Primeira medalha de ouro de um atleta brasileiro em Olimpíada

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Primeira medalha de ouro de um atleta brasileiro em Olimpíada

Guilherme Paraense venceu a prova de tiro nos jogos olímpicos de Antuérpia em 1920

Guilherme foi primeiro campeão olímpico Arquivo da família

Guilherme foi primeiro campeão olímpico
Arquivo da família

 

A primeira participação de atletas brasileiros em uma Olimpíada foi em 1920, nos jogos de Antuérpia, na Bélgica. Lá o então tenente do exército Guilherme Paraense, aos 36 anos de idade, se tornou o primeiro brasileiro a ganhar uma medalha de ouro.

Paraense venceu a prova com pistola de tiro rápido no dia 3 de agosto, superando o favorito da modalidade, o americano Raymond Bracken, com uma diferença de apenas dois pontos: 274 contra 272. A disputa aconteceu em área de treinamento do exército belga em Beverloo, vizinho a Waterloo, famosa cidade onde o exército de Napoleão Bonaparte, o maior imperador da França, foi derrotado em 1815.

A prova de tiro, naquela época, exigia muita perícia dos competidores e autocontrole. A 30 metros do alvos, o competidor tinha que fazer 30 disparos. A pontuação máxima possível era de 300 pontos. Paraense venceu o americano com um tiro certeiro no último disparo, fechando a série com um índice de aproveitamento de 91,33%.

Um dia antes da conquista do primeiro ouro olímpico do Brasil, Paraense já havia conquistado a primeira medalha de uma delegação brasileira, de bronze, com a equipe de tiro, ao lado de Sebastião Wolf, Dario Barbosa e Afrânio Costa.

Era mesmo o dia do Brasil, naquela mesma data, Afrânio Costa também ganhou uma medalha de prata na disputa individual dos 50 metros pistola livre.

Além das duas medalhas, sendo uma de ouro, Paraense também foi escolhido como porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura dos jogos, duas semanas depois, no dia 16 de agosto.

Oziris de Carvalho Paraense, 86 anos, nascido no Rio de Janeiro, é filho caçula de Guilherme Paraense e lembra com carinho do pai medalhista olímpico. “O que mais me marcou foi a humildade dele. Nunca se envaideceu por ter feito o que fez, sempre se manteve como sempre: tranquilo, correto e dedicado a todos”, disse Oziris.

No Brasil,  Guilherme Paraense era um atleta de ponta nas provas de tiro, antes da Olimpíada já tinha sido campeão nacional e sulamericano disputando provas pelo exército e pelo Fluminense Football Club. Mesmo assim, o desempenho extraordinário na Bélgica superou todas as expectativas.

De volta ao Brasil, recebeu uma placa de ouro das mãos do presidente Epitácio Pessoa com a gravação de versos do poeta Gonçalves Dias. “Meu avô falava dos jogos olímpicos com muita alegria e satisfação. A família tem muito orgulho da sua história. Ele sempre gostou de esportes e alguns anos depois chegou a fundar um time de futebol com os filhos aqui no Rio de Janeiro”, disse a dentista Valéria Paraense Ferreira, neta do medalhista.

As medalhas e a arma usada por Guilherme em 1920 Arquivo da família

As medalhas e a arma usada por Guilherme em 1920
Arquivo da família

 

Guilherme era casado com Belina Paraense e teve sete filhos, apenas os dois mais novos estão vivos: Oysis e Oziris. Eric Paraense, filho de Oziris, relembra o convívio que teve com o avô quando criança. “Tenho uma única lembrança do meu avô, quando eu era bem criança, de 3 para 4 anos, ele me pondo no colo, brincando comigo, na sua antiga casa no Rio. Ele morreria pouco tempo depois. Enquanto ele viveu, para mim foi o avô amoroso desse momento, até porque eu não tinha noção do que ele tinha feito, só depois entendi. Isso o faz maior ainda para mim. Ele poderia ter sido um homem sisudo, aquele militar da reserva talvez vaidoso por tudo o que fez, mas não, foi sobretudo o meu avô e foi esse homem carinhoso com todos, segundo me contaram. Então, acho que ele foi campeão em vários sentidos”, disse.

 

Guilherme Paraense, de uniforme militar, conduziu a bandeira Arquivo familiar

Guilherme Paraense, de uniforme militar, conduziu a bandeira
Arquivo familiar

 

Munição

A participação dos atletas brasileiros na olímpiada de Antuérpia teve lances dramáticos que valorizam ainda mais as conquistas. A viagem, feita de navio, começou no dia 1º de julho, quando os 20 esportistas de diversas modalidades embarcaram para a Europa. Paraense e os outros atletas do tiro praticavam no convés do navio. A comida e as acomodações na 3ª classe da embarcação não eram das melhores.

A notícia ruim veio quando o navio chegou à Ilha da Madeira. O capitão informou que a previsão de chegada na Bélgica era 5 de agosto, ou seja, após as provas de tiros. Para não perder a competição, Paraense e os outros atiradores desembarcaram em Portugal e pegaram o primeiro trem para a Bélgica, numa corrida desesperada até Antuérpia, que felizmente deu certo.

No entanto, ao entrar no país a alfândega apreendeu parte das armas e munições dos brasileiros. Para competir, eles contaram com a solidariedade de outras atletas. “Meu avô recebeu um pouco de munição dos americanos, que era um pouco mais balanceada do que a utilizada no Brasil, na época”, disse Valéria.

A pistola e a medalha de ouro do Guilherme Paraense fizeram parte do acervo da exposição itinerante do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) que passou por vários estados brasileiros em 2015.

Paraense também foi homenageado pelo exército e tem um busto dele no Polígono de Tiro Tenente Guilherme Paraense, que é o conjunto de estandes de tiro da Academia Militar das Agulhas Negras, na cidade de Resende; e outro busto na Fortaleza de São João, no bairro da Urca, na capital carioca. Em São Paulo, ele foi homenageado com o nome numa rua no bairro de Santana, na zona Norte.

Depois de Guilherme Paraense, o Brasil só foi ganhar uma segunda medalha de ouro em 1952, com Adhemar Ferreira da Silva, em Helsinque, na Finlândia, na prova do salto triplo.

Jogos no Rio

A família do Guilherme Paraense, levando em conta a personalidade e a retidão do atleta, acredita que ele não estaria completamente satisfeito com a cidade do Rio de Janeiro sediando os jogos.

“Talvez não aprovasse algumas coisas, especialmente essa correria pra entregar as coisas de última hora, pelo senso de correção dele”, disse Oziris.  Porém, os esportistas contariam com o apoio incondicional do medalhista. “Ele sempre foi muito ligado a esportes, de qualquer modalidade, gostava de ver uma boa disputa. Então, hoje, certamente ele seria o primeiro a torcer pelos atletas brasileiros”, disse o herdeiro do campeão olímpico.

A neta Valéria também se decepcionou com alguns aspectos da preparação dos jogos e afirmou que não aceitaria ser condutora da tocha olímpica como uma forma de homenagear o avô. “A tocha é um símbolo importante dos jogos. Conduzi-la deveria ser um presente para os atletas e ex-atletas, no entanto, vemos artistas, empresários e pessoas sem vínculo algum com as modalidades carregando a tocha. Eu nunca participaria disso. Seria desonroso para a memória do meu avô”, disse.

(Fonte:  http://rederecord.r7.com/rio-2016 – RIO 2016 – Primeira medalha de ouro de um atleta brasileiro em Olimpíada/ Por Juca Guimarães, do R7 – 03/08/2016)

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