No inverno de 1977, em Reykjavik, Islândia, Vlastimil Hort, estava enfrentando Boris Spassky, o ex-campeão mundial de xadrez russo que havia perdido para Bobby Fischer na mesma cidade cinco anos antes.

A partida foi uma melhor de 12 nas quartas de final, cujo vencedor estaria um passo mais perto do título máximo do xadrez. Após 12 partidas, eles estavam empatados, resultando em um playoff de duas partidas.

Então, o Sr. Spassky adoeceu gravemente. Foi levado ao hospital e seu apêndice foi removido. De acordo com as regras, ele tinha direito a três adiamentos de três dias cada. Ele aproveitou todos eles, mas ainda estava muito mal para jogar.

O Sr. Spassky teria que desistir, o que significa que o Sr. Hort avançaria para as semifinais.

Então, o Sr. Hort fez algo inesperado. Para dar ao Sr. Spassky a chance de continuar competindo, o Sr. Hort solicitou um tempo de três dias, que foi concedido. Foi uma decisão vista por décadas como um dos maiores atos de esportividade da história do esporte, e acabou custando a partida ao Sr. Hort.

Ao final do tempo, o Sr. Spassky pôde retomar a partida e, após o empate nas partidas 13 e 14, outro playoff de duas partidas foi necessário. Na partida 15, o Sr. Hort alcançou uma posição vencedora, mas congelou. Seu tempo expirou antes que ele tivesse feito o número necessário de lances, perdendo assim a partida. Após o empate na partida seguinte, o Sr. Spassky foi declarado vencedor.

O Sr. Hort perdeu a chance de jogar pelo campeonato mundial e nunca mais se classificou.

Classificado entre os melhores jogadores do mundo durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, o Sr. Hort era um oponente formidável.

Ele enfrentou oito campeões mundiais ao longo de sua carreira. Embora nunca tenha conquistado o título, derrotou o Sr. Spassky uma vez durante a partida das quartas de final na Islândia e venceu partidas contra Vasily Smyslov e Anatoly Karpov.

Uma das partidas da qual o Sr. Hort mais se orgulhava aconteceu em Belgrado, Sérvia, em 1970. A partida colocou os melhores jogadores da União Soviética contra os melhores do resto do mundo. O Sr. Hort, jogando na quarta posição pelos adversários soviéticos (em parte por insistência do Sr. Fischer), derrotou Lev Polugaevsky, um dos jogadores mais fortes do mundo na época.

Um dia, o Sr. Hort concordou em levar o Sr. Fischer para passear em Vinkovci e chegou para buscá-lo, apenas para encontrá-lo jogando xadrez com o filho do anfitrião, um menino de 10 ou 11 anos.

O garoto era apenas um iniciante, mas o famoso Sr. Fischer, imprevisível e competitivo, não dava chance ao oponente, esmagando-o repetidamente até que o garoto estivesse à beira das lágrimas. O Sr. Fischer finalmente olhou para cima e disse: “O que você acha, Vlasty? Devo dar um empate a ele?”

Antes que o Sr. Hort pudesse responder, o Sr. Fischer voltou ao jogo, decidindo não ter piedade.

Vlastimil Hort nasceu em 12 de janeiro de 1944, em Kladno, uma região da Boêmia que então estava sob o controle da Alemanha nazista e hoje faz parte da República Tcheca. Seu pai, Antonin, trabalhava como chaveiro na siderúrgica Poldi e tocava oboé em uma orquestra de teatro musical. Sua mãe, Vlasta Hortova, era maestrina da ferrovia estatal da Tchecoslováquia.

Aos 5 anos, disse o Sr. Hort, foi hospitalizado com febre alta e colocado em quarentena por causa de uma infecção por cerca de dois meses. Durante sua internação, um médico o ensinou a jogar xadrez, e ele se viciou imediatamente. Logo depois que saiu do hospital, sua mãe começou a levá-lo a clubes de xadrez.

Embora não tivesse um professor formal de xadrez, o Sr. Hort ascendeu rapidamente na hierarquia. Aos 16 anos, já jogava na seleção da Tchecoslováquia na Olimpíada de Xadrez, que acontecia a cada dois anos. Ele representaria a Tchecoslováquia em 11 Olimpíadas de Xadrez.

Ele venceu o campeonato nacional cinco vezes, incluindo três consecutivas, de 1970 a 1972.

Ele acabou desertando para a Alemanha em 1985, enquanto jogava um torneio na Tunísia. Em entrevista ao “The Perpetual Chess Podcast”, ele disse que tinha ido ao aeroporto para embarcar em um voo para Frankfurt e colocado US$ 200 no passaporte para passar pela alfândega. O agente da alfândega pegou o dinheiro e disse-lhe para embarcar rapidamente.

O Sr. Hort recebeu asilo político em Frankfurt e começou a jogar pela Alemanha, vencendo o campeonato nacional em 1987, 1989 e 1991. Ele representou a Alemanha na Olimpíada de Xadrez em 1988, 1990 e 1992.

Ele gostava de realizar exibições simultâneas, partidas em que se enfrenta vários oponentes ao mesmo tempo. Após a derrota para o Sr. Spassky, o Sr. Hort estabeleceu um recorde mundial ao enfrentar 550 jogadores na Islândia. Pouco depois de desertar para a Alemanha, estabeleceu um novo recorde mundial ao enfrentar 636 jogadores em uma exibição em Colônia que durou mais de 20 horas.

Foi durante uma exposição em Colônia, em 1987, que ele conheceu Brigitte Kreuter. Eles se casaram em 1995. Além dela, ele deixa um filho, Daniel, de um casamento anterior, na Tchecoslováquia; um neto; e uma enteada, Kerstin Müller.

Com o fim da carreira de jogador, o Sr. Hort juntou-se a Helmut Pfleger, outro grande mestre, na moderação de um programa de televisão alemão chamado “Xadrez dos Grandes Mestres”. O programa se tornou popular, em parte devido à sagacidade do Sr. Hort, e durou 22 anos.

Em 2014, ele e outro grande mestre tcheco, Vlastimil Jansa, publicaram “O Melhor Movimento”, um popular livro instrucional de xadrez.