Gertrude Stein, escritora, poeta e ativista feminista americana

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Gertrude Stein (Pittsburgh, 3 de fevereiro de 1874 – Paris, 27 de julho de 1946), escritora, poeta e ativista feminista americana.

Na literatura americana, Gertrude Stein pertence ao quarteto dos “expatriados” integrado por Henry Adams, Henry James, Edith Wharton e ela própria, escritores realistas que preferiram morar na Inglaterra ou na França, no começo do século 20.

Gertrude Stein é, popularmente, no Brasil, uma frase mal traduzida. A sua famosa Rosa, é uma rosa, é uma rosa, é uma rosa ganhou dos nossos tradutores e intelectuais o artigo “uma” a precedê-la, transformando o nome de uma mulher – Rose – na flor que lhe serve de metáfora. Ironicamente, o verso só se tornou conhecido no Brasil quando foi usado por Vinicius de Moraes no seu Rancho das Flores, com música de Bach e que acabou como jiingle da banha Rosa.

No livro Três Vidas, oublicado em Paris em 1909, foi a primeira obra desta mulher cuja lenda e salão são um marco na história da pintura moderna. Amiga de artistas como Pablo Picasso, Georges Braque, Henri Matisse, Juan Gris e os cubistas, teve sobre os mesmos grande influência.

Seu conhecimento da vida intelectual parisiense transformou seu apartamento, na Rua de Fleurus n.º 27, num ponto de encontro dos pintores modernos e numa capela que todo escritor americano, em visita a Paris, devia conhecer. Viveu quarenta anos com a americana Alice B. Toklas, a quem coube por herança o retrato de Gertrude feito por Picasso que ilustra a capa do livro.

São três contos, quase novelas: A Boa Ana, A Doce Lena e Melanctha, editados nessa ordem que, por uma razão enexplicável, foi alterada na tradução em português colocando-se Melanctha entre Ana e Lena. Ainda que Três Vidas tenha sido escrito num estilo realista, existem nele alguns indícios do futuro estilo de Gertrude, para quem a verdade só poderia ser encontrada numa narrativa que, “fundamentada numa técnica iconoclasta e com forma às iluminações, paragens e impulsos da vida”.

VERSÃO DE FLAUBERT – Os contos se passam todos na cidade de Bridgepoint, nos Estados Unidos, cujo cenário parece muito com uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, no início do século 20, onde a colônia alemã, não obstante seu volume e importância, era de uma classe social intermediária entre a classe me´dia e a classe pobre, mais culta que a média nativa e um pouco mais rica que a pobre agricultora.

Percebe-se um tom elitista no tratamento dos personagens, uma ponta de racismo na descrição de Melanctha e um moralismo protestante no julgamento do comportamento das três protagonistas, atitude natural em vários escritores americanos da época.

Ana é uma governanta incolor, fraca de saúde, ascética no comportamento, para quem a rotina do cotidiano e a satisfação pelo dever cumprido são os pólos de sua biografia, mesmo que disfarce um homossexualismo refreado que a autora adoça com a palavra romance. Sem que se possa falar em plágio, A Boa Ana é uma nova versão do conto Um Coração Simples, que Gustave Flaubert (1821-1880) publicou no seu último livro Trois Contes, para agradar a George Sand que o criticava por “trabalhar na desolação”. Como a boa Ana, o personagem de Flaubert, a criada Felicité, tem as mesmas características de tenecidade, monotonia e abnegação e tem por pano de fundo as recordações da infância do autor em Trouville. Ana é uma Felicité que nasceu na Alemanha e veio morar em Bridgepoint.

A doce Lena é um personagem de densidade psicológica singular. Por um lado, parece viver num mundo imaginário, num sonho; por outro, no mundo da realidade, parece uma folha a boiar no rio da vida. Apática, amorfa, sem qualquer emoção ou sentimento, vai-se deixando levar pelos outros num conformismo comovente. Os outros determimam sua vida. Fica noiva sem paixão, o noivado é desfeito sem dor, o casamento é refeito sem emoção, cumpre sua função de parideira e criadora de filhos, abandonando-se, relaxando-se, submetendo-se ao destino e à vida para morrer do parto do seu quarto filho e só deixar saudades numa colega cozinheira. Há um “gosto amargo de fel” na sua trágica resignação e um grito de alerta feminista no tratamento que a autora lhe dá.

A mulata Melanctha é um vulcão de vitalidade e paixão. Para quem durante toda a vida “sempre amara e desejara a paz, delicadeza e bondade”, somente encontrou novas maneiras de se meter em complicações. Existe nela um desejo de superação intelectual que serve de dínamo a muitas de suas aventuras e lhe permite uma temeridade inocente para aspirar a tudo quanto seja belo, intenso e vital.

Tanto pode ter uma ligação homossexual como apaixonar-se violentamente por um médico. E a vida vai escorrendo sobre sua pele sem afetar-lhe o interior. Da mesma forma que morre de tuberculose, doença da época, poderia ter morrido de enfarte fulminante no mais intenso momento de amor.

Três Vidas, enfim, é um belo tríptico de sofrimento, resignação e paixão, cujo feitio lembra uma jóia do começo do século 20.

Gertrude Stein faleceu em 27 de julho de 1946, aos 72 anos, em Paris.

 

 

(Fonte: Veja, 16 de março de 1983 – Edição 758 – LIVROS/ Por Homero Icaza Sanchez – Pág; 120)
(Fonte: www.tanto.com.br/luizedmundoalves)

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