Foi o primeiro esboço do surfista radical

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O pai do surf performance, a origem e a beleza plástica do knee turn

 

O knee turn é uma variação do cutback de frontside ou do bottom turn de backside, onde o joelho da perna de trás fica caído (ou dobrado) durante a execução da curva no surf de longboard.

 

Apesar de ser a variação técnica mais vistosa do surf tradicional, sua origem veio de uma necessidade, ao contrário de hoje, em que é mais usada como uma imposição de estilo. A virada do joelho caído funcionava como uma perfeita ferramenta para facilitar a mudança de direção dos tocos antigos.

 

Para quem é do ramo, quando se fala em knee turn e drop knee, a primeira imagem que vem à cabeça é de Phil Edwards mandando a famosa curva que ficou eternizada na cultura do surf clássico. Ele a fazia como ninguém, por isso muitos pensam que foi uma invenção sua.

 

Uma grande injustiça com Gard Chapin, um dos mais icônicos surfistas dos anos 30/40. Chapin começou a praticá-la ainda na década de 30 com pranchas de madeira sólida, muito difíceis de manobrar.

 

Chapin nasceu em Hollywood, provavelmente em 1918, filho de um médico, foi um surfista inovador, mas espinhoso, de Hollywood, Califórnia; padrasto para navegar no ícone Mickey Dora; um dos surfistas mais talentosos e menos apreciados da era da pré-guerra. “Ele correu em círculos em torno da maioria dos caras de cima e de baixo da costa da Califórnia”, disse Joe Quigg, fabricante de placa, de Chapin, “porque a maioria dos surfistas em sua geração estava descontraído. Para eles, surfar era como ir pescar. Gard foi esse selvagem e radical que rasga até o oceano “.

 

 

Gard Chapin começou a praticar o knee turn ainda na década de 30, com pranchas de madeira sólida, muito difíceis de manobrar. (Foto: Reprodução)

 

 

Era considerado um cara além do seu tempo, com uma postura mais progressiva na leitura das ondas. Enquanto todos apenas navegavam em uma única direção, ele buscava outros caminhos. Para conseguir encurtar as curvas, naturalmente ele desenvolveu a técnica do joelho caído, que funcionava como uma alavanca.

 

Isso foi o embrião do surf progressivo, muito antes de as pranchas diminuírem de tamanho e até mesmo da invenção da quilha. Os poucos que conhecem seu legado sabem que ele foi o primeiro esboço do surfista radical, e não Edwards, como a mídia especializada pintava algumas décadas depois. O que favoreceu Edwards a ficar com os louros da fama foi que a revista Surfer nascia no auge da sua carreira, na era pós-Chapin.

 

 

Gard Chapin, à direita, aplicando a técnica. Foto: Reprodução.

 

 

A verdade é que na entrada da década de 40, Chapin era o melhor surfista da Califórnia. Nesse mesmo período, casou-se com a mãe de Mickey Dora e passou a levá-lo para a praia regularmente quando ainda era um pré-adolescente, tendo influenciado diretamente no seu surf e na sua personalidade.

 

Foi pioneiro no desenvolvimento da contracultura, que substituiu a imagem de pureza e da realeza havaiana que Duke Kahanamoku transmitia do esporte, pelo surfista louro e marrento. Gard também tem uma boa parcela de culpa na cultura do localismo.

 

Quem nunca viu, nos filmes antigos, Dora empurrando outros surfistas na mesma onda, e até arremessando a prancha com intenção derrubá-los e ter a onda só para ele? Como se vê, nem tudo que Gard ensinava para o menino era bom.

 

 

Phil Edwards mandando a famosa curva que ficou eternizada na cultura do surf clássico. Foto: Reprodução.

 

 

Na geração seguinte de Gard Chapin, absolutamente todos os caras tidos como ícones do surf clássico mundial passaram a dominar sua arte. Phil Edwards, Mickey Muños, Lance Carson, Nat Young, David Nuuhiwa, Donad Takayama, Herbie Fletcher e por aí vai. Até passar por Ray Glave, Robert Wingnut, Joel Tudor, CJ Nelson, Kassia Meador, Belinda Bags, além da nova geração de loggers. Jai Lee, Jared Mel, Alex Knost, Tommy Witt, Harrisson Hoach, Justin Quintal e tantos outros passaram a imprimi-la com mais velocidade e em partes mais críticas da onda.

 

Aqui no Brasil, pelo menos até 1988, era improvável que alguém tivesse o domínio do drop knee. Naquele ano, a passagem de Nat Young no mundial da Sundek em Ubatuba foi fundamental para que alguns elementos do legítimo surf tradicional fossem entendidos pelos brasileiros, e o que ficou mais enigmático foi justamente o drop knee, pela funcionalidade, aliada a sua beleza plástica e dificuldade de execução, que só os surfistas mais técnicos daqui conseguiram absorver.

 

 

 

Nat Young, o responsável por difundir a técnica no Brasil. Foto: Reprodução.Nat Young

 

 

Carlos Mudinho, Cisco Araña, Fernando Moniz (Marreco), Fuad Mansur, Vitorino James e o shaper Neco Carbone não à toa são referências entre os maiores estilistas do longboard nacional. Segundo Neco, ele conhecia a manobra através das revistas, mas de fato foi no Sundek que a ficha caiu. “Quando vi o Nat Young fazendo essa curva em Ubatuba, não foi só a beleza que me chamou atenção, foi a funcionalidade. Em situações no inside, já sem velocidade, ele dava essa pisada e a prancha acelerava na curva. Outro australiano que está até sumido, o Ray Glave, também executa essa curva divinamente”.

 

A molecada demorou, mas com mais entendimento do surf tradicional, Tiago Bulhões, Alexandre Wolthers, Roger Barros, Caio Teixeira, Augusto Olinto, Matheus Santos vêm mostrando que o knee turn é onde estilo e função se unem com perfeição.

 

 

Neco Carbone: knee turn virou sua marca registrada. Foto: Osmar Resende Filho.

(Fonte: http://waves.terra.com.br/waves – ESPORTES – WAVES – O pai do surf performance / Por Jaime Viudes – 23/10/17)

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