Alex Raymond, desenhista que anunciou ao mundo um helênico e varonil estudante Flash Gordon.

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Pois antes de revelar-se como o “Orson Welles dos quadrinhos”, Raymond burilou seu traço no ateliê de Lyman Young.
(Fonte: Veja, 12 de março de 1975 – Edição n° 340 – LITERATURA/ Por Sérgio Augusto – Pág; 92/93)

Alexander Gillespie Raymond (New Rochelle, Nova York, 2 de outubro de 1909 – 6 de setembro de 1955), desenhista americano que aos 18 anos entrou para a Escola de Desenho Grand Central.

Mais tarde trabalhou como assistente de Russ Westover na tira Tillie, The Toiler e depois com o célebre Chic Young e com o irmão deste, Lyman na série Tim Tyler”s Luck, fazendo as tiras diárias e páginas dominicais.

Alex Raymond anunciou ao mundo não o seu holocausto mas sua gloriosa ressureição por um helênico e varonil estudante de Yale chamado Flash Gordon. “Vai acabar o mundo! Um cometa desconhecido avança de encontro à Terra. Diz a ciência: “Só um milagre nos salvará!”. Com esta manchete apocalíptica, Raymond publicou em 1934 o milagre e para o qual contribuíam ainda o gênio científico do dr. Hans Zarkov e a dedicação corajosa da escultural e amorosa Dale Arden. Adolfo Aizen, foi responsável pelo lançamento no Brasil da primeira aventura de Flash Gordon no planeta Mongo, em 1934, nas páginas do extinto “Suplemento Juvenil”.

Traço primoroso – Quando Flash Gordon explodiu nas páginas do “New York American Journal”, a 7 de janeiro de 1934, os quadrinhos já haviam alçado voo em ousadas aventuras pelo cosmo no reator dorsal de Buck Rogers (1929) e na cromosfera de Brick Bradford (1933). Os pontos de partida de Raymond não se destacavam exatamente pela originalidade. Havia um pouco de feérica fantaciência do começo do século 20, derivadas das tubulações venezianas de Nick Carter (criação de Edgar Rice Burroughs, também autor de Tarzan). A ideia de concentrar as aventuras em um planeta perdido e cheio de armadilhas, como o de mongo, com cidades suspensas, submersas e evanescentes, veio sem dúvida, do clássico “The Lost World”, de Conan Doyle (1912). Assim como diversas atrações da parafernália eletrônica se originaram no projetor gravitacional inventado, anos antes, por Abraham Merritt.

Além de seu traço primoroso – que revolucionou toda uma concepção de desenho a pincel e pena – e de sua “mise-en-page” burilada por linhas de insinuante elegância e bruscas distensões. Raymond criou um universo barroco de gestualidade excessiva, vestimentas ondulantes e objetos espirilados. Na maior parte dos quadrinhos a impressão é a de um erótico e agitado festim de ombros femininos, decotes vertiginosos e bíceps contraídos, do qual participam, além do trio Gordon-Dale-Zarkov, e do tirânico imperador Ming, um exótico elenco de princesas lascivas, cortesãos ávidos de poder e monstros de raças e eras disparatadas.

Outros três – Apesar de seu desprezo pela verossimilhança científica, Raymond inclusive legou ao futuro invenções de valor técnico reconhecido até pela NASA, que delas extraiu ideias, soluções e modelos. Através de suas personagens femininas, antecipou a moda de Paco Rabanne e, sobretudo, a mínissaia. E compensou seu precário cientificismo com um mágico poder de aglutinar numa só história o mundo imaginário e galante das sagas medievais, a agressividade fabular da mitologia grega e as fixações populares dos anos 20 e 30, com o orientalismo expresso em Mongo (de Mongólia) e no fu-manchuesco Ming. Alex Raymond criou ainda outros três fabulosos heróis de quadrinhos: Jim das Selvas (1934), Bill, o agente secreto X-9 (1934), e Nick Holmes (1946) – aos quais acabou dedicando mais atenção, deixando Flash Gordon entregue ao talento inferior de discípulos como Austin Briggs e Mac Raboy.

Raymond ainda estava enveredando pelo caminho do sucesso quando morreu tragicamente enquanto experimentava um automóvel do também quadrinista Stan Drake. Tinha apenas 47 anos e muito para fazer no campo dos quadrinhos. Costuma-se dizer que criadores e artistas atingem o ápice da criatividade aos cinqüenta anos, quando talento e experiência se equilibram. Se isso é verdade, Raymond, o criador das fabulosas páginas de Flash Gordon, ainda estava começando.

(Fonte: Veja, 9 de janeiro de 1974 – Edição n° 279 – LITERATURA/ Por Sérgio Augusto – Pág; 80)
(Fonte: http://www.graphiqbrasil.com/cartunistas/alexraymond – Os muitos mundos de Alex Raymon/ Por Mário Latino)

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