Adelmar Tavares, advogado, professor, jurista, magistrado e poeta.

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Movimento Literário: Trovadorismo

Adelmar Tavares (Recife, 16 de fevereiro de 1888 – Rio de Janeiro, RJ, 20 de junho de 1963), advogado, professor, jurista, magistrado e poeta.

Era membro da Sociedade Brasileira de Criminologia, do Instituto dos Advogados, da Academia Brasileira de Belas Artes, membro e patrono da Academia Brasileira de Trovas. Era considerado o Príncipe dos Trovadores Brasileiros. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras em 1948.

Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti nasceu em Recife em 16 de fevereiro de 1888. Sobre o seu nascimento escreveu Maria de Lourdes Costa, na “Gazeta Comercial” de Juiz de Fora, em 1959: “Há setenta anos passados, no 3º andar da rua Santo Antônio, em Recife, num sobrado azul salpicado de estrelas brancas, onde havia uma casa de fazendas chamada: “Loja das Estrelas”, nascia o maior trovador do Brasil: Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti.” E continua: ele próprio descreve: “Nossos familiares brincavam com meu pai, dizendo: “Tavares, o menino vai ser poeta. Nasceu nas estrelas…”

Adelmar fez os seus primeiros estudos em Goiana (Pernambuco). Transferiu-se para Recife com 11 anos. Estudou no Colégio XI de Agosto e no Instituto Pernambucano. Formou-se em Direito em 1910. Em Recife, com outros colegas de Faculdade, publicou o seu primeiro livro, em 1907, quando tinha apenas 19 anos. O volume intitulava-se “Descantes”, compunha-se de trovas e os seus companheiros eram: Carlos Estevão, Manoel Monteiro, A. Silveira Carvalho e Moreira Cardoso.

Veio para o Rio de Janeiro logo depois de formado. Nesta cidade ocupou o cargo de adjunto de Promotoria Pública, de advogado do Banco do Brasil e foi, mais tarde, presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e professor da Faculdade de Direito de Niterói. Em 25 de março de 1926 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira n.º 11 que tem como patrono Fagundes Varela, na sucessão de João Luís Alves, foi recebido em 4 de setembro de 1926, pelo acadêmico Laudelino Freire.

Conheci Adelmar Tavares há mais de vinte anos, apresentado pelo nosso amigo comum – o poeta A. J. Pereira da Silva. Se antes já apreciava o trovador, nesses vinte anos a minha admiração cresceu e foi se solidificando a amizade.

Em 1947, assim iniciava uma crônica sobre o seu livro “Poesias Escolhidas”:
“Se deixar correr livremente o pensamento, eis as ideias que o nome de Adelmar Tavares me sugere:… trova… emoção… bondade… ternura…”

Em 1951 escrevia eu: “Adelmar Tavares é considerado, com inteira justiça, o Príncipe da Trova Brasileira. Suas quadras, nascidas de um coração emotivo, são simples e puras, sem preocupações técnicas e preciosismos. Andam, anônimas, na boca do povo e são admiradas e elogiadas por críticos, leitores e trovadores. Profundamente lírico, possui trovas sentimentais e conceituosas que enternecem e fazem meditar.”

E ao receber o seu “Ramo de Cantigas” assim terminava o artigo que escrevi sobre o livro, em 1955: “…E quantas, nesse “Ramo de Cantigas” poderiam ser citadas?! Quase todas… diria, sem exagero. Pois, os que compõem trovas ou que admiram esse gênero poético, sabem que Adelmar Tavares é um trovador de mãos cheias… Repletas de trovas bonitas, espontâneas e musicais, nascidas de um coração de poeta-trovador. Suas quadras são fáceis. Fáceis de ouvir, sentir e decorar. E são perfeitas. Não pela preciosidade de rimas ou termos raros, mas, sim, pelo sentimento, pela ideia e inspiração.”

Além de poeta, jurista, professor, Adelmar Tavares é um dos marcos que assinalam o prestígio e a revitalização da Trova no Brasil. Pelo seu valor como poeta e pela sua posição social e literária, ajudou o reerguimento da Trova e sua aceitação como gênero poético dos mais apreciados e mais difíceis. Desde a mocidade, com seu primeiro livro “Descantes”, em 1907, até os dias que correm, em 1959, Adelmar Tavares tem contribuído magnificamente para a elevação da Trova na língua portuguesa. Já fez as suas bodas de ouro como trovador! E nesses cinqüenta anos tem sido sempre o mesmo: um sincero e admirável poeta simples, cheio de ternura, – um criador riquíssimo de belas trovas! Neste meio-século como o mundo se transformou! E o menino de Goiana e jovem estudante de Recife como subiu! Advogado, professor, presidente do Tribunal de Justiça, membro da Academia Brasileira de Letras. E, no entanto, apesar das modificações do mundo e de sua própria vida, guardou carinhosamente o seu grande amor à Poesia, conservou permanentemente a sua fidelidade à Trova.

O valor da Poesia de Adelmar Tavares, a aceitação de suas trovas, quer nos meios literários, quer nas esferas populares, são fatos tão conhecidos que não necessitam de provas. Mas o que contarei a seguir é tão expressivo que não deveria guardar só para mim:
Quando em 1956 publiquei “Meus Irmãos, os Trovadores”, na Introdução pedia que os leitores ou poetas me enviassem a relação das 250 trovas (entre as duas mil) que mais lhe tivessem agradado. Os três primeiros votantes foram poetas e das duas mil quadras apenas quatro restaram com a votação unânime dos três. E dessas quatro trovas três pertenciam a Adelmar Tavares, que no livro tinha mais de seiscentos companheiros. Ao receber a quarta relação, também de um poeta, vi que só restava uma única trova com a votação unânime dos quatro. Essa trova era também de Adelmar e, por coincidência, era a n.º 1 do livro que recebera tal numeração sem intuitos de preferência ou prioridade. Transcrevo-a aqui para matar a natural curiosidade do leitor:

“Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo…
– E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo…”

Fica assim comprovado o grande prestigio das trovas de Adelmar entre poetas e trovadores.
Par outro lado, o seu prestigio popular é muito grande: Eis um exemplo ao meio de muitos.
Tendo eu organizado um “Inquérito sobre trovas populares (anônimas) em todos os Municípios Brasileiros, feito oficialmente pelo IBGE, notei o seguinte fato, muito interessante: chegavam-me às mãos muitas trovas, como anônimas, e que na realidade pertenciam a trovadores meus conhecidos, entre eles, com maior seqüência, as de Adelmar Tavares. E no meio delas, talvez com maior insistência aquela citada acima: “Para matar as saudades”, e outras também dele, como esta, vinda do Município de Ourém, no Pará, citada de memória, por Pacifico da Costa:

“E nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz,
quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais.”

Do Maranhão – Município de Paranarama, ouvida em Rosário, num Côco do Mato,
Hilton Pires de Castro envia-nos esta, como anônima:

“A imagem de nossas almas
está nas águas profundas,
quanto mais tristes, mais calmas,
quanto mais calmas, mais fundas.”

Do Piauí – Município de Floriano – Messias Alves Feitosa manda-nos esta com a informação:
“de poeta desconhecido”, o que constitui o maior galardão dos trovadores:

“Tu censuras de minha alma
esse alvoroço, esse ardor…
Quem tem amor e tem calma,
tem calma… não tem amor…”

De Itatira, no Ceará, recebemos esta outra, como anônima:

“Todo rio na corrente
busca um lago, um rio, um mar.
Mas o destino da gente
quem sabe onde vai parar?”

…E assim poderíamos ir correndo as fichas de todo o Brasil e nos diversos Estados, em todos os recantos, encontraríamos uma trova de Adelmar Tavares aflorando, anônima, na boca do povo…

… E que alegria e glória maior para trovador do que essa de ouvir as suas próprias trovas na boca do povo?! O próprio Adelmar, saudando o grande trovador português Antônio Correia de Oliveira, na sua chegada ao Brasil, compôs várias quadras e entre elas havia esta, que serve perfeitamente para o seu autor:

“Porque és um Rei de verdade.
– Nem há reinado maior,
que o reinado de um poeta,
que o povo sabe de cor…”

Não cabe na pequena extensão deste trabalho uma análise minuciosa das trovas do nosso biografado. Vejamos assim, rapidamente a maneira de trovar de Adelmar Tavares. O que, em primeiro lugar, ressalta aos nossos olhos é o seu carinho e amor pela Trova, e, ao mesmo tempo, como disse anteriormente, a sua fidelidade a esse gênero. Na Introdução de “Um Ramo de Cantigas” ele confidencia:
“A trova foi sempre, das formas de poesia, a que mais me tocou a sensibilidade, porque foi a poesia dos lavradores de meu velho engenho pernambucano, a poesia daquelas violas inesquecíveis que fizeram o enlevo da minha meninice, e levarei comigo dentro da alma até o último bater do coração.”

E esse carinho fica evidenciado nestas palavras simples e saudosas, a respeito de seu livro “Descantes”: “Isso é uma saudade muito grande na minha vida… porque essas trovas nasceram das serenatas… O violão… o luar… e a serenata… daqueles lindos tempos.. A serenata era tudo para nós…”

De alma lírica e coração sensível, cultuando a Trova, Adelmar Tavares é sobretudo um poeta simples. De uma simplicidade que encanta e que está presente em quase todas as suas quadras. Não força a sua maneira de dizer, faz as suas trovas como se estivesse conversando. Elas nascem espontaneamente como esta:

“Vivo triste, triste, triste,
que mesmo nem sei dizer.
– Desconfio que é saudade,
que é vontade de te ver.”

Numa gravação feita há alguns anos, em meu poder, ele observava: “A trova quando é erudita demais não é propriamente trova… A trova não precisa ter essa erudição profunda porque perde assim o seu espírito, aquele espírito de que o Luiz Otávio falava ainda há pouco…”

Além da simplicidade as suas trovas são sentidas. Têm alma, têm sentimento. Vejam, por exemplo:

“Neste mundo, a certas vidas,
a morte seria um bem,
mas até a própria morte
se esquece delas também.”

Por outro lado seus versos agradam porque possuem melodia. São musicais, no ritmo e nos sons. Sintam toda a beleza, sonoridade e poder sugestivo desta miniatura:

“Duvido que alguém no mundo,
olhe sem melancolia,
uma vela no horizonte,
lá longe… no fim do dia…”

Simplicidade, sentimento, música… Com estas três chaves milagrosas vai Adelmar Tavares abrindo o coração do povo e nele aninhando as suas trovas… Tão suavemente que o povo,
muitas vezes, não grava o seu nome… mas guarda as suas trovas… Disse–me ele: “Esse é o destino das trovas: é perder o seu autor… é cair na boca do povo… O povo toma a trova do
autor…” Eu apenas completaria: é o destino das boas trovas…

O caráter predominante de suas trovas é o lirismo. O seu cantar é suave, geralmente cheio de ternura e de bondade. Ele mesmo confessa:

“Quem dera que minhas trovas,
andassem pelos caminhos,
consolando os desgraçados,
dando pão para os ceguinhos…”

Na sua mocidade cantou o amor lírica e apaixonadamente. São inúmeras as suas trovas sobre o amor, a saudade, ou para a mulher amada. Vejamos apenas uma, tão delicada e sugestiva:

“Quando vejo o teu sorriso,
tudo se doira e aligeira.
Teu sorriso é na minha alma,
como o sol numa roseira.”

Além dessa faceta lírica, sentimental, o Rei da Trova Brasileira é também um trovador conceituoso. Compõe muitas quadras profundas. Daquelas que o leitor lê, repete mentalmente e fica a meditar… Entre outras: “Ora a Vida!… Deixa-a andar.” ou “A imagem de nossas almas”, ou “Todo o rio na corrente” ou esta, tão profunda e triste:

“A morte não é tristeza,
é fim, é destinação.
– Tristeza é ficar na vida
depois que os sonhos se vão…”

E a trova satírica estará também entre os motivos constantes de sua inspiração? – Não, ela não se harmoniza bem com a alma pura, com o coração ingênuo e sem maldades de Adelmar Tavares. Ele não é contra a trova satírica, humorística, bem feita. Em 1953 me dizia: “Essa trova satírica é usada muito pouco. Quem no Brasil fere, às vezes, essa trova mordaz e que eu aprecio imenso, porque é um dos nossos maiores trovadores, é Bastos Tigre. O Bastos Tigre tem coisas admiráveis… Também magnífico é Djalma Andrade… É uma das grandes vozes trovadorescas nossas…” E terminava: “Quando essa trova (a satírica) é feita sem talento é chalaça…” Com o que concordamos.
As vezes, – muito raramente – ele usa uma leve ironia, como naquela: “Proclamas teu amor-próprio” ou “Tu censuras de minha alma” ou ainda: “Amar com ciúme… Quem ama?!” Em algumas a ironia é dirigida a si próprio, como em: “Para esquecer-te, outras amo”.

Há um tipo de trova, tão raro – ou mais ainda – do que a satírica, e que Adelmar usa com talento e felicidade. É a trova sugestiva, pictórica. A trova que faz lembrar o “hai-kai” japonês. O poeta dá leves pinceladas, sugere… e o leitor, sensível e inteligente, captará a semente de Poesia e fará com que floresçam em seu coração as mais. belas rosas que eram contidas naquela semente… Eis um sugestivo exemplo:

“Se eu pintasse minha infância,
pintava, num sol de estio,
a sombra de uma ingazeira,
debruçada sobre um rio:”
Eis aí, prezados leitores, um resumo da vida de Adelmar Tavares, um breve estudo de suas trovas e a citação de alguns de seus pensamentos revelados em palestras íntimas, despreocupadas. É claro que o nosso ilustre e conhecido poeta não necessitava de apresentação. Mas, cumprindo prazerosamente um dos itens da regulamentação da “Coleção Trovadores Brasileiros” foi com imensa satisfação que reli as suas trovas e escrevi estas palavras para o seu livro. Palavras sem brilho, é verdade, mas, assim como as trovas de Adelmar, – espontâneas e nascidas na profundidade de nosso coração.
Rio de Janeiro, março de 1959
Luiz Otávio.

Obs. No II Congresso Nacional de Trovadores e Violeiros, realizado em S. Paulo,
em setembro de 1960, Adelmar Tavares foi aclamado “Rei da Trova Brasileira.”

Adelmar Tavares, faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 20 de junho de 1963

in
Coleção “Trovadores Brasileiros”
Organização de Luiz Otávio e
J.G. de Araujo Jorge
Editora Vecchi – 1959
Fonte: www.jgdearaujojorge.com.br

Eleito em 25 de março de 1926 para a Cadeira n. 11, na sucessão de João Luís Alves, foi recebido em 4 de setembro de 1926, pelo acadêmico Laudelino Freire.

Era filho de Francisco Tavares da Silva Cavalcanti e de Maria Cândida Tavares. Ingressou na Faculdade de Direito do Recife, onde colou grau em 1909. Ainda estudante, começou a colaborar na imprensa como redator do Jornal Pequeno. Em 1910, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ocupou importantes cargos. Foi professor de Direito Penal na Faculdade de Direito do Estado do Rio de Janeiro; promotor público adjunto (1910); curador de resíduos e testamentos (1918); curador de órfãos (1918-1940); advogado do Banco do Brasil (1925-1930); desembargador da Corte de Apelação do Distrito Federal (1940) e presidente do Tribunal de Justiça (1948-1950).

Enquanto desenvolvia sua carreira na magistratura, Adelmar Tavares continuava colaborando na imprensa, e seu nome se tornara conhecido em todo o Brasil no setor da trova, sendo considerado, até hoje, o maior cultor desse gênero poético no Brasil. Suas trovas sempre mereceram referência na história literária brasileira. Sua obra poética caracteriza-se pelo romantismo, lirismo e sensibilidade, sendo recorrentes temas como o da saudade e o da vida simples junto à natureza.

Era membro da Sociedade Brasileira de Criminologia, do Instituto dos Advogados, da Academia Brasileira de Belas Artes, membro e patrono da Academia Brasileira de Trovas. Era considerado o Príncipe dos Trovadores Brasileiros. Foi presidente da Academia Brasileira de Letras em 1948.

Obras:

Descantes, trovas (1907);
Trovas e trovadores, conferência (1910);
Luz dos meus olhos, Myriam, poesia (1912);
A poesia das violas, poesia (1921);
Noite cheia de estrelas, poesia (1925);
A linda mentira, prosa (1926);
Poesias (1929);
Trovas (1931);
O caminho enluarado, poesia (1932);
A luz do altar, poesia (1934);
Poesias escolhidas (1946);
Poesias completas (1958).

Escreveu também várias obras jurídicas, entre as quais Sobre a história do fideicomisso; Do homicídio eutanásico ou suplicado; Do direito criminal; O desajustamento do delinqüente à profissão.

(Fonte: http://www.avozdapoesia.com.br/autores)

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