Arthur Schlesinger Jr., historiador premiado com o Pulitzer e confidente do presidente John Kennedy

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HISTORIADOR AMERICANO ARTHUR SCHLESINGER

 

 

Arthur Schlesinger

Schlesinger Jr. trabalhou com John Kennedy e escreveu série sobre governo Roosevelt (Foto: Kathy Willens – 19.ago.2004/Associated Press)

 

Arthur Schlesinger, historiador do poder

Arthur Schlesinger Jr. (Columbus, Ohio, 15 de outubro de 1917 – Manhattan , 28 de fevereiro de 2007), historiador premiado com o Pulitzer, incansável ativista liberal e confidente do presidente John Kennedy.

Historiador cujos mais de 20 livros moldaram, ao longo de duas gerações, as discussões sobre o passado dos Estados Unidos e que foi, ele próprio, um liberal declarado e provocativo, tendo mais notadamente trabalhado para a Casa Branca de Kennedy, foi duas vezes premiado com o Pulitzer e o National Book Award.

Duas vezes premiado com o Pulitzer e o National Book Award, Schlesinger tinha trânsito livre na administração Kennedy e era um historiador social aclamado que estudou os legados dos presidentes Franklin Roosevelt, Andrew Jackson, Kennedy e do irmão deste, Robert Kennedy.

Schlesinger estudou exaustivamente as administrações de dois presidentes destacados, Andrew Jackson e Franklin Delano Roosevelt, contra um vasto pano de fundo formado por rivalidades regionais e econômicas. Ele argumentou que indivíduos como Jackson e Roosevelt são capazes de moldar a história.

As anotações que Schlesinger fez para o presidente John F. Kennedy usar para redigir sua própria história serviram de base, após o assassinato do presidente, para seu próprio livro “A Thousand Days: John F. Kennedy in the White House” (Mil dias – John F. Kennedy na Casa Branca), vencedor tanto de um Pulitzer quanto do National Book Award em 1966.

Ele usou as anotações que fez enquanto foi assistente especial do presidente para escrever sobre a administração Kennedy em “A Thousand Days: John F. Kennedy in the White House”, que recebeu um Pulitzer e o National Book Award em 1966. Ganhou um Pulitzer em 1946 por “The Age of Jackson” e um National Book Award em 1979 por “Robert Kennedy and His Times.”

“Arthur foi assessor leal do presidente Kennedy e ótimo amigo meu e de todos da família Kennedy”, disse o senador Edward Kennedy em comunicado à imprensa.

“Por causa dele, gerações puderam ter uma compreensão inestimável da história americana.”

Como ativista político, Schlesinger ficou conhecido como líder dos liberais anticomunistas na era macartista. Em 1947 ele foi um dos fundadores da organização Americanos pela Ação Democrática, ao lado da ex-primeira-dama Eleanor Roosevelt, do economista John Kenneth Galbraith e do futuro vice-presidente Hubert Humphrey.

O grupo de lobby liberal via o comunismo como ameaça à América, se posicionou contra a Guerra do Vietnã e apoiou o movimento pelos direitos civis.

Schlesinger defendeu, sem sucesso, o impeachment do presidente Richard Nixon, envolvido na guerra impopular do Vietnã e no escândalo de Watergate, e combateu, novamente sem sucesso, o processo de impeachment do presidente Bill Clinton após seu caso extraconjugal com a estagiária Monica Lewinsky.

Ele incomodou a muitos poucos dias após a invasão liderada pelos EUA do Iraque, em março de 2003, quando comparou o presidente George W. Bush a Saddam Hussein.

Em seus mais de 20 livros, Schlesinger escreveu sobre a cultura e a política americanas e ajudou a definir o liberalismo americano durante a Guerra Fria.

Ele se formou no segundo grau aos 15 anos e se diplomou em Harvard com a distinção “magna cum laude.”

Seu livro de 1978 sobre o irmão do presidente, “Robert Kennedy and His Times” (Robert Kennedy e seu tempo), saudou Robert Kennedy como o homem mais politicamente criativo de seu tempo, mas reconheceu que ele exerceu um papel maior na tentativa de derrubar o presidente cubano, Fidel Castro, do que Schlesinger tinha reconhecido em “A Thousand Days”.

Schlesinger trabalhou nas campanhas eleitorais dos dois irmãos Kennedy, e alguns críticos sugeriram que ele teria tido dificuldade em separar a história de seus próprios sentimentos. Gore Vidal descreveu “A Thousand Days” como romance político, e muitos observadores comentaram que o livro deixou de mencionar os deslizes sexuais do presidente. Outros lamentaram o fato de o autor ter revelado tanto, especialmente por ele ter tomado a iniciativa incomum de afirmar que o presidente estava insatisfeito com seu secretário de Estado, Dean Rusk.

Schlesinger enxergava a vida como um passeio pela história. Ele escreveu que não podia caminhar pela Quinta Avenida sem se perguntar como teriam parecido a rua e as pessoas que andavam nela, cem anos antes.

Arthur Schlesinger era conhecido por sempre usar uma gravata-borboleta com bolinhas, por seu humor ácido e seu andar magnificamente animado. Entre maratonas de escrever até 5.000 palavras por dia, ele era presença constante nos salões literários de Georgetown, numa época em que Washington era mais elitista. Durante toda sua vida ele foi aficionado dos martinis perfeitamente misturados e foi presença constante no mundo social de Nova York, quer fosse nas célebres festas de Truman Capote ou acompanhando Jacqueline Kennedy ao cinema.

Na era do macartismo e depois dela, ele liderou os liberais anticomunistas e foi partidário ferrenho das vozes que pediram o impeachment de Richard M. Nixon, que nunca se concretizou, tendo criticado com igual paixão o processo de impeachment do presidente Bill Clinton, quando aconteceu. Em seu último livro, “War and the American Presidency” (A guerra e a presidência americana), publicado em 2004, Schlesinger contestou os fundamentos da política externa do presidente Bush, descrevendo a invasão do Iraque e o que se seguiu a ela como “confusão medonha”. Disse que os limites impostos pelo presidente às liberdades civis teriam o mesmo resultado que ações semelhantes adotadas ao longo da história americana. “Nós nos odiamos na manhã seguinte”, escreveu.

Por mais que fosse liberal, Schlesinger não era escravo daquilo que acabaria por ser conhecido como a correção política. Ele defendia com vigor o caldeirão de culturas americano antigo contra os proponentes do multiculturalismo _a ideia de que as etnias devem conservar suas identidades distintas e até mesmo celebrá-las. Suscitou inúmeras críticas por comparar o afrocentrismo à Ku Klux Klan.

A história e sua narrativa estavam literalmente no sangue de Schlesinger. Um de seus antepassados distintos foi George Bancroft, que ao longo de 40 anos, começando em 1834, escreveu a monumental “History of the United States from the Discovery of the Continent” (História dos Estados Unidos a partir da descoberta do continente), em 12 volumes. Seu pai, Arthur M. Schlesinger, foi um historiador imensamente influente, pioneiro em fazer da história social uma disciplina genuína.

Na adolescência, o filho mudou seu nome do meio de Bancroft para Meier, o nome do meio de seu pai, e começou a acrescentar o “Jr.” a seu nome. Mais tarde, adaptaria e desenvolveria muitas das ideias de seu pai sobre a história, incluindo a teoria de que a história se move em ciclos, alternando períodos liberais e conservadores. Seu pai lhe deu a ideia para sua tese de Harvard, aprovada com honra.

Entretanto, apesar de toda a tradição que encarnava, Arthur Schlesinger, filho, possuía um viés instigante de informalidade. Enquanto trabalhava na Casa Branca de Kennedy, encontrou tempo para escrever resenhas de filmes para a revista “Show”. Ele reconhecia seus próprios erros. Um deles, falou, foi ter deixado de mencionar o tratamento brutal dado pelo presidente Jackson aos índios em seu livro premiado com o Pulitzer “The Age of Jackson”. A obra foi publicada quando Schlesinger tinha 27 anos, e ainda é leitura padrão.

O livro rejeitou as interpretações anteriores que vinculavam a ascensão da democracia jacksoniana à expansão para o oeste. Em lugar disso, atribuía importância maior a uma coalizão de intelectuais e trabalhadores no nordeste do país que estavam determinados a refrear o poder crescente das empresas. “The Age of Jackson” vendeu mais de 90 mil exemplares em seu primeiro ano de publicação e valeu a Schlesinger o Prêmio Pulitzer de história em 1946.

Sua história em vários volumes do New Deal, “The Age of Roosevelt”, começou em 1957 com “The Crisis of the Old Order, 1919-1933” (A crise da ordem antiga, 1919-1933), continuou em 1959 com “The Coming of the New Deal” (A chegada do New Deal) e culminou em 1960 com “The Politics of Upheaval” (A política da convulsão). O primeiro volume recebeu dois prêmios de prestígio por escritos históricos, o prêmio Francis Parkman da Sociedade de Historiadores Americanos e o prêmio Frederic Bancroft da Universidade Columbia. O livro foi elogiado por captar a interação entre ideias e ação, enfatizando tensões semelhantes às que Schlesinger descrevera na era de Jackson. “Este livro claramente lança um dos empreendimentos históricos importantes de nosso tempo”, escreveu o historiador C. Vann Woodward (1908-1999) na “The Saturday Review”.

Schlesinger nunca deixou de parecer o aluno mais inteligente da classe. Ele não possuía diplomas de nível avançado, mas sua produção acadêmica, sem falar em seus inúmeros artigos escritos para publicações populares como “TV Guide” e “Ladies’ Home Journal”, superava de longe a de outros que os possuíam. Mesmo quando criança ele se sentia no dever de conduzir conversas, para não dizer monopolizá-las.

Um artigo publicado na revista “The New York Times” em 1965 mencionou sua mãe pedindo a ele que ficasse quieto para que ela conseguisse concluir seu argumento. “Mãe, como posso ficar quieto se você insiste em fazer afirmações que não são factualmente exatas”, respondeu o garoto, então com 11 ou 12 anos.

Arthur Bancroft Schlesinger nasceu em Columbus, Ohio, em 15 de outubro de 1917, o mais velho dos dois filhos de Arthur Meier Schlesinger e Elizabeth Bancroft. O jovem Schlesinger escreveu em tom de aprovação que o historiador Bancroft, antepassado de sua mãe, foi “ghostwriter” presidencial e bon vivant, além de ser descrito como o pai da história americana.

Era seu pai que o “jovem Arthur”, como era conhecido, idolatrava. O argumento de Arthur Schlesinger, pai, de que os trabalhadores urbanos estiveram por trás de boa parte da convulsão social da era de Jackson foi retomado e ampliado com brilhantismo por seu filho.

No primeiro volume de suas memórias, “A Life in the Twentieth Century: Innocent Beginnings, 1917-1950” (2000) (Uma vida no século 21: Primórdios Inocentes, 1917-1950), Schlesinger, filho, descreveu sua infância como “ensolarada”. Ele passou sua primeira infância em Iowa City, onde seu pai era membro do corpo docente da Universidade do Iowa. A família se mudou para Cambridge, Massachusetts, em 1924, quando seu pai se tornou professor em Harvard. Mais tarde, Arthur pai tornou-se diretor do departamento de história de Harvard.

O jovem Arthur primeiro estudou em escolas públicas de Cambridge, mas seus pais se tornaram descrentes do ensino público em seu segundo ano de escola, quando um professor de educação cívica disse à classe de Arthur que os habitantes da Albânia eram conhecidos como albinos e tinham cabelos brancos e olhos rosados. Arthur Jr. foi matriculado na Academia Phillips Exeter, em New Hampshire.

Ele se formou na escola secundária aos 15 anos, mas a família achou que ele era jovem demais para ir a Harvard. Assim, enquanto seu pai gozava uma licença sabática, a família inteira fez uma longa viagem em volta do mundo. Em seguida, Schlesinger ingressou em Harvard e formou-se com honra “summa cum laude” em 1938.

Desde sua infância ele vivia na companhia dos amigos intelectualmente poderosos de seu pai, desde o humorista James Thurber (1894-1961) até o escritor John Dos Passos. Aos 14 anos de idade, conheceu H.L. Mencken, com quem iria manter uma correspondência mais tarde. Em Harvard, Schlesinger conheceu figuras intelectuais de destaque como o historiador Samuel Eliot Morison (1887-1976).

Mais tarde, Schlesinger se tornou parte do círculo poderoso que cercava o jornalista Joseph Alsop (1910-1989), um grupo que incluía Philip Graham, publisher do “The Washington Post”, o ex-governador de Nova York W. Averill Harriman e o advogado Clark Clifford. Schlesinger conheceu John Kennedy, na época senador, numa “soirée” na casa de Alsop. Sua impressão: “Kennedy me pareceu muito sincero e não destituído de inteligência, mas mais ou menos conservador”.

Em parte devido a sua apreciação da história, Schlesinger se dava conta plenamente de sua boa sorte. “Vivi em tempos interessantes e tive a sorte de conhecer algumas pessoas interessantes”, escreveu.

Uma parte muito grande de sua sorte foi seu pai, que orientou boa parte de suas primeiras pesquisas e chegou a sugerir o tema de sua tese que lhe valeu menção com honra: Orestes A. Brownson, jornalista, romancista e teólogo do século 19. A tese foi publicada em 1938 pela Little, Brown como “Orestes A. Brownson: A Pilgrim’s Progress”. Henry Steele Commager, na “The New York Times Book Review”, disse que o livro introduziu “um talento novo e distinto no campo do retrato histórico”.

Schlesinger passou um ano no Peterhouse College da Universidade Cambridge, numa “fellowship”, e retornou a Harvard, onde tinha sido selecionado para ser um dos integrantes do primeiro grupo de “junior fellows”. A pesquisa deles foi financiada por três anos, mas eles não foram autorizados a fazer seus doutorados. A intenção era mantê-los fora da rotina acadêmica habitual.

Enquanto era “fellow”, Schlesinger se casou com Marian Cannon, a quem conhecera durante seu primeiro ano em Harvard. A irmã dela era casada com o eminente sinólogo John King Fairbank. Os Schlesinger tiveram gêmeos, Stephen e Katharine, e outros dois filhos, Christina e Andrew. Katharine morreu em 2004. O casal se divorciou em 1970.

Schlesinger se casou com Alexandra Emmet no ano seguinte. Eles tiveram um filho, Robert, assim batizado em homenagem a Robert F. Kennedy. Emmet já tinha um filho de um casamento anterior, Peter Allan. Schlesinger deixou vivos os três, além de sua primeira mulher e os três filhos sobreviventes de seu primeiro casamento.

Como “fellow”, Schlesinger conseguia escrever entre 4.000 e 5.000 palavras por dia da obra sobre Jackson, enquanto seus gêmeos de 1 ano de idade brincavam em volta de sua mesa. Seu trabalho sobre o livro foi interrompido pela 2a Guerra Mundial. Sua vista deficiente o impediu de cumprir o serviço militar, então ele obteve um trabalho escrevendo para o Escritório de Informação sobre a Guerra. Uma das tarefas das quais foi encarregado foi redigir uma mensagem do presidente Roosevelt à organização Filhas da Revolução Americana. Schlesinger duvidava que o presidente chegasse a ver tais obras-primas.

Em seguida ele trabalhou no Escritório de Planejamento Estratégico, precursor da Agência Central de Inteligência (CIA), em Washington, Londres e Paris. Imediatamente após a guerra, Schlesinger foi a Washington trabalhar como jornalista freelancer da “Fortune” e outras revistas. Após 15 meses, em 1946, aceitou um cargo de professor associado em Harvard. Ele disse que lecionar lhe provocava tanto nervosismo que vomitava antes de cada aula; com o tempo, porém, tornou-se tão hábil na profissão que seu curso História 169 passou a ser o mais procurado do departamento.

Schlesinger começou a moldar uma identidade política própria, a de alguém comprometido com as metas sociais do New Deal e decididamente anticomunista. Em 1947 ele foi um dos fundadores da organização Americanos pela Ação Democrática, o mais conhecido grupo de pressão liberal.

Em 1949 Schlesinger consolidou sua posição de porta-voz do liberalismo do pós-guerra com seu livro “The Vital Center: The Politics of Freedom” (O centro vital – a política da liberdade). Inspirado no teólogo protestante Reinhold Niebuhr (1892 – 1971), argumentou que o liberalismo pragmático e reformista, de âmbito limitado, era o melhor pelo qual o homem pode esperar em termos políticos.

“Sempre haverá problemas a nos atormentar”, escreveu, “porque os problemas de importância maior são insolúveis _essa é a razão de sua importância. O bem vem da luta constante para procurar resolvê-los, e não da esperança vã de sua solução.”

Começando por redigir discursos para Adlai Stevenson em suas duas campanhas presidenciais, Schlesinger tornou-se participante na política democrata de alto nível. Embora o senador Barry Goldwater tivesse tentado fazer com que ele fosse demitido da Casa Branca de Kennedy devido a seu viés liberal, um dos colegas do senador fez uma espécie de elogio a Schlesinger. Conforme citado anonimamente em “The Making of the President, 1964”, de Theodore H. White, o associado de Goldwater teria dito: “Uma coisa pelo menos se pode dizer em favor de um f.d.p. liberal como Schlesinger _quando seus candidatos entram em ação, ele está ali presente, escrevendo discursos para eles”.

E ele também estava presente, escrevendo livros. Uma de suas maiores contribuições para a campanha de Kennedy foi um livro, “Kennedy or Nixon: Does It Make Any Difference?” (Kennedy ou Nixon – Isso faz alguma diferença?). O livro concluiu que, sob Nixon, o país “mergulharia na mediocridade, hipocrisia, corrupção e tédio”. Já Kennedy representa a elevação para “o esplendor de nossos ideais”.

Em 9 de janeiro de 1961, uma tarde cinzenta e fria, o presidente eleito Kennedy foi à casa de Schlesinger em Irving Street, em Cambridge. Convidou o professor a ser assistente especial na Casa Branca. Schlesinger respondeu: “Se o sr. acha que posso ajudar, eu gostaria de ir”.

Em “Johnny, We Hardly Knew Ye” (1970) (Johnny, mal o conhecíamos), Kenneth P. O’Donnell e David F. Powers sugerem que o novo presidente identificou certo grau de risco político na contratação de um liberal tão declarado. Ele decidiu manter a indicação escondida até que outro liberal, Chester Bowles, foi confirmado no cargo de subsecretário de Estado.

Os autores, ambos assessores de Kennedy, disseram que perguntaram a Kennedy se ele contratara Schlesinger para que este escrevesse a história oficial da administração. Kennedy respondeu que a escreveria ele mesmo. “Mas Arthur provavelmente vai escrever sua própria história”, disse o presidente, “e será melhor para nós se ele estiver dentro da Casa Branca, vendo de perto o que se passa, em lugar de ler sobre isso no ‘The New York Times’ ou na revista ‘Time’.”

Mais tarde, a “Time” descreveria o papel de Schlesinger na administração Kennedy como o de uma ponte com a intelligentsia, e também com a ala Adlai Stevenson-Eleanor Roosevelt do Partido Democrata. Se o presidente queria encontrar o intelectual Isaiah Berlin ou o compositor Gian Carlo Menotti (1911-2007), Schlesinger organizava o encontro. Consta que o presidente curtia bate-papos informais com Schlesinger nos almoços semanas deles, embora raramente assistisse aos seminários intelectuais que Robert Kennedy pedia a Schlesinger para organizar.

Arthur Schlesinger distinguiu-se já no início da administração Kennedy por ser uma das poucas vozes na Casa Branca a questionar a invasão de Cuba planejada pela administração Eisenhower. Mas depois se converteu em seguidor leal de Kennedy, contando a repórteres uma história enganosa segundo a qual os exilados cubanos que desembarcaram na Baía dos Porcos não teriam sido em número maior do que 400, quando, na realidade, seu número era maior de 1.400.

Numa discussão posterior desse ato malfadado, o assessor de segurança nacional McGeorge Bundy lembrou ao presidente que Schlesinger tinha escrito um memorando expressando sua oposição à invasão. “Isso vai ficar bonito para ele quando ele escrever seu livro sobre minha administração”, respondeu Kennedy. “Ou, então, será melhor ele não divulgar esse memorando enquanto eu estiver vivo.”

Após o assassinato de Kennedy, o presidente Lyndon B. Johnson manteve Schlesinger na Casa Branca, mas não lhe deu virtualmente nada para fazer. Schlesinger renunciou ao cargo em janeiro de 1964. Pouco depois, escreveu um artigo dizendo que John Kennedy não quisera realmente Johnson como seu candidato a vice, mas o escolhera por razões políticas.

Schlesinger, que pediu demissão de Harvard quando sua licença para ausentar-se da universidade chegou ao fim, em 1962, passou a trabalhar sobre seu livro sobre Kennedy e, nos primeiros meses de 1966, trabalhou no Instituto de Estudos Avançados em Princeton, Nova Jersey. Em seguida, ingressou no corpo docente da City University de Nova York, ocupando a cadeira Albert Schweitzer (1875-1965) de Humanidades.

Ele se mudou para Manhattan, onde continuou a viver até sua morte. Sua visibilidade era grande _desde as páginas sociais até a coluna que escrevia na página de editoriais do “The Wall Street Journal”, passando por participações na televisão. Ele continuou a proteger a imagem de Kennedy, apesar do fluxo contínuo de revelações que a maculavam. Em 1996, revoltou conservadores ao selecionar historiadores para uma pesquisa que concluiu que Kennedy e Johnson tinham sido presidentes “de nível médio alto” e que Ronald Reagan tinha sido de “nível médio baixo”.

Schlesinger escreveu constantemente, incluindo o livro e os artigos em que criticou a guerra do Iraque. Em “The Imperial Presidency” (1973) (A presidência imperial), argumentou que Richard M. Nixon tinha ampliado os poderes presidenciais a tal ponto que precisava sofrer impeachment. Numa resenha do livro, Jeane Kirkpatrick, ex-embaixadora dos EUA à ONU no governo Reagan, retrucou que Schlesinger empregara pesos e medidas diferentes para avaliar os presidentes democratas.

Em 1978 Schlesinger teve um triunfo literário e comercial com “Robert Kennedy and His Times”. Na “The New York Times Book Review”, Garry Wills, que no passado chegara a chamar Schlesinger de “cortesão de Kennedy”, descreveu o livro como “erudito e completo”. O livro valeu a Schlesinger um prêmio National Book Award. Nele, Schlesinger comparou os irmãos: “John Kennedy foi um realista brilhantemente disfarçado de romântico; Robert Kennedy, um romântico obstinadamente disfarçado de realista”.

Schlesinger esperava que Robert fosse incentivar o surgimento de um novo espírito de liberalismo, mas decepcionou-se quando Jimmy Carter ascendeu à liderança do partido, em 1976. Ele considerava Carter lamentavelmente conservador e não votou por ele em nenhuma de suas campanhas. Trabalhou para o senador Edward M. Kennedy em sua breve campanha presidencial em 1980.

Em 1991, Schlesinger provocou uma reação negativa com “The Disuniting of America” (A desunião da América), um ataque à “sociedade multicultural” emergente no qual disse que os afrocentristas afirmavam sua superioridade e exigiam que sua identidade separada fosse reconhecida por escolas e outras instituições.

O romancista Ishmael Reed criticou Schlesinger, tachando-o de “seguidor de David Duke”, o ex-líder da Ku Klux Klan. O professor de Harvard Henry Louis Gates Jr. ironizou os argumentos de Schlesinger, descrevendo-os como defesa de “um rosto cultural branco”. Schlesinger ficou espantado. Ele se descreveu frequentemente como defensor não modernizado do New Deal cujo pensamento básico mudara pouco em meio século.

“Que diabos”, respondeu quando questionado pelo “The Washington Post” sobre sua crítica ao multiculturalismo. “É preciso dizer o que se pensa. Também isto vai ficar para trás.”

Schlesinger continuou a escrever artigos e assinar petições, e em 2006 recebeu um prêmio da Galeria Nacional de Retratos por serviços prestados à presidência. Sua saúde debilitada o impediu de comparecer ao funeral de seu bom amigo John Kenneth Galbraith em maio do ano passado. Seu filho Stephen leu algumas palavras que Schlesinger escrevera sobre Galbraith: “Por baixo de sua alegria em travar combate, ele era um fazedor do bem na calada da noite”.

Teve seis filhos, sendo quatro de seu primeiro casamento, com a escritora Marian Cannon, e dois do segundo, com Alexandra Emmet.

Arthur M. Schlesinger Jr. morreu em 28 de fevereiro de 2007, aos 89 anos, vítima de um ataque cardíaco em Manhattan, Nova York. Schlesinger morreu no hospital New York Downtown, depois de sofrer um infarto num restaurante.

“Ele se dispõe a argumentar que a busca pela compreensão do passado não é simplesmente um exercício estético, mas um caminho para o entendimento de nosso próprio tempo”, escreveu o historiador Alan Brinkley.

(Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo – MUNDO/ Por Mark Egan – NOVA YORK (Reuters) – 01/03/2007)
(Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2007/03 – 1° de março, 2007)

(Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo – FOLHA DE S.PAULO – MUNDO / TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN – São Paulo, 02 de março de 2007)

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