Man Ray, foi um dos criadores mais originais e iconoclastas de seu tempo, ao lado dos europeus Marcel Duchamp e Max Ernst

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Man Ray (Filadélfia, 27 de agosto de 1890 – Paris, 18 de novembro de 1976), pintor e fotógrafo americano. Fez sua primeira exposição em 1915, em Nova York, em 1920, funda com Marcel Duchamp (1887-1968) e Francis Picabia a “Sociedade Anônima”, onde reuniram a arte americana e as experiências surrealistas e dadaístas dos europeus.

Em 1921 muda-se para Paris onde convive intimamente com a chamada geração perdida: Hemingway, Fitzgerald, Gertrude Stein e outros; na capital francesa inicia-se na fotografia para ganhar a vida e através de suas inovações torna-se o precursor de todas as modernas técnicas fotográficas.

No cinema participa como ator, no filme dadaísta “Entreato”, e realizador, fazendo em 1924 “Le Retour à la Raison”, onde aplica pimenta e sal sobre a película. Dedicou-se também à escultura.

Man Ray faleceu em Paris, 18 de novembro de 1976, aos 86 anos.

(Fonte: Veja, 24 de novembro de 1976 – Edição 429 – DATAS – Pág: 132)

 

 

 

 

Man Ray, o modernista que elevou a fotografia – e a sedução de belas modelos – ao estado de arte

No estúdio que manteve em Paris, nos anos gloriosos da carreira, entre 1921 e 1940, o maior fotógrafo modernista americano Man Ray promoveu inovações em várias frentes.

Expoente de duas vanguardas ruidosas, o dadaísmo e o surrealismo, ele atacou de início como pintor e escultor. Logo se converteu em desbravador da fotografia de moda, produzindo ensaios influentes para as revistas Vogue e Harper’s Bazaar. Foi ainda na fotografia, afinal, que alcançou seu grande feito – nada menos que elevar essa forma de expressão ao patamar de arte.

Para Man Ray, a labuta no estúdio era, digamos, duplamente extenuante: ele gostava de trabalhar deitado na cama – sempre na companhia de belas mulheres.

Foi um artista discreto perto de seus pares mais famosos nos mesmos movimentos – pois seria difícil competir em egolatria ou capacidade de chamar atenção com o francês Marcel Duchamp e o catalão Salvador Dali.

Mas, embora trabalhasse quieto, Man Ray era famoso em toda a Paris boêmia por sua facilidade em unir o útil ao agradável. Ele amava retratar o corpo feminino, decupado especialmente em nus radicais.

No mundo real, havia bastante matéria envolvida no negócio: as musas de Man Ray eram também suas amantes. As principais beldades foram Kiki (1922-1926), Lee Miller (1929-1932), Meret Oppenheim (1933-1934), Ady (1936-1940) e Juliet (a partir de 1941). Kiki foi a modelo da célebre e muito imitada Noire et Blanche (Negra e Branca), imagem surrealista que exibe o rosto da modelo em pose sonhadora (sonhos eram uma obsessão surrealista) ao lado de uma máscara africana.

Quando Kiki o largou, Man Ray exprimiu sua ira em outro símbolo da fotografia: Lágrimas, em que os olhos de uma manequim surgem em close, com gotas de vidro simulando choro.

Judeu, Man Ray teve de fugir da Europa na II Guerra Mundial, mas voltou mais adiante e viveu lá até a morte, em novembro de 1976, aos 86 anos. Nessa fase tardia, já era prisioneiro do sucesso. Man Ray fez sua fama na cama – mas, ao posar para a posteridade, não se deitou nela.

(Fonte: Veja, 21 de agosto de 2019 – ANO 52- Edição 2648 – Nº 34 – CULTURA / EXPOSIÇÃO / por MARCELO MARTHE – Pág: 94/95)

 

 

 

 

Man Ray, o poeta da câmara escura

Man Ray, ícone do dadaísmo de Nova York e do surrealismo parisiense, foi um dos grandes nomes da fotografia, conhecido como o “poeta da câmara escura”.

Ao lado de Marcel Duchamp, Man Ray foi um dos pioneiros do dadaísmo de Nova York e, mais tarde, se uniu ao surrealismo parisiense.

(Fonte: Deutsche Welle – 22.03.2018)

 

 

 

 

 

 

Nome mais versátil da vanguarda surrealista

Realizou quatro filmes nos anos 20

Revolucionário em seu tempo, assim como toda a vanguarda moderna Ray acabou tragado pelo chamado sistema e pela arte que queria exterminar. Em seu trabalho, a fotografia e a pintura são a porção mais significativa, fazendo dele um dos criadores mais originais e iconoclastas de seu tempo, ao lado dos europeus Marcel Duchamp (1887-1968) e Max Ernst. Inventivo e rigoroso em suas fotos, Ray vivia experimentando novas técnicas, tendo criado os “rayogramas”, imagens obtidas sem a máquina fotográfica a partir da exposição direta do objeto a ser registrado sobre papel fotográfico à luz. Já no cinema, o amador Man Ray atesta versatilidade e inesgotável bom humor.

 

O respeitável público presente à estreia do filme O Retorno à Razão, numa noite da Paris de 1923, não conteve a ira diante do que viu. Depois que a fita se rompeu pela segunda vez, uma rajada de vaias e cusparadas acompanhou a chuva de cartolas e guarda-chuvas em direção à tela. O fiasco, entretanto, não decepcionou o cineasta que debutava na ocasião – o americano Man Ray, um vanguardista incansável que dedicou a vida à fotografia, à pintura e ao cinema, entre muitos outros afazeres.

 

Então com 33 anos e metido até o pescoço na militância surrealista e dadaísta, Ray, nascido Emmanuel Radnitsky, na Filadélfia, filho de um alfaiate russo, imbuiu-se da dupla missão de denunciar a barbárie da sociedade industrial e decretar a morte da arte. Sarcasticamente intitulado O Retorno à Razão – na época foi de uma indecência insuportável para a burguesia. Com apenas dois minutos e meio de duração, a película apresenta uma dança de pregos e tachinhas, alternada com a visão do corpo nu e assombreado da namorada de Ray, Kiki de Montparnasse.

 

Depois de se decidir a deixar a América, em 1921, Ray foi prontamente adotado pela vanguarda parisiense, tornando-se então amigo das maiores lendas da arte da época, como o pintor cubista Pablo Picasso, o escritor surrealista André Breton, a escritora Gertrude Stein ou ainda a endinheirada dublê de socialite e mecenas Peggy Guggenheim. Fotografou todas essas celebridades, além de um sem-número de beldades nuas. Graças a suas lentes, os principais personagens da inteligência da época foram soberbamente registrados numa atmosfera ambígua, entre o deboche e a tristeza, o sonho e a realidade.

Man Ray

Man Ray

 

Até o fim da vida, seu tema preferido seriam os corpos de belas mulheres, como a própria Kiki de Montparnasse e uma infinidade de outras namoradas. Em 1966, fotografou uma jovem Catherine Deneuve usando imensos brincos desenhados por ele mesmo. E como bom dadaísta que era, para quem arte e vida são a mesma coisa, “ambas absurdas”, Ray fez vários suto-retratos. No mais desconcertante, de 1943, aparece com o rosto semibarbeado e a expressão séria de quem não vê nada de mais nisso. Noutro autorretrato, do ano seguinte, Ray espelha-se, junto de seu ateliê, numa esfera metálica.

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Multimídia muito antes da invenção desse termo, Ray considera-se – com alguma razão – “um cineasta de filmes ruins”. A ruindade de seus curtas não é totalmente voluntária. Deve ser inicialmente atribuída à improvisação dadaísta, mas é preciso também levar em conta a precariedade técnica da época e, finalmente, o reconhecido amadorismo do “cineasta”.

 

O Retorno à Razão, por exemplo, foi feito num único dia a pedido do poeta Tristan Tzara, que queria uma atração especial para o evento Noite do Coração Barbudo. A segunda empreitada de Ray no cinema é Emak Bakia, de 1926, outro curta-metragem, cujo título em basco quer dizer “Deixe-me em paz.”

 

Em Emak Bakia Ray não está interessado apenas em chocar, mas também em dissolver os limites entre real e imaginário. Primeiro a objetiva da câmara transforma-se num olho humano. Segue-se um bando de carneiros pastando enquanto um carro corre em alta velocidade. Vem então a imagem mais chocante dessa produção. Sobre as pálpebras fechadas de Kiki de Montparnasse, Ray pintou olhos arregalados. Assim, a moça tem olhos sempre abertos. Mesmo quando pisca, parece estar em eterna vigília, sem direito ao descanso.

 

Além desses dois filmes, Ray fez A Estrela do Mar, de 1928, em que “traduz” para a tela o poema surrealista de Robert Desnos. Sua breve carreira no cinema encerrou-se em 1929, com O Mistério do Castelo dos Dados, bancado pelo milionário visconde de Noailles, no qual Ray exibe os hóspedes do castelo brincando de chutar dados gigantes, numa evocação do célebre poema do francês Mallarmé que trata do acaso na obra de arte.

 

Enquanto filmava e pintava, Man Ray, que não era rico, teve de ganhar a vida como fotógrafo de moda. Fez free lance para as revistas Harper’s Bazaar e Vanity Fair e trabalhou com alguns dos maiores nomes da alta costura do século XX, como Chanel, Lanvin e Schiaparelli. Uma de suas fotos mais conhecidas traz um close-up em preto-e-branco de uma modelo tingindo os lábios de vermelho.

 

Verdadeiro retrato do desejo, a foto evoca a tela A Hora do Observatório, em que o artista pintou uma imensa boca boiando num céu acinzentado. O apreço do artista pela beleza ultrapassou em muito o aspecto profissional. Juliet Browner, sua terceira mulher e grande amor de sua vida, era uma bela morena 22 anos mais jovem do que ele, dançarina e modelo em Hollywood. Conheceram-se em 1940 e passaram a viver juntos três dias depois. Ambos estão enterrados num cemitério de Paris, o berço da vanguarda daqueles loucos anos 20.

 

(Fonte: Veja, 19 de julho de 1995 – ANO 28 – Nº 29 – Edição 1401 – FOTOGRAFIA/ Por Ângela Pimenta – Pág: 100/105)

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