Eleonore Koch, além de ter sido aluna de Alfredo Volpi, estudou com outros grandes nomes da arte brasileira (pintura com Yolanda Mohaly, escultura com Bruno Giorgi)

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A pintora Eleonore Koch, foi única discípula de Volpi

A artista plástica de origem alemã, chegou ao Brasil em 1936

 

 

 

Eleonore Koch, pintora discípula de Alfredo Volpi lançou livro com sua obra – (Trëma / Gabo Morales)

 

 

Eleonore Koch (Berlim, Alemanha, 2 de abril de 1926 – São Paulo, 1° de agosto de 2018), artista plástica, discípula de Alfredo Volpi.

 

 

Koch foi uma discípula do artista Alfredo Volpi, na década de 1950. Com ele, aprendeu a técnica da têmpera.

 

 

Única aluna do pintor Alfredo Volpi, a pintora de origem alemã Eleonore Koch, além de ter sido aluna de Volpi, ela estudou com outros grandes nomes da arte brasileira “pintura com Yolanda Mohaly (1909-1978), escultura com Bruno Giorgi (1905-1993)”. Foi secretária do crítico e cientista Mário Schenberg (1914-1990) e protegida do crítico Theon Spanudis (1915-1986), que a apresentou a Volpi.

 

 

Algumas telas suas estão em exibição na mostra coletiva Mínimo, Múltiplo, Comum, em cartaz na Estação Pinacoteca.

 

 

Participou de duas edições da Bienal de São Paulo (1959 e 1967) antes de fixar residência em Londres, em 1968, onde recebeu apoio de um grande colecionador inglês. De volta ao Brasil, ela conquistou um  merecido lugar nas coleções dos volpistas e teve seu talento reconhecido pelo editor Charles Cosac, que a ela dedicou um livro (o único de sua carreira).

 

 

 

Eleonore foi discípula do artista Alfredo Volpi (1896-1988), nos anos 1950. Com o artista, Eleonore aprendeu a técnica da têmpera.

 

 

“Não sei se posso dizer que fui sua aluna, porque Volpi nunca foi um professor”, lembra Eleonore Koch. Ainda assim, de 1953 a 1956, a então garota de 20 e poucos anos saía da USP, onde trabalhava, rumo ao ateliê de Volpi, no Sumaré, em São Paulo. Naquelas tardes de sábado, abria seu cavalete, ajeitava a tela e pintava — com o mestre, quase sempre em silêncio, por perto.

 

Foram aqueles dias, os melhores de sua vida, como ela diz hoje, aos 87 anos, que fizeram de Eleonore a única discípula de Volpi. Com ele, Lore, como é conhecida, aprendeu a técnica da têmpera e pintou mais de cem telas com formas mínimas sobre fundos coloridos em que se veem os rastros das pinceladas. Ainda hoje, ela guarda os pigmentos que usou durante toda a vida — incluindo alguns feitos por Volpi. Mas, embora tenha participado de quatro edições da Bienal de São Paulo nos anos 1960, tenha exposto em Londres na década seguinte (e produzido lá por quase dez anos), só agora a artista, pouco conhecida até mesmo entre seus colegas, ganha um livro dedicado à sua obra, “Lore Koch” (Cosac Naify).

 

 

 

Ainda assim, a publicação nasceu do desejo da própria artista. Com parte de sua obra distribuída entre colecionadores brasileiros e parte em sua casa, ela conta que procurou a Cosac, que já lançou livros de artistas como Iberê Camargo, Maria Martins, Mira Schendel (1919-1988) e Tunga. Recebeu o dono da editora, Charles Cosac, em sua casa, no Ibirapuera, e, enfim, viu suas pinturas serem reunidas no título (de 264 páginas) que chega às livrarias na semana que vem. Nele, o crítico Paulo Venancio Filho descreve sua pintura como um “espaço às vezes quase onírico, sonho, suspense, que a ausência da figura humana acentua, impõe ao espectador modos da observação mais demorados, em suspenso, fora do tempo, encantatórios”. Há ainda quase 50 páginas só de cronologia — isso porque Lore tem boas histórias, para além das silenciosas aulas com Alfredo Volpi (1896-1988).

 

O próprio encontro com o pintor é uma delas. Ao desembarcar em Santos, de uma viagem a Paris, no início dos anos 1950, Lore conheceu o crítico e psicanalista Theon Spanudis. Ao mostrar a ele suas pinturas, ouviu que sua obra parecia confusa. Lore devia ter aulas com algum artista.

 

 

 

— Ele me perguntou com quem eu gostaria de estudar. Não sei como, talvez tenha sido Deus, mas eu disse na hora: “Volpi!”. E o Spanudis prometeu falar com ele, que rapidamente respondeu que não queria aluno algum. Aí tomei coragem e fui eu mesma falar com o Volpi. Ele deve ter me achado muito decidida e aceitou. Fiquei frequentando o ateliê, sem faltar. Era muito ligada a ele, completamente dependente, influenciada mesmo. Volpi era um Deus para mim — lembra.

Mas o artista nunca foi de muitas palavras e sequer trabalhava ao lado de Lore.

— Ele apenas olhava o que eu fazia, mas não pintava na minha frente. Nunca. E falava pouco. Jamais vou esquecer que uma vez ele me perguntou, apontando para uma parte da tela: “Que cor você vai botar aí?” Respondi: “Amarelo”. Então, ele disse: “Você vai botar o amarelo e vai tirar”. Por desaforo, experimentei todos os amarelos que existiam. Mas nenhum cabia. Ele tinha razão.

Muitos anos depois, quando já havia se mudado de São Paulo para o Rio, Lore seguia mostrando suas telas a Volpi. Ele comprou algumas, segundo a artista, o que a fazia acreditar que, portanto, eram boas. Mas, de modo geral, a imigrante alemã vendia pouco e sempre precisou de outros trabalhos para se sustentar.

 

 

Filha da psicanalista Adelheid Koch e do advogado Ernest Koch, Lore chegou ao Brasil aos 10 anos, fugindo do nazismo. Sua mãe havia sido convidada para dar aulas em São Paulo. As duas filhas (Eleonore, a caçula, e Esther) foram logo matriculadas na escola, mas “aquilo foi meio rídiculo”, ela diz, já que ambas não falavam português. Foram dois anos para entender o idioma e acompanhar os estudos. Na adolescência, Lore tentou estudar Belas Artes. Não gostou. Seu pai lhe disse, então, que fosse trabalhar, e ela se tornou vendedora numa livraria. Pouco depois, vendo que o apreço da garota pelas artes era sério, o pai deixou que fosse a Paris estudar escultura.

 

 

— Na volta, queria provar para meus pais que podia trabalhar com pintura. Resultado: fui ser assistente de cenografia na TV Tupi. Mas fiz tudo errado na televisão, não era boa e fui demitida. Uma vergonha, mas foi isso mesmo — conta, rindo.

 

 

Foi então que Lore cruzou com Geraldo de Barros, que tinha conhecido em Paris. E veio dele o conselho que ela diz ter carregado pela vida:

— Ele me disse: “Se você não quer ser criticada na pintura, ganhe a vida com uma coisa totalmente diferente. Assim, você fica livre”. Achei isso muito interessante e consegui um lugar como funcionária da USP. Trabalhei no serviço de documentação da universidade de 1952 até os anos 1960. Cuidava das fotografias das bienais e do barroco brasileiro. Para mim, era ver e aprender.

 

 

Nesse tempo, enquanto estudava com Volpi, Lore enviou, seguidas vezes, suas telas para a Bienal de São Paulo — e, seguidas vezes, foi recusada. Insistiu desde a primeira edição, em 1951. Foi aceita em 1959. Pelas muitas recusas, diz ter sofrido — e fez anos de análise, motivo pelo qual, aliás, mudou-se para o Rio em 1960 (em São Paulo, não conseguia um analista que falasse alemão e que não fosse amigo de sua mãe).

 

 

No aniversário de 40 anos, em 1966, a artista ganhou um presente (ou outro acaso que lhe mudaria a trajetória). Uma de suas tias lhe enviou passagens para uma viagem à Grécia. Lore levou consigo algumas telas e, na volta, passou por Londres. Seus trabalhos foram recusados por diversas galerias até que, quase de saída da Mercury Gallery, foi aceita para uma exposição no local. Lá, conheceu Alistair McAlpine, endinheirado colecionador que lhe ofereceu o seguinte contrato: Lore pintava, ele comprava. Foi assim por sete anos.

 

 

— Ele vinha umas três vezes por ano ao ateliê. Era tão famoso, era uma coisa tão louca que, no máximo, eu podia ligar para a secretária dele. Ele então ia lá e escolhia os quadros — lembra, ainda hoje um tanto impressionada com o contrato. — Depois de sete anos, eu disse a ele: “Isso não pode durar para sempre, certo?”. E ele concordou.

 

Tradução de criminosos para a polícia

 

Tem início aí outro personagem curioso na vida da discípula de Volpi: a Scotland Yard. A polícia de Londres procurava uma tradutora de língua portuguesa para colher depoimentos de criminosos estrangeiros. Lore, então com 50 anos, abraçou o emprego, ao qual se dedicou por 13 anos.

 

— Isso não atrapalhou em nada a pintura. Era um trabalho incrível, você se comprometia em ir às delegacias do seu bairro ou a todas. Eu aceitei ir a todas. Trabalhei até no interior, no porto, ouvi muitas histórias e tinha que estar sempre uma frase atrás do bandido. Eu era rápida, tinha um nome nessa área. Estava com 63 anos quando pensei: “Não vou ser boa nisso para sempre. Não quero que eles digam que um dia eu fui melhor”.

 

 

Era 1989, e Lore escolheu voltar ao Brasil. O retorno a reaproximou das paisagens e das cores. Os parques, as naturezas-mortas e as formas mínimas, como os arcos do Jardim Botânico, que pintou chegaram a ser expostos na década e 1990 e, menos, nos anos 2000. Eleonore Koch parou de pintar em 2002, após uma cirurgia no quadril, mas, a essa altura, já tinha telas espalhadas pelo país e, como escreve o crítico de arte Paulo Venancio Filho no livro, “o que antes poderia ser enganosamente reduzido a uma sensibilidade naïf” já havia ganhado “uma espessura pictórica de grande alcance”.

 

 

— Talvez eu tenha sido reconhecida tardiamente, sim — afirma a artista. — Acho até que fui injusta com as pessoas que apreciavam minhas pinturas. Achava que eram poucas, que não eram boas… Eu não entrava na Bienal e levei isso muito a sério… Sabe, eu tentava sempre buscar um equilíbrio. E me dava tão bem com os artistas que me sentia aceita como pessoa e pensava: “Bom, eles vão ver minha pintura mais tarde”.

 

 

Nos anos 1970, ela vai a Inglaterra e passa a pintar paisagens. Lá, Eleonore conheceu o trabalho do pintor inglês David Hockney, conhecido pela importante representação na pop art.

 

Eleonore Koch morreu em 1° de agosto de 2018, aos 92 anos, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

 

Eleonore, ou Lore, como era conhecida entre amigos, estava doente há alguns anos e já não pintava por causa de um problema de visão. Muitos colecionadores de suas telas são também grandes colecionadores de Volpi, com quem aprendeu a técnica da têmpera, que utilizou em quase todos os seus quadros.

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08 – FOLHAPRESS / ILUSTRADA – 1° de agosto 2018)

(Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura – CULTURA / POR AUDREY FURLANETO – 

(Fonte: https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes- ARTES / CULTURA / Por Antonio Gonçalves Filho, O Estado de S. Paulo 01 Agosto 2018)

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