Walter Sisulu, ativista antiapartheid, foi um dos principais líderes do Congresso Nacional Africano.

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Walter Sisulu, herói da luta contra o “apartheid”

Walter Sisulu (18 de maio de 1912 – Soweto, 5 de maio de 2003), um ativista anti-apartheid que se tornou um dos principais líderes do Congresso Nacional Africano. Um membro fundador da Liga da Juventude do CNA, Sisulu, junto com Nelson Mandela e Oliver Tambo, ajudou a convencer o movimento a realizar protestos contra o governo racista de apartheid. Ele foi banido em 1954, detido sem julgamento em 1960 e preso e reprimido pelo governo diversas vezes nos anos seguintes.

Filho de um capataz branco, Victor Dickenson, e de uma negra do Transkei, Alice Sisulu, estava em posição ideal para defender uma sociedade não racista. Influenciou, por isso, de modo decisivo, a linha do Congresso Nacional Africano (ANC), o movimento que, como ele ganhou as primeiras eleições multi-raciais.

 

Aos 15 anos, Walter Max Ulyate Sisulu chegou a Joanesburgo, onde teve uma série de empregos – pedreiro, carpinteiro, mineiro… – até se tornar sindicalista. A partir de 1938, dirigiu um escritório de uma agência imobiliária especializada em propriedades para negros, em localidades como Alexandra e Sophiatown. Foi aí que Nelson Mandela, seis anos mais novo, o conheceu, e que ambos fundaram, com Oliver Tambo, em 1943, a Liga Juvenil do ANC, ainda o “apartheid” não era a doutrina oficial da África do Sul.

 

Recebeu o cargo de tesoureiro, e viajou até à Romênia, à Polônia, à União Soviética, à China e ao Reino Unido.De 1949 a 1954, Sisulu foi secretário-geral do mais emblemático dos movimentos de libertação de todo o continente e organizou a estratégia do protesto ativo contra o desenvolvimento separado dos diferentes grupos étnicos. “Acreditava que os negros precisavam de melhorar a sua auto-imagem antes de encetar uma ação de massas bem sucedida. Pregava a auto suficiência e a autodeterminação e chamava à sua filosofia africanismo”, escreveu Mandela na autobriografia “Longo Caminho para a Liberdade”.

Em 1961, Sisulu já estivera preso sete vezes e passou à clandestinidade, quando o ANC decidiu enveredar pela luta armada, no mesmo ano em que a União Sul-Africana abandonou a Commonwealth e se transformou em República da África do Sul. O braço armado do movimento adotou o nome de Umkhonto we Sizwe (A Lança da Nação) e a abreviatura de MK, de cujo comando faziam parte Sisulu, Mandela e um judeu de origem lituana, Joe Slovo, que se tornaria célebre como secretário-geral do Partido Comunista Sul-africano.

Mao Tse tung, Fidel Castro, Che Guevara e Menachem Begin foram algumas das influências exercidas sobre os guerrilheiros do ANC, na sua longa marcha de três décadas para levar a comunidade branca a concluir que não poderia continuar eternamente a dirigir os destinos do país.Em 1964, Sisulu e Mandela foram condenados a prisão perpétua, por atos de sabotagem política, e encarcerados na prisão de Robben Island, frente à Cidade do Cabo, de onde o primeiro só saiu em 15 de outubro de 1989, quando já tinha 77 anos.

Quando, em 1990, o partido foi finalmente legalizado, pelo Presidente Frederick De Klerk, Mandela saiu da cadeia e assumiu a liderança (que estava nas mãos de Oliver Tambo), tendo nomeado Walter Sisulu seu adjunto. Depois das eleições de 1994, já octagenário, retirou-se da política ativa, mas manteve um gabinete na sede do ANC, para lá ir de vez em quando, “matar saudades” dos companheiros de luta.Humilde – nunca chegou a ter estudos superiores -, Sisulu viveu até ao fim, com a mulher, Albertina, na mesma casa de tijolo onde, há 50 anos, a mãe ganhava a vida como lavadeira.

Mas aprendeu muito sobre a cultura xhosa (lê-se “cosa”) com o seu tio Dyantyi Hlakula, que era o chefe da aldeia de Ngcobo e um pregador laico. O casal teve cinco filhos e adotou mais quatro, incluindo Samuel, um antigo prisioneiro de Robben Island que pediu para fazer parte da família.

Sisulu foi sentenciado à prisão perpétua junto com Mandela e outros ativistas da CNA em 1964, e cumpriu cerca de 26 anos de prisão antes de ser libertado, em 1989. Ele foi eleito vice-presidente do partido em 1991, uma posição que manteve até depois da primeira eleição democrática da África do Sul, em 1994.

Numa entrevista que concedeu em 1994 à Associated Press, Walter Sisulu saudou o fim do “apartheid”, mas reconheceu que muita coisa estava ainda por fazer, para consolidar a unidade do povo da África do Sul e melhorar a posição econômica da maioria da população.

Walter Sisulu faleceu em 5 de maio de 2003, na sua residência no Soweto, arredores de Joanesburgo. Ele tinha 90 anos.

O Presidente sul-africano, Thabo Mbeki, filho de um dos seus companheiros na cadeia, lamentou a morte de “um amigo querido e estadista da libertação”. Sisulu, acrescentou, “era uma força de esclarecimento e liberdade e ganhou um lugar nos anais da História”. 

“Que viva para sempre! A sua ausência criou um vazio. Uma parte de mim deixou de existir”, disse Nelson Mandela à agência noticiosa sul-africana SAPA, quando soube da morte do amigo, surgida após um longo período de doença. “Sisulu está acima de todos nós na África do Sul”, dissera recentemente Mandela, perante um grupo de crianças, ao explicar a admiração que tinha por quem o levara para o ANC e o empurrara para o primeiro plano da vida nacional. 

(Fonte: http://www.estadao.com.br/arquivo/mundo/2003 – CIDADE – GERAL – 5 de Maio de 2003)

(Fonte: https://www.publico.pt/mundo – MUNDO/ Por JORGE HEITOR – 07/05/2003)

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