Primeiro acidente aéreo comercial da história

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AVIAÇÃO

Como o primeiro acidente aéreo comercial da história levou à pressurização das cabines de voo

 

Voo do primeiro serviço aéreo no EUA terminou em tragédia devido a problema solucionado em alturas nunca antes exploradas

 

 

Os anúncios publicitários do primeiro voo comercial de costa a costa dos Estados Unidos, lançado em 1929, propagandeavam um tempo curto de viagem: 48 horas de Nova York a Los Angeles.

 

 

A aviação havia se desenvolvido na década anterior em velocidade vertiginosa, acelerada pela Primeira Guerra Mundial, e, agora, passageiros poderiam pegar o avião em uma ponta dos Estados Unidos e pousar na outra —dois dias depois.

 

 

Cada trajeto entre NY e Los Angeles custava o equivalente a US$ 5.000 em valores atualizados e, na época, embarcar nessa viagem era extremamente glamouroso.

 

 

A VERDADE

 

 

Na realidade, a viagem era uma tremenda prova de resistência.

 

 

Os passageiros tinham de embarcar, primeiro, em um trem noturno que os levava ao aeroporto de Columbus, em Ohio, a 850 quilômetros de distância.

 

 

Dali, partiam em um avião de três motores Ford para seu primeiro dia de voo.

 

 

O avião tinha de reabastecer quatro vezes antes de chegar a Oklahoma, onde os passageiros embarcavam em outro trem noturno no qual passavam a noite até chegar ao aeroporto seguinte.

 

 

No segundo dia, os passageiros embarcavam em outro avião, que também precisava reabastecer três vezes no caminho antes de pousar, finalmente, em Los Angeles.

 

 

Era uma aventura pioneira e divertida, dependendo do clima.

 

 

Voando a só 1.500 metros de altura, o trimotor era vulnerável ao tempo ruim, o que podia tornar a viagem desagradável e perigosa.

 

 

Em setembro de 1929, um trimotor se chocou em Mount Taylor, vulcão inativo no noroeste do Estado do Novo México, matando todos a bordo.

 

 

Foi o primeiro desastre de uma companhia aérea comercial.

 

 

Voar mais alto

 

 

 

Para quem viajava no trimotor, a viagem talvez fosse glamourosa, mas também arriscada — Foto: BBC

 

 

 

 

Tentaram achar uma solução. Talvez um avião pudesse evitar o tempo ruim voando mais alto e viajando mais rápido por meio de um ar menos denso?

 

 

Isso faria com que as viagens aéreas fossem mais seguras e rápidas, e a ideia de voar por cima das nuvens surgiu por baixo das ondas: utilizar a tecnologia de mergulho em águas profundas para explorar a atmosfera superior.

 

 

Significava visitar um lugar que nunca havia sido explorado, e a dificuldade não era chegar até tão alto, mas sobreviver a isso.

 

 

O capitão Hawthorne C. Gray havia voado a mais de 12 mil metros naquele mesmo ano em um balão de gás hélio. Mas quando o balão pousou um dia depois, ele foi encontrado morto.

 

 

A toda velocidade

 

 

Wiley Post era um aviador obcecado pela velocidade.

 

 

Ele havia perdido um olho em um acidente industrial e utilizou o dinheiro do seguro para ingressar na aviação.

 

 

Em 1931, ele e Harold Gatty deram a volta ao mundo em apenas oito dias, obtendo um recorde mundial e fama instantânea.

 

 

Mas Wiley Post queria ir ainda mais rápido e pensava que voar mais alto era a solução. Quanto mais alto o avião, menos denso fica o ar, produzindo menos arrasto atmosférico.

 

 

Isso significa que o avião pode ir mais rápido. Para Post, essa era a chave de tudo.

 

 

Mas antes era preciso derrotar o assassino oculto que ficava acima das nuvens.

 

 

Altitude mortal

 

 

Tanto Post como outros que estavam explorando possibilidades notaram como uma exposição a uma altitude maior que 10 mil pés tinha graves efeitos fatigantes em seus processos mentais.

 

 

Essa confusão mental pode conduzir a erros que, no ar, podem ser fatais.

 

 

Se acontece uma emergência, é preciso reagir bem e rápido, algo mais difícil com uma capacidade mental comprometida pela falta de oxigenação.

 

 

À medida que a pressão cai ainda mais, novos perigos entram em jogo.

 

 

No chamado Limite de Armstrong, a cerca de 60 mil pés (18,2 km) de altitude, a pressão atmosférica é baixa o suficiente para que a água ferva a 37ºC, e fluidos do corpo, como saliva, lágrimas, urina, sangue (mas não o vascular), e os líquidos ao redor dos alvéolos pulmonares fervem sem um traje pressurizado.

 

 

Um mergulho no ar

 

 

Post precisava de uma forma de proteger seu cérebro da falta de oxigênio, e o corpo, da pressão.

 

 

Trabalhando com a B.F Goodrich Company (hoje famosa por seus pneus, mas naquela época um dos fabricantes aéreos mais respeitados nos EUA), ajudou a desenvolver uma roupa inspirada no traje de mergulho de águas profundas. Só que, no lugar de manter a água fora, mantinha o ar dentro.

 

 

O traje criava uma atmosfera habitável ao redor do aviador.

 

 

No voo de teste em 1934, Post arriscou sua vida, pondo à prova os limites do corpo humano.

 

 

Os instrumentos que mediam sua altitude falharam, mas ele superou os 40 mil pés e alcançou 540 km por hora, quase o dobro da velocidade que o avião podia fazer próximo ao nível do mar.

 

 

Os voos pioneiros de Post mudaram completamente a cara da aviação porque foi possível voar muito mais alto e, portanto, muito mais rapidamente.

 

 

Em 1938, os aviões passaram a ter toda a cabine pressurizada.

 

 

Desde então, os pilotos e os passageiros podem viajar com comodidade, sem a necessidade de trajes de pressão volumosos, como o usado por Post.

 

(Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/08 – MUNDO / AVIAÇÃO / Por BBC NEWS MUNDO – BBC NEWS BRASIL – 14.ago.2019)

* Essa reportagem é baseada em parte do episódio “Aviões”, da série “Revoluções: As ideias que mudaram o mundo” da PBS e da BBC

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