Joseph Schumpeter, foi um dos economistas mais importantes da primeira metade do século 20

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Joseph Schumpeter (Triesch, 8 de fevereiro de 1883 – Taconic, Salisbury, Connecticut, 8 de janeiro de 1950), foi um dos economistas mais importantes da primeira metade do século 20.

Um dos seus livros mais importantes, é o caso das traduções de História da análise econômica, ou dos ensaios reunidos em Teorias econômicas de Marx a Keynes ou ainda de Capitalismo, socialismo e Democracia.

(Fonte: http://www.publico.pt/economia/noticia – ECONOMIA/ NOTÍCIA / Por Cristina Ferreira – TRIBUTO/Mário Murteira – 15/03/2013)

 

 

 

 

O homem que previu o fim do capitalismo e que ajuda a entender a economia de hoje

Para Joseph Schumpeter, o que levaria ao fim do capitalismo seria seu próprio sucesso.

 

“O capitalismo pode sobreviver?”, se perguntou Joseph Schumpeter. “Não, acho que não”, foi a resposta dele.

Sua reflexão foi feita em uma de suas principais obras: Capitalismo, Socialismo e Democracia, de 1942.

Mas o grande economista austríaco não acreditava na ditadura do proletariado nem na revolução de Karl Marx. De fato, ele rejeitou o que entendia como os elementos ideológicos da análise marxista.

Para ele, o que levaria ao fim do capitalismo seria seu próprio sucesso. “Considero Schumpeter o analista mais penetrante do capitalismo que já existiu. Ele viu coisas que outras pessoas não viram”, disse Thomas K. McCraw, professor emérito da Escola de Negócios da Universidade de Harvard, ao Working Knowledge, o site da universidade.

Schumpeter “está para o capitalismo assim como Freud está para a psicologia: alguém cujas ideias se tornaram tão onipresentes e arraigadas que não podemos separar seus pensamentos fundamentais dos nossos”, disse o acadêmico.

Para Steven Pearlstein, professor da Universidade George Mason, nos Estados Unidos, Schumpeter “era para a economia o que Charles Darwin é para a biologia”. Ele foi chamado de um dos melhores economistas do século 20, um gênio, um profeta. De fato, para vários economistas, o século 21 será o “século de Schumpeter”.

A tragédia

Schumpeter nasceu em 1883 em uma cidade da República Tcheca, que na época fazia parte do império austro-húngaro.

Ele era filho único e perdeu o pai aos 4 anos de idade. Sua educação foi deixada para sua mãe e seu novo parceiro, que tinham vínculos com a aristocracia.

Embora ele estudasse direito, o tema que o atraiu foi a economia — ele se tornaria um dos alunos com mais destaque da Escola Austríaca de Economia.

“Schumpeter era um excelente aluno, leitor infatigável, mente viva e curiosa, mestre em várias línguas”, escreveu Gabriel Tortella, professor emérito de História e Instituições Econômicas da Universidade de Alcalá, no artigo Um profeta da social-democracia, publicado na revista Book.

Ele tinha uma personalidade carismática, era mulherengo e amava cavalos. Viveu por um tempo na Inglaterra, onde teve um relacionamento com uma mulher 12 anos mais velha que ele.

Sylvia Nasar, em seu livro “Grande Busca: A história do Gênio Econômico, conta que se casou com o economista, mas que, com o tempo, ambos reconheceram que o casamento havia sido um erro. Em 1913 eles se separaram e anos depois se divorciaram oficialmente.
Schumpeter se casou novamente em 1925, desta vez com uma mulher muitos anos mais nova. Mas um ano depois, uma tragédia abalaria sua vida: sua esposa morreu enquanto dava à luz seu filho, que morreu pouco tempo depois. Nesse mesmo ano, sua mãe também morreria.

Entre luxo e academia

Schumpeter viveu em Viena após a Primeira Guerra Mundial e a queda do império austro-húngaro.
Schumpeter foi ministro da economia do governo socialista que governou a Áustria em 1919. Depois morou em sete países, em alguns dos quais ele foi professor e trabalhou como banqueiro de investimentos, o que lhe permitiu fazer uma fortuna — que depois desapareceria.
Antes de seu segundo casamento, houve um tempo em que Schumpeter levou uma vida de muitos luxos e parecia não se importar de ser visto em público com prostitutas, diz Nasar.

“Schumpeter era um acadêmico brilhante que falhou miseravelmente como ministro das Finanças da Áustria”, escreveu Pearlstein, vencedor do prêmio Pulitzer, em uma resenha do livro de Nasar publicada no jornal americano The Washington Post.

O economista se estabeleceu nos Estados Unidos em 1932, onde lecionou na Universidade de Harvard pelo resto da vida.Em sua nova casa, diz Tortella, Schumpeter se apaixonou e se casou com uma historiadora de economia chamada Elizabeth Boody, que era 15 anos mais nova que ele.

Foi ela quem compilou e editou os textos dele sobre a história do pensamento econômico, publicados postumamente (ambos morreram antes da publicação do livro em 1954: ele em 1950 e ela em 1953) no monumental History of Economic Analysis (História da Análise Econômica, em inglês).

Schumpeter analisou a Grande Depressão dos anos 1930 — (Foto: Getty Images)

Destruição criativa

Durante a Grande Depressão da década de 1930, disse Thomas K. McCraw, “muitas pessoas inteligentes da época acreditavam que a tecnologia havia atingido seu limite e que o capitalismo atingiu seu auge”.
“Schumpeter acreditava exatamente no oposto e, é claro, ele estava certo”, afirmou McCraw, foi o autor do livro Profeta da Inovação: Joseph Schumpeter e Destruição Criativa.
O conceito de destruição criativa foi um dos que Schumpeter ajudou a popularizar. E, segundo Fernando López, professor de Pensamento Econômico da Universidade de Granada, essa ideia é uma espécie de darwinismo social.
“É a ideia de que o capitalismo destrói empresas não criativas e não competitivas”, diz o professor à BBC Mundo. “O processo de acumulação de capital continuamente os leva a competir entre si e a inovar e apenas os mais poderosos sobrevivem”.

Uma ansiedade constante

Essa dinâmica ideal do capitalismo significa que os empreendedores nunca podem relaxar. “Esta é uma lição extremamente difícil de aceitar, principalmente para pessoas de sucesso. Mas os negócios são um processo darwiniano e Schumpeter frequentemente o vincula à evolução”, afirmou McCraw.

Novos produtos aparecem constantemente para substituir os antigos, que se tornam obsoletos.
“É um processo contínuo de aprimoramento e essa é a característica número um do capitalismo”, disse à BBC Mundo Pep Ignasi Aguiló, professor de economia aplicada na Universidade das Ilhas Baleares, na Espanha.

A dinâmica dos negócios leva a “a única maneira de sair da competição, que é muito dura, é através de tentativas de redução de custos, o que exige processos de inovação na produção ou através do design de novos produtos preferidos pelos consumidores em relação aos anteriores “, diz o doutor em Economia.

No entanto, as tentativas de redução de custos também podem levar a superexploração de trabalhadores, lobby para resgulamentação e práticas predatórias em relação ao ambiente — temas que muitas vezes são “esquecidos” quando se fala do assunto.

O fim do capitalismo e das meias femininas

Ele disse que tinha dois exemplos que Schumpeter usou para explicar suas teorias foi o das meias femininas.

No início do século 20, apenas as mulheres da classe alta podiam comprá-las. Mas, após a Segunda Guerra Mundial, eles se tornaram mais acessíveis aos consumidores de diferentes grupos sociais.

“Tornar algo acessível a todos leva a mentalidade socialista a entrar gradualmente nos poros do sistema capitalista e desacelerar sua característica essencial, que é a competição entre produtores”, diz o professor.

O raciocínio do austríaco era que, ao “apaziguar a concorrência e acabar gerando igualdade no acesso aos produtos”, o capitalismo chegaria ao fim.

Schumpeter definia uma data para isso – o final do século 20.

“Ele estava errado sobre isso. Ele acreditava que até então as condições de divulgação da produção em massa e produtos entre toda a população fariam todas a pessoas viverem melhor do que o rei da França do século 18 e, portanto, o clamor por o socialismo seria grande”.

Vítima de seu próprio sucesso

“A ideia era a de que o capitalismo leva à produção em massa, a produção em massa leva a uma riqueza extraordinária que se espalha por uma parte muito importante da população e que aumenta o desejo de igualdade”, explica Aguiló.

O automóvel, por exemplo, deixou de ser um produto que apenas uma elite poderia adquirir e estar disponível para milhões de pessoas. “O preço cai, as quantidades aumentam, e isso acontece repetidas vezes com todos os produtos”, diz o professor.

Essa circulação massiva de produtos significa que os padrões de vida dos consumidores aumentam, que há uma “demanda por mais igualdade” e que isso acabaria dificultando a essência do sistema: a concorrência”, explica Aguiló.

“Esse grande sucesso da abundância compartilhada,ao alcance de todos, é o que levaria ao fim do capitalismo”.

No entanto, embora a riqueza seja mais bem distribuída em alguns países, o que se viu no mundo desde então foi o contrário: apesar de muitos produtos estarem acessíveis para grande parte da população, o que se vê é uma concentração cada vez maior da riqueza produzida.

Virtude e perigo

 

Seguindo a lógica de Schumpeter, a concorrência se tornaria uma virtude e um problema para as empresas.

Segundo López, Schumpeter acreditava que “o processo de acumulação incessante de capital levaria, em algum momento, ao que Marx chamava de tendência decrescente da taxa de lucro”.

“O capitalismo é um sistema incomparável em termos produtivos, é um sistema que, no nível produtivo – eu uso Marx novamente – é o mais progressista da história, mas tem o problema de que a acumulação incessante de capital o leva a competir também incessantemente.”

“Essa competição força as empresas a ter uma guerra constante para inovar, obter novos mercados, novos produtos. E aí está o perigo”.

Harry Landreth e David C. Colander, em seu livro História do Pensamento Econômico, explicam que “onde Marx havia previsto que o declínio do capitalismo derivaria de suas contradições, Schumpeter especulou que seu fim seria o produto de seu próprio sucesso”.

Sua ideia de uma sociedade socialista

 

Em seu trabalho Capitalismo, Socialismo e Democracia, Schumpeter projetou um tipo de sociedade socialista que surgiria depois que o capitalismo perecesse.

Guillermo Rocafort, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Comunicação da Universidade Europeia, coloca o pensador austríaco dentro de um grupo de economistas pessimistas ou fatalistas que estavam desencantados com o capitalismo de sua época.

Enquanto Marx via uma luta de classes entre a burguesia e a classe trabalhadora, Schumpeter percebia uma grande tensão entre um grupo de empreendedores, aqueles que provocam “vendavais capitalistas que levam a um grande crescimento econômico” e outro composto de empreendedores “que implementam um capitalismo não tão pioneiro, mas calculista, mais conservador “, diz Rocafort à BBC Mundo.

A sociedade que Schumpeter imaginava uma em que a distribuição da riqueza seria mais justa e na qual ainda existia mercado.

Seria uma sociedade na qual a igualdade estaria acima de tudo – diz Aguiló – “na qual é alcançado um status quo em que a inovação para e, portanto, o peso do mercada na distribuição dos recursos é menor e o peso do Estado aumenta.”

Landreth e Colander citam Schumpeter: “Os verdadeiros promotores do socialismo não foram os intelectuais ou agitadores que o pregaram, mas os Vanderbilts, Carnegies e Rockefellers (famílias ricas do início do século 20)”.

Ciclos econômicos

 

Rocafort explica que Schumpeter reforçou a teoria dos ciclos econômicos como sendo a forma pela qual o capitalismo evolui.

“Como se fosse uma montanha-russa, subindo e descendo, (…) Schumpeter refere-se a ciclos econômicos que têm sua origem em inovações tecnológicas e financeiras. Elas causam momentos de grande boom, depois estabilização e depois uma depressão ou recessão”, diz o professor.

O especialista cita como exemplo a quebra da bolsa de 1929 e a crise financeira de 2008.

Schumpeter nos faz ver o capitalismo como “um processo histórico e econômico que não tem crescimento contínuo, o que seria desejável, mas um crescimento bastante volátil, e que, em última análise, tem consequências para a sociedade em termos de, por exemplo, desemprego”.

No século 21

“Vários economistas, incluindo Larry Summers e Brad DeLong, disseram que o século 21 será ‘o século Schumpeter’ e eu concordo”, disse McCraw.

“A razão é que a inovação e o empreendedorismo estão florescendo em todo o mundo de uma maneira sem precedentes, não apenas nos casos bem conhecidos da China e da Índia, mas em todos os lugares, exceto em áreas que tolamente continuam a rejeitar o capitalismo”.

“A destruição criativa pode acontecer em uma grande empresa inovadora (Toyota, GE, Microsoft), mas é muito mais provável que isso aconteça nas start-ups, especialmente agora que elas têm muito acesso ao capital de risco”, afirmou McCraw.

De fato, segundo o autor, Schumpeter foi um dos primeiros economistas a usar esse termo: ele o fez em um artigo que escreveu em 1943, no qual falava de capital de risco.

Os inovadores

 

Schumpeter, suas idéias e, acima de tudo, o conceito de destruição criativa ganharam importância especial nas últimas duas décadas.

“É essencial para entender nossa economia”, diz Aguiló. Essa competição de negócios nem sempre é sobre “dominar o mercado com um produto, mas com uma ideia, com um tipo ou modelo de negócios.”

Rocafort destaca que nessa destruição criativa, inovadores e empreendedores são os principais protagonistas.

Um exemplo é como a indústria de tecnologia e seus gigantes como Google e Microsoft ocuparam um espaço de um setor que nas décadas de 20, 30, 40 e 50 era um dos principais: a indústria automotiva.

“Se você observar o preço das ações, as empresas de tecnologia são as mais importantes e são todas americanas”, diz ele.

Um alerta

Especialistas como López pedem cautela ao usar as ideias de Schumpeter para tentar explicar a economia atual. “Não é conveniente usar categorias históricas porque são sociedades diferentes. As velhas teorias não funcionariam para nós “, diz ele à BBC Mundo.

Schumpeter é o produto de uma época e “seu capitalismo não é o capitalismo de hoje”, alerta.

A acumulação de capital era diferente e não tinha nem o alcance global nem o impacto ecológico de hoje. Segundo o professor, o sistema está atravessando barreiras que antes pareciam impensáveis: se um país se industrializa, o emprego aumenta, mas o ambiente se deteriora.

“Isso não estava na mente de Schumpeter, nem John Maynard Keynes. (Na época) a industrialização era o elemento fundamental do desenvolvimento.”

Mas López reconhece que “aspectos parciais do trabalho de Schumpeter (como destruição criativa) podem nos ajudar a entender o sistema”.

Em transição?

 

Rocafort também concorda que o trabalho de Schumpeter é sua visão pessoal da realidade em que ele viveu. “Agora temos um contexto macroeconômico que não existia na época: paraísos fiscais, fundos de investimento especulativos, endividamento excessivo das nações”, explica ele.

No entanto, ele esclarece, dada a situação de incerteza que estamos enfrentando diante da economia mundial, faz sentido procurar explicações nos grandes clássicos da economia. “Você precisa tentar ver o que se aplica de cada teórico, porque não pode haver ortodoxia ou dogmatismo na economia. Nós idolatramos Keynes e no final, como vimos nos últimos 15 anos, ele está sendo um fracasso”, diz Rocafort.

O economista acredita que Schumpeter e suas ideias como “ciclos econômicos e destruição criativa” podem ajudar a esclarecer alguns pontos do momento em que vivemos. “Talvez o modelo econômico atual esteja esgotado e estejamos precisando de novas inovações tecnológicas e financeiras”.

“Ele fala de destruição criativa como aquele novo ciclo causado por um grande desenvolvimento tecnológico. Talvez um ciclo esteja colidindo com outro, como placas tectônicas”, ele reflete.

(Fonte: https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/06/29 – ECONOMISTA / NOTÍCIA / Por BBC NEWS – 29/06/2020)

 

 

“Existiram muitos Schumpeters: o brilhante enfant terrible da Escola Austríaca que, antes de completar trinta anos, havia escrito dois livros extraordinários; o jovem causídico que chegou a advogar no Cairo; o criador de cavalos; o Ministro da Fazenda na Áustria; o filósofo social e profeta do desenvolvimento capitalista; o historiador das doutrinas econômicas; o teórico de Economia que preconizava o uso de métodos e instrumentos mais exatos de raciocínio; o professor de Economia”.1

 

1 SAMUELSON, Paul A. Shcumpeter como Professor y Teorico de la Economia (in Schumpeter, Científico Social — El Sistema Schumpeteriano.) Barcelona, Ediciones de Occidente S.A., 1965, p. 107.
Ninguém melhor do que Paul Samuelson para sintetizar a genialidade e a versatilidade de Joseph Alois Schumpeter. O elogio foi publicado inicialmente na Review of Economics and Statistics e, posteriormente, na coletânea de trabalhos organizada por Seymeur E. Harris em homenagem ao grande economista austríaco.
O dia 8 de fevereiro de 1983 é a data do centenário de nascimento de Schumpeter. Nascido em Triesch, na Morávia, província austríaca hoje pertencente à Tchecoslováquia, Schumpeter foi o único filho do fabricante de tecidos Alois Schumpeter. Pouca coisa se sabe a respeito de seus pais, exceto que a mãe, Johanna, era filha do médico Julius Gruner. Joszi (como era chamado na infância) ficou órfão de pai com apenas quatro anos. Sua mãe casou-se novamente em 1893 com o tenente- coronel do Exército Austro-Húngaro Sigismund von Keller. A família passou então a viver em Viena, onde Schumpeter concluiu o curso secundário com distinção. Posteriormente, ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Viena, graduando-se em 1906.
Nessa época, as universidades imperiais incluíam no estudo de Direito cursos e exames complementares de economia e ciência política. Aluno aplicado, Schumpeter dedicou-se ao estudo da ciência econômica, sem entretanto descuidar-se do Direito. Já formado, decidiu viajar para a Inglaterra, onde permaneceu durante vários meses, principalmente em Londres. Na capital inglesa, além de visitar Cambridge e Oxford, manteve intensa vida social. Em 1907 casou-se com Gladys Ricarde Seaves, filha de alto dignitário da Igreja Anglicana e doze anos mais velha que ele. No mesmo ano o casal partiu para o Cairo, onde Schumpeter advogou perante o Tribunal Misto Internacional do Egito, sendo também conselheiro de finanças de uma princesa egípcia. Motivos de saúde, entretanto, obrigaram o casal a retornar para Viena em 1909. Gladys voltou para a Inglaterra em 1914, lá permanecendo durante a I Guerra Mundial, não retornando mais a Viena. Em 1920, o casal divorciou-se.

 

Schumpeter iniciou a vida universitária no mesmo ano em que retornou à Austria, ou seja, a partir de 1909. Nomeado professor de Economia da Universidade de Czernowitz (capital da província de Bukovina, na parte oriental da Áustria, hoje território da União Soviética), Schumpeter passou dois anos bastante felizes. É verdade que considerava seus colegas extremamente provincianos e incultos, embora os julgasse capazes em seus respectivos campos de atividade. Foi em Czernowitz, aliás, que teve início sua fama de enfant terrible. Schumpeter costumava assistir às reuniões da Congregação Universitária com botas de montaria, suscitando comentários desfavoráveis. Mas para jantar a sós com a esposa vestia-se a rigor.
Em 1911, convidado a lecionar na Universidade de Graz, capital da província de Styria, foi nomeado professor de Economia por decreto imperial, graças à influência do economista austríaco Böhm-Bawerk. Além de ser o mais jovem catedrático da Universidade, a fama de enfant terrible criou um certo mal-estar entre os colegas da congregação. A atmosfera pouco cordial obrigou Schumpeter a viajar frequentemente para Viena.
Na qualidade de professor visitante, passou o ano letivo de 1913/14 na Universidade de Colúmbia (Nova York), onde foi distinguido com um grau honorífico, o de Litt. D. da Universidade de Colúmbia. Pouco antes do início da I Guerra Mundial, retornou a Viena, abandonando a Universidade de Graz a partir de 1918. Não obstante, continuou a pertencer ao quadro da congregação até 1921.

 

 

Entre 1919 e 1924, decidido a dedicar-se aos negócios e à política, resolve afastar-se das atividades docentes. Com o Armistício, o governo socialista alemão, objetivando estudar e preparar a socialização da indústria, cria uma comissão de estudos e convida Schumpeter para participar das discussões. Nomeado membro da “Comissão de Socialização de Berlim”, Schumpeter permanece no grupo durante três meses; sua participação nesse trabalho fez com que se suspeitasse de suas convicções socialistas. A suspeita, entretanto, não correspondia à verdade: Schumpeter tendia para o sistema capitalista, embora acreditasse que o socialismo provavelmente triunfaria sobre o capitalismo.

 

 

Em março de 1919 aceitou o convite de Karl Renner — socialista da ala direita do Partido Socialista Cristão — para ser o Ministro da Fazenda do primeiro governo republicano da Áustria. Mas permaneceu no cargo apenas dez meses. Em seguida passou para a presidência do Banco Privado de Biedermannbank, em Viena, antiga e conceituada instituição financeira de pequeno porte. O banco abriu falência em 1924, não somente devido às difíceis condições econômicas da época, mas também, e principalmente, pela desonestidade de alguns de seus diretores. Nessa aventura, Schumpeter não só perdeu sua fortuna pessoal como ficou totalmente endividado, pois não quis aproveitar a Lei da Falência, preferindo pagar com seus bens pessoais a totalidade dos credores do banco. Após essa desastrosa aventura empresarial, resolveu retornar à vida universitária. Recusou um convite para lecionar no Japão, mas aceitou a docência na Universidade de Bonn, como substituto do eminente economista liberal Heinrich Dietzel. Schumpeter jamais esqueceria a oportunidade oferecida por essas universidades num momento de crise.

 

Antes de partir para Bonn, casou-se com Annie Reisinger, jovem de 21 anos, filha do porteiro do edifício onde residia sua mãe. A jovem era conhecida da família havia muitos anos, tanto que o próprio Schumpeter e a mãe haviam cuidado de sua educação, enviando-a para Paris e, posteriormente, para a Suíça. Annie faleceu de parto após um ano de casamento, deixando Schumpeter abalado para o resto da vida. A esse rude golpe seguiu-se, no mesmo ano, a morte da mãe, com 75 anos. Mas Schumpeter não permaneceu durante muito tempo em Bonn. Em 1927 e 1928 lecionou na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, voltando a ensinar nessa faculdade no outono de 1930. Em 1932, decidido a fixar residência nos Estados Unidos, abandonou definitivamente a Universidade de Bonn. Nunca mais voltou para a Alemanha ou Áustria, embora tivesse visitado a Europa algumas vezes.
Estabeleceu-se em Cambridge (Massachusetts) e adquiriu uma casa de campo em Taconic (Connecticut), onde viria a falecer, durante o sono, no dia 8 de janeiro de 1950. Ao iniciar a vida acadêmica em Harvard, Schumpeter passara a residir na casa do Prof. Taussig. Em 1937 havia se casado novamente, dessa vez com Elizabeth Boody, descendente de família da Nova Inglaterra e economista de méritos próprios, sua companheira inseparável até o final da vida.
Um dos fundadores da sociedade de Econometria (Econometric Society), cuja presidência exerceu de 1937 a 1941, Schumpeter foi eleito presidente da American Economic Association em 1948 e pouco antes de sua morte foi elevado à categoria de primeiro presidente da recém formada International Economic Association. Schumpeter costumava afirmar que a capacidade criativa do homem estava em seu ponto mais alto entre os 20 e os 30 anos de idade. Após esse período, o trabalho intelectual apenas completava e ampliava aquilo que a mente humana produzira de criativo até os trinta anos.

 

 

De fato, quando tinha apenas 25 anos, em 1908 portanto, Schumpeter publicou sua primeira grande obra, A Natureza e a Essência da Economia Política Teórica (Das Wesen und der Hauptinhalt der Theoretischen National Ökonomie), e, quatro anos mais tarde, sua célebre Teoria do Desenvolvimento Econômico (Theorie der Wirtschaftlichen Entwicklung) — obras que estabeleceram sua importância como teórico de Economia. Ao completar 30 anos, ainda escreveu a história de sua ciência: Épocas da História dos Métodos e Dogmas (Epochen der Dogmen und Methodengeschichte). A essa evidente precocidade, o Professor Arthur Spiethoff rendeu a seguinte homenagem: “Não se sabe o que é mais notável, se o fato de que um homem de 25 e 27 anos tenha dado forma aos próprios fundamentos de sua ciência ou se, aos 30 anos, tenha escrito a história daquela disciplina”.2

 

2  Joseph Schumpeter in Memorian. Seymeur, Harris, op. cit. p. 18.

 

Ao completar 50 anos, Schumpeter já havia escrito dezessete livros, inclusive duas novelas e centenas de artigos e ensaios científicos. Embora trabalhasse 84 horas semanais, parecia insatisfeito com sua produção. Achava que gastava muito tempo com aulas, seminários e conselhos a estudantes e colegas, não conseguindo produzir o suficiente para completar seu programa de contribuições à ciência econômica e à sociologia. No conjunto de seus trabalhos destaca-se ainda o tratado sobre os Ciclos Econômicos (Business Cycles, 1939), cujo subtítulo elucida sua relação com o livro que comentaremos em seguida: “Uma Análise Teórica, Histórica e Estatística do Processo Capitalista”. Foi a primeira obra que publicou como Professor da Universidade de Harvard.
Em 1942, publicou Capitalismo, Socialismo e Democracia (Capitalism, Socialism and Democracy), obra considerada por muitos como um trabalho pessimista por concluir pelo inevitável triunfo do socialismo e o consequente desaparecimento do capitalismo. A conclusão é decorrente do processo analítico desenvolvido por Schumpeter, mas não expressa, de maneira alguma, sua ideologia ou preferência pessoal.
Não obstante, vale acrescentar que as idéias de Karl Marx, a quem Schumpeter admirava e respeitava, representaram uma das maiores influências intelectuais em sua formação científica. Maior ainda que a influência exercida por Marx, foi a inspiração na obra do economista francês Léon Walras. Influenciado por Walras, Schumpeter adquiriu o interesse pela formulação matemática e econométrica das questões econômicas, além de optar pela concepção de modelos econômicos para explicar a realidade e para a compreensão do processo de desenvolvimento capitalista.

 

 

Em vários artigos, Schumpeter traçou esboços biográficos de grandes economistas, reunidos mais tarde no volume Dez Grandes Economistas, de Marx a Keynes. Seu crescente interesse pela História levou-o a escrever História da Análise Econômica (History of Economic Analysis, 1954) que, infelizmente, não chegou a concluir. O livro foi completado por sua viúva e publicado postumamente.

 

A Teoria do Desenvolvimento Econômico foi publicado pela primeira vez em 1911, em língua alemã. No prefácio à primeira edição em inglês, Schumpeter adverte que algumas das idéias contidas no livro datam de 1907 e que, em 1909, todas as teorias desenvolvidas na obra já estavam formuladas. Em 1926, já esgotada a 1ª edição, Schumpeter aquiesceu numa nova edição, também em alemão. Essa edição resultou numa revisão em profundidade, na qual, além de outras modificações, foi omitido o capítulo VII e reescritos os capítulos II e VI. O próprio Schumpeter afirmou que a Teoria do Desenvolvimento Econômico, em seu método e objetivo, é “francamente teórico”. Esclarece ainda que quando escrevera o livro pensava diferente sobre a relação entre pesquisa prática e pesquisa teórica. Afirma sua convicção de que “nossa ciência, mais do que as outras, não pode dispensar esse senso comum refinado que chamamos ‘teoria’ e que nos dá instrumentos para analisar os fatos e os problemas práticos”.
O primeiro capítulo da obra apresenta um modelo de economia estacionário, fundamentado num fluxo circular da vida econômica. Assim, toda a atividade econômica se apresenta de maneira idêntica em sua essência, repetindo-se continuamente. Mas esse modelo contrasta com a estrutura dinâmica que Schumpeter apresenta no capítulo II, intitulado “O Fenômeno Fundamental do Desenvolvimento Econômico”, onde aparece a figura central do empresário inovador — agente econômico que traz novos produtos para o mercado por meio de combinações mais eficientes dos fatores de produção, ou pela aplicação prática de alguma invenção ou inovação tecnológica.
“Nenhum outro economista, que eu saiba, percebeu tão claramente a importância crítica da taxa de crescimento na produção total. Como ele afirmou, se a produção aumentar no futuro ao nível que aumentou no passado, todos os sonhos dos reformadores sociais poderão dar certo. Entretanto, se a política se dirigir à redistribuição imediata, não se realizarão nem os desígnios dos reformistas, nem o aumento da produção”.3

 

3 SMITHIES, Arthur. Schumpeter e Keynes. In: Harris, op. cit. p. 295.
Como vemos, Schumpeter não só percebeu o papel central do crescimento econômico para a justiça social, como advertiu para os perigos da redistribuição prematura. (Opiniões sem dúvida relevantes para o debate econômico do Brasil contemporâneo.) Sem dúvida, Schumpeter distinguiu claramente a diferença entre crescimento e desenvolvimento: “Nem o mero crescimento da economia, representado pelo aumento da população e da riqueza, será designado aqui como um
processo do desenvolvimento”.4

 

4 SCHUMPETER, Joseph. The Theory of Economic Devefopment. Oxford. Oxford University Press, 1978. p. 63.
Em outra passagem da obra, Schumpeter destaca a figura do empreendedor: “…na vida econômica, deve-se agir sem resolver todos os detalhes do que deve ser feito. Aqui, o sucesso depende da intuição, da capacidade de ver as coisas de uma maneira que posteriormente se constata ser verdadeira, mesmo que no momento isso não possa ser comprovado, e de se perceber o fato essencial, deixando de lado o perfunctório, mesmo que não se possa demonstrar os princípios que nortearam a ação”.5

 

5 SCHUMPETER, Joseph. Op. cit., p. 85.

6 Ibid., p. 65.
7 Ibid., p. 102.
8 Ibid., p. 103.

 

Também a relação entre a inovação, a criação de novos mercados e a ação de empreendedor está claramente descrita por Schumpeter: “É, contudo, o produtor que, via de regra, inicia a mudança econômica, e os consumidores, se necessário, são por ele ‘educados’; eles são, por assim dizer, ensinados a desejar novas coisas, ou coisas que diferem de alguma forma daquelas que têm o hábito de consumir”.6

 

Daí a prescrever a “destruição criadora”, ou seja, a substituição de antigos produtos e hábitos de consumir por novos, foi um passo que Schumpeter rapidamente deu ao descrever o processo do desenvolvimento econômico. De outro lado, ao atribuir papel fundamental ao crédito no crescimento econômico, Schumpeter, de certa maneira, idealizou o moderno banco de desenvolvimento. Assim, escreveu ele: “Primeiro devemos provar a afirmativa, estranha à primeira vista, de que ninguém além do empreendedor necessita de crédito; ou o corolário, aparentemente menos estranho, de que o crédito serve ao desenvolvimento industrial. Já demonstramos que o empreendedor, em princípio e como regra, necessita
de crédito — entendido como uma transferência temporária de poder de compra —, a fim de produzir e se tornar capaz de executar novas combinações de fatores para tornar-se empreendedor”.7

 

Schumpeter considerava que o crédito ao consumidor não era um elemento essencial ao processo econômico. Assim, afirmou que não fazia parte da “natureza econômica” de qualquer indivíduo que ele obtivesse empréstimo para o consumo, ou da natureza de qualquer processo produtivo que os participantes tivessem de contrair dívidas para fins consecutivos. E, apesar de reconhecer sua importância, deixa de lado “o fenômeno do crédito ao consumo, pois não tem importância aqui para nós e, a despeito de toda a sua importância prática, nós o excluímos de nossas considerações”.8 Na verdade, o raciocínio desenvolvido por Schumpeter procura demonstrar que “o desenvolvimento, em princípio, é impossível sem crédito”.9

 

 

Schumpeter discute a função do capital no desenvolvimento econômico, considerando um “agente especial”, e afirma também que o mercado de capitais é aquilo a que na prática se chama mercado de dinheiro, pois, em sua opinião, não há outro mercado de capitais. A discussão em torno do papel do crédito, do capital e do dinheiro unifica as três fontes de poder de compra de maneira extremamente interessante, caracterizando-os como um meio de financiar a inovação e, consequentemente, o crescimento industrial. Diga-se de passagem que o modelo de desenvolvimento econômico concebido por Schumpeter é, basicamente, um modelo de industrialização.
Ao examinar o lucro empresarial, Schumpeter apresenta algumas reflexões sociológicas sobre a impossibilidade de os empreendedores transmitirem geneticamente a seus herdeiros as qualidades que os conduziram ao êxito, por meio de inovações e novos métodos produtivos. Assim, compara o estrato mais rico da sociedade com um hotel repleto de gente, alertando, porém, para o fato de que os hóspedes nunca são os mesmos. Isso decorre de um processo no qual os que herdam a riqueza dos empreendedores estão geralmente tão distanciados da batalha da vida que não conseguem aumentar ou simplesmente manter a fortuna herdada.

 

Schumpeter discute a teoria do juro, refutando conceitos antigos, e relaciona o “fenômeno” do juro com o processo de desenvolvimento. Essa interpretação é coerente com sua ideia de que só o empreendedor inovador necessita de crédito. A discussão, apesar de longa, é extremamente interessante. Contestando outros economistas, que supunham que a taxa de juros variava conforme a quantidade de dinheiro em circulação, Schumpeter demonstra que essa relação é inversa, isto é, “o efeito imediato de um aumento de dinheiro em circulação seria o aumento da taxa de juros e não sua redução”.10

 

9 Ibid., p. 106.
10 Ibid., p. 186.
O capítulo final da Teoria do Desenvolvimento Econômico trata dos ciclos econômicos, ou seja, dos períodos de prosperidade e recessão econômica comuns no processo de desenvolvimento capitalista. Embora Schumpeter considerasse que o tratamento dado ao problema não fosse totalmente satisfatório, as idéias centrais contidas no capítulo constituíram o cerne de sua obra Ciclos Econômicos, publicada em dois volumes. Schumpeter relaciona os períodos de prosperidade ao fato de que o empreendedor inovador, ao criar novos produtos, é imitado por um verdadeiro “enxame” de empreendedores não inovadores que investem recursos para produzir e imitar os bens criados pelo empresário inovador. Consequentemente, uma onda de investimentos de capital ativa a economia, gerando a prosperidade e o aumento do nível de emprego.

 

À medida que as inovações tecnológicas ou as modificações introduzidas nos produtos antigos são absorvidas pelo mercado e seu consumo se generaliza, a taxa de crescimento da economia diminui e tem início um processo recessivo com a redução dos investimentos e a baixa da oferta de emprego. A alternância entre prosperidade e recessão, isto é, a descontinuidade no aumento de produção, é vista por Schumpeter, dentro do contexto do processo de desenvolvimento econômico, como um obstáculo periódico e transitório no curso normal de expansão da renda nacional, da renda per capita e do consumo. Até o aparecimento da teoria de Schumpeter, as descontinuidades cíclicas eram explicadas pelos economistas em função das flutuações da atividade cósmica do sol, da alternância de boas e más colheitas, do subconsumo, da superpopulação etc. Neste importante capítulo da teoria econômica, a grande contribuição de Schumpeter foi estabelecer a correlação entre o abrupto aumento do nível de investimento que se segue às inovações tecnológicas transformadas em produtos para o mercado, e o período subseqüente de prosperidade econômica seguido de uma redução do nível de emprego, produção e investimento, além da incorporação da novidade aos hábitos de consumo da população.

 

A tradução para o português e a publicação deste livro de Schumpeter é importante para os estudiosos de Economia, estudantes universitários e professores, porque setenta anos após sua primeira edição em alemão, o livro é atual e pertinente ao debate econômico travado no Brasil e nos países industrializados do Ocidente. Vale ressaltar ainda que o sistema schumpeteriano se contrapõe, em muitos aspectos, ao sistema keynesiano.

 

Schumpeter e Keynes, contemporâneos que se conheceram pessoalmente, nunca demonstraram nenhuma afinidade intelectual ou ideológica. Arthur Smithies confirma que sempre estiveram intelectualmente muito distanciados. No momento em que o sistema keynesiano — concepção que vem dominando a política econômica há quase cinqüenta anos — está sendo questionado pelos economistas da supply side economics (cujas ideias foram perfilhadas pelo presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan), assume maior importância o estudo do sistema schumpeteriano, principalmente como alternativa à intervenção estatal, à política do Estado dominador, que participa e interfere na vida do cidadão, do seu nascimento à morte.
O pessimismo de Schumpeter em relação ao futuro do capitalismo não parece algo a se concretizar num futuro próximo. Muito ao contrário, o triunfo final do socialismo parece cada vez mais distante e improvável. O fato se deve, sem dúvida, à ausência, nos países socialistas, da figura do empreendedor inovador. Nesses países, o Estado e suas empresas apenas mostraram-se capazes de copiar a tecnologia produzida pelos empreendedores inovadores no Ocidente.
De outro lado, a visão otimista de Schumpeter de que se o crescimento econômico no futuro fosse igual ao do passado — quando as economias cresciam à taxa média anual de 3% — o problema social desapareceria, tornando realidade o sonho de todos os reformadores sociais, também não parece na iminência de concretização. O que vimos em nosso país, por exemplo, após quinze anos de crescimento econômico ininterrupto, a taxas com que Schumpeter jamais sonharia, foi o agravamento de muitos problemas sociais e uma contínua deterioração da distribuição de renda. Ao render minhas homenagens a um dos mais brilhantes teóricos da ciência econômica, não posso deixar de referir que, em nossa ciência, nem mesmo as inteligências mais privilegiadas conseguem produzir boas profecias.

 

Rubens Vaz da Costa
Rubens Vaz da Costa, economista formado pela Universidade da Bahia, fez seus estudos de pós-graduação na Universidade George Washington (EUA). Doutor honoris causa das Universidades Federal do Ceará e Regional do Nordeste, foi também Secretário de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, vice-presidente da Editora Abril, Presidente do Banco Nacional da Habitação, Presidente do Banco do Nordeste e Superintendente da Sudene. É atualmente consultor de empresas.

JOSEPH ALOIS SCHUMPETER
TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE LUCROS, CAPITAL, CRÉDITO, JURO E O CICLO ECONÔMICO
Tradução de Maria Sílvia Possas

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