Anastas Mikoyan, ex-presidente da União Soviética, sobreviveu a todos os expurgos e mudanças políticas na União Soviética, lutou vigorosamente ao lado de Josef Stalin contra Leon Trotsky e foi recompensado em 1926 com o cargo de Comissário do Comércio

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Mikoyan: caminhando entre pingos

Bolchevique durável

 

Anastas Mikoyan (Armênia, 25 de novembro de 1896 – Moscou, 21 de outubro de 1978), ex-presidente da União Soviética, político ágil que sobreviveu a quase todos os seus contemporâneos comunistas durante quatro décadas de intriga no Kremlin.

Nascido em 25 de novembro de 1895, na cidade armênia de Sanain, o Sr. Mikoyan formou-se em um seminário eclesiástico, ingressou no Partido Bolchevique aos 20 anos, desempenhou um papel de liderança no levante bolchevique no Daguestão e no Azerbaijão em 1919, ascendeu através de empregos provinciais no Partido Comunista e eventualmente chamou a atenção de Josef Stalin.

Em Moscou, Mikoyan foi um dos primeiros protegidos e apoiantes de Stalin. Ele lutou vigorosamente ao lado de Stalin contra Leon Trotsky e foi recompensado em 1926 com o cargo de Comissário do Comércio.

LENDA INALTERADA

Mikoyan sobreviveu a todos os expurgos e mudanças políticas na União Soviética, desde a queda do czar, e durante mais de quarenta anos exerceu cargos de direção no PCUS.

Não foi uma tarefa fácil. Já em 1918, ele era líder comunista em Baku, capital da República do Azerbaijão, quando escapou milagrosamente – e em circunstâncias até hoje inextrincáveis – da sorte de seus 26 companheiros de partido, todos executados pelo regime local.

Durante o grande expurgo promovido por Stálin, em 1937, ele também escapou ileso do clima de terror instaurado no Kremlin, embora seu filho tenha sido preso. E, terminada a guerra, continuou membro do Politburo, apesar da campanha então em vigor contra a velha guarda de líderes soviéticos.

Após a morte de Stálin, Mikoyan iniciou uma nova fase de sua vida política, tornando-se um dos principais colaboradores de Kruschev – e ninguém parecia se lembrar de que o adversário ferrenho do “culto da personalidade” foi um dos assessores mais diretos de Stálin. Dessa forma, ninguém também se surpreendeu ao ver Mikoyan nomeado presidente da República em 1964. E quando, em julho do mesmo ano, Kruschev foi finalmente deposto, ele se encontrava mais uma vez no centro dos acontecimentos, e do lado mais forte. Sua extraordinária habilidade política, no entanto, não se limitou a questões internas.

Ele foi também o negociador dos problemas mais delicados da política externa soviética, como durante a crise de Cuba, em 1962, quando convenceu Fidel Castro a concordar com a retirada dos mísseis soviéticos. Nos últimos oito anos, Mikoyan não exerceu funções oficiais no governo, permanecendo apenas como membro do Soviete Supremo, mas a lenda em torno de seu nome se manteve inalterada. Uma das anedotas que os soviéticos contam a seu respeito até hoje, é a de que, um dia, ao deixar o Kremlin, ofereceram-lhe um guarda-chuva, porque começara a chover. “Não é preciso”, disse Mikoyan. “Eu caminho entre os pingos.”

Em mais de um quarto de século como chefe do comércio soviético, o Sr. Mikoyan benessman, com um volume de negócios que ultrapassou os 100 mil milhões de dólares por ano. Ele era o maior negociante de exportação e importação do mundo, com um volume que chegava a cerca de US$ 10 bilhões por ano.

Após a morte de Stalin em 1953 e a criação de um novo governo liderado por Georgi M. Malenkov como primeiro-ministro, o Sr. Mikoyan tornou-se vice-primeiro-ministro, ficando um pouco abaixo do resto da liderança coletiva inicial. Ele juntou-se às manobras que levaram à prisão de Lavrenti Beria (1899-1953), o chefe da polícia secreta, e depois aliou-se a Nikita Khrushchev, primeiro secretário do partido, em Fevereiro de 1955, na deslocação do Sr. como Premier pelo Marechal Nikolai A. Bulganin.

A aliança Mikoyan-Khrushchev emergiu claramente nas ações anti-stalinistas do 20º congresso do partido em Fevereiro de 1956.

Em 18 de Fevereiro, a rádio de Moscou transmitiu um discurso, proferido dois dias antes, no qual o Sr. Mikoyan denunciou os “erros e deficiências” do período Stalin na política econômica e externa. Ele exigiu que os “inimigos do povo erroneamente declarados” fossem reabilitados. Khrushchev seguiu com um discurso secreto detalhando o terrorismo sob o governo de Stalin.

Em março de 1958, cinco anos após a morte de Stalin, o Sr. Khrushchev assumiu o cargo de primeiro-ministro e o Sr. Mikoyan foi nomeado um dos seus dois primeiros vice-primeiros-ministros.

Com a assistência do Sr. Mikoyan como negociador, a União Soviética conseguiu aumentar enormemente o comércio com a Alemanha Ocidental, tornar-se influente no Médio Oriente através do financiamento a longo prazo da Barragem Alta de Assuão e obter avanços económicos no Extremo Oriente e em África. Em 1960, Mikoyan e Fidel Castro assinaram um acordo comercial de cinco anos, um pacto considerado o primeiro desenvolvimento crucial que conduziu Cuba à órbita da União Soviética.

Apenas alguns meses antes da deposição de Ithrushchev em 1964, Mikoyan foi eleito presidente do Soviete Supremo, um título em grande parte honorário. A nova liderança soviética de Alexci N. Kosygin e Leonid Brezhnev tratou o Sr. Mikoyan com respeito, mas ele renunciou em dezembro de 1965, alegando problemas de saúde. Ele manteve sua filiação no Politburo do Partido Comunista, cargo que ocupou desde 1935, até abril de 1966, e no Comitê Central do partido até 1976.

Mikoyan faleceu no dia 21 de outubro de 1978, aos 82 anos, após uma longa doença, em Moscou.

(Créditos autorais: https://www.nytimes.com/1978/11/06/archives – The New York Times/ ARQUIVOS/ por Arquivos do New York Times – 6 de novembro de 1978)
Sobre o Arquivo
Esta é uma versão digitalizada de um artigo do arquivo impresso do The Times, antes do início da publicação online em 1996. Para preservar esses artigos como apareceram originalmente, o Times não os altera, edita ou atualiza.
Ocasionalmente, o processo de digitalização introduz erros de transcrição ou outros problemas; continuamos trabalhando para melhorar essas versões arquivadas.

(Fonte: Veja, 1° de novembro de 1978 – Edição 530 – DATAS – Pág: 84)
(Fonte: Veja, 26 de junho de 1974 – Edição 303 – UNIÃO SOVIÉTICA – Pág: 58/59)

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