Sérgio de Camargo, escultor carioca. Obras que estão entre as maiores na escultura brasileira

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Artista deu à crítica brasileira o tão esperado escultor nacional de projeção internacional

Sérgio de Camargo (Rio de Janeiro, 8 de abril de 1930 – Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 1990), escultor carioca de prestígio internacional. Voou além do construtivismo para criar uma das obras mais instigantes da escultura brasileira no século XX. Com grande criatividade, deixou como legado uma obra que está entre as maiores na escultura brasileira.

Sérgio de Camargo injetou na corrente construtiva da arte doses de imaginação e poesia que projetavam sua obra para muito além dos cânones do movimento.

Duas grandes influências iluminaram-lhe os caminhos. A primeira foi a do pintor argentino Lucio Fontana, com quem estudou durante a adolescência, em Buenos Aires. A segunda, decisiva em sua carreira, foi a do romeno Constantin Brancusi (1876-1957), um dos gênios da escultura no século XX. Durante o período que morou em Paris, Camargo passava os dias enfiado no ateliê de Brancusi, vendo o artista trabalhar. Só saia do estúdio quando era expulso pelo escultor, irritado com aquela contemplação tão atenta.

Embora nunca tenha frequentado uma escola de Belas Artes, Camargo era homem de vasta cultura. De família abastada, ele morou muitos anos na Europa, estudou Filosofia na Sorbonne, falava fluentemente espanhol, inglês e francês e era louco por literatura. Colecionava volumes de poesias francesas e espanholas, tinha paixão pela poesia de Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa e uma especial devoção pelo escritor argentino Jorge Luis Borges. Sua arte guardava muitos pontos de contato com a do autor de Ficções. Assim como Borges, Camargo era especialista em criar imagens poéticas a partir de um método rigorosamente racional.

O material predileto do artista era o mármore branco. Ele trabalhava com formas geométricas como o cubo e a esfera, mas sua figura por excelência foi o cilindro. A escultura construtivista pronta deveria mostrar o método com que foi feita, deixando transparecer a transformação da matéria e servindo como uma metáfora da sociedade que se organiza em termos racionais e justos. No construtivismo de Camargo ele apontava para a tensão entre o projeto racional e a matéria bruta, insinuando que a razão também tem limites. Ou que a razão pode ser fria. Para fazer isso, ele seccionava os cilindros para reorganizálos depois.

Só que essa reorganização, no final, não corroborava a racionalidade do método. Ao contrário, colocava-a em cheque – como a querer deixar claro que sistemas organizados de acordo com uma racionalidade estrita podem violar a verdade da matéria e, portanto, da humanidade. Camargo usou também o negro belga, uma espécie de carvão fóssil. Esse material só podia ser seccionado a uma determinada temperatura. Mas Camargo insistia em trabalhar com o negro belga num registro térmico diferente, e a pedra se espatifava, e ele chorava como uma criança, personificando, em sua dor, os limites da racionalidade e da arte.
Há meses o escultor carioca não se sentia bem, tinha problemas no esôfago e mesmo assim continuou a beber. Camargo morreu dia 20 de dezembro de 1990, aos 60 anos, no Rio de Janeiro, deixando mulher, quatro filhos e a obra mais intrigante na escultura brasileira nos últimos tempos.

 

(Fonte: Veja, 26 de dezembro de 1990 – ANO 23 – Nº 50 – Edição 1162 – DATAS – Pág; 105)

 

 

 

Quando o carioca Sérgio Camargo, com dezoito anos, foi a Paris estudar filosofia na Sorbonne, em 1948, já não gostava de fazer bronzes figurativos como aprendera na Academia Altamira, de Buenos Aires. Por isso, durante as folgas da Universidade, preferiu frequentar os estúdios de Brancusi, Jean Arp e outros escultores que trabalhavam o mármore e os metais em formas abstratas arredondadas ou angulosas.

Assim também eram as esculturas de Camargo até 1961, ano em que trocou definitivamente o Rio de Janeiro por Paris. Por essa época ele começou a construir uns relevos eriçados em gesso e bronze – foi o ponto de partida para os famosos relevos em madeira (os primeiros datam de 1963) que seriam a “marca registrada” de sua escultura e lhe dariam um prestígio internacional. Esse prestígio, Camargo comprovou com o sucesso da exposição que fez na importante Galeria Gimpel, de Nova York.

O relevo dos relevos – Sérgio Camargo surpreendeu o Brasil em 1963 com o prêmio internacional de escultura que recebeu na Bienal de Paris. As críticas favoráveis da imprensa francesa chamaram a atenção de Londres e no ano seguinte ele expunha na Galeria Signals, especializada em arte de vanguarda.

Com dois anos de atraso, o Brasil reconheceu o valor de Sérgio Camargo quando lhe concedeu o prêmio de melhor escultor nacional na Bienal de São Paulo, em 1965. No ano seguinte, depois de estar na representação brasileira à Bienal de Veneza, seu prestígio aumentou com exposições em Roma, Milão, Zurique, Munique e outras cidades europeias.

No pavilhão do Brasil em Veneza, Sérgio Camargo apresentou pela primeira vez uma nova faceta de sua escultura: abandonando os cilindros de madeira, ele começou a fazer superfícies moduladas com paralelepídedos truncados cuja conjugação funciona dos dois lados, como um muro.

 

(Fonte: Veja, 6 de agosto de 1969 – ARTE – Edição 48 – Pág: 68/69)

 

 

 

 

 

 

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