Shimon Peres, ex-presidente de Israel e prêmio Nobel da Paz por seus esforços para selar a paz com os palestinos

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Shimon Peres, ex-presidente de Israel e Nobel da Paz

 

Shimon Peres nasceu em 1923 na Polónia, sob o nome de Szimon Perski. Em 1932, o pai emigra para a Palestina. A família junta-se-lhe dois anos depois. Os parentes que não emigram morrerão no Holocausto. (AFP PHOTO/HO/ISRAELI PRESIDENCY)

Shimon Peres nasceu em 1923 na Polónia, sob o nome de Szimon Perski. Em 1932, o pai emigra para a Palestina. A família junta-se-lhe dois anos depois. Os parentes que não emigram morrerão no Holocausto. (AFP PHOTO/HO/ISRAELI PRESIDENCY)

 

É a última figura da geração dos “pais fundadores” de Israel, uma figura histórica que teve um papel decisivo em todos os momentos importantes desde a independência. Nunca foi popular mas morre, enfim, amado.

 

Shimon Peres com George W. Bush (Foto: REUTERS/LARRY DOWNING)

Shimon Peres com George W. Bush (Foto: REUTERS/LARRY DOWNING)

 

 

Shimon Peres (Wiszniewo, um vilarejo judaico no que era então território polonês (hoje Belarus), 2 de agosto de 1923 – Tel Aviv, 28 de setembro de 2016), ex-presidente e ex-primeiro-ministro israelense e prêmio Nobel da Paz por seus esforços para selar a paz com os palestinos

Décadas mais velho do que o próprio Estado que passou a representar, como ícone político e patrono da paz, foi uma das figuras políticas mais importantes da história de Israel, vencedor do Nobel da Paz de 1994 por seus esforços para a resolução do conflito com os palestinos.

Peres foi um dos ganhadores do Nobel de 1994 pelos chamados Acordos de Paz de Oslo, concluídos com Yitzhak Rabin e Yasser Arafat.

Conhecido por defender um Oriente Médio no qual Israel possa conviver em paz com os vizinhos árabes e palestinos, e firme apoiador de uma cooperação econômica para chegar a tal fim, ocupou as pastas ministeriais mais importantes do governo israelense.

Peres também é reconhecido por ter sido o principal defensor do programa nuclear israelense e de sua indústria aeronáutica, um dos principais fatores para vencer os países árabes em pelo menos cinco guerras.

Peres foi um dos membros fundadores do Estado de Israel em 1948 e um homem que dedicou sua vida à política, tendo chefiado quase todos os ministérios-chave em seu país, da Defesa às Finanças, passando pelas Relações Exteriores.

Ele ocupou cargos públicos em 12 ocasiões, durante as mais de seis décadas em que esteve ativo na política israelense. Por três vezes assumiu o posto de primeiro-ministro – uma vez de forma interina – mas foi como presidente que atingiu o auge de sua popularidade.

Sua maior marca como político: nunca ter deixado de acreditar que poderia haver uma solução pacífica para o conflito com os palestinos – o que lhe rendeu um Nobel da Paz. Sua forma de encarar o tema, porém, também foi alvo de críticas. Muitas vezes ele foi chamado de o “pai das armas nucleares de Israel”.

No espaço de tempo entre a chegada com seus pais aos territórios palestinos, em 1934, e sua morte, a carreira de Peres foi motivo de debate: sem ele, não teria havido alguns assentamentos na Cisjordânia ou o reator nuclear de Dimona.

Shimon Peres, nascido Szymon Perski, deveria ter sido agricultor, segundo o desejo de seus pais. Ele nasceu em Wiszniewo, um vilarejo judaico no que era então território polonês (hoje Belarus). Quando seus pais deixaram a cidade rumo à Palestina, eles enviaram o filho de 11 anos para a escola agrícola Ben Shemen, no nordeste de Israel.

“Eu sempre tive a sensação de ter crescido em Israel”, disse uma vez Peres sobre a sua infância. Quando adolescente, ele estava mais interessado em política e religião e se tornou um membro do atual Partido Trabalhista – sempre perseguiu o sonho de um Estado democrático, mas também judaico.

Shimon Peres foi um presidente moderno; um homem que olhava para o Ocidente e que queria desenvolver o Estado judaico. Ele era o último representante da geração que fundou o Estado de Israel contra todos os obstáculos. E exerceu seus cargos com dignidade e sabedoria, perseguindo uma visão de um novo Oriente Médio.

Shimon Peres, Barack Obama e o secretário de estado John Kerry em Jerusalém, 2013 (AFP PHOTO/MANDEL NGAN)

Shimon Peres, Barack Obama e o secretário de estado John Kerry em Jerusalém, 2013 (AFP PHOTO/MANDEL NGAN)

Carreira política precoce

 

David Ben-Gurion, primeiro chefe de governo de Israel, confiava em Peres e o enviou para comprar armas no exterior durante a guerra entre árabes e israelenses em 1948. Essa era uma tarefa estratégica que não se podia esperar, necessariamente, que um jovem de 25 anos viesse a cumprir. Outros de sua geração o criticaram por não ter lutado na linha de frente por um longo tempo.

Em 1956, ele ajudou a planejar a Guerra de Suez, na qual Israel invadiu o Egito, seguido pela França e pelo Reino Unido. Em acordo secreto no início de 1957, o então primeiro-ministro francês, Guy Mollet (1905-1975), prometeu a Peres a expertise para um grande reator no deserto de Neguev, perto da cidade de Dimona. Peres jamais teve a permissão para falar sobre isso em público.

Em 1970, Peres se tornou ministro dos Transportes e Comunicações e, quatro anos mais tarde, foi nomeado ministro da Defesa no governo de Yitzhak Rabin. Ao renunciar, Rabin passou seu posto a Peres, que serviu então como primeiro-ministro por vários meses até que fossem realizadas novas eleições. Ele também levou seu partido à derrota em três eleições gerais (1981, 1988 e 1996).

Foi Peres que aprovou a construção do primeiro assentamento – Kedumim – na Cisjordânia. Entre 1977 e 1992, ele foi presidente do Partido Trabalhista de Israel, mas nunca levou a legenda a ganhar uma eleição geral. Pelo contrário: sua candidatura em 1977 provocou o fim de muitos anos de hegemonia trabalhista.

O posto de chefe de governo foi então para o Likud. Depois de novas eleições, Peres se tornou primeiro-ministro (1984-1986) por meio de acordo de rotação num governo de unidade. Por três vezes, ele foi ministro do Exterior, entre 1986 e 2002.

Em 2000, concorreu para um mandato de sete anos como presidente de Israel, mas foi derrotado. No final, Peres conseguiu retornar, ficando na Presidência entre 2007 e 2014. Aqueles que haviam anunciado sua morte política estavam errados.

Shimon Peres com Benjamin Netanyahu numa cerimónia no Memorial Yad Vashem, assinalando a memória do Holocausto em Abril de 2010AFP PHOTO/POOL/BAZ RATNER)

Shimon Peres com Benjamin Netanyahu numa cerimónia no Memorial Yad Vashem, assinalando a memória do Holocausto em Abril de 2010AFP PHOTO/POOL/BAZ RATNER)

Nobel e pacifismo

 

Shimon Peres foi um duro crítico da invasão israelense no Líbano em 1982 e apoiou fortemente o ponto de vista de que a questão palestina só poderia ser resolvida de forma política, não militar.

Na década de 1990, ele voltou cada vez mais sua atenção para o processo de paz, apesar de o papel que desempenhou anteriormente na aquisição do reator nuclear por parte de Israel e na política de assentamentos não ter sido esquecido.

Repetidamente, ele apelou tanto a israelenses quanto a palestinos para se juntarem ao processo de paz. “Nem foguetes nem bombas podem nos impedir de trazer a paz para o Oriente Médio”, era o seu credo.

Ele foi o arquiteto do Acordo de Paz de Oslo, assinado com os palestinos em 1992, e recebeu o Prêmio Nobel da Paz junto a Yitzhak Rabin e Yasser Arafat. Quando Rabin foi assassinado em 1995, Peres assumiu interinamente, por pouco tempo, o cargo de primeiro-ministro.

Depois de perder a eleição, em 1996, ele fundou o Centro Peres para a Paz, num esforço de buscar a distensão entre Israel e seus vizinhos árabes. Aos 84 anos, ele desistiu da política partidária e concorreu para presidente. Os céticos estavam preocupados com a sua idade, mas Peres queria ser chefe de Estado.

O resultado, no entanto, foi uma surpresa: Moshe Katzav, um novato político, derrotou Peres e se tornou presidente em 2000. Posteriormente, a mídia israelense passou a afirmar que Peres sempre parecia estar à frente nas pesquisas de opinião, mas nunca ganhava uma eleição.

Quando Katzav foi forçado a renunciar, em 2007, na sequência de acusações de estupro e assédio sexual, o caminho para a presidência estava finalmente aberto a Peres. Ele continuou no cargo até 2014, já com 90 anos de idade.

“Eu já exerci quase todos os cargos eletivos. Eu sofri reveses. Mas eu também alcancei objetivos e espero que esses tenham contribuído para a nação, para a sua paz e segurança”, declarou certa vez.

Chegada a Israel
Nascido em Vichnev, cidade que na época pertencia à Polônia e agora faz parte do território da Belarus, em 1923, Peres tinha 11 anos quando se mudou para o que então era a Palestina sob Mandato Britânico, onde se radicavam milhares de judeus com a intenção de estabelecer um Estado.

Peres viveu alguns anos em um kibutz próximo ao lago Tiberíades, onde fez o bacharelado, antes de aderir às juventudes operárias socialistas.

 

Então primeiro-ministro israelense Shimon Peres mostra a Bill Clinton, presidente dos EUA, como é o seu nome em hebraico, durante intervalo de reunião na Casa Branca, em 1996 (Foto: Government Press Office Israel/Creative Commons)

Então primeiro-ministro israelense Shimon Peres mostra a Bill Clinton, presidente dos EUA, como é o seu nome em hebraico, durante intervalo de reunião na Casa Branca, em 1996 (Foto: Government Press Office Israel/Creative Commons)

 

Na década de 1950 se tornou o “pupilo” do criador do Estado Judeu em 1948, Davi Ben Gurion, para se lançar na política ativa em 1959, quando foi eleito pela primeira vez deputado no Parlamento, cargo renovado sucessivamente.

Aos 29 anos, quatro depois de seu encontro com David Ben Gurion, foi nomeado diretor-geral do ministério da Defesa, responsável pelas poderosas fábricas de armas e indústrias aeronáuticas israelenses.

No Partido Trabalhista, do qual foi dirigente histórico durante anos, conseguiu apenas alternar a liderança do governo após o pleito de 1984, quando ocorreu um virtual empate com o conservador Likud, de Yitzhak Shamir. Peres assumiu o posto de primeiro-ministro, no qual ficou até 1986.

Após ser ministro do exterior no governo do trabalhista Yitzhak Rabin, assassinado em 1995, Peres exerceu novamente a função de primeiro-ministro de forma interina. Rabin e Peres foram os artífices da histórica declaração de princípios para negociar a paz, assinada por Israel com os palestinos em 1993. Um ano mais tarde, os dois e o líder palestino Yasser Arafat receberam o Prêmio Nobel da Paz.

 

Shimon Peres (centro) recebe o Nobel da Paz com Yasser Arafat e Yitzak Rabin (Foto: Israel/Government Press Office)

Shimon Peres (centro) recebe o Nobel da Paz com Yasser Arafat e Yitzak Rabin (Foto: Israel/Government Press Office)

 

Apesar de, durante o processo de Oslo (1993-2000), Peres ter sido visto como uma “pomba” da política israelense, após a explosão da última intifada ele se aliou com o carismático líder da direita Ariel Sharon – um “falcão”. Sua reputação internacional como pacifista, no entanto, foi pouco afetada.

Entre 2007 e 2014 assumiu a presidência israelense, instituição representativa sem poder executivo, mas com responsabilidade para fazer articulações entre os três poderes do Estado e o povo.

Peres soube usar seus sete anos de mandato para promover uma mensagem a favor da paz, e em várias ocasiões rompeu sua neutralidade institucional a ponto de ser visto como o único opositor do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Peres expressou a todo momento sua opinião em questões sensíveis como o processo de paz com os palestinos, as relações estratégicas com seu aliado americano ou o programa nuclear iraniano.

 

 

 

No dia 13, quando se sentiu mal, Peres trabalhava como de costume. Ele gravou um vídeo estimulando as pessoas a consumirem produtos israelenses. A Rádio do Exército divulgou que ele chegou ao hospital consciente, mas reclamando de dor. Então se decidiu sedá-lo para proteger seu cérebro.

Shimon Peres morreu em 28 de setembro de 2016, aos 93 anos. O líder israelense estava sedado e sob respiração assistida na unidade de tratamento intensivo do hospital Tel-Hashomer de Ramat Gan, na região de Tel Aviv, onde morreu.

 

Yasser Arafat, Hosni Mubarak, Jose Maria Aznar e Shimon Peres no encontro Euro-Mediterrâneo em Espanha, 2001 (Foto: REUTERS/DANI CARDONA)

Yasser Arafat, Hosni Mubarak, Jose Maria Aznar e Shimon Peres no encontro Euro-Mediterrâneo em Espanha, 2001 (Foto: REUTERS/DANI CARDONA)

 

morte do  líder israelense provocou reações em todo o mundo. Veja abaixo a repercussão.

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos
“Esta noite, Michelle e eu nos unimos a todos que, em Israel, nos Estados Unidos e em todo o mundo prestam homenagem à extraordinária vida do nosso querido amigo Shimon Peres. Foi um pai fundador do Estado de Israel e um homem de Estado cujo compromisso com a segurança e a busca da paz era fundamentado em sua inquebrantável força moral e em seu inquebrantável otimismo. Há poucas pessoas com quem compartilhamos este mundo capazes de mudar o curso da história humana (…). Meu amigo Shimon era uma destas pessoas”.

Fraçoise Hollande, presidente da França
“Peres foi um dos mais ardentes defensores da paz e amigo fiel da França. Shimon Peres pertence agora à história, que foi companheira durante sua longa vida. Israel perde um de seus estadistas mais ilustres; a paz, um de seus mais ardentes defensores, e a França, um amigo fiel. Era um visionário que impressionava seus interlocutores com sua capacidade de propor iniciativas audazes e ideias novas”.

Joachim Gauck, presidente da Alemanha
“Apesar das atrocidades perpetradas (pelos nazistas) contra sua família durante o Holocausto, Shimon Peres estendeu a mão aos alemães. Sua vida a serviço da paz e da reconciliação pode servir de exemplo para os jovens”.

Bill Clinton, ex-presidente dos EUA
“Um gênio com um grande coração. Foi um fervoroso advogado da paz e da reconciliação. Jamais esquecerei como ficou feliz há 23 anos, quando firmou os Acordos de Oslo sobre o gramado da Casa Branca, anunciando uma era de maior esperança nas relações entre israelenses e palestinos”.

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel
“Eu e minha esposa expressamos profundo pesar pelo desaparecimento do filho pródigo da nação. Shimon dedicou sua vida ao renascimento de nosso povo. Era um visionário que olhava para o futuro. Era também um paladino da defesa de Israel.”

George W. Bush, ex-presidente dos EUA
“Com sua inflexível determinação e princípio, Shimon Peres ajudou a guiar o seu amado país através no caminho mortal do desafio. Mas foi por sua humanidade inata, sua decência, que Shimon inspirou todo o mundo e ajudou a pavimentar um caminho para a paz ampla para que as gerações futuras vão andar um dia, lado a lado”.

Justin Trudeu, primeiro-ministro do Canadá
“Shimon Peres foi, acima de tudo, um homem de paz. Minhas profundas condolências aos seus familiares e ao povo de Israel”.

Enrique Peña Neto, presidente do México
“Lamento a morte do ex-presidente de Israel e Prêmio Nobel da Paz, Shimon Peres. Nossas condolências à sua família e conterrâneos”.

Isaac Herzog, presidente do Partido Trabalhista (Israel)
“O povo de Israel se despede com dor e amor de um líder”.

Nafatali Bennet, ministro israelense de Educação
“Peres escreveu a história com suas próprias mãos”.

Arie Der, ministro israelense do Interior
“ Sua morte é uma grande perda para o povo judeu e o estado de Israel”.

Shamuel Rabinovich, rabino do Muro das Lamentações
“Peres foi o último dos defensores da verdade”.

(Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/09 – NOTÍCIA – MUNDO – Do G1, em São Paulo – 27/09/2016)

(Fonte: https://noticias.terra.com.br/mundo/oriente-medio – NOTÍCIAS – MUNDO – ORIENTE MÉDIO – 27 SET 2016)

Deutsche Welle

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