Arthur Schopenhauer, filósofo que introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã

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Arthur Schopenhauer entrou para a história com a imagem de ranzinza

Arthur Schopenhauer (Dantzig, atual Polônia, 22 de fevereiro de 1788 – Frankfurt, 21 de setembro de 1860), filósofo alemão que introduziu o budismo e o pensamento indiano na metafísica alemã.

Schopenhauer nasceu numa família rica, em Dantzig, atual Polônia, em fevereiro de 1788. Sua mãe era escritora e defendia uma postura liberal para a época. Após o suicídio do marido, passou a viver com um jovem amante. O filósofo reprovava abertamente essa conduta.

Somado ao seu desapontamento com a figura materna, suas decepções amorosas o transformaram em um misógino convicto. Carregou por toda a vida um notório rancor pelo sexo feminino.

Ficou vulgarmente conhecido por seu pessimismo e entendia o budismo (e a essência da mensagem cristã, bem como o essencial da maior parte das culturas religiosas de todos os povos em todos os tempos) como uma confirmação dessa visão realista-pessimista. Schopenhauer também combateu fortemente a filosofia hegeliana e influenciou fortemente o pensamento de Eduard von Hartmann e Friedrich Nietzsche.

Em 1819, publicou “O Mundo como Vontade e Representação”, sua obra-prima. Pouco tempo depois, quando lecionava na Universidade de Berlim, Schopenhauer encontrou seu maior adversário: Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831).

As palestras de Hegel, o maior representante do idealismo alemão, eram as mais disputadas entre os alunos, fato que atraía a inveja. Conta-se que, com a intenção de disputar a preferência dos estudantes, Schopenhauer marcou sua aula no mesmo horário, a experiência resultou em um fracasso total. Hoje, seus livros são mais vendidos que os de seu rival.

O autor de “O Mundo como Vontade e Representação” também assina “A Arte de Escrever”, “A Arte de Ser Feliz”, “A Arte de Insultar” e “Arte de Lidar com as Mulheres”.

Em “38 Estratégias para Vencer Qualquer Debate”, o filósofo ensina a arte de ter sempre razão, estratégias para vencer qualquer debate. Alguns dos estratagemas propostos são moralmente questionáveis, como tentar enfurecer o oponente. “E o ser humano, que não é um ser especialmente nobre, revela seu lado mais sombrio: a vaidade e a hipocrisia triunfam.”

 

 

Schopenhauer, filósofo das contradições

Em 21 de setembro de 1860, morria Arthur Schopenhauer, um dos mais influentes pensadores do século 19. Uma figura marcada por contradições e anedotas, porém sem a qual Wagner, Nietzsche e Thomas Mann seriam impensáveis.

Obit anus, abit onus: A velha morre, a carga se vai.

A frase consta do livro de contas de um certo senhor alemão do século 19. Mais de 20 anos antes, ele machucara seriamente, numa briga, o braço de uma costureira, sendo condenado a pagar-lhe uma pensão vitalícia. Agora, por fim, com a morte da ex-vizinha, a despesa estava quitada.

Tanto a história como seu final não soam nada nobres, muito menos para um filósofo. No entanto, assim era Arthur Schopenhauer (1788-1860): um homem de extremos e contradições.

 

Teoria e prática

 

Nos atos, um Don Juan; nas ideias, um misógino, seu julgamento sobre o matrimônio era sumário: “Casar-se significa agarrar um saco, de olhos vendados, e rezar para que se ache uma enguia em meio a um monte de cobras”. Além disso, por melhor que um casamento fosse, ele sempre resultava em “reduzir à metade os próprios direitos e duplicar as obrigações”.

Em contrapartida, Schopenhauer foi um dos primeiros europeus a se baterem pelos direitos dos animais. E admirava os vegetarianos da Índia, embora ele mesmo comesse carne e estivesse longe de ser um asceta.

Nascido em 22 de fevereiro de 1788 em Danzig (hoje Gdansk, na Polônia), Arthur Schopenhauer cresceu em Hamburgo e conheceu a Europa viajando com seus pais.

Assim descreve o biógrafo Rüdiger Safranski a trajetória do pensador: “O pai, um rico empresário, queria que ele fosse comerciante. Schopenhauer tornou-se filósofo, beneficiando-se da morte do pai e com a ajuda da mãe, que ele mais tarde trataria como inimiga”. Fato é que a fortuna herdada permitiu ao solteirão viver para a filosofia, e não dela, como os professores universitários que ele tanto odiava.

 

Influências orientais

 

Tal independência em relação a instituições ou mecenas certamente favoreceu a agudeza de seu olhar sobre o mundo e a existência, sintetizada em inúmeros aforismos como: “Para não ser infeliz demais, o meio mais seguro é não exigir muita felicidade”.

O escritor Thomas Mann definiu Schopenhauer como “o mais racional filósofo do irracional”, outros o tachariam de pessimista, niilista, rabugento. Em sua obra-mestra, O mundo como vontade e representação (Die Welt als Wille und Vorstellung) – concluída em 1818, e que se encerra com a palavra “nada”) –, ele anuncia haver solvido o enigma da existência.

 

O resultado é bem pouco alvissareiro: toda biografia é “uma história de dor”, o livre arbítrio é uma ilusão, e o homem um ser à mercê das próprias emoções e desejos. Porém há como encontrar consolo e paz interior em meio à realidade dolorosa: através da ascese ou tentando minorar a dor dos outros. Compaixão, para Schopenhauer, é “o único verdadeiro motor moral”.

Tal atitude deveria bastar para libertar o filósofo do epíteto de pessimista. Sua fixação nos temas sofrimento e redenção também se origina na leitura de textos budistas e hinduístas: ele foi um dos primeiros pensadores europeus a se deixar inspirar pela sabedoria do Extremo Oriente.

 

O amor e os poodles

 

Uma influência que se estenderá a filósofos e artistas como Friedrich Nietzsche, Leo Tolstoi, Hermann Hesse ou Richard Wagner. Este último, após ler O mundo como vontade e representação, aprofundou as noções de negação do mundo e de dissolução no amor, que permeiam todas as suas subsequentes óperas, de Tristão e Isolda a Parsifal. Não por acaso, o compositor dedicou a Schopenhauer seu libreto para a tetralogia O anel do Nibelungo.

Na fruição das artes plásticas e da música, Schopenhauer via o caminho para a paz da alma. Através do “prazer estético do belo”, toda vontade, desejo, preocupações se desfazem. A arte é uma das raras fontes de luz e consolo em meio à noite da existência mundana.

A arte e a compaixão: “A bondade do coração consiste numa compaixão profundamente sentida, universal com tudo que tem vida”. Um princípio que o filósofo aplicaria, em especial, aos cães. Seus últimos anos – em Frankfurt, onde morreu a 21 de setembro de 1860 – o encontram passeando às margens do rio Meno, com algum de seus numerosos poodles, com quem conversava em inglês.

Estes se chamavam simplesmente “Butz”, um nome genérico, ou “Atman” – “sopro”, em sânscrito. Os poodles de Schopenhauer eram, portanto, a “alma do mundo” sobre quatro patas. E quando se comportavam extremamente mal, o filósofo só tinha um insulto: “Homem!!!”.

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/2014/02/1419363- LIVRARIA DA FOLHA – 28/02/14)

(Fonte: http://www.dw.com/pt-br – CALENDÁRIO HISTÓRICO/ Por Augusto Valente – 21 de setembro)

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