Alexander Sergueievitch Pushkin, poeta, romancista, contista, dramaturgo e pai da literatura russa.

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O fundador da língua russa

Alexander Pushkin (1799-1837) é tido como o pai da literatura na Rússia – avaliação confirmada pelos grandes escritores do país.

Pushkin: oposição veemente à tirania czarista e morte em um duelo, por ciúme

O espírito livre que faltou à Rússia

Alexander Sergueievitch Pushkin (Moscou, 6 de junho de 1799 – São Petersburgo, 10 de fevereiro de 1837), pai da literatura russa, fundou a tradição que deu ao mundo Gógol, Tchecov, Leon Tolstoi (autor de Guerra e Paz) e Fiodor Dostoievski (autor de Crime e Castigo), todos reconhecidos e gratos a seu predecessor.

Pushkin é o autor do clássico Eugênio Oneguin, considerada uma pedra fundamental da literatura russa, a obra é também o perfeito antídoto para o autoritarismo que marca a história do país.

Poeta, romancista, contista, dramaturgo e historiador, ele criou, numa carreira de duas décadas, a poesia, os contos e as peças que colocaram seu país no mapa cultural da Europa.

Seus com-patriotas consideram um livro singular, um romance em versos “Eugênio Oneguin” não só sua obra-prima, mas também um monumento que rivaliza com a Divina Comédia de Dante, o Fausto de Goethe e as tragédias de Shakespeare.

Oriundo da nobreza empobrecida e também de um remoto ancestral africano, Pushkin cresceu numa Rússia que, devido às guerras napoleônicas, começara a participar do concerto das nações. Quando nasceu, seu país não possuía ainda nem uma literatura de verdade nem uma linguagem capaz de acolhê-la, e até a aristocracia de seu tempo preferia falar francês.

Jovem rebelde, apreciador das festas, da bebida, das belas mulheres e do jogo, sua existência foi sempre agitada. Contrário à tirania absolutista do czar, foi diversas vezes exilado em vários cantos do império. Após inúmeras aventuras, o poeta desposou uma beldade, Natalia Goncharova, mas, provocado por cartas anônimas que o levaram a duvidar da fidelidade da mulher, acabou morto em um duelo, aos 37 anos.

Escrita ao longo de sete anos, Eugênio Oneguin é uma obra difícil de definir. Embora seja um romance e flua, sem obstáculos, como a melhor prosa, está escrita em estrofes rimadas de catorze versos que equivalem, cada qual, a um soneto – de modo que o todo funciona seja como uma coletânea de poemas individuais, seja como um longo poema.

Não é à toa que se trata de obra dificílima de traduzir. Só em inglês já saíram mais de dez versões, nenhuma considerada inteiramente satisfatória.

Eugênio Oneguin, o protagonista, é um rapaz mimado que, após herdar uma fortuna, abandona entediado os prazeres da capital e se muda para sua propriedade rural. O fio central da história são os desencontros amorosos de Eugênio e uma mulher que ele conhece na província, Tatiana.

Pushkin faz um compêndio enciclopédico da vida russa de então, de seus costumes e surpresas, de suas alegrias e desencantos. Não há, para o autor, detalhe irrelevante.

Os países tendem a eleger como seus máximos representantes literários os autores que menos refletem o caráter nacional: um Shakespeare hiperbólico numa Inglaterra afeita a se expressar sutilmente nas entrelinhas, um Goethe universalista numa Alemanha nacionalista, um Cervantes bem-humorado e tolerante na sisuda Espanha da Inquisição.

A observação se aplica ainda com maior propriedade a Pushkin, que quase nada tem a ver com o que se tornou comum esperar de um escritor russo. Os dilemas da interioridade dilacerada, o desconforto existencial, as singularidades da alma russa, o patriotismo exacerbado, o fervor religioso, a militância política, a obsessão pela sociedade e sua reforma: nada disso atraía o jovem dândi irônico e bon-vivant, alheio a grandes arroubos emocionais. Embora amasse seu país e seu povo e desprezasse a tirania, o poeta era um individualista.

Pushkin encarna a liberdade de espírito que tanto faltou nos dois últimos séculos de história russa.

“Pushkin apareceu quando nascia nossa autoconsciência”, diz Fiodor Dostoievski (1821-1881). O autor de Crime e Castigo, nacionalista feroz, quis fazer do antecessor um profeta do eslavismo – embora Pushkin fosse mais cosmopolita

Leon Tolstoi (1828-1910), em suas cartas e diários, menciona Pushkin várias vezes, sempre com reverência. O autor de Guerra e Paz admirava a precisão e a elegância da prosa de Pushkin

Prêmio Nobel de 1987, o poeta Joseph Brodsky (1940-1996) – um dissidente da União Soviética – reconhecia em Pushkin o escritor que conferiu dignidade ao idioma russo. “Ele deu à nação russa sua linguagem literária e, portanto, sua sensibilidade”, escreveu

(Fonte: Veja, 5 de junho de 2010 – Ano 43 – N° 23 – Edição 2168 – LIVROS/ NELSON ASCHER – Pág: 174/175)

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