Emeric Marcier, pintor romeno de origem judaica que escolheu o Estado de Minas Gerais como refúgio

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Marcier: do surrealismo para as paisagens mineiras

Emeric Marcier (Cluj, 16 de julho de 1916 – Paris, 1° de setembro de 1990), foi um dos melhores pintores do Brasil, pintor romeno de origem judaica que escolheu o Estado de Minas Gerais como refúgio durante a II Guerra Mundial e ambiente para suas obras.

Nascido na Romênia em julho de 1916, e formado na Itália e na França, Marcier fixou residência em Barbacena, depois da Segunda Guerra Mundial.

Toda a sua formação é europeia, mas sua obra não poderia ser mais regional: brasileira e mineira, ela tem a contenção e a limpidez da paisagem de Minas Gerais.

Em 1940, este romeno desembarcou do navio “Conte Grande” trazendo cartas de apresentação para Mário de Andrade, Portinari e José Lins do Rego. Este último íntimo e Marcier servia de intérprete para suas conversas com o escritor católico Georges Bernanos, que também havia trocado a Europa pelo Brasil.

Por intermédio do escritor francês é que Emeric Marcier descobriu Barbacena e as paisagens do interior mineiro. Além das paisagens, sua obra logo se definiu pelos temas religiosos e simbólicos. Pouco depois de sua primeira chegada, na colônia finlandesa de Resende, próximo a Itatiaia (RJ), pintou seu primeiro “Apocalipse”.

Por essa pintura, de segura realização e exacerbada concepção dramática, Marcier denuncia a violência e dá seu testemunho. É o caso também de outra tela, “Garroteado”, de 1974, ano em que foi executado no garrote vil, por ordem de Francisco Franco, o jovem Puig Antich.

Também a inquietação de Marcier levou-o a perambular desde 1968, com estúdios em Roma e Paris, porém, fiel a seus temas e à maneira de trabalhar.

De 1968 a 1971, Marcier dividiu seu tempo entre Paris e Roma e só regressou ao Brasil no fim de 1971. Pintor intimista, mesmo quando reproduziu cenas movimentadas, Marcier encontrou o campo ideal na pesquisa minuciosa do espelho que lhe devolveu a imagem envelhecida, mas nunca cansada, de um homem que conheceu o valor das coisas.

Esse era o olhar de Marcier, com o qual ele percorria a natureza com um encanto incansável, talvez  seja uma das melhores expressões que seu pincel fixou. Sereno, como algumas de suas paisagens, o pintor compreende também aquilo que os críticos chamam de cenas apocalípticas.

Essa mistura de emoção e ascetismo fez o principal da qualidade de Marcier. Não escondeu o encanto que sentia pela explosão da arquitetura barroca e da natureza. Como tudo em sua pintura, essa explosão era contida. Nas cenas religiosas, o sofrimento e o misticismo transpareciam por trás de um rigor que se limitava a contar com exatidão, sem nunca levantar a voz.

Marcier começou sua carreira em Milão em meados da década de 30, quando formou na corrente do surrealismo. Perseguido pelo nazismo, aportou no Brasil em 1940 e se instalou em Barbacena, no interior de Minas Gerais, onde mudou o rumo de sua obra.

Convertido ao catolicismo, buscou inspiração no barroco mineiro e se tornou conhecido pela forma sensível com que explorava o misticismo e as cores de Minas Gerais em seus quadros.

FIDELIDADE – Seu amigo José Lins do Rego, durante quase cinquenta anos, já dizia que Marcier “era dos que perdem sangue pelas dores do mundo.” Que usava as linhas e as cores como instrumentos para meditação.”

Marcier morreu aos 74 anos, dia 1° de setembro de 1990, em Paris, de enfarte. Marcier foi enterrado em Barbacena, no dia 6 de setembro.

(Fonte: Veja, 12 de setembro de 1990 –- ANO 23 – N° 36 – Edição 1147 -– Datas –- Pág; 82)

(Fonte: Veja, 2 de julho de 1980 – Edição 617 – ARTE/ Por Ferreira Gullar – Pág: 111/112)

(Fonte: Veja, 10 de novembro de 1971 – Edição 166 – ARTE – Pág: 100)

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