Augusto Frederico Schmidt, considerado importante poeta lírico brasileiro.

0
Powered by Rock Convert

Schmidt: 23 livros, nenhuma mudança

Augusto Frederico Schmidt (Rio de Janeiro, 18 de abril de 1906 – Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 1965), considerado importante poeta lírico brasileiro.

Os trechos do poeta em antologia de antigos poemas e alguns inéditos, não sugerem vínculos com a história literária nem com a história social de seu tempo. Observação tanto mais estranha quando se lembra que entre 1956 e 1960 Schmidt representou o Brasil na ONU, no governo de Juscelino Kubitschek, ou que ele foi tutor da Operação Pan-Americana, presidindo um conselho de 21 países.

Sem diferença – Entre o seu primeiro livro, “Canto Brasileiro”, escrito em 1928, quando Schmidt tinha 22 anos, e “O Caminho para Frio”, de 1964, não se nota nenhuma diferença estilística ou formal que seja marcante. Teria o poeta nascido maduro ou não teria ele evoluído ao longo dos 23 livros que publicou?

Nos tempos de Mário de Andrade, a crítica literária costumava destacar, na poesia de Schmidt, a sua técnica da repetição, a insistência nas imagens do vento-noite-lírio-noiva-morte, o parentesco com o verso bíblico de Paul Claudel, o seu tom de Casimiro de Abreu, a sua habilidade em fazer versos cadenciados mesmo sem querer.

A poesia de Schmidt, evidentemente, revelou muitos textos belos, comoventes, que poderiam frequentar qualquer antologia. Sua obra, no entanto, padece de um dramático dilema: os limites entre o lirismo e a própria poesia. Pejorativamente usado, o lirismo é aquela emanação difusa e impressionista dos suspiros individuais diante dos mistérios da existência.

Produzido em clima de baixa tensão, faltou-lhe o que caracteriza a poesia: consciência e temporalidade. Segundo essa mesma concepção, a poesia, por sua vez, seria a construção de um sujeito histórico dentro da série social literária.

O poeta seria uma espécie de pensador – ou, como já disse Martin Heidegger, teria até a dimensão do filósofo. Ora, se o poeta não pode viver fora do tempo, aquele que efetivamente escreve o seu tempo acaba operando uma síntese da história social e literária, realiza uma soma onde 1 mais 1 saudavelmente são 3. Aquele que é apena lírico, contudo, perde seu significado e equivale a zero.

Obviamente deve haver lugar para todos os textos na república das letras – caso contrário, nela se instalaria um regime repressivo. Não se pode, entretanto, esquecer o dito bíblico que afirma: “Todo aquele que tem lhe será dado. E o que não tem , até o que tem lhe será tirado.”

(Fonte: Veja, 2 de julho de 1975 – Edição 356 – LITERATURA/ Por Affonso Romano de SantAnna – Pág: 94/95)

Powered by Rock Convert
Share.