Edward Hopper, identificou o espírito principal de uma era, pois foi quem definiu a tristeza america

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Edward Hopper captou a imagem dos anos 20, processo criativo do artista americano

Edward Hopper (Nyack, Nova York, 22 de julho de 1882 – Nova York, 15 de maio de 1967), pintor que foi capaz de retratar o isolamento da gente comum sem nenhuma condescendência e fez o que se acreditava ser impossível para um artista moderno: deu as notícias mais importantes à sua época.

À pintura “Early Sunday morning”, de Hopper talvez seja a mais misteriosa da arte americana. É desprovida de gente, mas ninguém poderia defini-la como desabitada. O edifício certamente tem vida e suas janelas são variadas como o olho humano – elas revelam, escondem, cintilam. A luz do sol projeta sombras de acordo com a lógica da natureza, mas é tão intensa que algumas vezes parece projetá-las de acordo com seu desejo.

A austera vidraça marrom do lado de cima à direita tem um aspecto tirânico: faz a solta geometria da pequena cena parecer um pouco vulnerável. Por boas razões, o alto, fino e colorido poste de barbeiro se inclina em direção ao grosso hidrante.

Isto é puro encantamento e permitiu a Hopper, transformar o comum no incomum. Ao fazê-lo, ele conseguiu uma coisa muito rar – definiu uma era. Hopper estabeleceu o visual de sua época: sejamos ou não conscientes disso, nossa memória dos anos 20 e 30 é filtrada através de seu olho.

Ele também identificou o espírito principal de uma era, pois foi quem definiu a tristeza americana. Tem sido tão popular junto a outros artistas – que admiram seu brilhante manejo de luz, volume e composição. Hopper foi capaz de retratar o isolamento da gente comum sem nenhuma condescendência e fez o que se acreditava ser impossível para um artista moderno: deu as notícias mais importantes à sua época.

Hopper – autor de marcos da arte do século 20 em que passava anos trabalhando — pintou relativamente pouco. Mas desenhou muito.

No início da carreira, o artista experimentou de tudo, mas logo resumiu seus traços em papel a giz preto e carvão.

INFLUÊNCIA EUROPEIA – Entre 1906 e 1910, o pintor foi a Paris três vezes, mas não se deixou influenciar por Picasso. Estudou o trabalho dos impressionistas, porém, e seus quadros ficaram mais luminosos, contendo às vezes uma luz quase alegre.

Apesar da exigência chovinista de uma arte “americana”, ele continuou, durante anos depois de sua volta aos Estados Unidos, a exibir sem sucesso pinturas com temas franceses, incluindo o extraordinário “Soir Bleu”, que cheira a um tédio fin-de-siècle.

Hopper só conseguiu sustentar-se como artista comercial depois da I Guerra Mundial e atingir o sucesso aos 42 anos. “Tudo aqui me pareceu terrivelmente cru quando voltei”, disse. “Levei dez anos para superar a Europa.”

Diante do estilo do pintor maduro, este seu persistente amor pelo brilho francês parece destoante. Purgar este elemento de sua arte deve ter exigido uma rigorosa força de vontade. Isto explica em parte a fantástica compressão existente na essência de sua estética.

A luz de Hopper isola objetos mais comuns ficam mudos e estranhos, como membros de uma plateia que são subitamente empurrados para o placo.

Inimigo jurado do abstrato, sua obra reflete o cultivo da linguagem americana nas artes dos anos 20 e 30, mas nunca foi muito correto defini-lo como realista.

Ele certa vez queixou-se de que os críticos exageraram o “aspecto da solidão” em sua obra, mas a solidão tem seus prazeres: itensifica as percepções e afina a mente. Na luz de Hopper há uma triste exaltação.

(Fonte: Veja, 29 de outubro de 1980 – Edição 634 – Arte/ Por Mark Stevens – Pág; 151/152)

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