Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, escultor, arquiteto, entalhador.

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O gênio heroico

Aleijadinho: “Calvário insuportável”

Antônio Francisco Lisboa (Ouro Preto, 29 de agosto de 1730 – Ouro Preto, 18 de novembro de 1814), o Aleijadinho, escultor, arquiteto, entalhador. É considerado o mais importante artista brasileiro do período colonial. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho nasceu em Vila Rica, atual Ouro Preto – MG, em 1730 e faleceu em 18 de novembro de 1814). Filho natural de Manuel Francisco da Costa Lisboa, distinto arquiteto português e de uma escrava de nome Isabel, que somente foi liberrtada na ocasião de seu batismo.

Mulato numa sociedade em que a elite branca e as confrarias religiosas não admitiam homens de cor, livre entre os membros de uma raça escravizada; consciente da sua superioridade artística inovadora dentro do medíocre barroco importado de Portugal, o Aleijadinho surgiu sob aspectos inteiramente novos e que apareceu. O maior escultor das Américas não comove apenas pelo aspecto já conhecido de seu sofrimento físico. Dividia seus ganhos com seu escravo Maurício, deixava que roubassem seu ouro recebido por encomendas de altares, pequenas estátuas e plantas arquitetônicas e distribuía moedas aos pobres.

Impedido pelas leis da época de inscrever-se na corporação dos “ofícios mecânicos”, aberta só para os pintores mas não para os escultores e entalhadores, considerados artesãos menores, o Aleijadinho transformou a proibição em liberdade: preferia trabalhar como diarista, humildemente pago como um operário inculto.

Isolamento – Artista, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, só estipulava em seus contratos que não o confundissem com um empreiteiro: só aceitava trabalhos que fossem inteiramente desenhados e executados por ele e seus ajudantes. A arte e a fé religiosa são o único consolo dessa vida trágica, que aos 39 anos de idade começa “um Calvário insuportável”.

As dores nos dedos o levam a cortá-los com o cinzel, a boca retorceu-se, as pálpebras caíram e seu aspecto adquiriu uma ferocidade que assustava todos que o viam, condenando-o a um isolamento quase completo, temperado por seu convívio surpreendente alegre, jovial e paciente com as pessoas de sua intimidade. “Nunca o gênio precisou de tanto heroísmo para impor-se”, declara, com admiração incontida, o grande crítico de arte que atribui ao escultor, arquiteto e entalhador mineiro a distinção de “coroar todo o movimento barroco ibérico-americano, um Miguel Ângelo nascido nos trópicos, um Praxíteles mulato e leproso.”

Já perto da morte, aos 84 anos de idade, o Aleijadinho aproxima a sua angústia do Cristo quando é escolhido como vítima no Jardim de Gethsêmani, enquanto os apóstolos dormem. Para Germain Bazin, as atitudes dos Profetas de Congonhas do Campo espelham, como suprema obra-prima desse “gênio universal”, a revolta e a resignação de Antônio Francisco Lisboa, assim como o instinto e o requinte estão misturados no seu arrebato barroco. Despedindo-se da Idade Média e já delineamento um modernismo neoclássico e uma veemência precursora das mais modernas tendências do expressionismo da arte contemporânea, “o portentoso gênio do Aleijadinho… assume o valor patético de um adeus na aurora do mundo moderno.”
(Fonte: Veja, 5 de janeiro de 1972 –- Edição 174 -– LITERATURA –- “O Aleijadinho e a Escultura Barroca no Brasil”, por Germain Bazin – Pág; 64)

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