Caio Graco Prado, editor paulista. Dono da editora Brasiliense

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Caio Graco Prado, editor paulista. Dono da Brasiliense, sempre foi a personificação da juventude. Inimigo número 1 de qualquer tipo de formalidade , relutava em usar qualquer outra coisa fora do trio jenas-tênis-camiseta. Amante da boa mesa, da vida ao ar livre, era a antítese do homem de gabinete. Seu contato com os jovens permitiu que, com quase cinquenta anos, ele promovesse uma revolução no mercado editorial do país. Na transição da ditadura para a democracia, Caio detectou uma geração sedenta de informação e alimentou-a com o lançamento de coleções como a Primeiros Passos, em 1980. “Por que não criar uma coleção de livrinhos para esse público, escritos por especialistas, mas numa linguagem acessível?”, pensou.

A ideia foi desenvolvida sem pedantismos e deu tão certo que hoje, aos doze anos e 260 títulos, a Primeiros Passos vendeu mais de 6 milhões de livros, traduzindo para não iniciados temas espinhosos como a semiótica. Fundada em 1943 pelo pai de Caio, o historiador e economista marxista Caio Pardo Júnior, a Brasiliense tornou-se a segunda maior editora do país e deixou de ser vista como um aparelho da intelectualidade de esquerda, transformando-se na “editora dos jovens”. Surgiram então outras coleções de sucesso, como a Encanto Radical, de biografias, e a Circo de Letras, que lançou vários títulos da geração beat americana. Nessa época, a Brasiliense colecionava best-sellers, caso de Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva.

DIRETAS JÁ – Descendente de uma família aristocrática decadente, Caio tinha sangue de contestador. Em 1964, amargou dez dias de prisão no Dops paulista porque era o responsável pela proibida coleção A História Nova do Brasil, dirigida por Nelson Werneck Sodré. Vinte anos depois, engajado na campanha das diretas já, o editor, militante do PT, lançou a ideia de tornar o amarelo a cor do movimento. A campanha fracassou, como já haviam fracassado outros empreendimentos seus como o jornal mensal Leia Livros, criado em 1978. Caio, no entanto, acreditava que não havia nada demais em levar tombos – bastava se levantar em seguida. A Brasiliense esteve à beira da falência em 1974 e 1987 e nas duas oportunidades o editor deu a volta por cima.

No início dos anos 70, comprou um asa-delta e, sem nunca ter aprendido a pilotá-la, flutuou no ar como um pássaro, para logo em seguida bater num morro e quebrar o braço. Recuperado, subiu em sua moto, caiu e quebrou o ombro. Inventou, então, o coroa-cross, uma versão amenizada do motocross, que consistia em seguir de moto por trilhas e morros, fugindo do asfalto. No dia 18 de junho Caio, o filho João e dois amigos iam de moto para Campos do Jordão, onde passariam o feriado. Quando passavam pelo município de Camanducaia, em Minas Gerais, decidiram deixar a estrada e tomar uma trilha de terra. Caio não percebeu um mata-burro e perdeu o controle da moto. Caiu, fraturou o crânio – estaria sem capacete – e dessa vez não conseguiu levantar mais. Caio tinha 60 anos, em sua aventura final.

(Fonte: Veja, 24 de junho, 1992 – Edição 1240 – Datas – Pág; 91)

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