“A palavra continua sendo a única forma suprema de expressão”.

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Rebelo: o amor total pela palavra

Rebelo (1907-1973), o escritor carioca Marques Rebelo é o pseudônimo de Edy Dias da Cruz. Foi no Rio de Janeiro, onde nasceu e se inspirou, ante uma significativa multidão de literatos mudos e inconsoláveis. “O pior é o silêncio”, disse simplesmente um deles. Assim, com uma frase, foi pronunciado o discurso fúnebre que Marques Rebelo pedira que não fosse feito. Surgia também o primeiro comentário póstumo do que ele defendera em mais de quarenta anos de vida literária: “A palavra continua sendo a única forma suprema de expressão”. O resto, para ele, não existia. “Eu vou morrer breve”, disse o escritor Marques Rebelo durante o enterro de sua mãe, em abril de 1973. “Ainda este ano.” Foi enterrado no domingo, dia 26 de agosto, aos 67 anos, no Rio de Janeiro.

De fato, poucos escritores brasileiros defenderam com tanto empenho a literatura. Detestava o cinema acima de todas as coisas, “esse trabalho de confeiteiro que nada possui de arte, esses draminhas metidos a inteligentes”. Gostava de música, mas dizia dela: “Nem chega a ser palavra”. A televisão era “intrinsecamente má”. Só o teatro merecia sua atenção, talvez porque um texto pode ser lido em casa, como se fosse um livro. Foi chamado de “imbecil” pelos representantes de cada uma das partes ofendidas. Na que escolheu para si, no entanto, sempre colheu os melhores comentários, entre outros motivos porque logo na estreias, com “Oscarina” (contos, 1931), entrou para uma família nobre da literatura brasileira, que inclui Manuel Antônio de Almeida (de quem escreveu a biografia), Lima Barreto e Machado de Assis.

Para uns poucos – Certamente, ao menino Edy Dias da Cruz (seu verdadeiro nome) estaria reservada uma outra carreira se não fosse a paixão pelos livros só revelada na adolescência. Passou a infância no bairro carioca de Vila Isabel, fez o curso primário em Barbacena (MG) e de volta ao Rio de Janeiro começou a estudar medicina. Mas decidiu transformar-se em viajante comercial para melhor conviver com os modernistas de São Paulo e Minas Gerais, e também para mais bem escrever sobre o Rio de Janeiro, o único cenário de seus romances e contos.

Em dez volumes de ficção, reconhecidamente de pequeno público e escritos nas madrugadas, a mão, tão lentamente que levou vinte anos para completar os três primeiros volumes de “O Espelho Partido” (costumava reescrever vinte vezes a mesma frase), surgem as lembranças de um Rio de Janeiro mais antigo e mais natural. É uma gente humilde – donas de casa, malandros, boêmios, funcionários públicos – perdida num cotidiano cinzento despido de qualquer romantismo. Marques Rebelo chegou à Academia Brasileira de Letras em 1963, “tarde demais”, segundo ele – “porque ninguém fica jovem a vida toda”.

(Fonte: Veja, 5 de setembro, 1973 – Edição n.° 261 – DATAS – Pág; 17 – LITERATURA/ Pág; 12)

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