A primeira mulher a comandar a 1ª Região da Polícia Militar (PM) de Minas Gerais

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A primeira mulher a comandar a 1ª Região da Polícia Militar (PM) de Minas Gerais

Cláudia Romualdo está na Polícia Militar há 27 anos.

Ela lidera cerca de 5,8 mil militares dos nove batalhões.

Sentada ao lado de um painel com fotografias de ex-comandantes de Policiamento da Capital – todos homens –, a coronel Cláudia Romualdo lidera cerca de 5,8 mil militares dos nove batalhões de Belo Horizonte. Há pouco mais de um mês, ela se tornou a primeira mulher a comandar a 1ª Região da Polícia Militar (PM) de Minas Gerais e garante que nunca enfrentou preconceito na corporação. “Durante 27 anos de serviço que eu tenho, enfrentei alguns momentos difíceis, mas nenhum deles ligados ao fato de ser mulher. Nunca tive nenhum problema nem com superiores, nem com pares e nem com subordinados. Aqui, o que ganha um soldado ou uma soldado é a mesma coisa. Essa diferença de gênero já está superada pela PM”, afirma.

A oficial – que comandava anteriormente a 3ª Região, sediada em Vespasiano, na Grande BH – conta que não esperava a nomeação para o cargo e que logo percebeu o desafio que teria em mãos. Afinal, passaria a comandar uma das maiores capitais do país, função nunca antes desempenhada por uma militar no estado. “Ao mesmo tempo em que eu fiquei surpresa, eu percebi que quase que de imediato, na mesma hora, o tamanho da responsabilidade que me aguardava”, enfatiza.

Apesar de assegurar que as condições para homens e mulheres são iguais dentro da polícia, a coronel reconhece que a novidade gera expectativas, inclusive por parte dela. A oficial, que não dispensa o batom, a maquiagem nos olhos e um perfume importado, diz que se sente responsável por demonstrar que o fato de conseguir realizar um bom trabalho está exclusivamente ligado ao empenho e à dedicação. “Ser mulher não é o fator que vai determinar se aquele comando vai ser exitoso ou não”, pontua. Para garantir o êxito de sua atuação à frente do CPC, a coronel Cláudia Romualdo aposta em um comando próximo dos militares e também da população, acompanhando o dia a dia das ocorrências da cidade.

“Eu me considero uma pessoa extremamente visual. Para que eu possa solucionar um problema, eu gosto de ver o problema. Então, eu gosto de ir à rua, porque na rua o aprendizado é insubstituível, na minha opinião. Na rua eu consigo, ao mesmo tempo, falar com o cidadão, ouvir dele as suas impressões, e, ao mesmo tempo, falar com o policial militar que está trabalhando na rua, ouvir dele as sugestões, as impressões”, explica.

Vocação militar

Filha de uma professora aposentada e de um tenente-coronel da reserva, a comandante de Policiamento da Capital não demorou muito para se decidir pela carreira militar. Cláudia Romualdo nasceu na capital mineira, no dia 28 de fevereiro de 1968, em pleno sábado de carnaval. Ela conta que, durante o trabalho de parto no Hospital Felício Rocho, a mãe dela ouvia as marchinhas que embalavam os foliões na matinê Clube dos Oficiais da Polícia Militar, localizado no bairro Prado, na Região Oeste da cidade.

Doze anos depois, neste mesmo clube, encantada pelo som da banda da academia de polícia, a coronel, que se iniciava na adolescência, teve certeza de sua vocação. “Em 1981, entraram as 120 primeiras mulheres na polícia. Aí, um dia, eu me recordo que eu estava no Clube dos Oficiais, eu tinha 12 anos à época, e eu ouvi a banda de música da academia tocando e escutei que tinha uma tropa marchando. Eu subi no muro que divide o clube com o pátio da academia e vi que elas estavam fazendo aula de ordem unida [em que se aprende a marchar e a fazer continência, por exemplo]. Na hora que eu olhei, não tive dúvida. É isso que eu quero ser”, relembra.

Mesmo com o desejo contundente, a garota Cláudia teve de esperar para ingressar na PM, pois lhe faltavam idade e escolaridade. Em 1985, então com os pré-requisitos preenchidos, ela pôde tentar uma vaga na terceira turma de mulheres na PM mineira. Ainda menor de idade, iniciou sua trajetória militar. “O edital dizia que a candidata deveria completar 18 anos até fevereiro de 86, mas o curso começaria em 17 de fevereiro de 86. Como eu consegui fazer o concurso, me preparei, estudei e fui aprovada. Quando eu me incluí na Polícia Militar, no dia 17 de fevereiro de 1986, eu ainda não tinha completado 18 anos”, diz.

Extremamente detalhista e ligada a datas, a coronel conta que após se formar sargento, em dezembro de 1986, passou a trabalhar na extinta Companhia de Polícia Feminina, mas não mais que dois meses. Em fevereiro de 1987, depois de ser aprovada para uma das 12 vagas destinada a mulheres no Curso de Formação de Oficiais, Cláudia Romualdo dava os primeiros passos para se tornar coronel.

“A minha primeira unidade que eu fui servir foi o 5º Batalhão da Polícia Militar, entre aspas coincidentemente – porque eu não acredito em coincidência –, mas, coincidentemente, eu chegava aspirante a oficial na mesma unidade que, 20 anos antes, meu pai chegou como aspirante”, conta. Desde então, andou por “todo lado”, assumindo postos operacionais e administrativos, em Belo Horizonte, na Região Metropolitana e no interior do estado.

Nestes quase 30 anos de polícia, a coronel, que também bacharel em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), destaca que a função mais gratificante que desempenhou foi a de comandante do 36º Batalhão, em Vespasiano, na Grande BH, por causa da proximidade com a tropa. “Era o meu sonho e eu consegui realizar. De todas as funções que já exerci, a de comandante de batalhão foi a mais plena de todas. Ali você consegue perceber na plenitude o exercício do seu comando”, justifica. Claúdia Romualdo permaneceu à frente do batalhão entre 2009 e 2011, quando foi designada para assumir a 3ª Região da Polícia Militar de Minas Gerais. Era a primeira vez em que uma mulher chegava ao comando regional no estado.

À paisana

No campo profissional, a comandante de Policiamento da Capital se diz plenamente realizada. Entretanto, para ela, uma pessoa só consegue se manter em equilíbrio se aliar o trabalho a outros dois pilares: a religiosidade e a família.

Na doutrina espírita, encontrou o conforto. Todas as quintas-feiras, frequenta reuniões em uma fraternidade e, todas as quartas-feiras, realiza um trabalho voluntário de visitas a pessoas enfermas. “A impressão que me dá é que me energiza. Por mais cansada que eu esteja, ao final do dia, depois que eu retorno das visitas, a sensação que eu tenho é que eu estou absolutamente descansada”, afirma.

A coronel, que se considera caseira e boa cozinheira, é bastante ligada à família. Mesmo não tendo se tornado mãe, garante que exerce o lado materno com a sobrinha e afilhada Ana Luísa, de 8 anos. Fã de séries policiais e de bons filmes e livros, ela é solteira e nunca se casou. “Talvez em função da minha dedicação à Polícia, talvez tenha ficado difícil de conviver. A pessoa tem que ter qualidades que você julga imprescindíveis, e os defeitos que ela têm, você tem que ser capaz de conviver com eles. Sem isso, fica impossível. Então, talvez, eles não tenham conseguido conviver com os meus defeitos”, brinca.

Apesar da pose de durona, a comandante de Policiamento da Capital diz ser romântica e carinhosa. “Não acho que você não esteja feliz por não estar com alguém, me sinto uma pessoa 100% feliz, mas, com toda certeza se encontrar alguém para ocupar meu coração, não tenho dúvida, a felicidade será 200%”, finaliza.

(Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/03 – MINAS GERAIS – Do G1 MG/ Por Raquel Freitas – 01/04/2013)

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