Foi a primeira mulher a usar biquíni no Brasil

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Miriam Etz (1914-2010), artista plástica judia alemã, que passou grande parte da vida em Nova Friburgo, tornou-se conhecida por ter sido, além de uma grande artista, a primeira mulher a usar biquíni no Brasil, ainda na década de 30, na praia do Arpoador.

Miriam Etz sempre foi muito arrojada, mas sua intenção não foi chocar ninguém ou chamar atenção. Apenas não gostava daqueles maiôs inteiros, tipo Catalina, que se usavam na época. Então, tratou ela mesma de confeccionar duas peças, daqueles bem grandes. “Quando Leila Diniz colocou a barriga de fora grávida foi por uma convicção, já para mim usar duas peças era natural”, declarou em longa entrevista concedida para A VOZ DA SERRA em 2006.

Ela podia até não saber, mas dava início a uma verdadeira revolução de costumes. Só uns dez anos mais tarde é que algumas vedetes começaram a causar sensação na praia com os biquínes que estavam acostumadas a usar no palco.
Artista admirável, Miriam Etz produziu obras lindíssimas, embora se considerasse muito mais uma artesã. Pura modéstia. Além de ter participado de inúmeras exposições coletivas e de ter feito muitas mostras individuais, Miriam desenvolveu uma técnica muito especial para executar suas pinturas e aquarelas. “Meu trabalho me dá muitas possibilidades porque utilizo vários elementos e cada um deles oferece inúmeras criações”, declarou durante a entrevista.
Nascida em Kaiserwerth, à margem do Reno, em 1914, no início da Primeira Guerra Mundial, numa família de artistas (seu pai, Arthur Kaufmann, foi um pintor famoso, com obras em museus do mundo inteiro), desde pequena ela teve oportunidade de conviver com artistas e intelectuais. “Uma vez por semana, das cinco da tarde às duas da manhã, meus pais abriam a casa para artistas, poetas e músicos de todas as partes do mundo. Eram momentos de grande felicidade que enriqueceram a nossa existência”, contou, na ocasião.
Sempre muito independente, relutou em aceitar uma acompanhante, o que a idade avançada acabou por exigir. Até poucos anos antes de morrer, só usava óculos para ler e ainda dirigia, embora quase não frequentasse mais seu ateliê. Não por falta de criatividade, mas pela dificuldade de se deslocar até lá e também por não a deixarem sozinha lá dentro. “Para criar preciso de solidão”, dizia.

Uma friburguense de alma e coração
Apesar de só ter vindo morar em Nova Friburgo depois que se aposentou (ela foi uma alta executiva da Avon), Miriam Etz logo formou um forte vínculo com a cidade. Era viúva do desenhista de publicidade e pintor Hans Etz, falecido em 1986, com quem ficou casada por mais de 50 anos.
Hans e Miriam Etz conheceram Nova Friburgo através de amigos ingleses que, assim como eles, frequentavam um clube de equitação em Niterói. Falavam muito de Nova Friburgo e tinham terras em Conselheiro Paulino, então um bucólico lugarejo, cercado de verde, onde havia sítios fantásticos, bem diferente do distrito de hoje.
Quando conheceram a cidade, não pensaram duas vezes e logo trataram de comprar terras aqui. Apesar da origem germânica, sequer cogitaram ir para Mury, que sempre concentrou muitos alemães. “Nós saímos da Alemanha por causa do nazismo, então preferimos ficar um tanto reclusos aqui em Friburgo, mais perto de pessoas como nós, que sempre tiveram uma mente aberta”, declarou Miriam na entrevista para A VOZ DA SERRA, afirmando que, com exceção dos judeus, a maior parte dos alemães que veio para cá depois da queda de Hitler “era mesmo nazista”.
A aversão dos Etz pelo nazismo e a todos os regimes de exceção os levou a se abrasileirar com a maior facilidade. “Escolhemos um país por inteiro”, dizia Miriam, lembrando que muitos de seus conterrâneos sequer aprenderam a falar português. Eles amaram o Brasil desde que aqui chegaram e até o nome da primeira filha do casal – Ira, de Iracema – representa uma prova desse amor. Mais brasileiro, impossível. “Nada de Lott, Gertrud ou Bertha”, diz.
Nos primeiros anos, quando os filhos Ira e Roberto eram pequenos, a família vinha para Nova Friburgo de trem. Ou atravessava de barca para Niterói e de lá subia a serra de táxi ou de lotação. Depois de algum tempo, os dois compraram um jipe e a vida da família se modificou por completo. “Eu fiquei tão empolgada de estar motorizada! Me sentia no sétimo céu quando vinha para Friburgo no volante do meu jipe”, dizia. Aliás, os mais antigos se lembram que Miriam Etz foi uma das primeiras mulheres a sair pelas ruas de Nova Friburgo dirigindo automóveis.
Incrível como eles se adaptaram à vida da cidade, logo fazendo muitos amigos e integrando-se perfeitamente ao modus vivendi local. Além de participarem de todo o movimento cultural e artístico friburguense, eram, ambos, boêmios e, como todos os alemães, curtiam uma boa cervejinha. Muitos de seus contemporâneos se lembram de Miriam e Hans, altas madrugadas, no antigo Bar Eduardo, quando ainda ficava na Praça Getúlio Vargas e pertencia ao velho italiano Eduardo.

(Fonte: http://www.avozdaserra.com.br/noticias.noticia=10455 – Dalva Ventura – 26/07/2010)

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