Cacilda Becker, considerada uma das maiores atrizes de palco do Brasil.

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Cacilda Becker (Pirassununga, 6 de abril de 1921 – São Paulo, 14 de junho de 1969), considerada uma das maiores atrizes de palco do Brasil. Em 30 anos de carreira, Cacilda encenou 68 peças, no Rio de Janeiro e em São Paulo; fez dois filmes e uma telenovela além de outras participações em teleteatros na televisão. Foi a principal atriz do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e lecionou interpretação na Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD).

Cacilda fundou sua própria companhia e assumiu a Presidência da Comissão Estadual de Teatro em 1968. Durante sua gestão, fez grandes conquistas e participou ativamente na luta contra a ditadura militar.

Inaugurado em 25 de janeiro de 1988, o Teatro Cacilda Becker foi projetado para suprir uma demanda de teatros na zona oeste da cidade, sendo o único teatro da Prefeitura naquela região. Após reforma, o Cacilda Becker foi reinaugurado em 2009.
(Fonte: www.prefeitura.sp.gov.br – Departamento de Expansão Cultural)

A AUSÊNCIA DE CACILDA
14 de junho de 1969 – Morte, em São Paulo, de Cacilda Becker, atriz nascida em Pirassununga, em 6 de abril de 1921.

A atriz Cacilda Becker sofreu um derrame aos 48 anos durante uma apresentação em São Paulo. Ela morreria 38 dias depois.

As cortinas se abriam lentamente em todos os teatros. Sob a luz dos refletores, a tristeza escondida pela maquilagem, atores e atrizes permaneciam em silêncio, enquanto era lido um comunicado escrito por Renata Pallottini – presidente da Comissão Estadual de Teatro de São Paulo: “Morreu Cacilda Becker, a primeira figura do nosso teatro. Aqui estamos para chorar junto com seu público. Prosseguimos o espetáculo”. Na verdade, todos estavam vivendo a cena de um dos maiores dramas do teatro brasileiro: a morte de Cacilda. Quando se fecharam as cortinas, cessados os aplausos, os artistas retornaram ao convento dos dominicanos, nas Perdizes, em São Paulo, onde o corpo da grande atriz era velado. “Cacilda não gostava de ver um teatro fechado. Homenageá-la, só com o pano aberto”, era o comentário de Nídia Licia, com a voz emocionada. Sérgio Cardoso daria o mesmo retrato da personalidade de Cacilda ao dizer que “ela representaria doente ou não, mesmo com o teatro pegando fogo, ainda que os cenários estivessem em chamas”. Por esta atriz, não obedecendo à marcação de nenhum diretor, o maior elenco do teatro brasileiro se reunia para viver o ato final do seu drama, contracenando na última homenagem. Não faltou público. Vieram as lágrimas em lugar das palmas.

Morte – Naquela tarde, 6 de maio, ela estava representando a peça “Esperando Godot”, de Beckett. No intervalo do primeiro para o segundo ato, a dorzinha de cabeça incômoda cresce violentamente. Não a deixa mais pensar, insuportável. Não voltou para o segundo ato, que começaria com as palavras de Estragon (papel interpretado por Cacilda Becker): “Aconteça o que acontecer, o dia cá por mim está acabado”.

Eternidade – “Mulher autênticamente do teatro, ela deu toda a sua vida ao teatro e do teatro saiu para a morte”, diria ainda o comunicado lido nos teatros. Uma frase que sintetiza a opinião unânime da classe teatral brasileira, pela qual Cacilda trabalhou intensamente. Parte mais brilhante da renovação teatral da ala paulista que se iniciou com o Teatro Brasileiro de Comédia, Cacilda Becker previa, no Brasil de hoje, um teatro sem grandes “mitos” nem “monstros sagrados” temperamentais e brilhantes. E com inteligência e generosidade promovia novos talentos, que pudessem surgir na faixa teatral, montando seus textos noteatrinho de cem lugares existentes em seu apartamento da Avenida Paulista, em São Paulo. Se ela pessoalmente não aderiu à tendência atual de um teatro social, isso pode ser explicado como sendo uma questão de geração e temperamento. A prova é que, nos últimos anos, sustentava a importância social do ator em qualquer país, participando, com entusiasmo, dos movimentos da classe.

“Minha verdade é lutar sempre”, disse ela ao assumir em 1968 a presidência da Comissão Estadual de Teatro. Essa luta chegou ao fim. No domingo, Cacilda Becker foi enterrada no Cemitério do Araça, em terreno doado pela Prefeitura, que fez questão de custear todo o seu funeral. “Graças a Deus”, comentava Cacilda numa entrevista concedida anos atrás, “tenho mais um dia para viver. Fico feliz quando olho as pessoas e penso: mais um dia que elas tem também para viver. Mas não sinto medo da morte. Quando ela vier tenho certeza de que morrerei bem.”

Cenário – É uma capela toda pintada de branco, com um pequeno altar, no convento dos dominicanos, oferecida pelos próprios padres que também foram amigos de Cacilda e a admiravam muito. Estavam presentes Walmor Chagas, Odete Lara, os olhos fixos no rosto sereno de Cacilda, falava baixinho: “Eu a amava antes de conhecê-la pessoalmente”. A tristeza de todos começou a se tornar irreversível na madrugada de sábado. Enquanto, nos corredores do quinto andar do Hospital São Luís, Walmor Chagas, Cleide sua irmã choravam a luta de Cacilda contra a morte, o instante mais dramático se aproximava rápidamente. Os médicos suspendiam os medicamentos e retiravam o balão de oxigênio. Estava no fim a quinta crise de Cacilda. Depois de sensíveis melhoras no meio da semana passada e 38 dias após ter sofrido derrame cerebral, Cacilda não resistiu mais.

Às 10 horas da manhã de sábado, o Dr. Osvaldo Cruz, chefe da equipe de médicos, comunicava aos parentes a morte de Cacilda. Sua expressão serena ao longo dessas terríveis horas mostrava sua luta contra a morte no esforço que fazia para respirar”. Mas o atestado de óbito, em seu estilo tão frio quanto a morte, diria simplesmente: “Aneurisma intracraniano roto. Acidente vascular hemorrágico”. A notícia se espalhou através de rédios e emissoras de TV. E, diante do Hospital, uma multidão silenciosa, indiferente aos artistas que chegavam, esperava.

(Fonte: www.correiodopovo – ANO 116 – N.° 257 – Cronologia – 14 de junho de 11)
(Fonte: Veja, 18 de junho, 1969 – Edição n° 41 – Brasil – Pág; 26)

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