Ronnie Peterson, piloto “Sueco Voador” de Fórmula 1

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AUTOMOBILISMO

 

 

 

Peterson em 1978

Peterson em 1978 (Crédito da fotografia: Cortesia © Copyright/ REPRODUÇÃO/ DIREITOS RESERVADOS)

 

Fogo em Monza

 

Ronnie Peterson (Orebro, Itália, 14 de fevereiro de 1944 – Monza, Itália, 11 de setembro de 1978), piloto “Sueco Voador” de Fórmula 1, desenvolveu seu estilo de pilotagem muito jovem, quando ainda competia no kart, e levou esse estilo para a Fórmula 1.

Na véspera da corrida, Gianni Restelli, diretor do Grande Prêmio da Itália de Fórmula 1 no circuito de Monza, chegou a pedir: “Se eu errar, não me crucifiquem”. Nos dias seguintes, o que Restelli, obscuro dirigente do Automóvel Clube Italiano, imaginava como seu momento de glória transformou-se num pesadelo. Ele foi apontado como o grande responsável por um dos maiores acidentes do automobilismo. Além disso, contribuiu para apagar qualquer manifestação de alegria pelo título de campeão da temporada, conseguido na mesma tarde por Mario Andretti.

Restelli liberou a partida quando apenas os carros das primeiras filas estavam parados, após a volta de reconhecimento – enquanto os de trás chegavam ainda em movimento. Com os motores rosnando entre 10 500 e 11 500 rotações por minuto, os nervosos corcéis mecânicos com seus 850 quilos levaram 8 segundos e 150 metros para ir de zero a 200 quilômetros por hora. Sem a necessidade de vencer a inércia, os carros das últimas filas lançaram-se para a frente com muito mais ímpeto. Duzentos metros adiante da largada, a onda de bólidos lutando emparelhada nos 22 metros de largura da pista encontrou o início de afunilamento do circuito que tem, dali em diante, 11 metros apenas.

TIRO DE CHUMBO – Dez carros pipocaram em choques diversos e um, a Lotus do sueco Ronnie Peterson, explodiu em chamas. Ele e o piloto italiano Vittorio Brambilla foram transportados inconscientes para o hospital de Nigarda, em Milão. Peterson morreu na madrugada de segunda-feira, dia 11 de setembro, vitima de embolia pulmonar e crise renal provocadas pela grande quantidade de gordura no sangue liberada pelas oito fraturas que sofrera nas pernas. Brambilla, de 39 anos, com fratura do crânio e suspeita de lesões cerebrais permaneceu hospitalizado para observação.

Como sempre acontece em tais ocasiões, o fogo de acusação dos pilotos abriu-se como um tiro de chumbo. Além do desastrado Restelli sobrou carga para os pilotos Ricardo Patrese e Jody Scheckter por manobras perigosas; para os médicos que operaram Peterson, por eventual imperícia; e para o presidente da Associação de Construtores de Fórmula 1, Bernie Ecclestone, por autorizar a corrida em Monza. Na terça-feira, Peterson foi enterrado em Orebro, sua cidade natal.

O arrebatado sueco voador
Para a maioria dos fãs, ele era um dos últimos românticos de uma profissão em que a eficiência da máquina e da matemática há tempos ultrapassou a simples perícia e coragem dos pilotos. “Eu sempre soube que tinha um destino a cumprir”, costumava afirmar o sueco Bengt Ronnie Peterson: “E esse destino é tornar-me o homem mais veloz do meu tempo”.

Antes de morrer em Monza, onde já havia conquistado antes três vitórias, ele sofrera nada menos de trinta acidentes, três particulamente sérios. O pior ocorrera em 1969, numa prova de F´rmula 3, no circuito francês de Monthlery, após o que ficou vários meses sem competir. Apesar dessas dramáticas lições, e da experiência de 123 grandes prêmios até o dia de sua morte (só inferior aos 176 de Graham Hill e aos 126 de Jack Brabham), aos 34 anos ele mantinha o estilo arrebatado com que estreara com um sétimo lugar na Fórmula 1 no Grande Prêmio de Mônaco de 1970. Nos oito anos seguintes, Peterson foi o “Sueco Voador”, considerado o piloto mais veloz do mundo desde que tivesse um bom carro nas mãos.

FALTA DO PERIGO – Filho de um padeiro de Orebro, uma cidadezinha a 200 quilômetros de Estocolmo, Peterson começou a carreira ali mesmo, em provas de motocross e, depois, por imposição do pai, em kart. Em 1963, aos 19 anos, ganharia o campeonato nacional. Seria o primeiro de uma série de bons resultados e poucos títulos, que incluiriam nos quinze anos seguintes mais quatro campeonatos nacionais e um europeu de kart, um campeonato nacional e um europeu de F 3, um europeu de F 2 e um vice mundial de F1, em 1971, correndo pela March.

Seu gosto pela velocidade às vezes se transformava nas pistas em manobras audaciosas demais para o gosto de seus adversários e para a tranquilidade de Barbra, sua antes fiel acompanhante, que ultimamente preferia ficar em casa, na Inglaterra, com a filha do casal, Nina, de 3 anos.

CARRO VELHO – Peterson sabia correr mas lhe faltava a aptidão mecânica para detectar os desajustes milimétricos que roubam frações de segundos ao desempenho das poderosas e sensíveis máquinas da Fórmula 1. E essa é a diferença entre os campeões e os pilotos apenas empolgantes; por isso, apesar de participar de tantas corridas na F 1, ele não venceu mais que dez.

No fim do ano de 1977, para correr na Lotus, como segundo piloto, ele teve de levar um patrocínio de 50 000 libras, além de fornecer seis motores à equipe. Em troca, convordou em receber apenas os prêmios das corridas, sem salários nem luvas. Mas, com um carro acertado por Mario Andretti, o sueco mostrou que ainda podia ser o mais rápido. Mostrou também que havia aprendido a correr em equipe. Em 1973, também na Lotus, ele tirou a chance de Emerson Fittipaldi, o outro piloto da Lotus e seu amigo pessoal, tentar a disputa do bicampeonato. O brasileiro precisava dos pontos da vitória no Grande Prêmio de Monza para continuar na luta com Jackie Stewart, mas foi derrotado por Peterson. Em 1978, apesar de vencer dois grandes prêmios (África do Sul e Áustria), Peterson passou o resto do campeonato correndo no vácuo de Andretti.

Seu esforço contudo já lhe rendera um contrato para correr pela McLaren em 1979, recebendo o equivalente a 10 milhões de cruzeiros pela temporada. Mas, durante os treinos de classificação em Monza, seu carro quebrou. Ele não recebeu o carro reserva, que tinha os pedais preparados para o 1,69 metro de altura de Andretti. Em vez disso, Peterson, de 1,82 de altura, ficou com outro carro da equipe, velho e fora de uso – que, não se sabe ainda porque explodiu.

O auge de um campeão feroz
Na abertura do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1977, no Grande Prêmio da Argentina, o ítalo-americano Mario Gabrielle Andretti acidentalmente detonou o extintor de incêndio de seu carro e toda a frente da máquina foi pelos ares. Depois, seu carro pegou fogo no Brasil e sofreu problemas mecânicos na África do Sul. Mas a fé do pequeno e elétrico Andretti em si próprio e na máquina jamais diminuiu. De fato, depois de acertar a Lotus em 1977, ele ganhou cinco grandes prêmios em 1978 (Argentina, Bélgica, Espanha, França e Alemanha) e garantiu o título mundial em Monza, apesar de marcar apenas 1 ponto com um sexto lugar e de faltar ainda as provas do Canadá e dos Estados Unidos para completar o campeonato. Assim, aos 38 anos, Andretti chegou ao ponto máximo de uma longa carreira.

Ele nasceu em Montona, na Itália, mas começou a correr nos Estados Unidos. Aos 25 anos, Andretti se converteu no mais jovem piloto a vencer o título nacional e, quetro anos depois, ganhou as temíveis 500 Milhas de Indianápolis.

ÉTICA DE FURACÃO – Nos Estados Unidos ele pilotou em todas as categorias, dos pequenos carros midget aos vigorosos Grupo 7 Can-An e das provas de velocidade às de resistência. Na F 1 venceu doze grandes prêmios em 79 corridas desde que estreou na categoria, em 1968. Poderiam ser mais. A questão é que só a partir de 1975 Andretti participou de temporadas completas na F 1 – extremamente independente, ele sempre preferiu correr onde não tivesse de se submeter às exigências dos donos das equipes. Para competir pela Lotus, ele obrigou o genial e autoritário Chapman a lhe prometer que seria sempre o primeiro piloto da equipe.

FILOSOFIA – Andretti não chega a ser exatamente um cavalheiro nas pistas. Os experts afirmam que ele é o mais rápido piloto de todos os tempos na largada. Se isso não é problema para os adversários na F 1, quando ele larga na primeira fila, passa a ser um tormento se Le sai de trás. Nessas ocasiões, Andretti literalmente empurra os carros de pilotos mais cautelosos para os lados e ele invariavelmente conquista alguns postos no início das provas. O novo campeão mundial é casado e uma renda anual de 1 milhão de dólares, incluindo o que ganha nas corridas. E uma espécie de curtida filosofia sobre as tragédias do automobilismo.

Ao chegar pela manhã, dia 11 de setembro, ao hospital de Nigarda para visitar Peterson, soube de sua morte antes de descer de seu Rolls-Royce. Abaixou os vidros e disse apenas: “Era um verdadeiro amigo. Que mais vocês querem que eu diga? As corridas são assim mesmo”.
(Fonte: Veja, 20 de setembro, 1978 – Edição 524 – DATAS/AUTOMOBILISMO – Pág; 112/113/114)
(Fonte: Veja, 19 de maio de 1982 – Edição 715 – DATAS – Pág; 122 – ESPORTE – Pág; 87)

 

 

 

 

Apontado como o causador do acidente que matou o piloto sueco Ronnie Peterson no Grande Prêmio da Itália, o piloto Ricardo Patrese negou todas as acusações: “Eu já havia passado a curva quando ocorreu a colisão. Eles querem é encontrar um bode expiatório.”
(Fonte: Zero Hora – ANO 45 – N 15.720 – 13 de setembro de 2008/1978 – HÁ 30 ANOS EM ZH – Pág; 63)

 

 

 

 

 

 

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