e iletrado. Mas cedo ele adaptou-se a situação, e concluiu posteriormente que colheu muito proveito das conversas que teve com os pobres. De Dummer ele aceitou um convite, o qual lhe havia sido feito com insistência pelos irmãos Wesley para visitar a colônia de Geórgia na América do Norte, para ajudar no cuidado de uma casa de órfãos que havia sido estabelecida perto de Savannah para filhos de colonizadores. Após pregar por alguns poucos meses em Gloucestershire, e especialmente em Bristol e Stonehouse, ele viajou para América no segundo semestre de 1737, permanecendo lá por cerca de um ano.

As coisas relacionadas com esta casa de órfãos, deve-se observar, ocuparam muito da sua atenção desde este período da sua vida até a sua morte. Apesar de bem intencionado, parece ter sido uma decisão de questionável sabedoria, e certamente acarretou a Whitefield um mundo de ansiedade e responsabilidade até o fim de seus dias.

Whitefield retornou da Geórgia na segunda parte do ano de 1738, em parte para obter as ordens do sacerdote, que lhe foram conferidas pelo seu antigo amigo, o Bispo Benson, e em parte para tratar de negócios relacionados com a casa de órfãos. Ele cedo descobriu, entretanto, que a sua posição não era mais a mesma de antes de haver viajado para a Geórgia. O grosso do clero não lhe era mais favorável e olhavam-no com suspeitas, como um entusiasta e um fanático. Eles estavam escandalizados principalmente por causa da pregação da doutrina da regeneração ou do novo nascimento, como algo que muitas pessoas batizadas necessitavam grandemente! O número de púlpitos aos quais ele tinha acesso rapidamente diminuiu. Os guardiões da igreja, osquais não tinham olhos para a bebedeira e impureza, ficaram cheios de intensa indignação sobre o que eles chamavam de “violação da ordem”. Bispos que podiam tolerar o Arminianismo, Socinianismo e Deísmo, encheram-se de indignação contra um homem que declarava plenamente a expiação de Cristo e a obra do Espírito Santo, e começaram a denunciá-lo abertamente. Para abreviar, deste período da sua vida em diante, o campo de utilidade de Whitefield dentro da Igreja da Inglaterra estreitou-se rapidamente de todos os lados.

O fato que neste tempo provocou uma reviravolta em todo o curso do ministério de Whitefield foi sua adoção do sistema de pregação a céu aberto. Observando que milhares em todo lugar não freqüentavam locais de culto, gastavam seus domingos na ociosidade ou no pecado e não eram alcançados pelos sermões pregados dentro das paredes dos templos, ele resolveu, num espírito de ofensiva santa, ir atrás deles “nas ruas e becos”, de acordo com o princípio de seu Mestre, e “compeli-los a entrar”. A sua primeira tentativa em fazer isso foi entre os mineiros de carvão em Kingswood, perto de Bristol, em fevereiro de 1739. Depois de muita oração, ele foi umdia para o monte Hannam, colocou-se de pé sobre o monte, e começou a pregar a aproximadamente uma centena de mineiros, baseado em Mateus 5:1-3. Logo a coisa tornou-se conhecida. O número de ouvintes rapidamente aumentou, até que a congregação contava com muitos milhares. Seu próprio relato da conduta destes mineiros de carvão negligenciados, os quais nunca haviam estado em uma igreja nas suas vidas, é profundamente comovente: “Não tendo”, escreve ele a um amigo, “nenhuma justiça própria para renunciar, eles ficavam felizes ao ouvir de um Jesus, o qual era um amigo de publicanos, e que não veio chamar os justos, mas pecadores ao arrependimento. A primeira vez que descobri que estavam sendo afetados foi através da visão dos sulcos brancos feitos por suas lágrimas, que rolavam abundantemente das suas faces negras, visto que haviam saído das suas minas de carvão. Centenas deles foram logo levados a uma profunda convicção, a qual, foi comprovado, terminou felizmente em uma sadia e total conversão. A mudança era visível a todos, apesar de alguns terem escolhido atribuí-la a qualquer outra coisa que não ao dedo de Deus. Visto que a cena era totalmente nova, ela freqüentemente ocasionava muitos conflitos interiores. Às vezes, quando vinte mil pessoas estavam diante de mim, eu não tinha uma só palavra para dizer, quer a Deus ou a eles. Mas eu nunca fui totalmente desamparado, e freqüentemente (porque negar isto seria mentir contra Deus) fui de tal modo assistido, que vim a saber, por uma feliz experiência, o que o nosso Senhor tencionava ao dizer “do seu interior fluirão rios de água viva”. O firmamento aberto sobre mim, a vista dos campos adjacentes, com a visão de milhares, alguns em carroças, outros sobre o dorso de cavalos, e alguns nas árvores, e às vezes, todos comovidos e em lágrimas, era quase que demais para mim e dominava-me totalmente.”

Dois meses depois disto Whitefield iniciou a prática de pregação a céu aberto em Londres, no dia 27 de abril de 1739. As circunstâncias nas quais isto aconteceu foram curiosas. Ele havia ido para Islington para pregar a convite do vigário, seu amigo, Sr. Stonehouse. No meio da oração os guardiões da igreja vieram a ele e pediram sua licença para pregar na diocese de Londres. E claro que Whitefield não tinha esta licença, assim como nenhum outro ministro que não oficiava regularmente na diocese, naqueles dias. O resultado da questão foi que, sendo proibido de pregar pelos guardiões da igreja no púlpito, ele foi para fora depois da comunhão e pregou no cemitério da igreja. “E”, diz ele, “Deus agradou-se em assistir-me na pregação e a comover tão maravilhosamente os ouvintes, que acredito que poderíamos ter ido para a prisão cantando hinos. Não digam os adversários que eu mesmo me retirei das suas sinagogas. Não! Eles me expulsaram.” Daquele dia em diante ele tomou-se um constante pregador do campo quando quer que o tempo e a estação do ano o fizesse possível. Dois dias depois, no domingo de 29 de abril, ele registra: “Eu preguei em Moorfields a uma multidão extremamente grande. Tendo ficado debilitado pelo meu sermão da manhã, eu descansei de tarde dormindo um pouco, e às cinco horas fui e preguei em Kenninngton Common, à cerca de duas milhas de Londres, quando não menos do que trinta mil pessoas foram estimadas estar presentes”.

Daí em diante, aonde quer que houvesse amplos espaços abertos ao redor de Londres, aonde quer que houvesse grandes grupos de ociosos, ímpios, profanadores do domingo reunidos, em Hackney Fields, Mary-le-bone Fields, May-Fair, Smithfields, Blackheath, Moorfields, Kenninngton Conmion, lá estava Whitefield levantando sua voz por Cristo. O Evangelho assim proclamado era ouvido e alegremente recebido por centenas que nunca sonharam em ir a um lugar de adoração. A causa da pura religião avançou e almas foram arrancadas das mãos de Satanás, como brasas do fogo. Mas a coisa estava indo rápido demais para a igreja daqueles dias. O clero, com poucas exceções, recusava inteiramente apoiar este estranho pregador. Com um espírito de verdadeira inveja, eles nem gostavam de ir atrás das massas da população semi-pagã, nem queriam que ninguém fosse fazer o trabalho para eles. A conseqüência foi que as pregações de Whitefield nos púlpitos da Igreja da Inglaterra a partir deste tempo cessaram quase que inteiramente. Ele amava a igreja na qual havia sido ordenado; ele gloriava-se nos seus artigos de fé; ele usava com prazer os seus livros de oração. Mas a igreja não o amava, e assim perdeu o uso dos seus serviços. A pura verdade é, que a igreja da Inglaterra daqueles dias não estava pronta para um homem como Whitefield. A igreja estava sonolenta demais para entendê-lo e incomodada com um homem que não se aquietava nem deixava o diabo em paz.

Os acontecimentos da história de Whitefield a partir deste período até o dia da sua morte são quase que inteiramente da mesma compleição. Um ano era exatamente como o outro e tentar segui-lo seria apenas pisar repetidamente sobre o mesmo solo. De 1739 até o ano da sua morte em 1770, um período de 31 anos, sua vida foi de uma desenvoltura uniforme. Ele foi eminentemente um homem de uma só coisa, que era o cuidado dos negócios de seu Mestre. De domingo de manhã aos sábados à noite, de primeiro de janeiro a 31 de dezembro, excetuando-se quando ficava impossibilitado por doença, ele estava quase que incessantemente pregando a Cristo, e indo ao redor do mundo convidando os homens ao arrependimento, a virem a Cristo e a serem salvos. Dificilmente houve uma cidade de considerável tamanho na Inglaterra, Escócia ou País de Gales, que ele não tenha visitado como evangelista. Quando as igrejas lhe estavam abertas, ele pregava alegremente nas igrejas; quando apenas capelas podiam ser conseguidas, ele pregava com alegria nas capelas. Quando igrejas e capelas estavam ambas fechadas, ou eram demasiadamente pequenas para conter seus ouvintes, ele estava pronto e desejoso de pregar ao ar livre. Por 31 anos ele laborou deste modo, sempre proclamando o mesmo Evangelho glorioso, e sempre, até onde os olhos humanos possam julgar, com imenso efeito. Numa única semana de pentecostes, após pregar em Moorfields, ele recebeu cerca de mil cartas de pessoas espiritualmente aflitas, e admitiu à mesa do Senhor trezentos e cinqüenta pessoas. Nos trinta e quatro anos do seu ministério é reconhecido que ele pregou publicamente dezoito mil vezes.

Suas viagens foram prodigiosas, quando consideradas as ruas e meios de transportes do seu tempo. Mais do que qualquer homem nos tempos modernos, ele estava familiarizado com “perigos no deserto e perigos no mar”. Ele visitou a Escócia quatorze vezes e em nenhum outro lugar foi mais bem aceito e útil do que naquele país amante da Bíblia. Ele cruzou o Atlântico sete vezes, de ida e de volta, em miseráveis e lentos barcos a vela e atraiu a atenção de milhares em Boston, New York e Philadelphia. Ele foi à Irlanda duas vezes, e em determinada ocasião quase foi assassinado por uma turba de papistas ignorantes em Dublin. Na Inglaterra e no País de Gales, ele percorreu cada um de seus condados, da Ilha de Wight até Berwick-on-Thiid, e da Land”s End até North Foreland.

O seu trabalho ministerial regular em Londres durante a estação de inverno, quando a pregação no campo era necessariamente suspensa, era, às vezes, prodigioso. Seus compromissos semanais no Tabernáculo em Tottenham Court Road, o qual foi construído por ele quando os púlpitos da igreja estabelecida foram fechados, compreendiam os seguintes trabalhos: cada domingo de manhã ele ministrava a Ceia do Senhor a diversas centenas de comungantes, às seis e meia. Depois disso, ele lia orações, e pregava de manhã e de tarde. Então pregava novamente no início da noite, às cinco e meia, e concluía dirigindo-se a um largo grupo de viúvas, casais, homens e mulheres solteiros, todos sentados separadamente na área do Tabernáculo, com exortações apropriadas às suas respectivas situações. Nas manhãs de segunda, terça, quarta e quinta, ele pregava regularmente às seis horas. Nas tardes de segunda, terça, quarta, quinta e sábado, ele fazia palestras. Isto, pode-se observar, perfazia treze sermões por semana. E durante todo este tempo ele mantinha uma ampla correspondência com pessoas em quase toda parte do mundo.

Que qualquer constituição humana pudesse suportar os labores que Whitefield suportou durante tanto tempo, parece surpreendente. Que sua vida não tenha sido ceifada pelos perigos aos quais estava freqüentemente exposto, não é menos surpreendente. Mas ele foi imortal até que seu trabalho fosse realizado. Por fim, ele morreu subitamente em Newbury Porth, na América do Norte, num domingo, 29 de setembro de 1770, ainda relativamente novo, com 56 anos de idade. Ele foi casado com uma viúva chamada James, de Abergavenny, a qual morreu antes dele. Se podemos julgar pela pouca menção que ele faz da esposa em suas cartas, o casamento não parece ter contribuído muito para sua felicidade. Ele não deixou filhos, mas deixou um nome bem melhor preservado do que se tivesse deixado filhos e filhas. Talvez nunca tenha havido um homem do qual se pudesse dizer tão verdadeiramente que gastou e foi gasto por Cristo como George Whitefield.

As circunstâncias particulares do fim deste grande evangelista são tão profundamente interessantes que eu não me desculparei em demorar-me neles. Foi um fimem extraordinária harmonia com o teor da sua vida. Assim como havia vivido por mais de trinta anos, assim ele morreu: pregando até o fim. Ele literalmente morreu no posto. “Morte súbita”, freqüentemente dizia, “é glória súbita. Quer correto ou não, não posso deixar de desejar partir desta maneira. Para mim seria pior do que a morte ter de ser assistido na doença e ver os amigos chorando ao redor de mim”. Ele teve o desejo do seu coração atendido. Foi ceifado numa noite por um acesso espasmódico de asma, quase que antes que seus amigos viessem a saber que se encontrava doente.

Na manhã de sábado, de 29 de setembro, o dia em cuja noite morreria, Whitefield viajou a cavalo de Portsmouth em New Hampshire, a fim de cumprir um compromisso de pregar em Newbury Porth no domingo. No caminho, infelizmente, ele foi convidado insistentemente para pregar em um lugar chamado Exeter, e apesar de se sentir muito doente, não teve coragem de recusar. Um amigo observou que antes de iniciar a pregação, ele parecia mais indisposto do que o usual, e lhe disse, “O senhor está mais habilitado para ir para cama do que para pregar.”, ao que Whitefield replicou: “É verdade, senhor”, e então, virando-se para o lado, apertou as mãos uma na outra e olhando para cima disse: “Senhor Jesus, eu estou cansado na tua obra, mas não da tua obra. Se ainda não terminei minha carreira, deixa-me ir e pregar uma vez mais nos campos, selar a tua verdade, vir para casa e morrer”. Então ele foi e pregou a uma enorme multidão nos campos, baseado em II Coríntios 8:5, pelo espaço de quase duas horas. Foi seu último sermão, e uma conclusão apropriada a toda a sua carreira.

Uma testemunha ocular deu o surpreendente relato da cena final da vida de Whitefield: “Ele levantou-se de sua cadeira, e permaneceu em pé. A sua simples aparência era um poderoso sermão. A magreza de sua face, a palidez do seu semblante, a luta evidente do brilho celestial em um corpo decadente demais para falar, era algo profundamente interessante; o espírito estava querendo, mas a carne estava morrendo. Nesta situação ele permaneceu por diversos minutos, sem conseguir falar. Então ele disse: “Esperarei pela graciosa assistência de Deus, porque Ele irá, estou certo, assistir-me uma vez mais para falar em seu nome.” Então ele pregou talvez um de seus melhores sermões. A parte final continha as seguintes palavras: “Eu vou; eu vou para um descanso que me está preparado. O meu Sol deu luz a muitos, mas agora ele está se pondo – não, agora ele está se levantando para o zênite da glória imortal. Eu vivi mais do que muitos na terra, mas eles não viverão mais do que eu nos céus. Muitos viverão mais do que eu na terra, e permanecerão quando este corpo não mais existir, mas lá, oh, pensamentos divinos!, eu estarei num mundo aonde tempo, idade, doença, e sofrimentos são desconhecidos, o meu corpo agora falha, mas o meu espírito se expande. Como eu desejaria viver para sempre para pregar a Cristo. Mas eu morro para estar com Ele. Quão breve – comparativamente breve – foi a minha vida comparada com os imensos labores os quais eu vejo diante de mim ainda não realizados. Mas se eu partir agora, enquanto ainda tão poucos preocupam-se com as coisas celestiais, o Deus da Paz certamente visitará vocês’”. Depois que o sermão terminou, Whitefield jantou com um amigo, então cavalgou para Newbury Porth, apesar de bastante fatigado. Ao chegar ali, ele ceou cedo e retirou-se para a cama. A tradição diz que quando ele subia as escadas com uma vela acesa nas mãos, ele não pôde resistir ao desejo de voltar o rosto, no topo da escada, e falar aos amigos que estavam reunidos, os quais vieram encontrá-lo. Enquanto ele falava, o fogo brilhava dentro dele, e antes que pudesse concluir, a vela que segurava nas mãos queimou até o fim. Ele retirou-se para o seu quarto para não mais sair de lá com vida. Um violento acesso de asma se apoderou dele logo depois que foi para a cama e antes das seis da manhã, o grande pregador estava morto. Quando chegou a hora, ele não tinha nada para fazer a não ser morrer. Onde ele morreu, aí foi enterrado, em uma câmara mortuária abaixo do púlpito da igreja, onde ele estava comprometido para pregar. O seu sepulcro é visto até o dia de hoje e nada faz a pequena cidade onde morreu tão famosa quanto o fato de que ali estão os ossos de George Whitefield.
(Fonte: http://www.reavivamentos.com/pt/biografias/bio_whitefield)
Traduzido por Paulo R. B. Anglada, a partir de J. C. Ryle, Christian Leaders of 18th. Century (reprint, Edinburgh and Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1978), 149-79. Revisado por Cláudio Vilhena e Emir Bemerguy Filho.

George Whitefield*
Por J. C. Ryle

Prefácio

O volume agora nas mãos do leitor requer algumas sentenças explanatórias como prefácio. Eu ficaria insatisfeito se houvesse algum equívoco quanto à sua natureza e propósito.

Ele consiste de uma série de escritos biográficos, publicados em um bem conhecido e valiosíssimo periódico mensal, durante os anos de 1866 e 1867 (The Family Treasury). O meu objetivo em compor estes escritos foi trazer ao público, em uma forma compreensiva, as vidas, caracteres e obras dos ministros líderes, por cuja agência Deus se agradou em reavivar o Cristianismo na Inglaterra há cem anos atrás. Eu há muito havia sentido que estes grandes homens não eram bastante conhecidos, e seus méritos, por consequência, não suficientemente reconhecidos. Eu creio que a Igreja e o mundo deveriam saber alguma coisa a mais do que parecem saber sobre homens tais como Whitefield, Wesley, Romaine, Rowlands, Grimshaw, Berridge, Venn, Toplady, Hervey, Walker e Fletcher. Por vinte anos eu esperei ansiosamente por algum relato digno destes poderosos heróis espirituais. Por fim, eu fiquei cansado de esperar, e resolvi “tomar a pena” em minha própria mão, e fazer o que estava ao meu alcance através das páginas de um periódico. Estes escritos, em aquiescência a desejos de amigos, são agora reunidos em forma de livro.

Até onde a minha tentativa foi bem sucedida, eu deixo agora ao julgamento do público. No que tange a méritos literários, este volume não tem o que reivindicar. Os seus capítulos foram escritos de mês em mês, em meio a muitos compromissos ministeriais, debaixo de uma pressão a qual ninguém pode entender, a não ser aqueles que escrevem para periódicos. Esperar que tal volume seja um modelo de aperfeiçoada composição seria um absurdo. A única pretensão que tenho é a de um grau tolerável de acuracidade com relação aos fatos históricos. Eu tive o cuidado de não fazer nenhuma afirmação, a menos que pudesse encontrar alguma autoridade para sustentá-la.

O leitor cedo descobrirá que eu sou um entusiástico admirador dos homens cujos perfis eu tracei neste volume. Eu confesso isto honestamente. Eu sou um verdadeiro entusiasta a respeito deles. Eu acredito firmemente que, excetuando Lutero com seus contemporâneos do Continente e os nossos próprios mártires reformadores, o mundo não tem visto homens semelhantes a estes desde os dias dos apóstolos. Eu creio que não houve ninguém que tenha pregado tão pura verdade bíblica, ninguém que tenha vivido vidas semelhantes, ninguém que tenha mostrado tanta coragem no serviço de Cristo, ninguém que tenha sofrido tanto por causa da Verdade, ninguém que tenha realizado tanto bem. Se alguém pode mencionar homens melhores, tal pessoa sabe mais do que eu.

Eu lanço agora este volume com a fervorosa oração de que Deus possa desculpar todos os seus defeitos, que use-o para a Sua própria glória, e levante em sua Igreja homens tais quais os que são aqui descritos. Seguramente, quando nós olhamos para o estado da Inglaterra, nós podemos muito bem perguntar, “Onde está o Senhor Deus de Whitefield e de Rowlands, de Grimshaw e de Venn? Ó Senhor, reaviva a Tua obra!”

Stradbroke Vicarage, 10 de agosto de 1868.

J. C. Ryle

Powered by Rock Convert
Share.