Vernon Walters, figura polêmica apontada por setores da esquerda brasileira como atuante na composição do movimento militar de 1964

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General que conspirou contra Jango

 

Vernon Walters foi adido no Brasil de 1962 a 1967 e atuou no Vietnã

 

 

Vernon Anthony Walters (Nova York, 3 de janeiro de 1917 – West Palm Beach, Flórida, 10 de fevereiro de 2002), general americano e adido militar dos Estados Unidos no Brasil de 1962 a 1967

 

 

Assessor de vários presidentes norte-americanos, Walters desempenhou papel importante no movimento militar de 1964.

 

 

Além de estar presente no Brasil em 1964, Walters esteve em Teerã em 1953, quando foi deposto o primeiro-ministro do Irã Mohammad Mussadeq, que havia nacionalizado as companhias petrolíferas estrangeiras, mas não há provas de seu envolvimento na conspiração. Ele também teria estado no Chile antes da queda do presidente Salvador Allende, em 1973, mas não existem evidências de sua participação no golpe.

 

 

Nascido em janeiro de 1917, em Nova York, Vernon Anthony Walters alistou-se no Exército norte-americano em maio de 1941. Após um rápido curso de formação, alcançou a patente de segundo-tenente. Como dominava vários idiomas, foi designado para o serviço secreto.

 

 

Nessa condição, serviu como intérprete nas conversações de oficiais brasileiros e norte-americanos na Segunda Guerra Mundial (veja texto abaixo), tornando-se amigo de vários oficiais brasileiros, entre os quais o então coronel Castello Branco. Após o fim da guerra, ocupou o cargo de adido militar assistente no Brasil até 48.

 

 

Serviu de assistente do presidente Dwight Eisenhower de 1956 a 1961. Em outubro de 1962, foi designado adido militar na Embaixada no Brasil, por indicação do embaixador Lincoln Gordon. Nessa função, colaborou na articulação do movimento militar que depôs o presidente João Goulart, considerado adversário dos EUA e simpático aos comunistas.

 

 

Walters teria ajudado o embaixador Lincoln Gordon a articular o envio de uma força-tarefa ao Brasil, liderada pelo porta-aviões Forrestal, para apoiar os militares que tramavam a derrubada de Jango. Com a confirmação da queda do presidente Goulart, em 2 de abril, a operação, denominada Brother Sam, foi desativada.

 

 

“Em 1964, um governo hostil foi substituído por um governo amigável e cooperativo, apoiado pelos militares”, disse Walters, que permaneceu como adido no Brasil no governo de Castello Branco.

 

 

Em 1967, já com a patente de general, foi designado para servir no Vietnã. No início de 1971, organizou os primeiros encontros secretos entre o secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger e o representante do Vietnã do Norte, Le Duc Tho, com o objetivo de negociar a paz, que culminou com a retirada das tropas americanas e a queda do Vietnã do Sul, em 1975.

 

 

Em 1998, em entrevista, disse que não considerava que os EUA erraram no Vietnã. Para ele, se os comunistas não tivessem sido temporariamente contidos, vários outros países teriam caído.

 

 

Na gestão de Richard Nixon (69-74), colaborou na aproximação dos EUA com a China. No governo de Ronald Reagan, foi embaixador em missões especiais. Em 1989, Walters era o embaixador dos EUA na Alemanha e assistiu à queda do Muro de Berlim.

 

 

Em 1998, em uma entrevista à TV, comentou: “Eu gostaria de ser lembrado por ter feito o que pude, como soldado, para manter a paz, porque se o Brasil tivesse sido perdido, não seria uma outra Cuba: seria uma outra China”.

 

 

2ª Guerra aproximou Walters de militares brasileiros

 

A ligação do general americano Vernon Walters com o Brasil começou na 2ª Guerra Mundial. Por falar português fluentemente, o então major Walters teve o importante e delicado cargo de oficial de ligação entre o comando americano e a FEB (Força Expedicionária Brasileira) em 1944-45.

 

Nascido em Nova York em 1917, Walters viveu dos seis aos 16 anos na Europa, onde estudou em colégios católicos. Aprendeu alemão, francês, italiano e espanhol.

 

Iniciada a guerra em 1939, ele alistou-se voluntariamente no Exército americano, julgando que a guerra um dia envolveria seu país. Achava que sua fluência em línguas estrangeiras poderia ser útil. Mas, dentro da tradicional falta de lógica da burocracia militar, foi designado motorista de caminhão. Eventualmente fez curso para formação de oficial e ingressou na área de informações, que foi sua grande vocação.

 

Trabalhou em missões delicadas para cinco presidentes americanos. Talvez a mais notável missão para um conhecido anticomunista e “guerreiro frio” foi seu envolvimento na reaproximação com a China na administração de Richard Nixon (1969-74).

 

Walters aprendeu português praticamente por ordem do Exército. Já em 1942 ele acompanhava autoridades brasileiras nos EUA, como o ministro da Aeronáutica, Pedro Salgado Filho, e o da Guerra (antigo nome do Ministério do Exército), Eurico Gaspar Dutra, que o convidou para vir ao Brasil. Ficou hospedado no Rio de Janeiro, no Hotel Glória, e desde então quando visitava a cidade procurava o mesmo hotel.

 

Na campanha da Itália, Walters ficou amigo de muitos oficiais brasileiros que tinham patentes de major a coronel -que seriam os generais do começo da década de 60. Foi por isso que o então embaixador americano Lincoln Gordon pediu para que ele se tornasse adido militar no Brasil, que estava às vésperas do movimento de 1964. Ao chegar no Rio, Walters foi recebido por 13 oficiais generais brasileiros com quem lutara na Itália -e o grupo incluía generais de direita e de esquerda.

 

Foi quando começou a campanha da esquerda contra ele, acusado de “conspirador”. Ele era particularmente amigo do primeiro presidente da República do movimento militar, Humberto de Alencar Castello Branco (64-67).

 

Walters sempre negou que era membro da conspiração. “Que lições poderia dar um coronel americano sem experiência em golpes para generais brasileiros que tinham deposto dois presidentes nos cinco anos anteriores? Francamente, é um absurdo”, declarou ele à Folha em 1998, respondendo pela enésima vez à obrigatória pergunta.

 

Vernon Walters faleceu em 10 de fevereiro de 2002, na Flórida, aos 85 anos.

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil – FOLHA DE S.PAULO / BRASIL / ANÁLISE / Por RICARDO BONALUME NETO / REPORTAGEM LOCAL – São Paulo, 15 de fevereiro de 2002)

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil – FOLHA DE S.PAULO / BRASIL / DA REDAÇÃO / MEMÓRIA / Com agências internacionais – São Paulo, 15 de fevereiro de 2002)

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