Georg Heinrich von Langsdorff, nobre alemão que liderou a mais célebre expedição ao Brasil do século XIX

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O alemão que desbravou o Brasil, Langsdorff comandou a primeira expedição pelo interior do nosso país

O alemão Georg Langsdorff viajou pelo interior do Brasil entre 1821 e 1829.

O alemão Georg Langsdorff viajou pelo interior do Brasil entre 1821 e 1829.

Georg Heinrich von Langsdorff (Wöllstein, Alemanha, 8 de abril de 1774 – Friburgo, 29 de junho de 1852), nobre alemão que liderou a mais célebre expedição ao Brasil do século XIX

O médico, naturalista, aventureiro e explorador alemão era comandante de uma expedição científica financiada pelo império russo para investigar a fauna, a flora e a geografia do Brasil, nação que havia pouco declarada sua independência de Portugal.

Entre 1821 e 1829, uma expedição russa comandada pelo barão Georg Heinrich von Langsdorff percorreu as províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Pará para conhecer mais sobre a geografia, a biodiversidade e a cultura da região.

A expedição Langsdorff passou à história como uma empreitada tão ousada quanto trágica, reuniu centenas de desenhos, pinturas e mapas, produzidos pela comitiva do barão. Iniciada em 1821 e encerrada oito anos mais tarde, percorreu 17000 quilômetros. Depois de excursões pelo Rio de Janeiro e Minas Gerais, seus integrantes embrenharam-se por São Paulo e de lá, em canoas e no lombo de burros, prosseguiram até a Amazônia.

“Se Deus quiser, prosseguiremos viagem hoje. As provisões estão acabando, mas ainda temos pólvora e chumbo”, escreveu o barão Georg Heinrich von Langsdorff em seu diário, no dia 20 de maio de 1828. Naquela altura, o grupo acampava às margens do Rio Juruena, em Mato Grosso. Tais anotações, contudo, seriam o derradeiro rasgo de lucidez do líder. Depois de delirar na selva por semanas em decorrência de uma febre tropical, o barão perdeu a razão de vez.

A expedição Langsdorff foi o evento mais ambicioso num período de ouro para os estudos estrangeiros no Brasil, inaugurado com a chegada da corte de Dom João VI ao Rio de Janeiro, em 1808. As expedições permitiram um avanço significativo no conhecimento sobre o país e na projeção de sua imagem no exterior. Langsdorff convenceu o czar Alexandre I a investir na aventura o equivalente a 10 milhões de dólares atuais.

A Rússia buscava então ombrear com as demais potências europeias em conhecimento científico – e o Brasil era para onde os olhos dos naturalistas se voltavam. O barão reuniu uma trinca de artistas estupendos – o alemão Johann Moritz Rugendas (1802-1858) e os franceses Aimé-Adrien Taunay (1803-1828) e Hercule Florence (1804-1879). Eles fizeram representações de paisagens, bichos, plantas e tipos humanos que impressionam tanto pela beleza quanto pelo rigor descritivo. Langsdorff trouxe ainda um astrônomo e cartógrafo, o militar russo Néster Rubtsov, este produzindo uma série de 28 mapas. Rubtsov fez plantas do Porto de Santos e de cidades como Cuiabá.

Ao contrário de outras expedições do período, a de Langsdorff não teve os resultados divulgados em seu tempo. Com o cérebro afetado pela doença, Langsdorff, de volta à Europa, nem sequer se lembrava de um dia ter estado no Brasil – quanto mais do material que coletou. Navios despacharam amostras de vegetais, bichos empalhados e pinturas para São Petersburgo, mas essas relíquias foram esquecidas num porão por um século. Em 1930, uma devassa stalinista em arquivos acadêmicos levou à sua redescoberta. A Guerra Fria fez com que o material permanecesse anônimo dos brasileiros ainda por décadas. Só no fim dos anos 80 se realizou a primeira exibição de parte dele no país.

Langsdorff não suportava a insolência dos artistas – e a antipatia era recíproca. Depois de xingá-lo de “cachorro”, Rugendas foi demitido e levou embora 500 pinturas feitas para a expedição. Filho de Nicola-Antoine Taunay (1755-1830), outro famoso pintor viajante, Aimé-Adrien Taunay escrevia ao pai, então estabelecido no Rio de Janeiro, para reclamar dos destemperos do chefe da expedição.

Em 1828, o artista teimou em atravessar a cavalo o Rio Guaporé, na fronteira com a Bolívia, com 400 metros de largura. Morreu afogado. A família culpou Langsdorff. Anos depois, um sobrinho do pintor, Alfredo d’Escragnolle Taunay, o visconde de Taunay (1843-1899), cuidaria de espalhar que o barão era um monstro.

Langsdorff foi um empreendedor e entusiasta do Brasil. Antes da expedição, adquiriu uma fazenda no Rio de Janeiro, na qual estabeleceu um núcleo de imigrantes alemães e investiu em inovações na agricultura. Primeiro cônsul da Rússia no país, era amigo de um político ilustrado e influente como José Bonifácio de Andrade e Silva. Depois da perda da razão, Langsdorff voltou par a Europa – e lá viveria por mais 22 anos, até a morte, em junho de 1852.

(Fonte: Veja, 24 de fevereiro de 2010 – ANO 43 – Nº 8 – Edição 2153 – Artes & Espetáculos/ Exposição/ Por Marcelo Marthe – Pág: 102/104)

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