Jards Macalé, foi músico, cantor e compositor, autor de sucessos como “Vapor Barato”, autor de clássicos como “Hotel das Estrelas”, “Anjo Exterminado”, “Mal Secreto” e “Vapor Barato”, imortalizados também nas vozes de Gal Costa, Maria Bethânia e O Rappa

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Jards Macalé, autor de ‘Vapor Barato’ e outros sucessos

Artista multifacetado que marcou a MPB

Cantor, compositor e multiartista teve músicas gravadas por Gal e Bethânia e foi grande parceiro de Waly Salomão.

Ícone da contracultura, o carioca Jards Macalé — (Crédito da fotografia: Cortesia © Copyright All Rights Reserved/ Managed/ Direitos autorais: Divulgação/ Leo Aversa ®/ REPRODUÇÃO/ TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)

 

 

Jards Macalé, foi músico, cantor e compositor, autor de sucessos como “Vapor Barato”. Ao longo da carreira, Macalé tornou-se um artista respeitado por sua postura autêntica, por suas parcerias icônicas e por sua defesa da liberdade criativa.

Ícone da contracultura, o carioca era conhecido como “anjo torto” da MPB, ajudou a modernizar música brasileira nos anos 1960.

Nascido na Tijuca, Jards Anet da Silva passou a juventude entre Copacabana e Ipanema, nas mesas da Churrascaria Pirajá e do restaurante La Fiorentina. Com Nara Leão, a afinidade foi instantânea. Ela havia rompido com o lirismo descompromissado da época, unindo a bossa nova à música dos morros. Na época, chegou a acompanhar a cantora ao violão em shows no clube Caiçaras, na Lagoa.

No ensaio biográfico “Eu Só Faço o que Quero”, Fred Coelho assinala que, em diversos momentos da carreira, Macalé andou em grupos, mas nunca fez parte deles de fato. Ao contrário, se preocupava em fundar sua própria linguagem artística.

Assim, na era dos festivais, ficou deslocado, porque ainda se detinha à poética viniciana. Nos anos 1970, foi um dos agentes do processo de eletrificação da música brasileira, adquirindo a face mórbida e romântica dos sucessos “Só Morto” e “Hotel das Estrelas”, de 1970 e 1972, respectivamente.

Embora não se considerasse um tropicalista, Macalé colaborou de maneira definitiva com o movimento e seus integrantes. Enquanto Caetano e Gilberto Gil estavam exilados em Londres, ele foi um parceiro importante para Gal Costa que àquela altura se tornou a principal representante da música tropicalista na ausência da dupla.

Macalé não só produziu o disco “Legal”, de 1970, como compôs para a cantora, incluindo músicas como “Mal Secreto” e “Vapor Barato”, ambas em parceria com o poeta baiano Waly Salomão. A segunda delas, aliás, se tornou uma das principais músicas do repertório da cantora e também do próprio Macalé.

Em 1971, ele estava no Carnaval em Salvador quando Maria Bethânia apareceu para dizer que o irmão ligaria de Londres. Foi quando veio a convocação para reunir uma banda, embarcar para a capital inglesa e ser o diretor musical de “Transa”, um dos discos mais cultuados de Caetano.

É ele quem toca o violão na abertura de “Nine Out of Ten”, música que começa narrando um passeio por Portobello Road, então reduto da comunidade jamaicana na cidade. Foi nessa região que Macalé tomou conhecimento do reggae, gênero que é citado na letra e do qual ele se apropriou no violão.

À Folha de S.Paulo, o carioca contou que trocou um samba por um reggae. “O cara disse ‘te ensino a batida do reggae se você me ensinar a do samba’. Aí aprendi aquela célula. Ensinei a do samba, e ele ficou lá tentando. Acho que está tentando até hoje.”

De volta ao Brasil, Macalé fez seus disco mais importante o autointitulado, de 1972.

Apesar da longa trajetória musical, ele também contemplou várias outras expressões artísticas ao longo de sua vida. Em seis décadas de carreira, atuou no cinema, na televisão, no teatro e nas artes plásticas. A música, entretanto, se mantinha enquanto elo comum de sua carreira multifacetada.

Entre suas credenciais, compôs trilhas sonoras e atuou em diferentes filmes do cineasta Nelson Pereira do Santos, como “O Amuleto de Ogum” e “Tenda dos Milagres”. Macalé também compôs para ativações e apresentações artísticas de nomes centrais da arte contemporânea brasileira, como Lygia Clark e Helio Oiticica.

A relação entre Macalé e Oiticica, aliás, é o centro do documentário “Macaléia”, curta-metragem lançado no ano retrasado que apresenta a trajetória anárquica da dupla e as obras experimentais produzidas por eles, que desafiaram os padrões artísticos da época.

A “Macaléia” do título, inclusive, se refere a uma obra que Oiticica desenvolveu especialmente para Macalé em 1978, um de seus penetráveis obras do artista que permitem a entrada e o atravessamento de corpos humanos.

Marcada pela ruptura de padrões e costumes culturais da época, a trajetória de Macalé associou a ele, durante muito tempo, o apelido de artista “maldito”. Com o passar das décadas, por outro lado, a sua influência sobre a MPB foi reconhecida como elementar e ele abandonou essa posição secundária.

A recusa de Macalé em relação ao apelido de “maldito” levou ele a ser reconhecido pelo título de “Anjo Torto”, figura que aparece na letra de sua música “Let’s Play That”, do álbum Jards Macalé, lançado em 1972. Na canção, Macalé faz referência ao Anjo Torto de Carlos Drummond de Andrade, que aparece em “Poema de Sete Faces”, escrito pelo poeta em 1930. No poema, a figura em questão é um ser desajustado e que cuja personalidade o mantém à margem. Macalé ocupou, porém, o centro da moderna música popular brasileira.

‘Anjo torto da MPB’

Nascido no Rio de Janeiro em 1943, Jards Anet da Silva começou a carreira nos anos 1960 — quando teve sua primeira composição gravada por Elizeth Cardoso, em 1964.

Macalé rapidamente se destacou pela postura vanguardista e pela recusa a seguir padrões comerciais, o que lhe apresentou ao país como um “anjo torto” da MPB, como citou Mauro Ferreira em seu blog.

O grande impacto inicial veio em 1969, com a performance de “Gotham City” no IV Festival Internacional da Canção.

Em 1972, lançou seu influente álbum de estreia, Jards Macalé, no qual consolidou sua estética híbrida, misturando rock, samba, jazz, blues, baião e canção.

É autor de clássicos como “Hotel das Estrelas”, “Anjo Exterminado”, “Mal Secreto” e “Vapor Barato”, imortalizados também nas vozes de Gal CostaMaria Bethânia e O Rappa.

Parceiro de poetas como Waly Salomão (coautor de “Vapor Barato”), Vinicius de Moraes, Torquato Neto e José Carlos Capinan, Macalé construiu uma obra marcada pela estranheza, pela experimentação e pela absoluta defesa da liberdade criativa — postura que o aproximou de artistas como Luiz Melodia, igualmente avesso às imposições das gravadoras dos anos 1970 e 1980.

‘Meu primeiro amigo carioca da música’, diz Caetano

Exilado em Londres ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Jorge Mautner, assinou a direção musical de “Transa”, álbum que se tornaria um dos mais importantes da carreira de Caetano.

“Sem Macalé não haveria Transa. Estou chorando porque ele morreu hoje. Foi meu primeiro amigo carioca da música. Antes de Bethânia imaginar que seria chamada para o Opinião, Alvaro Guimarães, diretor teatral baiano, me trouxe ao Rio para montar e mixar o curta para o qual eu tinha feito a trilha.

Fui parar na casa de Macalé. E ele tocou violão. Me encantei. Ele tocou com Beta, lançou composições, chamei-o para Londres e: Transa. Na volta, ele e eu seguimos na música. Que a música siga mantendo a essência desse ipanemense amado. Beijo carinhoso para Rejane”, postou Caetano.

Ao longo da carreira, nunca abriu mão da coerência artística. Explorava gêneros como bossa nova, rock, blues, samba e choro, sempre com sua voz ruminada e um violão singular, moldado por formação erudita.

Além da música, em seus 60 anos de carreira, Macalé também se aventurou em cinema, televisão, teatro e artes plásticas.

No cinema, participou do elenco de “O Amuleto de Ogum” e “Tenda dos Milagres”, ambos dirigidos por Nelson Pereira dos Santos.

Também integrou trilhas sonoras de clássicos como “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade, e “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha.

É intérprete de seu próprio repertório e de compositores como Ismael Silva e Lupicínio Rodrigues.

Mesmo após décadas de atividade, manteve vigor e relevância: lançou “Besta Fera” em 2019, um dos destaques de sua discografia.

Jards Macalé morreu na segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, aos 82 anos.

A morte foi confirmada pela TV Globo por amigos e postada nas redes sociais do artista. Macalé estava internado em um hospital na Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste do Rio desde o dia 1º, onde tratava de problemas pulmonares.

Nesta segunda, sofreu uma parada cardíaca. A causa da morte, de acordo com a unidade de saúde, foi choque séptico e insuficiência renal.

“Jards Macalé nos deixou hoje. Chegou a acordar de uma cirurgia cantando ‘Meu Nome é Gal’, com toda a energia e bom humor que sempre teve. Cante, cante, cante. É assim que sempre lembraremos do nosso mestre, professor e farol de liberdade. Agradecemos, desde já, o carinho, o amor e a admiração de todos. Em breve informaremos detalhes sobre o funeral. “Nessa soma de todas as coisas, o que sobra é a arte. Eu não quero mais ser moderno, quero ser eterno.” — Jards Macalé’, diz a nota.

(Créditos autorais reservados: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/11/17 – Globo Notícias/ RIO DE JANEIRO/ NOTÍCIA/Por Chico Regueira, g1 Rio e TV Globo – 17/11/2025)

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(Créditos autorais reservados: https://www.msn.com/pt-br/musica/noticias – Folha de S.Paulo/ MÚSICA/ NOTÍCIAS/ História de LUCAS BRÊDA, DAVI GALANTIER KRASILCHIK, EDUARDO MOURA E GUSTAVO ZEITEL/ SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – 17/11/2025)

(Créditos autorais reservados: https://oglobo.globo.com/cultura/noticia/2025/11/17 – O Globo/ CULTURA/ NOTÍCIA/ Por Ricardo Pinheiro — Rio de Janeiro – 17/11/2025)

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