Raimundo Magalhães Júnior, foi o autor de quatro minuciosos volumes da “Vida e Obra de Machado de Assis”

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Magalhães Júnior: um ciclo de pesquisas sobre as grandes figuras do Brasil moderno

Raimundo Magalhães Júnior (Ubajara, 12 de fevereiro de 1907 – Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1981), jornalista, escritor e historiador, foi o autor de quatro minuciosos volumes da “Vida e Obra de Machado de Assis”.
Nesta última obra, Magalhães Júnior tratou de levantar, num exaustivo mapeamento, aspectos contrastantes que compõem a biografia do escritor que com maior plenitude se realizou entre nós. Pela massa de fatos que apresenta, constitui esforço de recriação do mundo que o autor havia abordado no ciclo de pesquisas sobre a criação do Brasil moderno, que começou a empreender no decênio de 1950.
Ciclo que, da minoridade de dom Pedro II ao Estado Novo, compreende 100 anos de crônica do ambiente intelectual, dos costumes literários, do sistema de ambiguidades políticas e culturais que formou esse Brasil. Em tais escritos, faz ele desfilar, com variado destaque, figuras míticas maiores ou menores, todas expressivas da formação cabocla: dom Pedro II, Deodoro da Fonseca, José de Alencar, Casimiro de Abreu, Rui Barbosa, José do Patrocínio, Artur Azevedo, Olavo Bilac, João do Rio, Leopoldo Fróis, Getúlio Vargas, Augusto dos Anjos.
CONCLUSÃO INEVITÁVEL – Naturalmente, Machado de Assis ocupa lugar de destaque nessa equipe de elite. Magalhães dedicar-lhe-ia três volumes de pesquisas iniciais, que o levariam à presente obra; o mais importante deles,Machado de Assis Desconhecido”, obteve em 1955 excepcional acolhida, abrindo-lhe, no futuro, um lugar na Academia Brasileira de Letras. Essas pesquisas permitiram-lhe compilar nada menos que oito volumes de esparsos e um dicionário de imagens e ideias do escritor.
Esta biografia é sua inevitável conclusão. Ela pressupunha a retomada ágil de toda a massa de pesquisa que outros estudiosos, de Alfredo Pujol e Lúcia Miguel Pereira a Josué Montelo e Jean-Michel Massa – além do próprio Magalhães – já haviam empreendido em torno dessa figura complexíssima.
Acompanhar, com espírito revisionista e inovador, a trajetória que Machadinho percorreu até se tornar Machadão – para falar com o maior e o mais fino intérprete de sua obra, Augusto meyer. Esta longa narrativa se ocupa, com fervor, do dia-a-dia e procura restabelecer o ambiente onde Machado evoluiu e afirmou o talento dele. Seu tom competente de relatório assenta bem ao exemplar burocrata do Ministério da Agricultura.
Mas, se o texto fornece um mapa arquitetônico dos trabalhos e dos dias de “Seo” Machado, jornalista liberal, funcionário modelo, marido ótimo (apenas uma escapada confessa em quase quarenta anos de vida conjugal), a grande prejudicada é a abordagem da obra, escondida e até esmagada pela relação miúda dos acontecimentos da vida.
A solidariedade real entre esta e aquela vai-se tornando cada vez mais remota. Tratada a segunda em nível de fait divers, o emaranhado ideológico existencial e estético da primeira parece constituir um acaso feliz em vez de resultar da busca ininterrupta de certa expressão escrita que o autor de “O Alienista” afinal arranca sofridamente por detrás das aparências.
Sem comprometer o resultado final, Magalhães preferiu a lupa faiscante da “história pequena” em vez do “pensamento interior e único” que talvez lhe corrigisse a órbita. De qualquer modo, seu livro é o coroamento do esforço de compreensão apaixonado empreendido por um escritor que dedicou boa parte dos anos da maturidade ao estudo de Machado.
Obra de consulta contínua e indispensável, ela dá novo lustre ao comediógrafo de “Canção dentro do Pão”, ao contista de “Impróprio para Menores”, ao historiador de Deodoro da Fonseca, ao polemista de “Rui – o Homem e o Mito”, ao jornalista experimentado, ao batalhador do direito autoral, cuja presença na vida literária certamente não será esquecida pelo R. Magalhães Júnior.
Magalhães Júnior faleceu em 12 de dezembro de 1981, aos 74 anos, de enfarte, após ser atropelado por um automóvel, na praia do Russel e permanecer vários dias em coma, no Rio de Janeiro.
(Fonte: Veja, 23 de dezembro de 1981 – Edição 694 – LIVROS/ Por ALEXANDRE EULÁLIO – DATAS – Pág: 80/82)
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