Thomas Mann, foi um dos mais célebres escritores alemães do século 20

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Gênio humanista

Mann: o correto burguês que viu o século XX com a dignidade e a esperança do século XIX

 

Paul Thomas Mann

O escritor alemão Thomas Mann (1875 – 1955).

 

Paul Thomas Mann (Lübeck, Alemanha, 6 de junho de 1875 – Zurique, Suíça, 12 de agosto de 1955), foi um dos mais célebres escritores alemães do século 20, cuja obra monumental foi autor de um romance pelo qual se pode medir o resto da literatura “A Montanha Mágica”, além de “Doutor Fausto”.

Prêmio Nobel de Literatura de 1929, o grande Thomas Mann popularizou-se para a nova geração quando sua novela Morte em Veneza” chegou às telas com o ator Dirk Bogarde (1921-1999) no papel principal.

A história dos Mann, uma família de comerciantes de grande prestígio em Lübeck, no Norte da Alemanha, desde o século XVIII. Dois dos mais célebres escritores alemães do século 20, os irmãos Mann – Heinrich (1871-1950), que chegou a ter mais sucesso  do que o irmão na Europa, acabou reduzido à glória de ter escrito o romance que rendeu o mitológico filme “O Anjo Azul”, estrelado por Marlene Dietrich (1901-1992), e dirigido por Josef von Sternberg (1894-1969) em 1930, é um dos clássicos do cinema, mostrando a interpretação inesquecível de Marlene Dietrich no papel de Lola Lola.

 

Ludwig Heinrich Mann

Heinrich Mann, precursor do expressionismo. (Foto: Divulgação)

 

O romance tem o sabor de coisa irremediavelmente envelhecida conta a história do professor Unrat, um mestre-escola mesquinho, de uma voz cavernosa, que seu olhar é irônico, que é enganado, e seduzido pela beleza vulgar da cantora de cabaré Rosa Fröhlich e seus alunos o detestam. Irremediavelmente, o professor percorre a trilha que vai da mesquinhez tirânica à devassidão. Provada a tese de que o autoritarismo é ridículo e grotesco, como esquecer Marlene Dietrich num primor de sensualidade cantando Falling in Love Again.

O tema da decadência, que Heinrich Mann esculpe em “O Anjo Azul”, foi limado e polido com competência em Morte em Veneza”, de Thomas Mann.

Thomas, Heinrich e seus outros três irmãos eram filhos de uma alemã nascida no Brasil, Júlia da Silva Bruhns, que partiu do Rio de Janeiro quando ficou órfã, aos 6 anos, e nunca mais voltou. Restou na família apenas uma apagada e exótica imagem do Brasil, que nem sequer injetou nos irmãos escritores a curiosidade de cruzar o Atlântico para ver como era a terra da mãe.

Foram dois titãs das letras que se digladiaram pelos valores do humanismo contra um inimigo implacável, o nazismo. Mostrando desmedida simpatia pelo destino de Heinrich, o irmão mais velho que teve de brigar com o pai para abraçar a literatura e logo se mostrou um polemista disposto a rechear seus romances com argumentos de militância política.

À medida que conclui cada um de seus projetos literários inacreditavelmente ambiciosos Thomas vai crescendo, mesmo como vigilante guardião da liberdade de espírito, Thomas supera o irmão militante – sua pena voltou-se não apenas contra os nazistas como também contra os Estados Unidos, país que lhe deu abrigo e cidadania em 1944 mas que amargou depois seu período de caça às bruxas da guerra fria.

Inversamente, a trajetória de Heinrich vai da glória ao mais sombrio esquecimento. Considerado o precursor do expressionismo na literatura, Heinrich produzia seus romances com rapidez, numa receita que misturava política e sarcasmo e que lhe assegurou tamanho brilho entre seus contemporâneos que chegou a ser cogitado, na Alemanha pré-nazista, para a Presidência da República.

Heinrich foi, sob muitos aspectos e a despeito de uma séria briga com Thomas, um modelo para o irmão mais novo. Com sua recusa de tornar-se herdeiro da fortuna comercial dos Mann, e sua opção pelas letras, ele abriu um caminho que o irmão depois seguiria com muito menos resistências familiares.

A fortaleza moral de Heinrich na defesa de suas ideias igualmente teve sua influência no irmão mais moço. Os dois se alimentaram mutuamente com argumentações políticas e literárias e palavras de estímulo, como revela sua correspondência.

ARTE REAL – Em cartas que os irmãos Mann trocaram com os grandes de seu tempo – do físico Albert Einstein ao regente Bruno Walter (1876-1962), passando pelo escritor Bertolt Brecht, compreende-se às agruras da Europa duas vezes sacudida por guerras totais. Esse pano de fundo serviu de alimento literário tanto para Heinrich quanto para Thomas Mann.

Cada qual reage ao seu modo, seja na política seja na literatura, mas esse conhecimento é histórico é indispensável para saber o que cada um simbolizou em seus romances. Heinrich satirizava os tiranos em O Anjo Azul e os homens fracos que se submetem ao poder em O Súdito, um de seus livros mais famosos.

Thomas, inspirando-se em sua família, contou o fim de uma época em Os Buddenbrook e fuçava nas entranhas da Alemanha e da missão do artista em “Doutor Fausto”. Mais efêmeros, como as obras de combate em geral, os romances de Heinrich perderam sua força quando os tempos mudaram.

Thomas, porém, capaz de sofrer espiritualmente o esmagamento de sua pátria, compôs com sua dor uma arte que não conhecerá eclipse. Essa fraternidade tão singular dos irmãos Mann faz deles um rico documento da história.

(Fonte: Veja, 25 de junho de 1980 – Edição 616 – LIVROS/ Por Marília Pacheco Fiorillo – Pág: 91/92)

(Fonte: Veja, 25 de setembro de 1985 – Edição 890 – LIVROS/ Por Mário Sérgio Conti/ Mirian Paglia Costa – Pág: 135/136)

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