Uma das primeiras médicas cirurgiãs do Brasil

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Médica pioneira de cirurgia da USP relata como o desafio de ser mulher tem se transformado ao longo dos anos

Conquistas de mulheres atravessam as gerações na medicina

A paraense Angelita Habr-Gama fez história na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ao se tornar a primeira mulher cirurgiã da instituição, nos anos 1950.

Décadas depois, com mais de 20 mil operações no currículo, Angelita tornou-se uma das maiores especialistas do Brasil e do mundo em coloproctologia (especialidade que estuda doenças do intestino grosso e reto) e professora titular da instituição.

O programa de residência da USP nesta área foi criado na década de 1990 por Angelita, em uma especialidade na qual os homens ainda são maioria.

A Profª. Dra. Angelita Gama é uma das mais renomadas cirurgiãs da história da Medicina Brasileira e uma referência mundial. Graduou-se pela Universidade de São Paulo, onde também realizou Doutorado e Livre Docência. É Professora Emérita de Cirurgia e criou a disciplina de Coloproctologia no Hospital das Clínicas.

Fez especialização em coloproctologia na Inglaterra, no St’ Marks Hospital, em Londres.

 

É membro honorária de diversas sociedades médicas, tendo sido a primeira mulher a receber esse título na centenária sociedade científica American Surgical Association. Foi Presidente da International Society of University Colon and Rectal Surgeons, do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e da Sociedade Latinoamericana de Coloproctologia. Fundou e preside a ABRAPRECI – Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino, desde 2004.

Recebeu o Prêmio Medicina 2010 da Fundação Conrado Wessel e o Prêmio Professor Emérito 2011 do Centro de Integração Empresa-Escola e Jornal O Estado de São Paulo.

É detentora de inúmeras homenagens e honrarias, dentre as quais se incluem o “Mérito Santos-Dumont”, concedido pelo Governo do Estado de Minas Gerais e a “Medalha do Pacificador” (do Ministério do Exército do Brasil), concedida em 1998 pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Possui também destacada produção acadêmica, sendo detentora de 51 Prêmios Científicos e já tendo ministrado mais de 800 conferências em Congressos, Cursos e Jornadas Médicas, das quais 220, no exterior. É também editora de 15 livros científicos e já publicou 273 artigos em periódicos científicos.

Currículo Acadêmico

Graduação
Faculdade de Medicina da USP

Residência
Faculdade de Medicina da USP

Pós-graduação
Doutorado – FMUSP

Titulação Acadêmica
Livre-Docência – FMUSP
Professora Associada – FMUSP
Professora Titular de Cirurgia – FMUSP

 

INFÂNCIA

 

Nasci na Ilha de Marajó, no Pará, mas vim para São Paulo aos 7 anos com meus pais e cinco irmãos. Minha família decidiu se mudar após meu irmão mais velho, de 14 anos, morrer de apendicite aguda. Na época, meus pais entenderam que, se continuássemos lá, os demais filhos morreriam também por falta de assistência médica.

 

ESCOLHA PELA MEDICINA

 

Minha decisão de fazer Medicina foi meio por acaso. Quando saí do ginásio (ensino fundamental), podíamos escolher ir para o colegial comum ou científico, e eu escolhi o segundo. Lá, conheci outras meninas, que se tornaram minhas amigas, e elas planejavam fazer Medicina. Achei que poderia me dar bem na área.

 

REAÇÃO DA FAMÍLIA

 

Quando falei para os meus pais que queria ser médica, eles não gostaram muito, não. Tinha duas irmãs mais velhas que eram professoras e eles me perguntaram por que eu não seguiria o mesmo caminho do magistério, que era um curso mais curto e, segundo eles, mais compatível com o sexo feminino. Mesmo assim, não mudei de ideia.

 

APROVAÇÃO NO VESTIBULAR

 

O resultado do vestibular não saía no jornal ou na internet. Os candidatos e as famílias se reuniam no saguão da Faculdade de Medicina da USP e o secretário lia o nome dos aprovados. Isso foi em 1951. Quando chegou no oitavo lugar da lista e meu pai ouviu o nome Angelita, ele quase desmaiou. Acho que foi aí que ele entendeu o que aquilo representava, ainda mais para uma mulher. Éramos 80 na turma e só 11 eram moças.

 

ESPECIALIDADE

 

Inicialmente eu achei que seguiria alguma especialidade clínica: cardiologia ou gastro. Mas no sexto ano da faculdade, no internato, um residente me mandou costurar uma barriga e fiz aquilo com tanta facilidade que me deu um estalo: ‘quero ser cirurgiã’.

 

RESIDÊNCIA EM CIRURGIA

 

Prestei a prova para residência em cirurgia geral no Hospital das Clínicas, mas só havia oito vagas. O chefe do programa me disse: ‘você vai casar, vai desistir da cirurgia e vai ter tirado a vaga de um rapaz’. Ele não queria me aceitar, mas eu argumentei que, se eu tinha sido aprovada no curso de Medicina, eu tinha o direito de seguir a especialidade que eu quisesse. Fui aprovada. Era a única mulher residente entre sete homens.

 

 

Angelita Habr-Gama, uma das primeiras médicas cirurgiãs do Pais, criou a especialidade Coloproctologia na USP e acaba de ser homenageada em uma famosa revista cientifica americana. (Foto: Amanda Perobelli/Estadão)

 

 

PRECONCEITO

 

Depois que entrei na residência, não tive muitos problemas de preconceito com colegas e professores, mas sempre sentia que eu tinha de trabalhar igual ou mais do que eles para provar meu valor. A maior desconfiança, na verdade, vinha dos pacientes. Às vezes eu ia avisá-los que a cirurgia seria realizada no dia seguinte e eles me perguntavam: ‘mas o médico que vai me operar não vai vir me ver?’.

 

 

ESPAÇOS

 

Fui a primeira professora mulher de cirurgia na Faculdade de Medicina da USP, sou membro honorário de várias sociedades médicas europeias e americanas e vejo que muitas mulheres se sentem incentivadas a seguir carreira de cirurgiã quando veem esses exemplos.

 

Cirurgiã já recebeu mais de 50 prêmios

Detentora de diversos prêmios e títulos nacionais e internacionais, a cirurgiã Angelita Habr-Gama recebeu uma homenagem especial no mês de janeiro. Foi a primeira personalidade em 60 anos a estampar a capa de uma das mais importantes revistas científicas do mundo na área de coloproctologia, a Diseases of the Colon & Rectum, periódico da Associação Americana dos Cirurgiões de Cólon e Reto.

A publicação trouxe um artigo sobre a vida e a trajetória profissional da médica brasileira. Nos cerca de 60 anos de carreira, Angelita já recebeu mais de 50 prêmios científicos e foi nomeada membro honorário de oito associações mundiais.

 

 

A médica cirurgiã Angelita Habr-Gama. Foto: Amanda Perobelli/Estadão

A médica cirurgiã Angelita Habr-Gama. (Foto: Amanda Perobelli/Estadão)

(Fonte: http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral – NOTÍCIAS – GERAL / BRASIL / Por Fabiana Cambricoli, O Estado de S.Paulo – 08 Março 2018)

(Fonte: http://www.ajgama.com.br – Cirurgia Colorretal)

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