Primeira mulher negra a mediar um debate entre postulantes à Presidência da República

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Joyce Ribeiro, a primeira mulher negra a mediar um debate entre presidenciáveis

 

“Estou consciente do que isso significa”, diz primeira mediadora negra de um debate presidencial

 

Joyce Ribeiro se diz agradecida a mulheres que contribuíram pela inclusão feminina no jornalismo

 

Primeira mulher negra a mediar um debate entre postulantes à Presidência da República, organizado na noite de 20 de setembro pela TV Aparecida, Joyce Ribeiro agradece a todas as mulheres que contribuíram para que ela alcançasse esse posto. Em entrevista por telefone a ÉPOCA, a jornalista e apresentadora falou sobre a repercussão positiva do programa e na importância que ele teve para a sociedade brasileira. “Hoje estou pensando no caminho trilhado para chegar até este debate, pensando em tantas outras mulheres que tiveram carreiras no jornalismo, que tinham mais talento do que eu, mas não conseguiram chegar lá justamente por serem mulheres negras. Eu estou consciente do que isso significa.”

 

Foi na noite de quinta-feira (20), no pequena TV Aparecida, num debate entre os presidenciáveis realizado em parceria com a rádio CBN, que a jornalista Joyce Ribeiro entrou para a história ao ser a primeira jornalista negra a mediar um evento deste porte.

 

 

O fato foi citado pelo candidato Ciro Gomes (PDT) e bombou no Twitter. Joyce foi aclamada pelos internautas e recebeu inúmeros elogios que foram desde “segura” e “equilibrada” até “deslumbrante”

 

 

O site Congresso em Foco chegou a afirmar: “Nossa opinião: Joyce Ribeiro (@joyceribeirotv), primeira negra a moderar um debate de presidenciáveis na TV brasileira, é o grande destaque do #DebateAparecida. Segura, elegante, equilibrada e linda. Arrasou!”

 

 

Joyce Ribeiro é uma jornalista com grande experiência na TV brasileira. Começou a sua carreira na Rede Record, depois foi para o SBT, onde passou a maior parte da sua carreira, até ser demitida. Em abril de 2018, foi contratada para apresentar o Jornal da Cultura, da TV Cultura.

 

 

1. Como foi sua preparação para a mediação do debate?

 

 

 

Como o Jornal da Cultura é voltado para o debate, o dia a dia da bancada acabou me preparando muito para esse momento. Todos os dias a gente aborda o cenário político com pelo menos dois políticos ou especialistas na bancada. Cientistas políticos, filósofos, pessoas que nos ajudam a mastigar o noticiário. Isso acabou me abastecendo com muita informação.

2. O ímpeto de fazer perguntas era muito grande em meio à mediação?

 

 

Com certeza. O formato do debate é muito rígido, a gente sabe o que vai acontecer em todos os blocos, mas é claro que vinham perguntas em minha cabeça, cabeça de jornalista. Queria emendar, aumentar alguns assuntos, questionar mais. Mas, por mais que eu quisesse, precisava ficar voltada para a operação, para que as regras fossem cumpridas.

 

 

 

3. Que preparo é feito antes do debate? Existe algum tipo de simulação?

 

 

 

É tudo muito bem planejado. Como o roteiro do debate é muito organizado, são poucas as possibilidades de algo sair fora do planejado. Mesmo assim, nós testamos todos os elementos que compõem a produção: o cuidado com os candidatos, a iluminação, o cenário. Isso na parte técnica. O resto é imprevisível. O debate foge de qualquer simulação. A forma como o candidato se expõe, o temperamento dele, tudo isso acontece na hora.

4. A campanha eleitoral acirra divergências. Você temia por destemperos dos candidatos?

 

 

O debate previa alguns momentos mais acalorados, de perguntas entre os candidatos, e eu esperava que em algum momento pudesse ter esse tipo de ocorrência. O que não aconteceu. Em alguns momentos eles trocaram, sim, acusações mais agressivas, num tom um pouquinho mais elevado, mas de forma geral nada de preocupante aconteceu. Todos estavam muito centrados, cientes das regras, e poucas vezes tive que fazer qualquer interferência.

 

 

5. O programa havia dado alguma orientação para momentos de conflito?

 

 

Eu fui preparada para apaziguar se houvesse essa necessidade. Nós previmos o tempo, avisamos os candidatos que eles perderiam a possibilidade de falar caso algo saísse do controle, que teriam o microfone cortado. Quanto a isso as regras eram muito claras e rígidas. Se saíssem do controle, eles sabiam que seriam punidos, e nós tínhamos uma equipe jurídica avaliando tudo do começo ao fim. Cada segundo. Estávamos prontos nesse sentido.

 

 

6. Sua postura, firme, contribuiu muito para manter o debate sob controle, não é?

 

 

Minha preocupação maior, como mediadora, era fazer com que todos tivessem o mesmo tempo de exposição, para que ninguém se sentisse prejudicado ou fosse apontado como favorecido. Se eram 30 segundos, acabados os 30 segundos não tinha como dar mais um segundo. Fui bem concentrada no sentido de que esse limite teria que ser respeitado. Estava tranquila para fazer isso porque todos foram muito bem avisados. Precisávamos de que o debate tivesse ritmo e sequência. Senão abriríamos uma exceção aqui, outra ali, e a coisa ficaria bagunçada. Depois do debate, os próprios candidatos destacaram que havia sido muito bom, que as coisas deram certo, que nada tinha saído do previsto, que fomos criteriosos.

 

 

7. Você acompanhou a repercussão do debate nas redes sociais?

 

 

Li muito após o debate, e minhas redes tinham muitas mensagens. Ainda estou tentando colocar em dia tudo o que recebi. Sou eu mesma que mexo, respondo. Coloquei há pouco um agradecimento. Só durante o debate é que deixei com meu assessor para que ele postasse.

8. Como se sente ao se tornar a primeira mulher negra a mediar um debate presidenciável?

 

 

Me sinto honrada. Muito feliz com essa oportunidade, de ter mediado esse debate num momento tão importante para o Brasil, de tantas mudanças. Ser a primeira mulher negra é mais uma conquista. A gente vive num país de oportunidades desiguais, vive num país onde a luta negra ainda é muito dura, muito árdua. Num país que está muito longe de uma situação favorável para todos. A comunidade negra é muito desfavorecida. Hoje estou pensando no caminho trilhado para chegar até esse debate, pensando em tantas outras mulheres que tiveram carreiras no jornalismo, minha área, e que não tiveram esse destaque, que tinham mais talento do que eu, mas não conseguiram chegar lá justamente por serem mulheres negras. Estou consciente do que isso significa e muito agradecida a todas que vieram antes de mim e batalharam demais para que eu chegasse a este momento, que vivenciasse essa conquista e servisse de referência para outras mais jovens que terão feitos maiores. É uma sequência de desenvolvimento que a gente vem trilhando, um caminho contínuo, e ainda não chegamos na posição ideal, eu diria.

 

 

9. Você publicou um livro sobre Chica da Silva. Agora o debate. Qual o próximo passo?

 

 

Estou na TV Cultura apresentando diariamente o jornal, tem sido uma experiência incrível, que tem me dado outras oportunidades no exercício do jornalismo, um aprendizado diário. O livro foi meu primeiro desafio no mundo da literatura, e eu amo, amei. O escrever de um romance é muito diferente de tudo o que a gente está acostumado a lidar no dia a dia, da notícia, das hard news. Quando veio a oportunidade de escrever um livro romanceado, achei o melhor dos mundos. Outro universo. Com certeza quero publicar novamente, mas será daqui a alguns anos, porque é um exercício delicioso, mas cansativo, que prevê disciplina e muita dedicação. Neste momento estou focada na televisão.
(Fonte: https://epoca.globo.com – POR RODRIGO CAPELO – 21/09/2018)

(Fonte: https://www.revistaforum.com.br – POLÍTICA / Por Redação – 21 DE SETEMBRO DE 2018)

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