Emílio Odebrecht, um dos introdutores do concreto armado no Nordeste brasileiro

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Um dos introdutores do concreto armado no Nordeste brasileiro, Emílio Odebrecht deu início àquela que seria uma das marcas da Organização Odebrecht ao
longo de sua história: o pioneirismo tecnológico

Emílio Odebrecht, primogênito de Edmundo e neto de Emil, fora influenciado desde a infância e a juventude pela tradição familiar na engenharia, seja através do avô, seja do tio Adolfo, engenheiro civil formado pela Politécnica do Rio de Janeiro no início do século XIX. Emílio acompanhou o avô em explorações e nos serviços da rede telegráfica e em 1914, aos 20 anos, mudou-se também para o Rio.

Lá encontrou-se com o primo Emílio Baumgart, estudante da Escola Politécnica que trabalhava na Companhia Construtora em Cimento Armado. Por seu intermédio, entrou na empresa, fundada pelo alemão Lambert Riedlinger, que chegara ao Brasil em 1911 trazendo um segredo de imenso valor: a técnica de construção do concreto armado, já adiantada na Alemanha e que aqui dava seus primeiros passos. Com Baumgart e Riedlinger, Emílio iria participar da introdução no Brasil da “era do concreto armado” na indústria da construção e na arquitetura em geral.

Emílio Odebrecht encontrou um Rio de Janeiro cosmopolita, vibrante, uma cidade como nenhuma outra no Brasil. Entre 1903 e 1906, o prefeito Pereira Passos e seus assessores não apenas haviam reconstruído o centro da cidade – então com cerca de 700 mil habitantes – como expandido seus limites para a zona sul, valorizando a orla marítima. Em nove meses, puseram abaixo mais de 600 prédios, quase todos cortiços imundos e superpovoados, abrindo espaços para automóveis, bondes elétricos, elevadores, cinemas… O Rio estava se tornando moderno.

Na década seguinte, o prefeito Paulo de Frontin daria início a outro conjunto de obras monumentais, que a imprensa carioca chamou de “os doze trabalhos de Hércules”. Abria-se a trilha de uma cidade enorme, a ser erguida em futuro próximo, desdobrando-se desde o centro (com o arrasamento do Morro do Castelo), passando pela duplicação da Avenida Atlântica, em Copacabana, e seguindo por Ipanema, Leblon e todo o extenso litoral e terras vizinhas até a Lagoa Rodrigo de Freitas, desembocando na Gávea.

Nunca se construíra tanto. Os dois Emílios, Odebrecht e Baumgart, viveram essa belle époque de estilos numerosos, onde o ecletismo se impunha. “Uma feira de cenários arquitetônicos improvisados”, no depoimento de Lúcio Costa, um dos pais da arquitetura moderna brasileira.

Lúcio Costa reconhecia que a engenharia civil brasileira estava, quanto à técnica das estruturas arquitetônicas, às vésperas de uma fase nova. Lembrava que “há soluções capazes de atender à insistência apaixonada dos arquitetos de espírito moderno, empolgados pelas possibilidades plásticas inerentes à nova técnica de concreto armado, cuja beleza formal imatura ainda escapa à percepção da grande maioria dos engenheiros”.

Emílio Baumgart por certo não estava nessa grande maioria. Baumgart é considerado o criador da técnica brasileira do concreto armado e, até hoje, é admirado pelos projetos audaciosos e criativos que executou. Lúcio Costa, num depoimento dado depois da morte do engenheiro Baumgart, com quem conviveu na Escola Nacional de Belas Artes, confirma que “seu engenho, intuição e prática do ofício, a princípio malvistos pelo pensamento catedrático dos doutos, acabaram por consagrá-lo, tal como merecia, mestre dos jovens engenheiros especializados na técnica do concreto armado”.

O novo sistema de construção mudou radicalmente o panorama da construção civil no Brasil, mas sua consolidação não se deu de forma rápida. Seu primeiro campo de maior difusão foi o das chamadas obras-de-arte (pontes, viadutos e outras), com destaque para o Estado de São Paulo. Os estudos e experimentações em obras mistas ou integrais foram feitos nas escolas politécnicas de São Paulo e Rio de Janeiro. A data de 1908 é a mais recuada que se conhece em relação à construção de edifícios, da Estação de Mayrink (SP) e da Estrada de Ferro Sorocabana pelo arquiteto belga Victor Dubugras.

Economia de tempo, economia de custos, durabilidade e resultados estéticos favoráveis começavam a dar credibilidade ao concreto armado na década de 10. A Companhia Construtora em Cimento Armado, fazendo jus ao nome, é tida como a primeira construtora especializada em cimento armado no Brasil, funcionando já em 1912. Após um começo modesto, nos limites de obras de prédios particulares, passou a executar grandes obras em todos os ramos da engenharia, em vários pontos do país. Sua grande rival, a Construtora Cristiani & Nielsen, só abriria a filial brasileira em 1919.

A fase de experimentação com a nova técnica atingiu seu ponto alto com a inauguração do grande edifício do jornal A Noite, no Rio, e do edifício Martinelli, em São Paulo, no final dos anos 20, que entronizaram os arranha-céus nas cidades brasileiras. A Companhia Construtora assinou edificações históricas, como os hotéis Central, Glória e Copacabana Palace e os escritórios da Companhia Antarctica, no Rio de Janeiro.

Mas outras regiões do país não demorariam a conhecer o concreto armado. No Nordeste, com o crescimento da importação e exportação de açúcar, a demanda de construção no meio urbano explodiu. O surto de “edificações produtivas” relacionadas com o comércio importador e exportador provocou a ampliação dos portos; construção de armazéns, silos e moinhos; melhoramentos nas áreas urbanas antigas; ampliação da rede ferroviária; construção de estradas de rodagem e de pontes, estas um campo especialmente fértil para a aplicação do concreto armado.

A ponte Maurício de Nassau, em Recife, por exemplo: com seus 180 m de comprimento, tornou-se um recorde da engenharia estrutural brasileira àquela época. Os cálculos da ponte foram feitos por Emílio Baumgart e para executá-la Lambert Riedlinger mandou a Recife, em 1917, um de seus melhores homens: o jovem Emílio Odebrecht, que desde 1914 vinha se capacitando na nova técnica construtiva.

O construtor Emílio Odebrecht confirmou as melhores expectativas de Riedlinger: a ponte Maurício de Nassau transformou-se num marco da engenharia brasileira. No mesmo Recife, o jovem Emílio iniciaria, dois anos depois, a principal vocação de sua vida: a de empresário-construtor. A ponte Maurício de Nassau representou para Emílio Baumgart, o calculista, a confirmação de seu talento. Ele provocou tanta admiração com seus cálculos que os colegas da Politécnica do Rio, na formatura de sua turma, em 1918, mandaram incluir no painel com as fotografias dos formandos um desenho da ponte.

Para o outro Emílio, o Odebrecht, a construção da ponte foi um divisor de águas em sua vida. Ele se mudou para Recife e tocou uma obra considerada na época a mais importante com estrutura de cimento armado no Brasil. Não demorou a intuir que estava pronto para alçar vôo próprio, cuidando dos próprios negócios.

O lugar era bom para novos projetos e a época também. Recife começava a modernizar-se para atender ao surto da economia canavieira em Pernambuco, Alagoas e Paraíba. Havia todo tipo de obra a fazer. Como no Rio um pouco antes, foi preciso sanear a cidade, abrir avenidas e reformar o porto. Com o fim de quatro anos de guerra na Europa, um clima de euforia tomou conta da cidade.

Os usineiros foram autorizados pelo governo a exportar, independente de licença, o excesso da safra do ano e o Lloyd Nacional decidiu manter o frete de navegação sem aumento. Em relação às demais cidades do Estado – na verdade povoados –, Recife brilhava como um oásis urbano. Havia quase 240 mil habitantes e grandes mansões pontilhavam os bairros de Boa Vista, Casa Forte, Casa Amarela e Derby. No outro lado da cidade, mais da metade da população vivia em mocambos e cabanas, em geral de um cômodo, sem água corrente nem instalações sanitárias e cobertas com folhas de palmeiras.

Em 1918, quando foi uma das cidades atingidas pela epidemia da gripe espanhola – como ficou conhecida, e que devastou outras cidades portuárias com muito mais intensidade, como o Rio –, Recife clamava por melhoramentos. Já se autoproclamara a “Veneza Brasileira”, por força da presença dos rios Beberibe e Capiberibe, “que a abraçam”, e era lugar “de muitas cores, de sobrados magros e horizontes abertos”, como escreveu o poeta, aliás também engenheiro e calculista, Joaquim Cardozo.

Foi quando o jovem Emílio, aos 24 anos, decidiu casar-se com Hertha Hinsch. Sonhava ter família, prole e carreira. E, mais uma vez, foi feliz. Em 1918, Lambert Riedlinger nomeou para gerente da filial de Recife o engenheiro Isaac Magalhães de Albuquerque Gondim, de tradicional família pernambucana. Recém-formado, já tinha conhecimentos práticos, pois durante todo o curso trabalhara no serviço público, no porto, na seção técnica ligada ao escritório de desenho, cálculos, medições, levantamentos e sondagens hidrográficas. Principalmente, estava interessado no estudo e na aplicação do cimento armado.

Emílio conhecia a técnica. Mais do que isso, queria novos desafios. Gondim e Emílio uniram-se para a “execução de construção de quaisquer gêneros, empreitadas, administrações, principalmente na especialidade de cimento armado”, conforme anunciaram. Criaram então a Isaac Gondim & Odebrecht, a primeira empresa de construção do Nordeste com know-how na nova técnica. A sede em Recife, na tradicional Rua do Imperador, foi, logo depois, acrescida de uma filial em Jaraguá, Alagoas.

Recife era lugar “de muitas cores, de sobrados magros e horizontes abertos”, escreveu o poeta Joaquim Cardozo 

“Os primeiros anos foram duros, muito duros mesmo”, lembrou Isaac Gondim em seu livro Vultos e Problemas do Recife. “A concorrência era intensa e os recursos, pequenos. Depois veio a reação: o crédito subiu, a confiança cresceu, os negócios ampliaram-se e como conseqüência os resultados foram compensadores.” Nas zonas canavieiras havia necessidade de barragens, canais, reservatórios e pontes na linha ferroviária e nas estradas. Mas as primeiras obras foram relativamente modestas: moendas, chaminés de usinas, pequenas pontes no interior do Estado de Alagoas e o Mercado das Flores de Fortaleza.

Logo vieram obras maiores como as pontes Buarque de Macedo, Afogados, Torre e Pina e o Quartel do Derby, ocupando uma área de 2.900 m2, com uma cúpula de concreto armado e alguns pavilhões.

A cidade civilizava-se. A imprensa aplaudia. “É de ver-se, nas últimas administrações municipais, a maneira miraculosa com que a cidade se moderniza”, registrou a revista Illustração Brasileira em junho de 1924. “Constroem-se edifícios magníficos. Finalmente é palpável a febre de transformações que estão fazendo da Veneza Brasileira um dos centros mais cultos e civilizados do país.”

Parecia um paraíso. Mas, como todo paraíso, Recife tinha uma serpente. Ela deu seu bote quando a economia açucareira entrou em colapso. Tão rapidamente como começara, a valorização das exportações cessou. Os produtores do Nordeste passaram a vender o grosso da sua produção no mercado interno. O Brasil só tinha condições de exportar quando, excepcionalmente, havia escassez no mercado mundial, por alguma causa externa à marcha normal do açúcar. Guerra, por exemplo. Entre 1914 (530 mil sacos) e 1918 (1,9 milhão de sacos) a exportação de açúcar quadruplicou, mas em 1924 o número caiu para a marca de 10 anos antes e, em 1925, para a irrisória quantia de 50 mil sacos. Mais ainda, o crescimento da produção nas usinas de São Paulo e Rio de Janeiro, altamente competitivas, passou a ameaçar os interesses e até mesmo a sobrevivência da economia açucareira pernambucana e nordestina em geral.

A Isaac Gondim & Odebrecht viveu tudo isso. Em 1923 deu início a sua última obra de vulto: o escritório da The Pernambuco Tramways and Power Co. Ltd., com sede em Londres, um prédio “majestoso, todo construído em cimento armado, linhas sóbrias, com a comodidade e higiene necessárias a um grande escritório onde trabalham cerca de 500 empregados”, conforme registrou uma publicação da época. Em seguida, Gondim & Odebrecht fizeram o distrato da sociedade.

Além da crise do açúcar, havia a disposição de Isaac Gondim de seguir outros rumos. Ele montou um escritório de consultoria técnica e um ano e meio depois empregou-se na administração da Pernambuco Tramways e da Telephone Company of Pernambuco. Emílio tinha planos diferentes e uma família para sustentar. Queria continuar construindo e instruindo os filhos Norberto, Gerda e Erika numa filosofia de trabalho e persistência. Entre ambos ficaram as boas lembranças da empresa e a boa amizade.

No mesmo mês e ano da dissolução da sociedade com Isaac Gondim – novembro de 1923 – Emílio Odebrecht, associado a Gustavo Adolpho Schaefer e Benedito Ximenes de Souza Neves, constitui uma empresa para exploração de construções em geral, principalmente com cimento armado e instalações hidráulicas. Com sede no Recife, na Rua Duque de Caxias, ao lado do prédio do Diário de Pernambuco, a Emílio Odebrecht & Cia. teria participação ativa nas obras realizadas durante o governo de Sérgio Loreto, entre as quais destaca-se a construção do Palácio da Justiça. Os negócios açucareiros haviam alcançado o seu auge, iniciando, a partir dali, um processo de retração.

Se o açúcar declinava em Pernambuco, a Bahia vivia um momento de bonança e crescimento, pois seus principais produtos de exportação, o cacau e o fumo, estavam em alta no mercado internacional. O porto de Salvador era o terceiro maior do Brasil, em volume de exportação.

Na década de 20, o cacau e o fumo baianos estavam em alta no mercado internacional 

Não por acaso, a Companhia Construtora de Cimento Armado, a Christiani & Nielsen e a E. Kemnitz & Co. Ltda., Engenheiros e Construtores, já estavam instalados com suas filiais em Salvador. A concorrência não seria fácil. Emílio, atraído pelo surto do cacau, chegou à cidade em 1925, com um bom currículo e uma indispensável equipe de operários qualificados em construção com cimento armado. Naquele ano, a Emílio Odebrecht & Cia. já mantinha filiais, além de na capital baiana, em Blumenau, João Pessoa e Maceió. Gustavo Schaefer e Benedito Neves haviam deixado a sociedade, substituídos pelos engenheiros civis José Cândido de Morais Nascimento e Armando Campelo.

A trajetória do construtor Emílio, da mulher e três filhos, todos pequenos, tomara ali um rumo peculiar. Salvador era uma cidade de 250 mil habitantes. A elite, composta de senhores da terra, atacadistas, banqueiros, plantadores de cacau e remanescentes da aristocracia dos senhores de engenho, possuía valores e tradições diferentes daqueles que vigoravam no lar dos Odebrechts. O trabalho manual era considerado algo de pouco valor e mesmo a engenharia passava por profissão menos nobre, de prestígio bem menor do que medicina ou direito, por exemplo.

Na casa de Emílio não se pensava nem se agia assim. O filho Norberto tinha seis anos quando chegou com a família a Salvador. Ele engraxava seus sapatos, regava o jardim, rachava e estocava lenha, arrumava a própria roupa e só então podia ir brincar. Conversavam em alemão e as cartilhas em que Norberto aprendeu a ler foram encomendadas da Alemanha. Um hóspede da casa, o pastor Otto Arnold, recém-chegado a Salvador, lhe dava aulas que ocupavam as manhãs e incluíam exercícios de caligrafia seguindo o alfabeto gótico.

Emílio, homem fisicamente robusto e tecnicamente preparado, sabia que podia avançar. Tinha um bom capital de obras realizadas em Pernambuco e Alagoas, contatos junto à futura clientela e a recomendação de um trabalho: a ponte sobre o rio Itajaí-Açu feita naquele mesmo ano de 1925, em Indaial, Santa Catarina, e muito apreciada por Victor Konder, Ministro da Viação e Obras Públicas.

A segunda metade dos anos 20, na Bahia, foi justamente chamada de “era da fermentação edificatória” (só para dar uma idéia: em 1924 o Estado tinha apenas 765 km de estradas e, quatro anos depois, 3.431 km). A Emílio Odebrecht & Cia., já em 1926, fez uma ponte sobre o Rio Cachoeira, em Itabuna, a primeira de concreto armado da Bahia. Sua ação, porém, concentrou-se mais na capital. Vieram o Edifício Magalhães, de Magalhães & Cia., em 1928, e, em seguida, o Palácio da Saúde e da Assistência para substituir a antiga construção dos tempos coloniais, que havia sido demolida um pouco antes. Em 1929, ergueram-se duas obras marcantes, uma na capital – a sede da Cia. de Navegação Baiana – e outra na fronteira com Pernambuco, junto ao Rio São Francisco, a Catedral de Petrolina, um templo grandioso no meio do sertão nordestino.

Com o início da Segunda Guerra, o material de construção tornou-se raro e os preços dispararam 

A pernambucana Petrolina só tinha contato com a capital por via fluvial e sua relação mais direta era com a baiana Juazeiro, em frente a ela e ligada por uma balsa. A ponte entre as duas só foi feita muito depois, em 1946. Cimento, ferro e outros materiais chegaram ali com dificuldade, passando por caminhos de barro, em carros de boi ou em barcas que vinham pelo São Francisco. Portanto, erguer a única igreja em estilo gótico do interior brasileiro exigiu de seu construtor um misto de audácia e criatividade. Encomendada pelo Bispado, sob a direção de Dom Malan, a catedral tem uma cúpula de 30 m de vão livre sobre a nave central. O povo da cidade achava que só um milagre poderia impedir sua queda. Assim, quando as escoras foram retiradas e a estrutura começou a estalar por força do retraimento ou expansão dos materiais, os fiéis que assistiam à cena pensavam que não haveria milagre. Começaram a gritar: “Vai cair”. Dom Malan e Emílio Odebrecht estavam sentados bem debaixo da cúpula. Despreocupados, seguros com a solidez da obra, ali almoçaram e passaram o tempo jogando gamão.

Mesmo com uma nova crise econômica rondando, na medida em que diminuía a atividade industrial do Nordeste e crescia a participação paulista, a Emílio Odebrecht & Cia. ganhou diversos contratos na virada da década. Não eram obras públicas as que realizou entre 1930 e 1932, mas estavam ligadas a serviços essenciais para a população, de natureza assistencial e educacional, como o Hospital São Jorge, o Colégio Antônio Vieira, dos jesuítas, e os pavilhões do Liceu Salesiano, todas em Salvador.

Entre 1933 e 1936, a construtora intensificou sua atuação no interior do Estado, particularmente em obras ligadas aos negócios do fumo e do cacau: o edifício da Associação Comercial de Ilhéus, quando a exportação de cacau vivia seu auge, e a fábrica de Charutos Suerdieck, em Maragogipe. Na capital, ergueria a fábrica de Chocolates Behring, os cinemas Aliança e Santo Antônio, a abóbada e o telhado do Mosteiro de São Bento e, em Itaparica, o cais principal da ilha. As marcas da Emílio Odebrecht & Cia. deixadas na Bahia já eram, na época, numerosas e expressivas. No ano de 1936, a empresa tem como sócios o construtor e sua mulher Hertha Odebrecht e se encontra sediada em Salvador, no imponente edifício do jornal A Tarde.

Na segunda metade dos anos 30, a empresa continuou a realizar obras de caráter social, como o Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia (projeto e estruturas) e o Hospital Santa Terezinha (atual Otávio Mangabeira). A construção do edifício da Secretaria de Segurança Pública, para o governo do Estado, contava com um ajudante especial: o jovem Norberto, responsável pela construção das esquadrias, que começava a pôr em prática os conhecimentos de serralheiro adquiridos nas oficinas do pai. No mesmo período, a Emílio Odebrecht e Cia. construiu, entre outros empreendimentos, um novo cinema, o Excelsior, o edifício da Companhia de Seguros Aliança da Bahia, na Cidade Baixa de Salvador, o Hospital da Sagrada Família e, no começo da década de 40, a ponte ferroviária de Mapele-Passagem, com 720 m, para a Estrada de Ferro Leste Brasileiro.

Com o início da Segunda Guerra, o material de construção importado tornou-se raro. Os preços do ferro, cimento, louças e ferragens dispararam. Mas os preços dos contratos já assumidos eram fechados, sem possibilidade de revisão. Isso fez com que muitas empresas do ramo, pressionadas pelos credores, tivessem de fechar suas portas. Emílio Odebrecht não escapou ao problema e preferiu retirar-se dos negócios. Nos primeiros anos da década de 40, ainda estudante, foi o jovem Norberto Odebrecht quem deu andamento às obras contratadas pelo pai, que, em 1941, retornou a Santa Catarina. Pouco antes da formatura de Norberto, como engenheiro civil, em 1943, pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, as obras da Emílio Odebrecht & Cia. estavam concluídas.

Emílio voltaria à Bahia na década seguinte, a convite de Norberto, para assessorar a empresa do filho. Ele torna a freqüentar canteiros de obras, orientar mestres e aprendizes e atuar como calculista em várias obras. Não poderia ser diferente. Ao longo da vida, ele procurou sempre ser um educador, dirigindo para a formação de auxiliares sua maior preocupação de empresário. O “Seu Emílio”, como era chamado, passava noites em sua casa conversando com jovens engenheiros, mestres-de-obras e operários, orientando-os e tirando suas dúvidas. Quando morreu, em 1962, aos 68 anos, todas as sementes que havia plantado em casa e no trabalho já haviam frutificado.

 

(Fonte: http://www.odebrechtonline.com.br/materias/00201-00300/252 – Edição Histórica – Novembro de 2004)

 

 

 

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