Primeira estilista brasileira reconhecida no exterior

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Zuleika Angel Jones (1921-1976), estilista que revolucionou a moda brasileira. Tornou-se célebre por sua luta contra o regime militar, para quem perdeu o filho, Stuart Anel Jones. Conhecida como Zuzu Angel, mãe-coragem. Primeira estilista brasileira reconhecida no Exterior, Zuzu Angel entrou para a história graças a uma tragédia. Zuzu lutou para descobrir o paradeiro do filho, desaparecido em uma prisão militar em 1971.
Zuzu fez dos cinco anos de luta pelo filho uma história tão espetacular que virou filme. Sua saga está no longa-metragem que leva seu nome, estrelado por Patrícia Pillar. Na tela, é retratada a transformação da mulher pouco afeita à política em uma mãe capaz de afrontar a ditadura. Separou-se quando ninguém se separava. Se impôs como criadora em um universo essencialmente masculino e atuou no Conselho de Mulheres do Brasil para ter o Dia da Mulher.
Nascida em Curvelo, Minas Gerais, Zuleika Gomes Netto foi criada por um tio em Belo Horizonte. Casou-se com o americano Norman Angel Jones, com quem teve três filhos. Quando a família foi para o Rio, Zuleika tornou-se Zuzu Angel, adotando o apelido afrancesado para ter um nome internacional.
Já separada, montou nos anos 60 uma loja no Leblon e não dava conta dos pedidos do Exterior. Não era rica, mas investia boa parte do que ganhava na educação dos filhos.
A provação de Zuzu começou em 14 de junho de 1971, quando soube que o DOI-Codi havia prendido Stuart, membro do MR-8 que vivia na clandestinidade. Zuzu iniciou sua busca pelos quartéis, exigindo notícias do filho. Indícios apontavam para a prisão da Aeronáutica, mas a prova veio quando um de seus advogados, Nilo Batista, recebeu o telefonema de outro advogado que dizia ter uma carta para Zuzu do irmão dele, o militante Alex Polari.
Ao ler a carta “Minha senhora, não procure mais seu filho”, com detalhes sobre as torturas que mataram Stuart, presenciadas por Alex da cela em frente.
Zuzu passou a lutar, então, pelo direito de enterrar o filho assassinado. A obsessão de Zuzu a fez se expor cada vez mais. Com a ajuda de Ana Cristina, que morava nos Estados Unidos, denunciou o assassinato do filho a senadores e à ONU e organizou um desfile-protesto em Nova York. Na passarela, as modelos desfilavam roupas com estampas de canhões e anjos mutilados, enquanto Ana cantava ao violão “Tristeza, por favor vá embora…”. Zuzu encerrou o desfile vestida de negro, com crucifixos no pescoço. Fez-se silêncio, quebrado pelos aplausos.
A maior ousadia de Zuzu foi quando o secretário de Estado americano Henry Kissinger veio ao Brasil. Ela burlou a segurança e o surpreendeu, na presença de militares brasileiros, com um dossiê que denunciava o assassinato de Stuart, filho de cidadão americano. A partir daí, as ameaças se intensificaram. Os amigos pediram que ela maneirasse. Não acredito que me matem. Não sou ativista política, mas uma mãe desesperada.
Na madrugada de 14 de abril de 1976, a estilista Zuleika Angel Jones despediu-se de amigos em Copacabana e embarcou em seu carro rumo a sua casa, na Barra da Tijuca. Na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado, o carro despencou em uma ribanceira, e Zuzu morreu na hora, aos 54 anos.
Naquela noite, os amigos não tiveram dúvidas de que ela havia sido assassinada. Em 1998, depois de três anos de batalha judicial, a Comissão Especial de Desaparecidos Políticos reconheceu que Zuzu fora assassinada pela repressão militar.
Zuzu não militava em movimento político, não foi presa nem torturada. Sua história fugiu à regra: uma mãe sem partido ou bandeira não fazia parte da resistência que a ditadura estava habituada a enfrentar.
Quantos jovens existiram iguais ao Stuart? Muitos. Mas Zuzu o imortalizou. O corpo de Stuart nunca foi devolvido à família.

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