Robert Maxwell, construiu um império de comunicações composto por editoras, jornais como o Daily Mirror, e o controle da MTV europeia

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Maxwell, o terrível: ousadia empresarial e talento para demitir funcionários

 

 

Robert Maxwell (The Independent)

Robert Maxwell (The Independent)

 

Uma das grandes histórias de sucesso empresarial do pós-guerra

 

Robert Maxwell (Solotvyno, Ucrânia, 10 de junho de 1923 – Ilhas Canárias, Espanha, 5 de novembro de 1991), magnata da imprensa britânica. Camponês paupérrimo, Maxwell construiu um império de comunicações composto por editoras, jornais como o Daily Mirror, de Londres, e o controle da MTV europeia – tudo avaliado em 2 bilhões de dólares espalhado por 28 países.

 

HERÓI DE GUERRA – Robert Maxwell nasceu Jan Ludvik Hoch, numa aldeia minúscula na fronteira entre a Checoslováquia e a Romênia. Camponês paupérrimo, terceiro numa família de sete filhos, estava destinado por vontade da mãe a ser rabino. Ele gostava de dizer que em sua vila havia um único bar e quatro sinagogas. Aos 16 anos, Jan Ludvik trocou a Checoslováquia pela Hungria, em busca de trabalho. A decisão salvou-lhe a vida.

Sua mãe, quatro irmãos e um avô morreram no campo de concentração de Auschwitz. Seu pai foi fuzilado. Não se sabe ao certo o que Maxwell fez depois de cruzar a fronteira, mas ele próprio costumava dizer que lutou com a resistência antinazista na Hungria e na Iugoslávia. É certo que chegou à Inglaterra aos 17 anos, sem falar uma palavra em inglês, e conseguiu ser aceito no Exército, a tempo de participar do desembarque na Normandia, fazendo-se passar por mais velho.

Sua coragem era notória. Em 1945, tenente do Exército britânico, foi condecorado pelo marechal Bernard Montgomery por bravura em combate. Contra a vontadde de seu superior imediato – que o chamou de suicida -, levou seus homens a tomar de assalto uma posição de metralhadoras alemãs que estava ameaçando um batalhão inglês. Não seria a última vez em que esbanjaria temeridade nem seria a última em que seria chamado de maluco. Também em 1945, promovido a capitão, Maxwell se casou com a jovem cristã Elisabeth Meynard.

Os pais da moça não queriam o rapaz atrevido como genro, mas consta que ele conseguiu uma carta assinada por um general atestando que Ivan Du Murier – o nome que ele usava na época – era um homem sério. À noiva, ele prometeu que se tornaria um herói de guerra, que seria rico, muito rico e chegaria ao cargo de primeiro-ministro britânico. Só não cumpriu  a última promessa, embora tenha sido parlamentar (medíocre, na sua própria avaliação) entre 1964 e 1970.

O império econômico que Maxwell ergueu do nada em quarenta anos de trabalho obsessivo de suas empresas, presentes em 28 países, reunindo 20 000 funcionários. O controle final do grupo – cujas principais companhias são a Maxwell Communication Corporation e o Mirror Group Newspapers – está nas mãos de uma fundação em Liechtenstein à qual somente a família Maxwell tem acesso.

MOSSAD – Não é só a fortuna de Maxwell que está sob suspeita. O jornalista americano Seymour Hersh publicou em outubro de 1991, o livro The Samson Option (A Opção de Sansão), em que acusa Maxwell e um dos editores do Daily Mirror de colaborarem com o serviço secreto de Israel, o Mossad, em operações de venda de armas.

A pressão nas últimas semanas era tanta que o sempre sociável Maxwell preferiu tirar em 1º de novembro de 1991, de férias sozinho no iate para curar o resfriado e a insônia que o perseguiam. Arrogante ao ponto da brutalidade, alegre e charmoso em outros momentos, Maxwell estudou apenas três anos, aprendeu sozinho a falar sete línguas e fez seu primeiro milhão aos 30 anos, editando livros científicos.

Daí em diante, não parou mais de acumular vitórias: era dono de editoras inteiras, patrocinava times de futebol na Inglaterra e controlava a MTV europeia. Tinha participação em jornais na Hungria, Alemanha, no diário israelense Maariv – e chegou mesmo a editar um jornal em russo, o Vremia, para os judeus soviéticos que imigraram para Israel.

“SOCIALISTA EFICIENTE” – Pessoalmente, parece ter sido uma espécie de monstro com um toque de gênio, na definição de um de seus muitos porta-vozes demitidos. Demitir, aliás, era um de seus talentos. Em 1984, quando comprou o Daily Mirror, o jornal perdia dinheiro e tinha 7 000 funcionários. Um ano depois dava lucro e tinha apenas 3 000 empregados. Certa vez chegou a demitir o próprio filho, que se esqueceu de esperá-lo no aeroporto. “Ele trabalhava 24 horas por dia e exigia o mesmo dos outros”, disse Joe Haines, funcionário do Daily Mirror e biógrafo oficial do patrão. Leal partidário do Partido Trabalhista, Maxwell se definia como um capitalista com consciência socialista, e explicava suas demissões com uma pergunta: “Por que um socialista não pode ser eficiente?”.

Famoso por seu temperamento temível mas fascinante, Robert Maxwell odiava ser gordo e preocupava-se obsessivamente com a saúde. Sua mesa de trabalho dispunha de um painel com noventa botões, cada um deles uma linha direta com alguém igualmente muito importante. Era tão agressivo com seus funcionários que Tom Bower, um de seus biógrafos, sentiu-se obrigado a escrever, a favor de Robert Maxwell, que ele jamais havia ferido algum deles fisicamente.

Sempre foi esnobado pela plutocracia inglesa, que no entanto tinha medo dele. Em 1973, produzindo um documentário sobre Robert Maxwell para a televisão, Bower não conseguiu encontrar uma única pessoa que falasse bem dele. Agora a situação mudou. No domingo, quando ele foi enterrado em Israel, no Monte das Oliveiras, não faltou amigos e poderosos ao redor da sepultura.

Descobriu-se que as empresas de Maxwell estavam endividadas e que ele se envolveu  em várias maracutaias. Maxwell tentou pagar suas dívidas desviando 1 bilhão de dólares dos fundos de pensão dos funcionários.

Chegou a dar um calote na Madre Tereza de Calcutá, desviando recursos arrecadados para obras de caridade.

Robert Maxwell morreu ao cair de forma misteriosa de seu iate nas proximidades das Ilhas Canárias, em novembro de 1991, e, sua aura de mito que o cercava naufragou. Terminava assim de forma abrupta e dramática uma das grandes histórias de sucesso empresarial do pós-guerra.

(Fonte: Veja, 1º de janeiro de 1992 – ANO 25 – Nº 1 – Edição 1215 – RETROSPECTIVA – Pág: 70)

(Fonte: Veja, 13 de novembro de 1991 – ANO 24 – Nº 46 – Edição 1208 – INTERNACIONAL – Pág: 30/31)

 

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