Caos na TV, turnê com Michael Jackson, padrinho dos Backstreet Boys: a incrível história do primeiro DJ superstar do mundo
DJ Bobo durante show nos anos 2000 — Foto: Divulgação
De volta ao Brasil, DJ Bobo comparou começo dos megashows de eletrônica com as turnês gigantes de nomes como Alok e David Guetta: ‘Tudo era um pouco mais lento nos anos 90’.
1º DJ superstar viveu caos na TV, fez turnê com Michael e revelou Backstreet Boys
Um dos primeiros DJs superstars, DJ Bobo engatinhou para que David Guetta e Alok pudessem andar. No começo dos anos 90, quem tinha idade para dançar se mexeu ao som dele. O simpático suíço com roupas que pareciam de um guru cantava palavras que poderiam ser ditas por um guru.
O som eurodance motivacional tinha letras sobre amor, liberdade, paz, união e festas, obviamente. Ele abriu para Michael Jackson, na turnê HIStory, em 1996, tocando para até 100 mil pessoas por show. Lotou arenas sozinho e revelou boy bands como Backstreet Boys e ‘N Sync, que começaram a carreira abrindo shows dele. Agora, ele retorna ao Brasil.
Aos 56 anos, o DJ e produtor suíço René Bauman, nome real de Bobo, continua fazendo turnês. Ele é casado e tem uma filha e um filho, os dois adolescentes. Antes de ser artista, foi confeiteiro. No meio dos anos 80, começou a dançar, cantar e discotecar em boates. O primeiro megassucesso foi “Everybody”, em 1993.
“Eu queria fazer um reggae, porque nos tempos da eurodance, não era comum fazer outro ritmo além do dance”, recorda ao g1. “Então, eu disse para os caras: Vamos tentar algo para o verão. Vamos tentar um reggae e todos pensaram: ‘Você está louco?’ Depois, todo mundo na cena de dance music começou a usar esse estilo.”
“Everybody” foi muito importante para fazer com o que o DJ Bobo fosse das pistas de dança para os ginásios e estádios. Mas outras músicas ajudaram a aumentar o tamanho das festas comandadas dele, como “There is a party” e “Let the dream come true”, ambas de 1994.
DJ Bobo comemora fim de show em 2008 — Foto: Divulgação/Facebook do artista
“Tocamos em várias discotecas e falei para o promotor da turnê: ‘quero tocar em arenas’. E ele olhou para mim e disse: ‘Vocês são loucos? DJs só tocam em boates. Por que alguém pagaria para vê-lo em uma arena?”
Bobo teve que mudar de produtor para fazer shows em lugares maiores e com mais estrutura: dançarinos, luzes e pelo menos 90 minutos de duração. “Muitos me disseram que não iria funcionar.”
“Antes parecia bem estranho e hoje é normal que um DJ possa se apresentar em qualquer lugar. Então, sim, era novo naquela época fazer isso.”
A arte de fazer dançar
Ele também diz que o jeito de fazer música dançante mudou. Segundo ele, na década de 90, a prioridade era pensar no som e no ritmo. “Então, você queria fazer as pessoas dançarem para você, precisava de uma boa base. No final, a gente falava: ‘Ah não, precisamos de uma letra também’.“
“Hoje, é ao contrário. Você precisa primeiro da letra, depois da melodia e, em seguida, começa a produção. Mudou 100%.”
Assistindo aos shows e aos clipes do DJ Bobo, dá para ver como tudo era mais lento, mais cadenciado. O DJ falava bem mais com a plateia, as danças eram menos frenéticas.
“Nosso tempo hoje é muito mais rápido”, teoriza. “Tudo é intenso: a luz, a técnica, o som. Tudo está mais rápido do que há 25 anos. Tudo era um pouco mais lento nos anos 90, então tínhamos mais tempo do que hoje.”
Bobo também respondeu à pergunta que todo mundo quer saber: como foi abrir para Michael Jackson, em 1996? Não é todo dia que você sai em turnê com o Rei do Pop…
“Eu estava muito nervoso olhando as pessoas, porque nós fizemos o maior show da história de Michael, foi o show em Praga, República Tcheca, o show de abertura da turnê. Tive a honra de tocar 45 minutos antes de Michael subir ao palco.”
No mesmo ano, o Backstreet Boys abriu a turnê do DJ Bobo. “Eu ouvi o primeiro CD deles e disse: ‘Pessoal, isso é fantástico. Esses meninos vão ser ótimos um dia’.”
“Depois da turnê, eles subiram como um foguete, subiram ao teto e tudo foi fantástico para eles. E isso me deixa orgulhoso e ainda mantemos contato até hoje.”
Os cinco integrantes da boy band tinham de 14 a 24 anos. “Eles eram muito jovens, mas aprenderam muito rápido. Foi bom para eles aprenderem a usar o palco e a atuar para a multidão. Eles perceberam que não é tão fácil.”
‘Toca mais uma, toca mais umaaaaa…’
É difícil saber o número exato de vezes que ele veio ao Brasil. “Essa é uma pergunta difícil, 3 ou 4 vezes. A última vez acho que foi em 2012.”
No auge, no começo dos anos 90, passou por vários programas de auditório, incluindo uma experiência meio bizarra, em um programa do qual não lembra o nome. Pela descrição do cenário e das atrações, parece ser o “Domingo Legal”, do SBT.
“Eu estava perguntando aos caras da gravadora: ‘Quantas músicas vamos tocar?’ E eles me contaram… Sim, é uma. São duas, cinco. E eu disse… ‘Uma, dois, três, quatro ou cinco?’. Quantas são? ‘Depende’. Depende do quê?”
“E ninguém me disse que dependia da audiência da TV, porque nos anos 90 eles podiam ver as audiências dos outros canais… Então eu vi um cara na lateral do palco e ele ficava falando e o apresentador falava: ‘Vamos lá, senhoras e senhores, mais uma vez, DJ Bobo’. E ele foi falando de novo, e de novo, e de novo… e o problema é que eu só tinha quatro músicas preparadas.“
“E então eles começaram a tocar um remix que eu fiz para ‘Radio Gaga’ do Queen e eu estava no palco e pensei: ‘O quê? Essa não é minha voz. Esse é o Freddie Mercury, não posso subir no palco e agir como se fosse Freddie Mercury’. Eu só tinha feito um remix. Então, foi muito engraçado, porque eu fiquei parado, olhei em volta e depois de um tempo de lado, eles deixaram para lá.”
Não foi a única situação um pouco constrangedora vivida por ele no Brasil. Afinal, ele sabe o que Bobo quer dizer em português.
“É tipo idiota, né? Sim, eu sei. Eu sei que eles não queriam me chamar de bobo, mas às vezes me deixava triste, sim.”
Bobo continua fazendo turnês e lançando músicas, como “Chihuahua”, de 2002. Em 2007, ele disputou o Eurovision, o famoso festival de canções europeias. Ele foi eliminado na semifinal, representando a Suíça, com “Vampires are alive”.
(Créditos autorais: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2024/07/18 – Globo Notícias/ POP & ARTE/ MÚSICA/ NOTÍCIA/ Por Braulio Lorentz, g1 – 18/07/2024)