A primeira cobaia para o implante de silicone

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Cirurgia do silicone completa 50 anos

Aos 80 anos, primeira a aumentar os seios diz que “passou a chamar atenção”. Técnica surgiu para ajudar mulheres com câncer

Timmie Jean Lindsey, uma americana mãe de seis filhos, foi a primeira mulher a receber um implante de silicone para aumentar o tamanho dos seios, em 1962.

Cinquenta anos depois, a operação realizada no hospital Jefferson Davis, em Houston, no Estado do Texas, tornou-se a segunda cirurgia plástica mais popular no mundo, com 1,5 milhão de procedimentos somente em 2010, perdendo apenas para a lipoaspiração.

Difundidas internacionalmente, as próteses de silicone não ficaram isentas de problemas e riscos à saúde no decorrer de sua história. Nos anos 1990, os EUA chegaram a banir a cirurgia por suspeitas de que o material pudesse causar uma doença do sistema imunológico.

Mas foi em 2010 que os implantes de silicone tornaram-se alvo da maior polêmica desde a operação pioneira cinco décadas antes. As próteses da francesa Poly Implant Prothese (PIP) foram proibidas em dezenas de países, a empresa foi fechada e seu dono teve prisão decretada pela Justiça da França, após a descoberta de que elas continham silicone industrial que poderia causar câncer e que tinham alto risco de ruptura.

No Brasil, a importação de próteses está suspensa pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde o dia 22 de março até que o Inmetro crie um sistema de avaliação de qualidade e os fabricantes passem pelos testes para obter um selo de aprovação.

Suspensa a venda de silicones no País

Para a pioneira Timmie Jean Lindsey, no entanto, o procedimento trouxe muitos benefícios. “Eu achei que eles tinham ficado perfeitos (…) Eu os sentia tão macios, igual a seios de verdade”, diz a pioneira, atualmente com 80 anos. “Mas só me dei conta do resultado mesmo quando saí na rua e percebi que os homens assobiavam para mim”, relembra.

Embora a operação tenha melhorado sua autoconfiança – e ela gostou de receber mais atenção – Timmie nunca tinha pensado em aumentar o tamanho dos seios. O motivo de sua ida ao hospital era inicialmente a retirada de uma tatuagem nos seios, e foi aí que os médicos responsáveis pela operação lhe questionaram se ela gostaria de participar da primeira tentativa de implante de silicone da História.

Mas, em matéria de cirurgia estética, outra parte do corpo incomodava mais Timmie. “Eu estava mais preocupada em colocar minhas orelhas para trás (…) Elas se destacavam muito, eu parecia o Dumbo! E eles me disseram faremos isso também”.

Ambiciosos, os cirurgiões pioneiros Frank Gerow e Thomas Cronin foram em frente com o procedimento, mas a ideia inicial foi apenas de Gerow. “Frank Gerow apertou uma bolsa plástica com sangue e observou o quanto isso se parecia com um seio de uma mulher”, indica Teresa Riordan, autora do livro Inventing Beauty: A History of the Innovations that have Made Us Beautiful (“A Invenção da Beleza: Uma História das Inovações que nos Tornaram Belas”, em tradução livre).

“E aí ele teve aquele momento de “eureca”, quando concebeu a ideia do primeiro implante mamário”, diz.

Cobaia

A primeira cobaia para o implante de silicone foi uma cadela chamada Esmeralda, e o princípio básico por trás do protótipo era simples. “Um foguete decola com uma elevação e um forte impulso, a mesma coisa serve para o aumento dos seios”, diz Thomas Biggs, que trabalhava com Gerow e Cronin em 1962 como residente em cirurgia plástica. “Eu fiquei encarregado da cadela. O implante foi colocado embaixo da pele e deixado ali por duas semanas, até ela mastigar os pontos e a prótese teve que ser removida”, relembra.

A operação foi considerada um sucesso e Gerow declarou que os implantes eram “tão inofensivos quanto a água”. Pouco depois, sua equipe começou a procurar por mulheres dispostas a testar a novidade. Primeira a aceitar, Timmie Jean Lindsey tem apenas uma vaga lembrança do dia da operação.

“Quando fui para a sala de recuperação sentia apenas bastante peso no meu peito, como se algo pesado tivesse sido colocado ali. Foi mais ou menos isso. Depois de uns três ou quatro dias a dor havia passado”. O residente Biggs dividiu com o resto da equipe a animação pelo sucesso do procedimento, mas não tinha ideia do que eles tinham acabado de descobrir.

“Claro que foi um pouco empolgante, mas se eu tivesse um espelho para o futuro, teria ficado estupefato. Eu não era sábio o suficiente para perceber a magnitude daquilo”, conta.

Impacto da inovação

Um ano depois, em 1963, o real impacto da novidade começou a ser percebido quando a equipe apresentou seus resultados à Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica. “O mundo da cirurgia plástica ficou absolutamente “em chamas” de entusiasmo”, diz Biggs.

Nos Estados Unidos, o momento da inovação não poderia ter sido melhor. O fim dos anos 1950 foi repleto de referências culturais que levavam a um ideal de seios grandes. A revista Playboy e a boneca Barbie eram lançamentos recentes, e as estrelas de Hollywood também contribuíram para a criação dessa imagem.

“O look “peitudo” de Marilyn Monroe e Jane Russel e também o novo look da Dior de 1957 realmente enfatizavam esta silhueta curvilínea, e começou a despertar nas mulheres o desejo de aumentar os seios”, diz a autora Teresa Riordan. Os “falsies”, sutiãs com enchimento, ganharam popularidade, mas cada vez mais as mulheres queriam algo mais. Nos anos anteriores, diferentes técnicas tinham sido experimentadas.

Durante a década de 1950, médicos começaram a usar implantes de esponjas, e alguns dizem até que Marilyn Monroe teria passado pelo procedimento, embora a informação nunca tenha sido confirmada oficialmente. O material, no entanto, não tinha durabilidade. As esponjas logo encolhiam e se tornavam “duras como bolas de baseball”, conta o então residente Thomas Biggs.

(Fonte: www.delas.ig.com.br/saudedamulher – BBC – 02/04/2012)

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