Scholem Aleikhem (1859-1916), autor da obra Tévye, o Leiteiro, foi um dos melhores autores de origem judaica
Ao se estabelecer nos EUA, Aleikhem já era um dos principais representantes da literatura ídiche, tendo produzido, até 1890, mais de 40 livros no vernáculo dos judeus do Leste Europeu- que conquistou o território do hebraico litúrgico. A obra de Aleikhem, é a expressão fidedigna da vida judaica no chamado “schtel”, povoado em que viviam os judeus na Europa Oriental. Ao retratar as mudanças por que passaram seus habitantes no fim do século 19, desafiados pela nascente modernidade, Aleikhem fez desse confronto uma parábola sobre os acontecimentos revolucionários que iriam mudar a face da Rússia czarista no século 20.
Tévye, no entanto, é mais que o personagem de um popular musical da Broadway (gênero descendente do teatro ídiche) e do filme homônimo, de 1971, vencedor de quatro Oscars, que consagrou o ator Chaim Topol como o leiteiro exilado em decorrência de um decreto do czar que o obriga a deixar sua aldeia. Ao escrever a história de Tévye, um dos grandes personagens da literatura ídiche, Aleikhem (ou Sholem Aleichem, que em hebraico significa “a paz esteja contigo”) antecipava o próprio destino, pois foram os constantes pogroms na Rússia que levaram o escritor a se instalar em Nova York.
“Não é preciso lembrar que a participação dos judeus nos movimentos socialistas europeus do século XX foi enorme”, observando, porém, que Aleikhem não era um escritor engajado, embora fosse simpático ao sionismo. Ele defendia as causas populares de outra forma, usando uma narrativa paródica que permitia ao homem do “schtel” se ver refletido no espelho literário de obras como Tévye, o Leiteiro. Nela, o protagonista interage com o autor e acaba se impondo, oferecendo ao leitor a imagem do judeu maltratado pelo russo e, finalmente, isolado na própria comunidade em que vive – até pelas próprias filhas, avessas às tradições judaicas.
(Fonte: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral – NOTÍCIAS – GERAL – CULTURA/ Por Antonio Gonçalves Filho – O Estado de S.Paulo – 18 Fevereiro 2012)

