Catarina II, a imperatriz sem limites
“Quando era jovem e frágil, Catarina precisou dos homens que lhe deram músculos para tomar o poder. Uma vez no poder, ela os manipulou.”
Simon Sebag Montefiore, historiador
Catarina II da Rússia, monarca russa, a Grande (1729-1796), imperatriz que entrou para a história como ninfomaníaca — mesmo após ter tornado seu país o maior do mundo, recheada de traições, disputas e guinadas incríveis.
Ela expandiu o território russo, e promoveu a Rússia a uma potência na Europa. Para isso, usou tanto a força como o “soft power”. Fez publicar cartas para promover a civilização na Rússia — e assim ela formou sua coleção de arte.
Talvez ela só pudesse ter ocorrido na Rússia bárbara do século 18 — a mesma cujo território e supremacia se mantêm hoje, e que Catarina consolidou.
A bizarra ascensão de uma princesa prussiana alçada ao trono de um país estrangeiro que governou com sabedoria, sem abdicar do desejo sexual. Coroada, caçou adversários e conquistou vastos territórios. Uma predadora.
Com base no diário íntimo e na correspondência de Catarina, antecipou o feminismo em três séculos anos por tomar decisões fundamentais para seu país, refletir sobre governança, trocar cartas com Voltaire o outros enciclopedistas e se servir sexualmente dos cortesãos.
Catarina é um modelo do feminismo. O ditador Josef Stalin a odiava.
Sua grandeza foi escolher o príncipe Potemkin e outros amantes e funcionários talentosos para governar o Estado.
Ela tanto manipulou os homens para governar como foi manipulada por eles, desejosos de fortuna. Durante os 33 anos de reinado, empoderou a alcova: no diário, menciona doze parceiros. Foram mais. “Mas Catarina não era promíscua”. “Ela regia o seu coração pela lei da paixão e da fidelidade – pelo menos fidelidade a si própria.”
Roliça, pequena e de olhos azuis faiscantes, era inteligente e charmosa. Não se casou, talvez porque temesse ser deposta pelo eventual cônjuge. Ganhou a reputação de regicida após ter ordenado executar o marido, o tsar Pedro III, para se coroar . Contou para isso com a ajuda do favorito Grígóri Orlov. Com ele, viveu entre 1762 e 1772, e teve dois de seus três filhos — o outro, Paulo, gerou com o nobre Serguei Saltikov,ainda casada com Pedro III. O caso mais duradouro se deu com Grigóri Potemkin (1739-1791), gigantesco oficial que ela promoveu a príncipe, general e estadista. A parceria sexual
e administrativa de 18 anos, até a morte dele, fez de Potemkin um “marido secreto”.
Eles se conheceram no dia da coroação dela, em 1762, e viraram amantes só doze anos depois. A relação, aberta, durou até a morte dele. O arranjo lhes permitiu enfileirar parceiros. Ela o chamava de “Galo Dourado”; ele, de “Matuchka” (Mamãe). Ele seduziu beldades nobres e plebeias, inclusive três jovens sobrinhas. Ela não se reprimia. Quando morreu, seu jovem amante Alexandre Lanskoi, chorou no ombro de Potemkin. “Os cortesãos ouviram os dois uivando de dor”.
O legado de Catarina foi ter elevado a Rússia a potência mundial. Seu governo autocrático conta com admiradores até hoje. “Catarina anexou a Crimeia e parte da Ucrânia, bombardeou a Síria, invadiu o Cáucaso”. “Em outras palavras, tem ecos fortes na Rússia de Vladímir Putin.”
Eles foram difamados pela história — ela como ninfomaníaca e ele como um gigolô bufão. Eles eram estadistas notáveis, verdadeiros titãs, apesar de seus defeitos.