Foi o primeiro costureiro a entender o poder de persuasão das supermodelos

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Fama, fortuna e sangue

Foi o primeiro costureiro a entender o poder de persuasão das supermodelos, e a investir centenas de milhares de dólares na organização de desfiles apoteóticos, ideais para serem mostrados pela televisão

Gianni Versace (Foto: miami.cbslocal.com/ Divulgação)

Gianni Versace (Foto: miami.cbslocal.com/ Divulgação)

Gianni Versace (Reggio Calabria, 2 de dezembro de 1946 – Miami Beach, Flórida, 15 de julho de 1997), estilista de alta costura italiano, profissional capaz de criar vestidos elegantíssimos de alta-costura.

O costureiro italiano que fez da moda um grande show, nasceu na região em Reggio Calábria, no bico da bota italiana, em dezembro de 1946, filho de uma costureira que lhe ensinou os rudimentos do ofício. Versace fundou a sua própria marca em 1978.

Fama e dinheiro – A morte colheu Versace no auge da fama. Dono de um império que faturou perto de 1 bilhão de dólares em 1996, com 301 lojas espalhadas pelo mundo. Aos 25 anos, disposto a entrar pela porta da frente no mundo da moda, mudou-se para Milão.

Levou a tiracolo a irmã, a loura falsa Donatella, seu braço direito desde o início, e o irmão, Santo, que provou de santo só ter o nome ao subornar agentes do Fisco italiano, um crime que acabou custando multa de 130 000 dólares a Versace.

Os anos milaneses foram um ensaio para o seu pulo do gato, o mesmo de outros costureiros italiano que ameaçaram a primazia dos franceses na moda – a entrada para valer no mercado americano, o mais rico do planeta, na década de 80.

Baseado nos Estados Unidos, Versace viu-se ofuscado a princípio por um conterrâneo, Giorgio Armani. Antenado com o estilo de vida yuppie que então vigorava em Nova York, fruto da ciranda financeira incentivada pela política econômica do presidente Ronald Reagan, Armani apostou no mercado masculino, com a criação dos chamados paletós desestruturados, de ombros largos e soltos sobre o corpo.

A peça virou símbolo dos jovens profissionais que sonhavam ganhar o primeiro milhão de dólares antes dos 30 anos, conservando certa aura informal. No início desta década, chegou enfim a vez de Versace. As estampas berrantes, os dourados excessivos, a tendência em emprestar ao prêt-à-porter um jeito de fantasia barroca – tudo isso combinava com o clima de decadência que sucedeu o fim do yuppismo nos Estados Unidos.

A profusão de cores e os detalhes rococós também foram aproveitados nos acessórios e produtos domésticos fabricados pela griffe, que tem como  símbolo a cabeça da Medusa. Era inevitável que o nome de Versace acabasse associado ao brega, ao kitsch, ao exagerado. O julgamento não está de todo errado, mas deixa na sombra o profissional capaz de criar vestidos elegantíssimos de alta-costura, como o modelo azul exibido pela princesa Diana em 1996, durante uma viagem à Austrália.

Primor de bom gosto – Nos últimos tempos andava cada vez mais difícil definir o estilo Versace. Sua derradeira coleção de outono-inverno, mostrada em Paris no início de julho de 1997, foi um primor de bom gosto, descontando uma e outra peça que mais desnuda do que veste – caso também daquele vulgaríssimo vestido preto com alfinetes de segurança, que ajudou a catapultar a carreira da modelo Elizabeth Hurley.

Atento ao lado industrial de seu negócio, Versace era um costureiro que, mais do que os seus concorrentes, gostava de experimentar novos tecidos e materiais em suas coleções. Ele foi o primeiro, a fazer vestidos com uma malha metalizada extremamente maleável, desenvolvida com a ajuda de pesquisadores da área de tecnologia aeronáutica. A essa capacidade de ter vários estilos ao mesmo tempo some-se o que talvez fosse o seu maior talento: o marketing.

A simbiose comercial entre costureiros e estrelas de cinema não é um fenômeno novo – Yves Saint-Laurent há décadas veste Catherine Deneuve e, nos idos de 50, Hubert de Givenchy tinha em Audrey Hepburn a  sua melhor garota-propaganda.

Mas Versace foi o primeiro a entender o poder de persuasão das supermodelos, e a investir centenas de milhares de dólares na organização de desfiles apoteóticos, ideais para serem mostrados pela televisão.

Estrelas na plateia – Versace transformou a moda num verdadeiro espetáculos de show business, que misturava astros da música pop e das telas. Elton John, Eric Clapton, Sting e o cantor Prince compuseram trilhas sonoras para desfiles seus.

E era difícil saber para qual lado olhar nas apresentações de suas coleções: a plateia, coalhada de estrelas como Madonna, Demi Moore, Mick Jagger e Cher, sempre disputava a atenção com os vestidos mostrados na passarela.

Muitas dessas personalidades aceitaram posar para fotos de publicidade da griffe. Versace gastava os tubos com propaganda. Ele só trabalhava com fotógrafos do porte de Richard Avedon, Bruce Weber e Helmut Newton. Seu orçamento para campanhas publicitárias alcançou, na última contabilidade, inacreditáveis 50 milhões de dólares, o que era mais um motivo de desavenças com seu irmão, Santo, encarregado de administrar a gastança dentro e fora da empresa.

Para seguir crescendo, a família anunciou em março de 1997 que abriria seu capital para entrar nas bolsas de Nova York e de Milão, seguindo o mesmo caminho trilhado pela Gucci, cujo dono Maurizio foi assassinado em 1995 a mando da própria mulher.

Versace tinha todos os motivos para comemorar a vida: era rico, famoso, cheio de amigos e havia vencido um câncer raro no ouvido, diagnosticado em 1993. Até que dois tiros na nuca o abateram à porta de casa.

Aparentemente sem motivo, o crime encontra explicação na personalidade do psicopata Andrew Phillip Cunanan, de 27 anos, um dos dez bandidos mais procurados dos Estados Unidos. Ex-garoto de programa, oriundo de uma família desajustada, Cunanan é um assassino calculista, acusado de matar um ex-amante e outros três homens.

Versace foi morto por uma pistola calibre 40, utilizado pelo assassino nos outros crimes e de venda escassa nos Estados Unidos. Versace não escondia suas preferências sexuais, embora estivesse longe de ser um militante da causa gay.  Os dois se encontraram há alguns anos em San Francisco, quando Cunanan era apenas mais um garoto de programa a tentar a vida na liberal Califórnia.

Como fazia todas as manhãs nas suas temporadas em Miami Beach, ele saiu a pé de sua mansão, do badalado balneário em Ocean Drive, a avenida beira-mar da cidade, para comprar jornais e tomar café num restaurante dos arredores. Ao voltar para casa, o costureiro, de 50 anos, foi surpreendido pela morte enquanto abria o portão.

O assassino aproximou-se por trás de Versace e, à maneira das execuções chinesas, disparou dois tiros em sua nuca. Uma das balas esmigalhou seu cérebro e a outra atravessou o lado direito de seu rosto, ficando irreconhecível. Versace morreu logo após dar entrada no hospital. Cunanan fugiu sem roubar nada.

É assassinado no dia 15 de julho de 1997, a tiros pelo gigolô Andrew Cunanan na porta de sua mansão de Miami Beach, na Flórida (EUA).

Depois da sua morte, as operações da empresa foram tomadas por Donatella Versace, sua musa, irmã e braço direito, auxiliada pela sobrinha Allegra Versace Beck.

(Fonte: Correio do Povo -– 15 de julho de 2008 – Geral -– CRONOLOGIA/ Por Dirceu Chirivino -– Pág; 20)

(Fonte: Veja, 23 de julho de 1997 – ANO 30 – Nº 29 – Edição 1505 – CRIME/ Por Mario Sabino – Com reportagem de Ana Pessoa – Pág: 40/45)

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